(Praga, 3 de julho de 1883 — Klosterneuburg, 3 de junho de 1924)4 5 foi
um escritor tcheco, autor de romances e contos, considerado pelos críticos como
um dos escritores mais influentes do século XX. A maior parte de sua obra, como
A Metamorfose, O Processo e O Castelo, está repleta de temas e arquétipos de
alienação e brutalidade física e psicológica, conflito entre pais e filhos,
personagens com missões aterrorizantes, labirintos burocráticos e
transformações místicas.
Kafka
nasceu em uma família judaica de classe média e falante de alemão em Praga,
então pertencente ao Império Austro-Húngaro. Durante sua vida, a maior parte da
população de Praga falava tcheco e a divisão entre os falantes de tcheco e
alemão era visível, já que ambos os grupos estavam tentando fortalecer sua
identidade nacional. A comunidade judaica muitas vezes achou-se dividida entre
esses dois grupos, levantando, naturalmente, questões sobre a origem de uma
pessoa. O própria Kafka era fluente nas duas línguas, considerando o alemão sua
língua materna.
Kafka
formou-se em direito e, depois de completar sua educação, conseguiu um emprego
em uma companhia de seguros. Começou a escrever contos no seu tempo livre. Pelo
resto de sua vida, reclamou do pouco tempo que tinha para dedicar-se ao que
chegaria a chamar de “seu chamado”. Arrependeu-se de ter tido que dedicar tanto
tempo ao seu “ganha pão”. Kafka preferia comunicar-se através de cartas;
escreveu centenas de cartas para sua família e amigas próximas, incluindo seu
pai, sua noiva Felice Bauer e sua irmã mais nova, Ottla Kafka. Tinha uma
relação complicada e turbulenta com seu pai, o que teve uma grande influência
sobre sua escrita. Também sofreu por ser judeu, sentindo que essa era uma
característica que tinha pouco a ver consigo, apesar de críticos afirmarem que
isso influenciou sua escrita.
Apenas
algumas das obras de Kafka foram publicadas durante sua vida: as coleções de
contos Considerações e Um Médico Rural, e contos (como A Metamorfose) em
revistas literárias. Preparou a coleção Um Artista da Fome para impressão, mas
só foi publicada postumamente. Os trabalhos inacabados de Kafka, como os
romances O Processo, O Castelo e O Desaparecido, foram publicados postumamente
pelo seu amigo Max Brod, que ignorou o desejo de Kafka de ter seus manuscritos
destruídos. Albert Camus, Gabriel García Márquez e Jean-Paul Sartre estão entre
os escritores influenciados pela obra de Kafka; o termo "kafkiano"
popularizou-se em português como algo complicado, labiríntico e surreal, como
as situações encontradas em sua obra.
BiografiaFamília
Os
pais de Kafka, Hermann e Julie Kafka, em cerca de 1913.
Kafka
nasceu perto da Old Town Square, em Praga, parte então do Império
Austro-Húngaro. Pertencia a uma família de judeus esquemazões de classe média.
Seu pai, Hermann Kafka (1852-1931), era o quarto filho de Jakob Kafka6 7 , um
religioso de Osek, uma vila tcheca com uma grande população judaica, localizada
perto de Strakonice, no sudeste da Boêmia8 . Hermann trouxe a família de Kafka
para Praga. Depois de trabalhar como representante de vendas de viagem, ele
acabou tornando-se um varejista de artigos e roupas de fantasia que contratou
mais de 15 pessoas e usou a imagem de uma gralha (“kavka”, em tcheco) como a
logotipo de seu negócio.9 A mãe de Kafka, Julie (1856-1934), era filha de Jakob
Löwy, um próspero mercador de varejo em Poděbrady,10 e recebeu melhor educação
formal que seu marido.6 Os pais de Kafka provavelmente falavam uma variedade de
alemão influenciada pela língua iídiche, às vezes chamada pejorativamente de
mauscheldeutsch, mas, como a língua alemã era considerada o veículo de
mobilidade social, eles provavelmente encorajaram os seus filhos a falar o
alemão padrão.11 Hermann e Julie tiveram seis filhos, de quem Kafka era o mais
velho.12 Os dois irmãos de Franz, Georg e Heinrich, morreram na infância antes
de Franz completar sete anos; as suas três irmãs eram Gabriele (“Ellie)
(1889-1944), Valerie (“Valli”) (1890-1942) e Ottilie (“Ottla”) (1892-1943).
Todas morreram durante o holocausto, na Segunda Guerra Mundial. Valli foi
deportada para o Gueto de Łódź na Polônia em 1942 – esta, todavia, é a última
referência documentada a ela.
Hermann
é descrito pelo biógrafo Stanley Corngold como um “um negociante grande,
egoísta e arrogante”13 e por Franz como “um verdadeiro Kafka nos quesitos
força, saúde, apetite, sonoridade vocal, eloquência, autossatisfação, dominação
mundial, resistência, presença de mente, [e] conhecimento da natureza
humana”.14 Nos dias de comércio, ambos os pais ausentavam-se da casa, com Julie
Kafka trabalhando a até 12 horas por dia para ajudar a manter o negócio. A
infância de Kafka foi, consequentemente, de certo modo solitária,15 e as
crianças foram criadas por um grupo de governantas e serventes. A relação
turbulenta de Kafka com seu pai é evidente em sua Carta ao Pai, de mais de 100
páginas, nas quais ele reclama de ser profundamente afetado pela autoridade de
seu pais e pela sua personalidade exigente;16 sua mãe, em contraste, era quieta
e tímida.17 A figura dominante do pai de Kafka teve uma influência significante
em sua escrita.18
A
família Kafka mantinha uma servente com eles no seu apartamento apertado. O
quarto de Franz era geralmente frio. Em novembro de 1913 a família mudou-se
para um apartamento maior, apesar de Ellie e Valli terem se casado e mudado
ainda no primeiro apartamento. No começo de agosto de 1914, pouco após o começo
da Primeira Guerra Mundial, as irmãs não sabiam onde os seus maridos estavam
servindo como militares e retornaram ao apartamento da família. Tanto Ellie
quanto Valli tiveram filhos. Franz, aos 31 anos, mudou-se para o antigo
apartamento de Valli e passou a viver sozinho pela primeira vez.19
Educação
Kafka
em 1888, aos 5 anos
De
1889 a 1893, Kafka frequentou a escola primária para garotos Deutsche
Knabenschule German no Masný trh/Fleischmarkt (Mercado de Carne, em tradução
literal), conhecido como Masná Street. Sua educação judaica terminou com a
celebração de seu Bar Mitzvah aos 13 anos. Kafka nunca gostou de frequentar a
sinagoga e visitava-a somente em quatro feriados ao ano com seu pai.14 20 21
Após
concluir a escola primária em 1893, Kafka foi aceito no rigoroso ginásio
clássico estadual, o Altstädter Deutsches Gymnasium, uma escola secundária
acadêmica na Old Town Square, no Kinský Palace. O alemão era a língua de
ensino, mas Kafka também falava e escrevia em tcheco; estudou a língua no
ginásio por oito anos, conquistando boas notas. Apesar de ter recebido elogios
pelo seu tcheco, nunca considerou-se fluente no idioma, mesmo que falasse
alemão com sotaque tcheco. Concluiu seus exames finais em 1901.
