Deixem-me
ser sombra e perfume.
A
imagem dupla do corpo reflectida no
chão, p'lo sol.
A
que espreita sob os candeeiros, quando à noite se caminha.
Deixem-me
ser aquele odor. Tão suave como o da flor.
Quando
pelo perfume sabemos...
Que
aquele qu' inda não vemos, dentro em breve se avizinha.
Deixem-me
ser transparente.
Como
as almas, outrora gente, esvoaçam entre nós.
Ser
como o pólen, pr'o vento. Das abelhas alimento...
Imperceptível
aos olhos, mas aliciante ao nariz.
Uma
fragrância querida. Quem sabe também, saudosa.
Uma
recordação antiga, como a pétala seca no livro... que ainda cheira a rosa.
Deixem-me
ser sombra e perfume.
Como
as achas da lareira, são os restos da madeira.
Que
docemente nos conforta, em noites frias de outono.
O
aroma se propaga, fazendo-nos sentir em casa...
Ainda
que sozinho se esteja.
Mas
saiba que logo, logo, essa solidão acaba.
@Maria
de Fátima Soares