Naquilo em que me torno frágil,
O que me alucina a razão,
Despe-me a alma e o coração,
Rezo meu terço,
Teço meu verso,
Adoração...
Toda minha dualidade.
A ambiguidade da psique,
Entregue em teu colo, paixão sublime,
No pecado que a crença redime,
Quando te adoro, me acalmo,
E nem mesmo sei porquê.
As serpentes não me assustam.
São crias, guias a se arrastar.
Bichos criados pelo deserto.
… E eu, por esta paixão temo, decerto!
E a ti agora confesso
Na mesa, na cama, no verso,
Na ânsia louca,
a te tocar.
Entre um abraço e outro abraço,
Entre um beijo e outro beijo,
Vou declarando o meu desejo.
No útero te aguardo,
No colo te consolo, te trago,
No poema, no afã
Quando me alucina e cura
No arfar que hora perdura,
Sem medo do amanhã.
E quando o gozo é anunciado
A chama flameja, aquece.
O sonho se anuncia, cresce
E
toda alienação do mundo,
E toda a insanidade de Minh 'alma
Num momento se acalma,
Num grito doce… profundo.
E meu ventre se fecha, a rosa.
No meu seio tua cabeça descansa
Adormece a cobra, a lança.
… Um ronronar de prosa
Quase poesia,
Na palavra que silencia,
Adormecemos como criança.
E de toda fragilidade,
Da triste dualidade,
Do temor da vida,
Da dura peleja, renhida,
Um lampejo de musicalidade,
De riso, de verso, de flor…
… Somente por este instante,
Em que foste meu amante,
Forte, terno e doce,
Sem traços de dubiedade,
Me doaste o teu amor.
Elisa Salles
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