Aceito
na Deutsche Karl-Ferdinands-Universität, de Praga, em 1901, Kafka começou a
estudar química, mas trocou o curso pelo de direito depois de duas semanas.22
Apesar de esse não ser um campo pelo qual ele sentisse grande empatia, era um
campo que oferecia uma gama de carreiras que satisfaziam seu pai. Além disso,
direito exigia uma grande grade de cursos, o que deu a Kafka a oportunidade de
ter aulas de estudos alemães e história da arte.23 Também participou de um
clube estudantil, o Lese-und Redehalle der Deutschen Studenten (Salão de
Leitura e Oratória dos Estudantes Alemães), que organizava eventos literários,
leituras e outras atividades.24 Entre os amigos de Kafka estavam o jornalista
Felix Weltsch, que estudou filosofia, o ator Yitzchak Lowy, que vinha de uma
família chassídica ortodóxica, e os escritores Oskar Baum e Franz Werfel.25
Ao
fim dos seus primeiros anos de estudos, Kafka conheceu Max Brod, um colega de
direito que tornou-se um grande amigo.24 Brod logo percebeu que, apesar de
tímido e calado, o que Kafka dizia costumava ser profundo.26 Kafka sempre foi
um ávido leitor;27 juntos, ele e Brod leram Protágoras, de Platão, no original
em grego, por iniciativa de Brod, e A Educação Sentimental e A Tentação de
Santo Antão, de Gustave Flaubert, em francês, por iniciativa própria.28 Kafka
considerava Fiódor Dostoiévski, Flaubert, Franz Grillparzez e Heinrich von
Kleist os seus “verdadeiros irmãos”.29 Além destes, ele tinha interesse em
literatura tcheca e gostava também das obras de Goethe.30 31 Kafka obteve o
grau de Doutor das Leis em 18 de julho de 190632 33 e prestou um ano de serviço
não-remunerado obrigatório como empregado de escritório para cortes civis e
criminais.34
Emprego[editar
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Antiga
sede do Instituto de Seguros por Acidentes de Trabalho do Reino da Boêmia.
Em
1 de novembro de 1907, Kafka foi contratado pela Assicurazioni Generali, uma
companhia de seguros italiana, onde trabalhou por quase um ano. Sua
correspondência durante esse período indica que essa sua primeira experiência
com uma jornada de trabalho (das 08:00 às 18:0035 36 ) o insatisfez bastante, o
que dificultou sua concentração na escrita, que estava ganhando cada vez mais
importância para ele. Em 15 de julho de 1908, demitiu-se. Duas semanas depois,
encontrou um trabalho que lhe permitia melhores condições para a escrita no
Instituto de Seguros por Acidentes de Trabalho do Reino da Boêmia. O emprego
envolvia a investigação e a avaliação de compensação por danos pessoais para
trabalhadores industriais; acidentes como a perda de dedos ou membros eram
comuns na época. O professor de administração Peter Drucker credita Kafka pelo
desenvolvimento do primeiro capacete de segurança civil enquanto trabalhava no
Instituto de Seguros, apesar de essa afirmação não ser sustentada por nenhum
documento da sua empregadora.37 38 Seu pais constantemente referia-se ao
trabalho de seu filho de oficial de seguros como “trabalho ganha pão”, um
trabalho feito apenas para pagar as contas; Kafka afirmava constantemente
detestar seu serviço. Foi rapidamente promovido, e os seus deveres incluíam o
processamento e a investigação das compensações exigidas, a escrita de
relatórios e o comando de pedidos de negociantes que achavam que as suas
empresas foram colocadas em uma categoria de risco muito alta, o que acabaria
por custar-lhes mais nas compensações de seguro.39 Ele compilaria e comporia o
relatório anual do instituto de seguros de todos os anos em que trabalhou ali.
Os relatórios eram bem recebidos pelos seus superiores.40 Kafka geralmente saía
do trabalho às 14:00, o que lhe dava tempo para gastar no seu trabalho
literário, ao qual ele tornava-se cada vez mais ligado.41 O pai de Kafka também
esperava que ele ajudasse a tomar conta da loja de fantasias da família.42 Nos
seus últimos anos, a doença de Kafka muitas vezes o liberou do trabalho na
investigação de seguros e na escrita dos seus relatórios. Anos mais tarde, Brod
cunhou o termo Der enge Prager Kreis (“O Círculo Íntimo de Praga”) para
descrever o grupo de artistas em que estavam incluídos Kafka, Felix Weltsch e
ele.43 44
Pelo
fim de 1911, o marido de Elli, Karl Hermann, e Kafka tornaram-se companheiros
na primeira fábrica de asbesto de Praga, conhecida como Prager Asbestwerke
Hermann & Co., fundada com o dinheiro do dote de Hermann Kafka. Kafka no
começo demonstrou uma atitude positiva, dedicando grande parte do seu tempo
livre para os negócios, mas mais tarde ressentiu-se pelo tempo que essa
atividade lhe tirava da sua escrita.45 Durante esse período, ele também
encontrou interesse e entretenimento em apresentações do teatro iídiche.46 Após
ver uma trupe de um teatro iídiche se apresentar em outubro de 1911, pelos
próximos seis meses Kafka “se aprofundou no idioma iídiche e na literatura
iídiche”. Este interesse também serviu como ponto inicial da sua crescente
exploração do judaísmo.47 Foi por essa época que Kafka tornou-se vegetariano.48
Por volta de 1915 Kafka recebeu sua convocação para o serviço militar na
Primeira Guerra Mundial, mas os seus patrões no instituto de seguros
conseguiram um adiamento, pois consideravam seu trabalho um trabalho
governamental essencial. Mais tarde ele tentou se juntar ao exército mas foi
impedido pelos seus problemas médicos associados com a tuberculose,49 com a
qual foi diagnosticado em 1917.50 Em 1918 o Instituto de Seguros afastou Kafka
com uma pensão devido à sua doença, para a qual não havia cura na época, e ele
passou a maior parte do resto de sua vida em sanatórios.34
Vida
particular[editar | editar código-fonte]
Placa
indicando o local onde Kafka nasceu, em Praga.
Kafka
teve uma vida sexual ativa. De acordo com Brod, Kafka era “torturado” pelo
desejo sexual51 e o biógrafo de Kafka Riner Stach coloca que sua vida era
afetada por “uma atitude incessante de mulherengo” e que ele tinha medo de “um
fracasso sexual”.52 Visitou bordéis na maior parte de sua vida adulta53 54 55 e
tinha interesse por pornografia.51 Além do mais, ele manteve relações íntimas
com diversas mulheres durante sua vida. Em 13 de agosto de 1912, Kafka conheceu
Felice Bauer, uma parente de Brod, que trabalhou em Berlim como uma
representante de uma empresa de ditafone. Uma semana depois do encontro, na
casa de Brod, Kafka escreveu no seu diário:
Senhorita
FB. Quando cheguei no Brod em 13 de agosto, ela estava sentada na mesa. Não
estava realmente interessado em quem ela era, porque isso estava claro desde o
começo. Rosto ossudo e vazio que veste o seu vazio abertamente. Garganta nua.
