terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Elisa Salles:

 


Naquilo em que me torno frágil,

O que me alucina a razão,

Despe-me a alma e o coração,

Rezo meu terço,

Teço meu verso,

Adoração...

Toda minha dualidade.

A ambiguidade da psique,

Entregue  em teu colo, paixão sublime,

No pecado que a crença redime,

Quando te adoro, me acalmo,

E nem mesmo sei porquê.

As serpentes não me assustam.

São crias, guias a se arrastar.

Bichos criados pelo deserto.

… E eu, por esta paixão temo, decerto!

E a ti agora confesso

Na mesa, na cama, no verso,

Na ânsia louca,

a te tocar.

Entre um abraço e outro abraço,

Entre um beijo e outro beijo,

Vou declarando o meu desejo.

No útero te aguardo,

No colo te consolo, te trago,

No poema, no afã

Quando me alucina e cura

No arfar que hora perdura,

Sem medo do amanhã.

E quando o gozo é anunciado

A chama flameja, aquece.

O sonho se anuncia, cresce

E  toda alienação do mundo,

E toda a insanidade de Minh 'alma

Num momento se acalma,

Num grito doce… profundo.

E meu ventre se fecha, a rosa.

No meu seio tua cabeça descansa

Adormece a cobra, a lança.

… Um ronronar de prosa

Quase poesia,

Na palavra que silencia,

Adormecemos como criança.

E de toda fragilidade,

Da triste dualidade,

Do temor da vida,

Da dura peleja, renhida,

Um lampejo de musicalidade,

De riso, de verso, de flor…

… Somente por este instante,

Em que foste meu amante,

Forte, terno e doce,

Sem traços de dubiedade,

Me doaste o teu amor.

Elisa Salles

(Direitos autorais reservados)

Nenhum comentário:

Postar um comentário