quarta-feira, 3 de junho de 2020
Poesia de Quinta na Usina: Paulo Leminsk:
sobre a mesa vazia abro a toalha limpa a mente tranquila palavra mais linda aqui se acaba
a noite mais braba a que não queria virar puro dia somos um outro um deus, enfim, está conosco
Poesia de quinta na Usina: Paulo Leminsk: contra narciso:
em mim eu vejo o outro e outro
e outro enfim dezenas trens passando
vagões cheios de gente centenas
o outro que há em mim é você
você e você assim como
eu estou em você eu estou nele em nós e só quando estamos em nós estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
Poesia de Quinta Na Usina: D'Araújo: Fragmentos:
O
avassalo da dor do espírito,
Quando
o amor se despedaça.
Passamos
a juntar os fragmentos
De
nós mesmos, que em outrora
Foram
ignoradas, de repente se torna
sua
única âncora de sustentação do seu viver de cada dia.
Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca: TRAZES-ME EM TUAS MÃOS DE VITORIOSO:
Trazes-me em
tuas mãos de vitorioso Todos os bens que a vida me negou, E todo um roseiral, a
abrir, glorioso Que a solitária estrada perfumou.
Neste
meio-dia límpido, radioso, Sinto o teu coração que Deus talhou Num pedaço de
bronze luminoso,
Como um
berço onde a vida me pousou. O silêncio, ao redor, é uma asa quieta... E a tua
boca que sorri e anseia,
Lembra um
cálix de tulipa entreaberta... Cheira a ervas amargas, cheira a sândalo... E o
meu corpo ondulante de sereia
Dorme em
teus braços másculos de vândalo...
Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca: A TUA VOZ DE PRIMAVERA:
Manto de
seda azul, o céu reflete Quanta alegria na minha alma vai! Tenho os meus lábios
úmidos: tomai A flor e o mel que a vida nos promete! Sinfonia de luz meu corpo
não repete
O ritmo e a
cor dum mesmo desejo... olhai! Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a
visão dos poentes se complete! Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça
ou prende a tua mão nervosa, Têm a firmeza elástica dos gamos...
Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira
em flor, só ofereço os ramos, Só me exalto e sou linda para ti!
Poesia de Quinta na Usina: Mundo mudo:
Sejamos livres.
Como
o pássaro a plainar seus sonhos nos ventos da igualdade.
Sejamos
livres.
Mas
que nunca seja feita a vossa vontade.
Que
seja na terra, no mar, ou mesmo no ar.
Sejamos
livres.
E
que as correntes dos insultos desta sociedade podre
Não
nos torne escravos do querer, do ter, e do poder.
Sejamos
livres.
E
semeie, grite, espalhe os seus sonhos, como um insulto,
para
aqueles que em suas masmorras de hipocrisia.
Tecem
seus golpes contra nossas fortalezas de alegrias de sermos livres.
Sejamos
livres.
Para
pensar, falar, ouvir, e expressar todos os nossos desejos.
Até
que os ouvidos do Mundo, entendam.
Que
não se muda o mundo mudo.