Uma camisa jogada por cima. Aparentava no entanto ser muito doméstica no seu
vestido, mas como se viu ela não o era de maneira alguma. (Eu me desvio dela um
pouco examinando-a tão detidamente...) Um nariz quase quebrado. Loira, meio que
reta, cabelo sem atrativos, queixo rígido. Quando estava sentando-me examinei-a
detidamente pela primeira vez, quando estava sentado já tinha uma opinião imutável.56
57
Pouco
depois disso, Kafka escreveu o conto O Julgamento em apenas uma noite, e
trabalhou em um período produto em Der Verschollene (O Desaparecido) e Die
Verwandlung (A Metamorfose). Kafka e Felice Bauer comunicaram-se basicamente
por cartas durante os próximos cinco anos, encontraram-se ocasionalmente e
noivaram duas vezes.58 As extensas cartas de Kafka para ela foram publicadas em
Brife an Felice (Cartas para Felice); as cartas dela não foram conservadas.56
59 60 De acordo com os biógrafos Stach e James Hawes, por volta de 1920 Kafka
estava noivo pela terceira vez, desta vez de Julie Wohryzek, uma camareira
pobre e com pouca instrução.58 61 Apesar de os dois terem alugado um
apartamento e marcado uma data para o casamento, a cerimônia nunca chegou a
ocorrer. Durante esse período Kafka começou um esboço da sua Carta ao Pai, que
era contra Julie por causa das suas crenças sionistas. Antes da data do
casamento, ele ligou-se a outra mulher.62 Ao passo em que precisava de mulheres
e sexo na sua vida, tinha pouca autoestima, sentia-se sexualmente sujo e era
tímido – principalmente sobre o seu corpo.34
Stach
e Brod colocam que na época em que Kafka conheceu Felice Bauer, ele tinha um
caso com uma amiga dela, Margarethe “Grete” Bloch,63 uma judia de Berlim. Brod
diz que Bloch deu à luz o filho de Kafka, embora Kafka não tenha tomado
conhecimento da criança. O garoto, cujo nome é desconhecido, nasceu em 1914 ou
1915 e morreu em Munique em 1921.64 65 Mas o biógrafo Peter-André Alt afirma
que, mesmo que Bloch tenha tido a criança, Kafka não era o pai por não ter
havido nenhum contato íntimo.66 67 Stach coloca que Bloch teve um filho, mas
não há nenhuma prova sólida de que Kafka era o pai, apenas evidências
contraditórias.68
Kafka
foi diagnosticado com tuberculose em agosto de 1917 e mudou-se por alguns meses
à vila boêmia de Zürau (Siřem, em tcheco), onde sua irmã Ottla trabalhava na
fazenda com o seu genro Hermann. Sentiu-se confortável ali e mais tarde
descreveu esse período como talvez o melhor período de sua vida, provavelmente
porque não tinha responsabilidades. Manteve diários e outros escritos íntimos.
Das notas desses livros, Kafka tirou 109 bilhetes enumerados em Zettel, pedaços
individuais de papel sem ordem dada. Foram mais tarde publicados como Die
Zürauer Aphorismen oder Betrachtungen über Sünde, Hoffnung, Leid und den wahren
Weg (Os Aforismos de Zürau ou Reflexões sobre o Pecado, a Culpa, o Sofrimento e
a Verdadeira Guerra, editado no Brasil como Aforismos).69
Em
1920 Kafka deu início a uma intensa relação com Milena Jesenská, uma jornalista
e escritora tcheca. Suas cartas para ela foram publicadas mais tarde como
Cartas para Milena.70 Durante férias em julho de 1923 ao Graal-Müritz, no Mar
Báltico, Kafka conheceu Dora Diamant, uma professora de jardim de infância de
uma família judaica ortodoxa. Kafka, esperando escapar da influência da sua
família para se concentrar na sua escrita, mudou-se rapidamente para Berlim e
viveu com Diamant. Ela tornou-se sua amante e fez com que ele começasse a interessar-se
no Talmude.71 Trabalhou em quatro contos, que preparou para serem publicados
como Um Artista da Fome.70
Personalidade
Franz
Kafka, gravura de Jan Hladík, de 1978
Kafka
temia que as pessoas achassem-no repulsivo física e mentalmente. No entanto,
aqueles que conheciam-no percebiam que ele possuía um comportamente quieto e
agradável, uma inteligência óbvia e um senso de humor seco; também achavam-no
juvenilmente bonito, apesar de sua aparência austera.72 73 74 Brod comparou
Kafka a Heinrich von Kleist, observando que ambos os escritores tinham a
habilidade de descrever realistiamente uma situação com detalhes precisos.75
Brod achava Kafka uma das pessoas mais divertidas que conheceu; Kafka gostava
de se divertir com seus amigos, e também ajudava-os em situações difíceis com
bons conselhos.76 De acordo com Brod, ele era um recitador apaixonado, capaz de
falar seu discurso como se fosse música.77 Brod sentia que dois dos traços mais
distintos de Kafka eram “veracidade absoluta” e “conscienciosidade exata”.78 79
Ele explorava o detalhe, o imperceptível, o profundo com tanto amor e precisão
que as coisas vinham à tona de uma forma inimaginável, parecendo estranhas mas
não passando da pura verdade.80
Apesar
de Kafka ter demonstrado pouco interesse em exercitar-se quando criança, mais
tarde mostrou-se interessado em jogos e atividades físicas,27 sendo um bom
ciclista, nadador e remador.78 Em fins-de-samana ele e seus amigos faziam
longas caminhadas, muitas vezes planejadas pelo próprio Kafka.81 Seus outros
interesses incluíam medicina alternativa, sistemas modernos de educação, como o
método Montessori,78 e novidades técnicas, como aviões e filmes.82 A escrita
era importante para Kafka; considerava-na uma “forma de oração”.83 Era muito
sensível ao barulho e preferia a quietude quando estava escrevendo.84
Pérez-Álverez
sustentou que Kafka provavelmente tinha transtorno de personalidade
esquizoide.85 Seu estilo, ele afirma, não somente em A Metamorfose, mas em
várias de suas obras, aparentemente mostra características esquizoides de nível
baixo a médio, o que explica muito da sua obra surpreendente.86 Sua agonia pode
ser vista nessa entrada no seu diário de 21 de junho de 1913:87
O
gigante mundo que tenho em minha cabeça. Mas como me libertar e libertá-los sem
rasgos. E uma centena de vezes rasgam-se em mim para então serem segurados ou
enterrados. Por isso estou aqui, isso está bastante claro para mim.88
E
no Zürau Aphorism de número 50:
O
homem não pode viver sem uma confiança permanente de algo indestrutível em si
mesmo, apesar de tanto essa coisa indestrutível como a sua própria confiança
nisso poderem permanecer escondidas dele.89
Apesar
de Kafka nunca ter se casado, tinha o casamento e os filhos em alta conta. Teve
inúmeras namoradas,90 mas alguns acadêmicos já especularam sobre sua orientação
sexual. Outros sugeriram que ele sofreu de um distúrbio alimentar. O doutor
Manfred. M. Fichter, da Clínica Psiquiátrica da Universidade de Munique,
apresentou “provas para a hipótese de que o escritor Franz Kafka sofreu de uma
anorexia nervosa anormal”,91 e que Kafka não era somente solitário e depressivo
mas também “ocasionalmente suicida”.73 No seu livro de 1995 Franz Kafka, the
Jewish Patient, Sander Gilman investiga “o motivo pelo qual um judeu pode ter
sido considerado ‘hipocondríaco’ ou ‘homossexual’ e como Kafka incorporou
aspectos dessas maneiras de entendimento do judeu na sua imagem de si mesmo e
na sua escrita”.92 Kafka pensou em cometer suicídio pelo menos uma vez, no fim
de 1912.93
Visões
políticas
Retrato
de cerca de 1900 do escritor anarquista russo Piotr Kropotkin, citado por Kafka
em seu diário.
