Pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha
(Vila Real, São Martinho de Anta, 12 de agosto de 1907 — Coimbra, 17 de janeiro
de 1995), foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século
XX. Destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também
romances, peças de teatro e ensaios.[1]
Biografia
Primeiros anos e educação
Nasceu na localidade de São Martinho de Anta, em
Vila Real a 12 de Agosto de 1907.[2] [3] [4] Oriundo de uma família humilde de
Sabrosa, era filho de Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros.
Em 1917, aos dez anos, foi para uma casa apalaçada
do Porto, habitada por parentes. Fardado de branco, servia de porteiro, moço de
recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da escadaria nobre e
atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante
insubmissão. Em 1918 foi mandado para o seminário de Lamego, onde viveu um dos
anos cruciais da sua vida. Estudou Português, Geografia e História, aprendeu
latim e ganhou familiaridade com os textos sagrados. Pouco depois comunicou ao
pai que não seria padre.
Emigrou para o Brasil em 1920[2] , ainda com treze
anos, para trabalhar na fazenda do tio, proprietário de uma fazenda de café em
Minas Gerais.[5] Ao fim de quatro anos, o tio apercebe-se da sua inteligência e
patrocina-lhe os estudos liceais no Ginásio Leopoldense, em Leopoldina.[2] [6]
Distingue-se como um aluno dotado. Em 1925, convicto de que ele viria a ser
doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos
cinco anos de serviço, o que o levou a regressar a Portugal e concluir os
estudos liceais.[1] [2]
Carreira profissional e literária[editar | editar
código-fonte]
Em 1928, entra para a Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro de poemas, Ansiedade.[2]
[5] Em 1929, com vinte e dois anos, deu início à colaboração na revista
Presença, folha de arte e crítica, com o poema Altitudes. A revista, fundada em
1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da
Fonseca era bandeira literária do grupo modernista e bandeira libertária da
revolução modernista. Em 1930 rompe definitivamente com a revista Presença,
junto com Edmundo Bettencourt e Branquinho da Fonseca[2] , por «razões de
discordância estética e razões de liberdade humana», assumindo uma posição
independente.[1] Nesse ano, publica o livro Rampa, lançando, no ano seguinte,
Tributo[5] e Pão Ázimo[5] , e, em 1932, Abismo.[2] Em colaboração com
Branquinho da Fonseca, funda a revista Sinal, de efémera duração, e, em 1936,
lança, junto com Albano Nogueira, o periódico Manifesto.[2] Nesse ano, publica
O Outro Livro de Job.[2] [4]
A obra de Torga traduz sua rebeldia contra as
injustiças e seu inconformismo diante dos abusos de poder. Reflete sua origem
aldeã, a experiência médica em contato com a gente pobre e ainda os cinco anos
que passou no Brasil (dos 13 aos 18 anos de idade), período que deixou impresso
em Traço de União (impressões de viagem, 1955) e em um personagem que lhe
servia de alter-ego em A criação do mundo, obra de ficção em vários volumes,
publicada entre 1937 e 1939. As críticas que fez aí ao franquismo resultaram em
sua prisão (1940).[1] Publica os livros A Terceira Voz em 1934, aonde pela
primeira vez empregou o seu pseudónimo, Bichos em 1940, Contos da Montanha[5]
em 1941, Rua em 1942, O Sr. Ventura e Lamentação em 1943, Novos Contos da
Montanha e Libertação em 1944, Vindima em 1945, Sinfonia em 1947, Nihil Sibi em
1948, Cântico do Homem em 1950, Pedras Lavradas em 1951, Poemas Ibéricos em
1952, e Orfeu Rebelde em 1958.[2] [4]
Crítico da praxe e das restantes tradições
académicas, chama depreciativamente «farda» à capa e batina. Ama a cidade de
Leiria, onde exerce a sua profissão de médico a partir de 1939 até 1942, onde
escreve a maioria dos seus livros. Em 1933 concluiu a licenciatura em Medicina
pela Universidade de Coimbra.[2] Começou a exercer a profissão nas terras
agrestes transmontanas, pano de fundo de grande parte da sua obra. Dividiu seu
tempo entre a clínica de otorrinolaringologia e a literatura.
Após a Revolução dos Cravos que derrubou o Estado
Novo em 1974, Torga surge na política para apoiar a candidatura de Ramalho
Eanes à presidência da República (1979). Era, porém, avesso à agitação e à
publicidade e manteve-se distante de movimentos políticos e literários.
Autor prolífico, publicou mais de cinquenta livros
ao longo de seis décadas e foi várias vezes indicado para o Prémio Nobel da
Literatura.[1]
Casamento e últimos anos[editar | editar
código-fonte]
Casou-se com Andrée Crabbé em 1940, uma estudante
belga que, enquanto aluna de Estudos Portugueses, com Vitorino Nemésio em
Bruxelas, viera a Portugal fazer um curso de verão na Universidade de Coimbra.
O casal teve uma filha, Clara Rocha, nascida a 3 de Outubro de 1955, e
divorciada de Vasco Graça Moura.
Torga, sofrendo de cancro, publicou o seu último
trabalho em 1993, vindo a falecer em Janeiro de 1995.[1] [2] A sua campa rasa
em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.
