quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 



Flor branca

A flor que nasce
A flor que passe
A flor do perfume
A flor do sabor
A flor do laço
A flor do paço
A flor do amor.....

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 



Duas vidas, minha e tua

Minha vida, tua vida, nossas vidas.
Vidas, que se usam,
Vidas que se cruzam,
Vidas que se abusam.

Tua vida em meu caminho
Tua vida no meu ninho
Minha vida em tua vida
Nossas vidas sem saída
Tua vida bem vivida
Nossas vidas repartidas......

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Belo como tudo em ti é belo

 

 

Negro como a luz dos teus olhos

Só o esplendor das noites de primavera

Com o céu enaltecendo as estrelas

A massagear meu puro ego.

  

Quente como o teu corpo

Nem mesmo as loucas noites de verão

Em chamas eternas no debruçar da tarde.

Poesia de Quinta na Usina: Cruz Souza:

 


 


FRÊMITOS

I

Ó pombas luminosas
Que passais neste mundo eternamente 
Só a cantar os madrigais de rosas, 
Atravessados de um luar veemente, 
Inundados de estrelas e esplendores, 
De carinhos, de bênçãos e de amores.

Poesia de Quinta na Usina: Cruz Souza:

  

 


 


ROSA

A Moreira de Vasconcelos
Et, rose, elle a vécu ce que vivent les roses, l’espace d'un matin.
Malherbe 

Rosa — chamava-se a estrela
Daquelas flóreas paragens;
Era escutá-la e era vê-la
Metida em brancas roupagens
Todas de pregas e tufos,
De laçarotes e rendas,
Ou mesmo ouvir-lhe os arrufos
Ou surpreender-lhe as contendas
Nas lindas tardes radiadas
Por cores de silforamas
E sentir logo, inspiradas
Do amor, as férvidas chamas.
Ela era um beijo fundido
Ao cintilar de uma aurora,
Um sonho eterno espargido
Nos belos sonhos de Flora.
E tinha uns longes sublimes
De grande força lasciva,
A transudar, como uns crimes
Do sangue, da carne altiva.
Contava tudo... mas tanto,
Em turbilhões, em cascata,
Que recordava esse canto 
Uma garganta de prata.
E quando os poetas, rapazes, A viam passar, 
vibrante, Mostrando as curvas audazes, 
Do corpo todo radiante,
Diziam de entre os primores 
De estrofes mais dulçurosas:
— Tu és a gêmea das flores, Das rosas, perfeitas rosas.
Convulsionado e sem regra O coração nos palpita; 
Andas alegre e se alegra A gente quando te fita.
Tens umas coisas estranhas
Nas refrações da pureza...
Umas finuras tamanhas...
Uma sutil gentileza...
Ficas rosada se um tico Alguém te diz, de mais franco... 
Mas como fica tão rico, Tão belo o rubro no branco,
Nesse grácil e tão claro, Sereno e cândido rosto
Que é mesmo um céu puro e raro Das alvoradas de agosto.
Depressa cobre-te o pejo A face nova e adorada, 
De sorte que sem desejo És — Rosa e ficas rosada.
Dos risos colhes a messe E és doce como o conforto, 
És casta como uma prece Gemida ao lado de um morto.
Para que a dor não te obumbre A glória de flores junca
Tua vida e, por isso, nunca Nas mágoas terás vislumbre.
Permita o bom sol que inunda De luz os bosques 
— permita Que sejas sempre fecunda De gozo e sempre bonita.
............................
Agora, quando alguém passa Por onde a estrela morava, 
Olhando pela vidraça
Bem junto da qual bordava,
Repara um silêncio triste Na sala 
— em crepes envolta, Onde parece que existe Profunda lágrima solta.
E sente por dentro d’alma Aquela angústia que esmaga 
Bem como em noites sem calma A vaga esmaga outra vaga.
Apenas as flores lindas Que vendo Rosa morriam Com brejeirices infindas 
De invejas que renasciam,
Sem mais inúteis ciúmes, Abrem os frescos pistilos, 
Jogando aos céus, em perfumes, Os seus melhores sigilos.
..........................
No entanto à luz soberana Do amor desfilam as rimas Dos poetas 
— como um hosana A quem já goza outros climas.
Rosa — chama-se a estrela Daquelas flóreas paragens; 
Era escutá-la e era vê-la Metida em brancas roupagens,
Para exclamar: — Dentro dela
Existe a fibra gloriosa...
Ninguém viu coisa mais bela
Nem Rosa... tão bela rosa!...

Poesia de Quinta na Usina: Cruz Souza:

 


 

AMOR!!...

Oferecido à Ilma. Sra. D. Pêdra 
como prova de imensa amizade 
e profundo amor que lhe consagra
Amor, meu anjo, é sagrada chama
Que o peito inflama na voraz paixão,
Amo-te muito eu t’o juro ainda
Deidade linda que não tem senão!
Virgem formosa, d’encantos bela,
Gentil donzela, meu amor é teu.
Vou consagrar-te mil afetos tantos
Puros e santos qual também Romeu!
Flor entre as flores, a mais linda, altiva
Qual sensitiva, só tu és, ó sim.
Esses teus olhos sedutores, belos
De mil anelos, me pedirão a mim.
Anjo, meu anjo, eu te adoro e amo.
Por ti eu chamo nas horas de dor.
Sem ti eu sofro; um sequer instante
De ti perante só me dás valor.
Meu peito em ânsias só por ti suspira
Como da lira a vibrante voz!
Te vendo eu rio e senão gemendo
Vou padecendo saudade atroz!
Amor ardente de meu coração
Santa paixão em todo peito forte
Eu hei de amar-te até mesmo a vida
Deixar, querida, e abraçar a morte!

Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana:





Louca

Súbito
Em meio àquele escuro quarteirão fabril
Das minhas mãos se escapou um pássaro 
maravilhoso E eu te amei como quem solta um grito, Ó Lua enorme
Incompreensível...
Por que sempre me espantas e me assustas, Louca, 
Como se eu te visse sempre pela primeira vez?!


Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana:

 


O poema apesar de tudo
PARA CECY BARTH

Às vezes faço poemas de um equilíbrio instável... Cai, cai, balão!
(As prateleiras da estante estão olhando de dentes [arreganhados, 
compridos dentes de todas as cores [festivamente arreganhados)
Ah, o trabalho do poeta! Nem queiras saber... É muito pior do que armar 
meticulosamente um [castelo de cartas,
ou uma Torre Eiffel com pauzinhos de fósforos ante a [janela aberta
(lá fora sorri sadicamente o Anjo das Tempestades). E pensar que ainda 
há gente por aí que acha tão fácil [o milagre da Ascensão...
Mas ele não caiu
O poema desta vez não caiu...
Olha! o poema chispa como um sputnik! 
O poema é a lua na amplidão!

Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana:

 


Havia

Havia naquele tempo tanta coisa,
tanta coisa que subiria depois como um balão azul 
quando eu precisasse de um pretexto urgente para
[não me matar...
Havia
a que passava cuidadosamente os meus poemas a [ferro
(e nisso vejo agora a maior poesia deles...) 
Havia a que sabia fingir que me escutava, 
que parecia beber até, com seus grandes olhos, os meus solilóquios
(eram tão chatos que só podiam ser solilóquios [mesmo...)
e havia, entre todas, a Eleita,
a que cortava as unhas da minha mão direita 
(agora tenho de recorrer a profissionais...) 
e havia, entre as demais,
a que ficou não sei onde esquecida...