Antes
da Primeira Guerra Mundial,94 Kafka assistiu a diversos encontros do Klub
Mladých, uma organização anarquista, anti-militarista e anti-clerical.95 Hugo
Bergmann, que frequentou às mesmas escolas elementares e primárias,
desentendeu-se com Kafka durante seu último ano acadêmico (1900-1901) porque “o
socialismo [de Kafka] e o meu sionismo eram muito acentuados”.96 97 “Em 1898
Franz tornou-se um socialista, eu tornei-me um sionista. As sínteses do
sionismo e do socialismo ainda não existiam”. Bergmann sustenta que Kafka
vestiu um cravo rosa na escola para mostrar o seu apoio ao socialismo.97 Em uma
passagem em seu diário, Kafka fez uma referência ao influente anarquista e
filósofo Piotr Kropotkin: “Não esqueça Kropotkin!”98 Mais tarde ele disse,
referindo-se aos anarquistas tchecos: “Eles, irrepreensivelmente, buscam
compreender a felicidade humana. Eu os entendo. Mas... era incapaz de continuar
marchando ao seu lado por muito tempo”.99
Durante
a era comunista, o legado da obra de Kafka para o Bloco do Leste foi tema de
discussões acaloradas. As opiniões foram do pensamento de que ele satirizava a
trapalhada burotrática de um Império Austro-Húngaro decadente à crença que ele
encarnou a ascensão do socialismo. Outro ponto importante foi a teoria da
alienação de Marx. Enquanto a posição ortodótica defendia que as representação
de alienação de Kafka não eram mais relevantes para uma sociedade que havia
supostamente acabado com a alienação, uma conferência em 1963 realizada em
Liblice, na então Tchecoslováquia, no octogésimo aniversário da sua morte, fez
com que a importância da representação de Kafka da burocracia ressurgisse.100
Se Kafka foi ou não um escritor político ainda é uma questão em debate.
Judaísmo
e sionismo[editar | editar código-fonte]
Kafka
foi criado em Praga como um judeu falante de alemão.101 Teve grande fascinação
pelos judeus do Leste Europeu, de quem pensava possuírem uma vida espiritual de
uma intensidade que não era encontrada nos judeus do Ocidente. Seu diário está
cheio de referências a escritores iídiches.102 Apesar disso, por vezes ele distanciava-se
do judaísmo e da vida judaica: “O que eu tenho em comum com os judeus? Mal
tenho algo em comum comigo mesmo, e deveria estar quieto em um corredor,
contente por respirar”.103 Na sua adolescência, Kafka se declarou um ateu.104
Hawes
sugere que Kafka, apesar de bastante consciente de seu próprio judaísmo, não
colocou-o na sua obra, a qual, de acordo com Hawes, carece de personagens,
cenas ou temas judeus.105 106 107 Na opinião do crítico literário Harold Bloom,
apesar da dureza de Kafka com sua herança judaica, ele foi o escritor judeu por
excelência.108 Lothar Kahn mostra ainda menos dúvida quanto a isso: “A presença
do judaísmo na obra de Kafka não é mais assunto para se discutir”.109 Pavel
Eisner, um dos primeiros tradutores de Kafka para o idioma inglês, interpretou
o clássico O Processo como a encarnação da “terceira dimensão da existência
judaica em Praga... seu protagonista Josef K. é (simbolicamente) preso por um
alemão (Rabensteiner), um tcheco (Kullich) e um judeu (Kaminer). Ele representa
a ‘culpa inculpável’ que vive no judeu no mundo moderno, mesmo que não haja
provas de que ele seja judeu”.110
No
seu ensaio Sadness in Palestine?!, Dan Miron explora a conexão de Kafka ao
sionismo: “Parece que aqueles que afirmam que houve tal conexão e que o
sionismo ocupou um papel central na sua vida e na sua obra literária, e aqueles
que negam completamente a conexão ou descartam sua importância, estão
igualmente enganados. A verdade reside em um lugar bastante esquivo entre esses
pólos simplistas”.102 Kafka pensou em se mudar para a Palestina com Felice
Bauer, e mais tarde com Dora Diamant. Estudou hebreu enquanto vivia em Berlim,
contratando um amigo de Brod da Palestina, Pua Bat-Tovim, para ensinar-lhe o
idioma,102 e frequentou as aulas dos rabinos Julius Grünthal111 e Julius
Guttman no Berlin Hochschule für die Wissenschaft des Judentums (Colégio de
Berlim para o Estudo do Judaísmo).112
Túmulo
da família Kafka, no Novo Cemitério Judeu, em Praga, com epitáfios em hebraico.
Livia
Rothkirchen chama Kafka de “a figura simbólica da sua época”.110 Entre seus
contemporâneos há inúmeros escritores judeus (tchecos, alemães e nascidos em
comunidades judaicas) que eram sensíveis à cultura alemã, tcheca, austríaca e
judaica. De acordo com Rothkirchen, “A situação emprestou a seus escritos uma
ampla visão cosmopolita e uma qualidade de exaltação que beira a contemplação
metafísica transcendental. Um famoso exemplo disso é Franz Kafka”.110
Perto
do fim de sua vida, Kafka enviou um cartão-postal para seu amigo Hugo Bergman,
em Tel Aviv, informando sua intenção de imigrar para a Palestina. Bergman
recusou-se a hospedar Kafka pois tinha filhos pequenos e temia a possibilidade
de Kafka infectá-los com tuberculose.113
Morte
A
tuberculose laríngea de Kafka piorou e em março de 1924 ele voltou de Berlim a
Praga,58 onde familiares, principalmente sua irmã Ottla, tomaram conta dele.
Ele foi para o sanatório do Dr. Hoffmann, em Klosterneuburg, perto de Viena, em
10 de abril70 e morreu lá em 3 de junho de 1924. A causa da sua morte
aparentemente foi fome: a condição da garganta de Kafka fez com que comer
tornasse-se uma atividade muito dolorosa para ele, e já que a nutrição
parenteral ainda não tinha sido desenvolvida, não houve meios de alimentá-lo.114
115 Kafka estava editando Um Artista da Fome no seu leito de morte, um conto
cuja composição tinha sido iniciada antes da sua garganta se fechar ao ponto
dele não mais poder se alimentar.116 Seu corpo foi trazido de volta a Praga,
onde foi sepultado em 11 de junho de 1924, no Novo Cemitério Judeu, em
Žižkov.54 117 Kafka foi desconhecido em vida, mas ele não considerava a fama
algo importante. Tornou-se famoso logo após sua morte.83
Obra
Primeira
página do manuscrito de Kafka de Carta ao Pai.