A origem do pseudónimo[editar | editar
código-fonte]
Em 1934, aos 27 anos, Adolfo Correia Rocha cria o
pseudónimo "Miguel" e "Torga". Miguel, em homenagem a dois
grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já
Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da
rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente
rectilíneo.
A obra de Torga[editar | editar código-fonte]
A obra de Torga tem um carácter humanista: criado
nas serras transmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos
de perpetuação da natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador
e propagador da vida e da natureza: sem o homem, não haveria searas, não
haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas
rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens
e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a Divindade Transcendente a
favor da imanência: para ele, só a humanidade seria digna de louvores, de
cânticos, de admiração: (hinos aos deuses, não/os homens é que merecem/que se
lhes cante a virtude/bichos que cavam no chão/actuam como parecem/sem um
disfarce que os mude).
Para Miguel Torga, nenhum deus é digno de louvor:
na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser
sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a natureza - mas o
homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça
e à morte é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de se impor à natureza,
como os trabalhadores rurais transmontanos impuseram a sua vontade de semear a
terra aos penedos bravios das serras. E é essa capacidade de moldar o meio, de
verdadeiramente fazer a natureza, mal-grado todas as limitações de bicho, de
ser humano mortal que, ao ver de Torga, fazem do homem único ser digno de
adoração.
Poesia
8 - " Ansiedade "
1930 - Rampa[2]
1931 - Abismo
1936 - O outro livro de Job[2] [4]
1943 - Lamentação
1944 - Libertação
1946 - Odes
1948 - Nihil Sibi
1950 - Cântico do Homem
1952 - Alguns poemas ibéricos
1954 - Penas do Purgatório
1958 - Orfeu rebelde[2] [4]
1962 - Câmara ardente
1965 - Poemas ibéricos
1997 - Poesia Completa, volume I
2000 - Poesia Completa, volume II
Prosa[editar | editar código-fonte]
2000 - Pão Ázimo[2]
2000 - Criação do Mundo
1934 - A Terceira Voz[2]
1937 - Os Dois Primeiros Dias
1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo
1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo
1940 - Bichos[2] [4]
1941 - Contos da Montanha[2] "Diário I"
1942 - Rua[2]
1943 - O Senhor Ventura[2] "Diário II"
1944 - Novos Contos da Montanha[2]
1945 - Vindima[2]
1946 - "Diário III"
1949 - "Diário IV"
1950 - Portugal'
1951 - Pedras Lavradas[2] [4] "Diário V"
1953 - "Diário VI"
1956 - "Diário VII"
1959 - "Diário VIII"
1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo
1976 - Fogo Preso
1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo
1982 - Fábula de Fábulas
1999 - "Diário: Volumes IX a
XVI"(1964-1993), Publicações Dom Quixote e Herdeiros de Miguel Torga, 2.ª
edição integral, ISBN 972-20-1647-4
Indice dos volumes
Diário IX (15-1-1960/20-9-1963)
Diário X (5-10-1963/30-7-1968)
Diário XI (2-8-1968/6-4-1973)
Diário XII (17-5-1973/22-6-1977)
Diário XIII (8-7-1977/20-5-1982)
Diário XIV (21-5-1982/11-1-1987)
Diário XV (20-02-1987/31-12-1989)
Diário XVI (11-1-1990/10-12-1993)
O seu Diário (1941 - 1994), em 16 volumes, mistura
poesia, contos, memórias, crítica social e reflexões. No último volume, diz:
"Chego ao fim, perplexo diante de meu próprio enigma. Despeço-me do mundo
a contemplar atônito e triste o espetáculo de um pobre Adão paradoxal, expulso
da inocência sem culpa sem explicação."[1]
Peças de teatro
1941 - "Terra Firme" e "Mar"[2]
1947 - Sinfonia[4] [2]
1949 - O Paraíso[2]
1950 - Portugal
1955 - Traço de União
Ensaios e Discursos
Ensaios e Discursos, publicações Dom
Quixote,Lisboa, 2001, ISBN 972-20-1681-4 , ‘’tomou por base, respectivamente,os
textos da 6.ª edição de Portugal, Coimbra, 1993; da 2.ª edição revista de Traço
de União, Coimbra, 1969; e da edição de Fogo Preso, Coimbra, 1989”, conforme
nota do editor, p. 8.
Traduções
Seus livros foram traduzidos em diversos idiomas,
algumas vezes publicados com um prefácio seu: espanhol, francês, inglês,
alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.
Prémios e homenagens
1969 - Prémio do Diário de Notícias.
1976 - Prémio de Poesia da XII Bienal de
Internacional de Poesia de Knokke-Heist (Bélgica)
1980 - Prémio Morgado de Mateus, com Carlos
Drummond de Andrade
1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S.
1989 - Prêmio Luso-Brasileiro Luís de Camões
1991 - Prémio Personalidade do Ano
1992 - Prémio Vida Literária da Associação
Portuguesa de Escritores
1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra
1995 - O seu nome foi colocado, em 3 de Maio de
1995, numa rua da Freguesia de Santa Maria, no Concelho de Lagos.
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.