Toda
a obra publicada de Kafka, com exceção de algumas cartas que escreveu em tcheco
para Milena Jesenská, foram escritas em alemão. O pouco que foi publicado em
sua vida atraiu pouca atenção pública.
Kafka
não terminou nenhum de seus romances maiores e queimou cerca de 90% da sua
própria obra,118 119 grande parte durante o período em que viveu em Berlim com
Diamant, que ajudou-lhe a queimar os rascunhos.120 Nos seus primeiros anos como
escritor, ele foi influenciado por von Kleist, cuja obra ele descreveu em uma
carta a Bauer como assustadora e a quem ele considerava mais próximo que sua
própria família.121
Contos
As
primeiras obras publicadas de Kafka foram oito contos que apareceram em 1908 na
primeira edição do jornal litário Hyperion, sob o título de Contemplação.
Escreveu o conto Descrição de uma Luta]] em 1904; mostrou-o a Bord em 1905, que
aconselhou-o a continuar a escrever e o convenceu a enviá-lo ao Hyperion. Kafka
publicou um excerto em 1908122 e duas seções na primavera de 1909, tudo em
Munique.123
Em
um repente criativo na noite de 22 de setembro de 1912, Kafka escreveu o conto
O Veredicto e o dedicou a Felice Bauer. Brod notou a similariedade entre os
nomes do protagonista principal e da sua noiva fictícia, Georg Bendemann e
Frieda Brandenfeld, aos de Franz Kafka e Felice Baeur.124 O conto é
ferequentemente considerado a obra de avanço para a escrita de Kafka. Trata da
relação conturbada de um filho e seu pai dominante, a qual enfrenta uma nova
fase após o noivado de seu filho.125 126 Kafka mais tarde revelou estar
escrevendo em “completa abertura de corpo e alma”127 um conto que
“desenvolveu-se em um nascimento verdadeiro, coberto de sujeira e lodo”.128 O conto
foi publicado primeiramente em Leipzig em 1912 e dedicado “à senhorita Felice
Bauer” e em edições subsequentes “a F.”70
Em
1912, Kafka escreveu o conto A Metamorfose,129 publicado em 1915 em Leipzig. O
conto começa com um caixeiro-viajante acordando e descobrindo-se metamorfoseado
em uma criatura repulsiva. Os críticos consideram a obra uma das obras
essenciais da ficção do século XX.130 131 132 O conto Na Colônia Penal, que
trata de um elaborado dispositivo de tortura e execução, foi escrito em outubro
de 1914,70 revisado em 1918 e publicado em Leipzig durante outubro de 1919. O
conto Um Artista da Fome, publicado no periódico Die neue Rundschau em 1924,
narra a história de um protagonista fracassado cuja grande façanha era a de
poder passar fome por vários dias.133 Seu último conto, Josefina, a cantora ou
o Povo dos Ratos, também lida com a relação entre o artista e seu público.134
Romances
Folha
de rosto da primeira edição de O Processo, publicada em 1925.
Kafka
começou o projeto para seu primeiro romance em 1912;135 seu primeiro capítulo é
o conto O Foguista. Kafka intitulou a obra, que permaneceu inacabada, de O
Desaparecido, mas Brod o publicou, após a morte de Kafka, sob o título de
Amérika.136 A inspiração para o romance veio da apresentação teatral iídiche
que ele assistiu no último ano e que levou-o a uma nova percepção sobre sua
origem - o que, por sua vez, fez com que ele passasse a acreditar que dentro de
cada um vive uma apreciação inata de sua origem.137 Com um humor mais explícito
e um estilo um pouco mais realista do que os encontrados na maior parte das
obras de Kafka, o romance tem como base para sua trama um sistema opressivo e
intocável que coloca repetidamente o protagonista em situações bizarras.138 Contém
muitos detalhes de experiências vividas por parentes de Kafka que emigraram
para a América139 e é a única obra para a qual Kafka destinou um final
otimista.140
Durante
1914, Kafka começou o romance O Processo,123 a história de um homem processado
por uma autoridade remota e inacessiva, sendo a natureza de seu crime mantida
oculta tanto para ele quanto para o leitor. Kafka não concluiu o romance,
apesar de ter finalizado o capítulo final. De acordo com Elias Canetti,
vencedor do Prêmio Nobel e especialista em Kafka, Felice foi fundamental para o
desenvolvimento da trama do romance e Kafka disse que esta era “a história
dela”.141 142 Canetti intitulou o seu livro sobre as cartas de Kafka para
Felice de O Outro Processo, em reconhecimento da relação entre as cartas e o
romance.142 Michiko Katutani observou em uma resenha para o The New York Times
que as cartas de Kafka tem as “digitais de sua ficção: a mesma atenção nervosa
a particularidades diminutas; o mesmo conhecimento paranoico de balanças
mutáveis do poder; a mesma atmosfera de sufocamente emocional – combinados,
surpreendentemente, com momentos de ardor e encanto juvenis”.142
De
acordo com seu diário, Kafka já tinha em planejamento o romance O Castelo em 11
de junho de 1914; de qualquer modo, ele não começou a escrevê-lo até 27 de
janeiro de 1922.123 O protagonista é um agrimensor chamado K., que luta por
razões desconhecidas para ter acesso às misteriosas autoridades de um castelo
que governa a vila. A intenção de Kafka era que as autoridades do castelo
notificassem K. no seu leito de morte que “seu requerimento legal de viver na
vila era inválido, mas, levando-se em conta certas circunstâncias auxiliadoras,
ele estava prestes a ser autorizado a viver e trabalhar ali”.143 Sombrio e
algumas vezes surreal, o romance foca na alienação, na burocracia, nas
aparentemente intermináveis tentativas fracassadas do homem em resistir ao
sistema, e na busca inúltil e infrutífera de uma meta inalcançável. Hartmut M.
Rastalsky observou na sua teste: “Como em sonhos, seus textos unem detalhes
‘realistas’ precisos com coisas absurdas, observações detalhadas e
protagonistas racionais com esquecimentos e descuidos inexplicáveis”.144
História
de publicação[editar | editar código-fonte]
Os
contos de Kafka foram primeiro publicados em periódicos literários. Seus oito
primeiro contos foram publicados na primeira edição, de 1908, da revista
bimensal Hyperion.145 Franz Bei, amigo de Kafka, publicou dos diálogos em 1909
que viriam a se tornar parte da Descrição de uma Luta.145 Um trecho do conto Os
Aviões em Brescia, escrito em uma viagem à Itália para Brod, apareceram no
jornal Bohemia em 18 de setembro de 1909.145 146 Em 27 de março de 1910, vários
contos que mais tarde integrariam a coleção Contemplação foram publicados na edição
especial de Páscoa do Bohemia. Em 1913, em Leipzig, Brod e o editor Kurt Wolff
colocaram O Veredito. Um Conto por Franz Kafka no seu anuário de poesia
Arkadia. O conto Diante da Lei foi publicado na edição comemorativa de ano-novo
de 1915 do semanário judeu independente Selbstwehr; foi reimpresso em 1919 como
parte da coleção de contos Um Médico Rural e tornou-se parte do romance O
Processo. Outros contos foram editados em diversas publicações, incluindo a Der
Jude, revista de Brok, o jornal Prager Tagblatt e os periódicos Die neue
Rundschau, Genius e Prager Presse.145
O
primeiro livro publicado de Kafka, Contemplação, é uma coleção de 18 contos
escritos entre 1904 e 1912. Em uma viagem de férias para Weimar, Brod
apresentou Kafka para Kurt Wolff;147 Wolff publicou Meditações na editora
Rowohlt Verlag no fim de 1912 (na edição, o ano está 1913).148 Kafka dedicou o
livro para Brod, “Für M.B.”, e colocou na cópia dada a seu amigo “So wie es
hier schon gedruckt ist, für meinen liebsten Max — Franz K.” (“Como já está
impresso, a meu querido Max”).149
O
conto de Kafka A Metamorfose foi primeiramente publicado na edição de outubro
de 1915 da Die Weißen Blätter, uma revista literária mensal de literatura
expressionista, editada por René Schickele.148 Outra coleção de contos, Um
Doutor Rural, foi publicada por Kurt Wolff em 1919,148 dedicada ao pai de
Kafka.150 Kafka preparou uma coleção final de quatro contos para impressão, Um
Artista da Fome, que foi publicada pouco depois de sua morte em 1924, no
periódico vanguardista Verlag Die Schmiede. Em 20 de abril de 1924, o jornal
Berliner Börsen-Courier publicou o ensaio de Kafka sobre Adalbert Stifter.151
Max
Brod
Fotografia
de Max Brod, testamenteiro literário de Kafka, em 1914.
Kafka
deixou os direitos de sua obra, tanto a publicada quanto a não publicada, para
seu amigo e testamenteiro literário Max Brod, com instruções explícitas de que
ela deveria ser destruída após a morte de Kafka; Kafka escreveu: “Querido Max,
meu último pedido: Tudo que eu deixo para trás... na forma de diários,
manuscritos, cartas (minhas e de outras pessoas), esboços, e assim por diante,
deve ser queimado sem ser lido”.152 153 Brod decidiu ignorar este pedido e
publicar os romances e a obra completa entre 1925 e 1935. Levou consigo muitos
papéis, que permaneceram sem ser publicados, nas suas malas quando fugiu para a
Palestina em 1939.154 A última amante de Kafka, Dora Diamant (mais tarde
chamada de Dymant-Lask), também ignorou seus pedidos, mantendo secretamente 20
cadernos e 35 cartas. Eles foram confiscados pela Gestapo em 1933, mas
pesquisadores continuam a procurá-los.155
Quando
Kafka publicou uma parte do espólio que estava com ele,156 a obra de Kafka
começou a atrair maior atenção e elogios por parte da crítica. Kafka achou
difícil organizar os cadernos de Kafka em ordem cronológica. Um problema
encontrado para isso é que Kafka muitas vezes escrevia em diferentes partes do
livro, ao invés de concluir um capítulo para iniciar outro e assim por diante;
às vezes isso acontecia no meio, às vezes ele começava do fim e escrevia dali
para o começo o restante da obra.157 158 Brod tentou organizar, com o material
que tinha, da forma como Kafka aparentemente organizaria, de acordo com seus
diários e cartas, muitas das obras inacabadas, para que elas pudessem ser
publicadas. Kafka, por exemplo, deixou O Processo com capítulos inumerados e
inacabados e O Castelo com frases incompletas e conteúdos ambíguos;158 Brod
reorganizou os capítulos, editou o texto e mudou a pontuação. O Processo foi
publicado em 1925 na Verlag Die Schmiede. Kurt Wolff publicou outros dois
romances, O Castelo, em 1926, e O Desaparecido (sob o título de Amérika), em
1927. Em 1931, Brod editou uma coleção de prosa e contos não publicados em A Grande
Muralha da China, que inclui o conto de mesmo nome. O livro foi publicado pela
editora Kiepenheuer & Witsch. As edições de Brod geralmente são chamadas de
edições definitivas.159
Edições
modernas
Em
1961, Malcolm Pasley adquiriu a maior parte dos manuscritos originais de Kafka
para a Biblioteca Bodleiana, da Universidade de Oxford.160 161 O manuscrito de
O Processo mais tarde foi adquirido através de um leilão e está guardado no
Arquivo de Literatura Alemã em Marbach am Neckar, na Alemanha.161 162 Mais
tarde, Pasley liderou uma equipe (da qual participaram Gerhard Neumann, Jost
Schillemeit e Jürgen Born) que reconstruiu os romances de Kafka; S. Fischer
Verlag republicou-os.163 Pasley foi o editor da edição de O Castelo publicada
em 1982 e a de O Processo publicada em 1990. Jost Schillemeit foi o editor da
edição de O Desaparecido publicada em 1983. Essas edições são chamadas de
edições críticas, ou edições de Fischer.164
Escritos
não publicados
Quando
Brod morreu em 1968, ele deixou os escritos ainda não publicados de Kafka, cujo
número acredita-se chegar às centenas, a sua secretária, Ester Hoffe.165 Ela
publicou e vendeu alguns, mas deixou a maioria para suas filhas, Eva e Ruth,
que também se recusaram a publicar os escritos. Um processo começou em 2008
entre as irmãs e a Livraria Nacional de Israel, que alegou que essas obras
tornaram-se propriedade da nação de Israel quando Brod emigrou para a Palestina
Britânica em 1939. Esher Hoffe vendeu o manuscrito original de O Processo por
US$ 2 milhões em 1988 para o Arquivo de Literatura Alemã do Museu de Literatura
Moderna em Marbach am Neckar.118 166 Somente Eva ainda estava viva em 2012.167
A decisão de um tribunal de família de Tel Aviv decidiu em 2010 que os escritos
deveriam ser divulgados, juntamente com outros mais concluídos, incluindo um
conto jamais publicado, mas a disputa legal continuou.168 Os Hoffes alegam que
os escritos são patrimônio pessoal deles, enquanto a Biblioteca Nacional argumenta
que eles são “patrimônios culturais pertencentes ao povo judeu”.168 A
Biblioteca Nacional também sugere que Brod legou os escritos para ela em seu
testamento. A corte de família de Tel Aviv decidiu em outubro de 2012 que os
escritos eram propriedade da Biblioteca Nacional.169
Leituras
críticas[editar | editar código-fonte]
Retrato
de Fiódor Dostoiévski (1872), por Vassilij Grigorovič Perov, escritor a quem
Kafka chamou de "irmão" e cuja obra é largamente paralelizada pelos
críticos com a de Kafka.
O
poeta W. H. Auden chamou Kafka de “o Dante do século XX”;170 o romancista
Vladimir Nabokov colocou-o entre os maiores escritores do século XX.171 Gabriel
García Márquez comentou que a leitura de A Metamorfose o mostrou que “era
possível escrever de uma forma diferente”.103 172 O tema central da obra de
Kafka, demonstrado pela primeira vez no conto O Julgamento,173 é o conflito
entre pai e filho: a culpa sentida pelo filho é aliviada através do sofrimento
e da reparação.16 173 Outros temas e arquétipos importantes incluem alienação,
brutalidades física e psicológica, personagens com missões aterrorizantes e
transformações místicas.174
O
estilo de Kafka foi comparado ao de Heinrich von Kleist ainda em 1916, em uma
resenha de A Metamorfose e O Foguista, por Oscar Walzel no Berliner
Beiträge.175 A natureza da prosa de Kafka também abre espaço para diversas
interpretações e os críticos já a colocaram em inúmeras escolas literárias.176
Os marxistas, por exemplo, já tiveram grandes desentimentos sobre como interpretar
as obras de Kafka.95 176 Alguns acusaram-no de distorcer a realidade, enquanto
outros afirmam que ele estava criticando o capitalismo.176 A desesperança e o
absurdo comuns em suas obras são vistos como simbolismos existencialistas.177
Alguns dos livros de Kafka são influenciados pelo expressionismo, apesar de a
maior parte de sua produção literária ser associada com o gênero experimental
do modernismo. Kafka também explora a questão dos conflito do homem com a
burocracia. Wiliam Burrows afirma que o foco da obra de Kafka são os conceitos
de luta, dor, solidão e a necessidade de relações.178 Outros, como Thomas Mann,
veem a obra de Kafka como uma alegoria religiosa: uma missão, metafísica por
natureza, para Deus.179 180
De
acordo com Gilles Deleuze e Félix Guattari, os temas de alienação e
perseguição, apesar de presentes na obra de Kafka, têm sido superestimados
pelos críticos. Eles argumentam que a obra de Kafka é mais cautelosa e
subversiva – e mais divertida – do que pode parecer à primeira vista. Eles
ressaltam que ler a sua obra focando na futilidade das lutas dos personagens
revela a jogada humorística de Kafka; ele não está necessariamente comentando
sobre os próprios problemas, e sim mostrando como as pessoas tendem a inventar
problemas. Em sua obra, Kafka muitas vezes cria mundos absurdos e cruéis.181
182 Kafka lia para seus amigos esboços das suas obras, tendo tido o costume de
focar nas partes prosaicamente humorísticas. O escritor Milan Kundera sugere
que o humor surrealista de Kafka seja uma inversão do estilo de Dostoiévski,
que apresentou personagens punidas por algum crime. Na obra de Kafka, uma
personagem é punida mesmo que nenhum crime tenha sido cometido. Kundera
acredita que as inspirações de Kafka para as suas situações características
vieram tanto por crescer em uma família patriarcal quanto por viver em um
Estado totalitário.183
Tentativas
de identificar o papel da lei na sua ficção e as influências que Kafka teve
para criar o pano de fundo jurídico de seus livros foram feitas.184 185 A maior
parte das interpretações considera os aspectos da lei e da legaligade como
importantes para sua obra,186 na qual o sistema legal é muitas vezes
opressivo.187 A lei na obra de Kafka, mais do que representar qualquer entidade
política ou legal, geralmente é interpretada como a representação de uma
variedade de forças anônimas e incompreensíveis. Forças estas que são
escondidas do indivíduo, mas que controlam a vida das pessoas, que são vítimas
inocentes de sistemas que vão além de seus controles.186 Críticos que defendem
essa interpretação absurdista citam circunstâncias em que Kafka se descreveu em
conflito com um universo absurdo, como nessa entrada de seu diário:
Preso
entre quatro paredes de mim mesmo, descubro-me um emigrante preso em um país estrangeiro...
vejo minha família como alienígenas cujos costumes, ritos e linguagem
estrangeiros desafiaram minha compreensão... apesar de eu não querê-lo, eles
forçaram-me a participar de seus rituais bizarros... não pude resistir.188
De
qualquer modo, James Hawes argumenta que muitas descrições de Kafka sobre
procedimentos legais em O Processo são baseados em descrições precisas e
detalhadas de processos criminais alemães e austríacos da época, que foram mais
inquisitoriais do que legais – com o mesmo apelo metafísico e absurdista, a
confusão e a atmosfera de pesadelo encontrados na obra de Kafka.189 Apesar de
trabalhar com seguros, Kafka era “particularmente inteirado dos debates legais
de sua época”.185 190 Em uma publicação do início do século XXI que usa os
relatórios oficiais de Kafka como ponto de partida,191 Pothik Ghosh afirma que
para Kafka a lei “não tem nenhum outro sentido que não o de ser uma força de
pura dominação e determinação”.192
A
obra de Kafka tem despertado enorme interesse entre os leitores gays193 pois,
de acordo com Ruth Tiefenbrun, a maior parte dos seus personagens são homens
homossexuais, que simultaneamente exibem a necessidade de se esconder e de se
exibir194 . Já Gregory Woods refere que, mesmo que a sexualidade de Kafka seja
controversa, tal não deve impedir a apreciação dos seus textos no âmbito da
literatura gay, e que as histórias de homens isolados, forçados a não ter
certezas na vida, que estão em constante perigo de ser descobertos, tocam
fortemente na sensibilidade de todos os gays195 .
Traduções
em Portugal[editar | editar código-fonte]
O
interesse pela obra de Kafka em Portugal aumentou em sequência com o restante
de Europa, sendo o escritor primeiro foco de ensaios e depois de traduções: o
primeiro texto de Kafka traduzido para o português que tem-se notícia foi
publicado em Portugal, o conto A porta da lei, na revista Mundo Literário,
traduzido por Adolfo Casais Monteiro. Uma publicação em livro, no entanto, só
foi acontecer mais de uma década depois: A muralha da China, em Antologia do
conto moderno, traduzida por João Gaspar Simões e publicada pela editora
Arcádia em 1958; seguida por O caçador Gracchus em 1959, em Os melhores contos
fantásticos, por Eurico da Costa.196 197
Em
1961 foi publicado Antologia de páginas íntimas, em que reuniam-se textos
pessoais de Kafka, mas nenhum ficção, selecionados, prefaciados e traduzidos
por Alfredo Margarido e publicados pela editora Guimarães Editores. Em 1962 uma
coletânea reunindo contos célebres de Kafka, como Um médico rural, A colônia
penal e O veredicto (traduzidos então como O médico de aldeia, A colónia
penitenciária e O Verdictum), foi publicada sob o título de O Covil, por João
Gaspar Simões, na editora Inquérito.196 197
Até
1962 o público português ainda não tinha uma edição própria dos textos longos
importantes de Kafka, sendo no mesmo ano reeditada a tradução de Breno Silveira
de Metamorfose pela Livros do Brasil, publicada em 1956 no Brasil. Neste ano os
contos principais de Kafka foram publicados em Os melhores contos de Kafka, por
A. Serra Lopes, também pela Arcádia, onde encontra-se a primeira edição
portuguesa de A metamorfose.196 197
O
interesse pela obra de Kafka aumentou em Portugal, mas gradualmente foi
estabilizando-se sem contar com uma edição traduzida direto do alemão e tendo
várias reedições de traduções brasileiras. Tem-se notícia de que somente em
1999 Kafka recebeu sua primeira tradução direta para Portugal: O processo, por
Álvaro Gonçalves, publicado pela editora Assírio & Alvim.196 197
A
partir da década de 2000 as edições da obra de Kafka passaram a ganhar maior apuro
editorial em Portugal, sendo lançadas várias traduções diretas do alemão de
contos e romances.196 197
Traduções
no Brasil
Apesar
de traduções de Kafka para o português terem sido publicadas no Brasil somente
a partir da década de 1950, sua obra já gerava interesse no público
especializado, que recorria aos originais alemães ou a traduções em outros
idiomas: em 1942 o primeiro ensaio sobre Kafka no Brasil foi lançado, Franz
Kafka e o mundo invisível, de Otto Maria Carpeaux; e em 1952 o ensaio Kafkiano
foi publicado no jornal Diário Carioca.198 199
As
primeiras obras de Kafka traduzidas no Brasil foram publicadas a partir da
segunda metade da década de 1950, começando em 1956 com Metamorfose em tradução
de Brenno Silveira, pela editora Civilização Brasileira. A tradução foi feita a
partir do inglês e não obteve grande popularidade de público, sendo
referenciada somente por alguns meios da época. A segunda obra traduzida para o
português foi o conto O artista do trapézio, publicado pela editora Cultrix e
feita por um tradutor desconhecido, provavelmente do inglês.198 199
A
partir da década de 1960, no mesmo período da ditadura militar, a obra de Kafka
ganhou maior interesse, e novas traduções foram feitas e outras relançadas: Torrieri
Guimarães lança em 1964 e 1965 quatro traduções supostamente do francês, O
processo, pela editora Tecnoprint, O processo, pela Tema, e América e A colônia
penal, pela Livraria Exposição do Livro. Estas traduções mais tarde levantaram
algumas controversas entre especialistas, principalmente por causa das
introduções. O ano em que mais publicou-se Kafka no Brasil foi 1965, com 43
textos.198 199
Pela
década de 1970 a obra de Kafka continuou gerando interesse no público, que
passou a buscar traduções feitas a partir do alemão. Essas traduções começaram
a ser feitas pelo tradutor, crítico literário e professor de Literatura Alemã
da Universidade de São Paulo Modesto Carone, que publicou textos kafkianos em
jornais e livros, com introduções e análises técnicas. Carone começou a
publicar suas traduções de Kafka em 1983, por ocasião do centenário de
nascimento de Kafka, quando foi convidado pelo jornal Folha de S. Paulo a
escrever um ensaio que seria acompanhado de algumas traduções em Século
Kafkiano. Carone deu início ali a um projeto de traduzir a obra completa de
Kafka.200 198 199
Problemas
de tradução[editar | editar código-fonte]
Kafka
muitas vezes utilizou-se de uma característica particular da língua alemã com a
qual pode-se escrever livremente longas frases, as quais podem chegar até a uma
página de extensão. Dessa forma as frases de Kafka impactam o leitor antes
mesmo de serem concluídas – sendo o fim o foco e o significado. Isso ocorre
graças à construção das orações subordinadas no alemão, que requere que o verbo
seja colocado ao fim da frase. Essas características são de difícil tradução
não só para o português como para diversas outras línguas, como o inglês, o que
faz com que o tradutor precise buscar uma característica linguística com um efeito
pelo menos parecido com o encontrado no texto original.201 A ordem sintática
alemã oferece diversas formas de traduzir-se.202 Um exemplo é a primeira frase
de A metamorfose, crucial para o entendimento de toda a história:203
Als
Gregor Samsa eines Morgens aus unruhigen Traumen erwachte fand er sich in
seinem Bett zu einem ungeheuren Ungeziefer verwandelt. (Original)
Quando
certa manhã Gregor Samsa de sonhos intranquilos acordou, metamorfoseado em sua
cama num inseto monstruoso encontrou-se. (Tradução literal)204
Outro
problema para os tradutores é verter a característica de Kafka de usar
expressões intencionalmente ambíguas e que na frase encaixam-se perfeitamente,
em todos os sentidos.205 206 Um exemplo é encontrado na primeira frase de A
Metamorfose. Os tradutores geralmente traduzem a palavra Ungeziefer como
“inseto”, ou “inseto monstruoso”; no alemão usado no meio coloquial de Kafka,
entretanto, Ungeziefer significava literalmente “um animal insuficientemente
limpo para o sacrifício”;207 no alemão moderno significa “verme”, “inseto”. Às
vezes é usado coloquialmente como “bicho” – um termo bastante genérico, ao
contrário do termo científico “inseto”.
A
intenção de Kafka não era classificar Gregor em nenhum grupo social através das
palavras que usava, mas demonstrar simplesmente o nojo que Gregor tinha de sua
metamorfose.130 131 Outro exemplo é o uso de Kafka do substantivo noun Verkehr
na frase final de O julgamento. Verkehr significa literalmente intercurso,
“cruzar”, e, em português e inglês, pode ter tanto uma conotação sexual como
não; além do mais, é usado para significa transporte ou tráfico. A frase pode
ser traduzida como: “Naquele momento, um fluxo interminável de tráfego sobre a
ponte cruzou”.208 A ambiguidade de Verkehr recebe ainda mais destaque devido à
confissão que Kafka fez a Brod de que quando escreveu essa frase estava
pensando em “uma ejaculação violenta”.128 209
As
traduções para o português geralmente distinguem-se das traduções literais,
principalmente as que receberam grande destaque, como as do tradutor brasileiro
Marcelo Caronte, direto do alemão. Explicando sua escolha por construções
simples e comuns na tradução de O processo, no posfácio, Caronte disse que
verter literalmente técnicas comuns do alemão para o português causaria uma
estranheza não encontrada no texto original, cuja simplicidade abre espaço à
dúvida no momento em que o que primeiro foi deixado claro de forma simples
passa a ser desconstruído.210
Como
exemplo ele pega a frase inicial de O processo:
Alguém
certamente havia caluniado Josef K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito
mal algum.211
Ao
longo do livro, contrariando o “certamente” escrito por Kafka, não fica claro
nem que K. foi caluniado, nem que ele foi detido, nem que ele não fez mal
algum. Essas pequenas aparentes contradições, de acordo com Caronte, ajudariam
a criar a atmosfera tipicamente kafkiana de surrealismo.210
Tanto
nos posfácios de O processo como de A metamorfose, Caronte coloca que tentou
manter a fidelidade dos termos jurídicos usados por Kafka para descrever seus
personagens e que remetem à própria profissão que exerceu, o que dá ao texto
uma aspereza técnica que amplia a alienação e o tormento dos personagens.210
212
LegadoEstátua
de bronze de Jaroslav Róna em Praga
“Kafkiano”[editar
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A
escrita de Kafka inspirou a criação do termo “kafkiana”, usado tanto em
português como em outras línguas (em inglês, fala-se “Kafkaesque”) para
descrever conceitos e situações que remetem à sua obra, principalmente O
processo e A metamorfose. Entre os exemplos de situações usadas estão momentos
quando a burocracia subjuga as pessoas, geralmente de forma surreal, evocando
distorção, falta de sentido e impossibilidade de ajuda. Personagens em uma cena
kafkiana geralmente carecem de autossuficiência para escapara das situações
labirínticas. Elementos kafkianos muitas vezes aparecem em obras existencialistas,
mas o termo ultrapassou o meio literário e também é usado em ocorrências reais
que são incompreensíveis, complexas, bizarras ou ilógicas.34 213 214 215
Diversos
filmes e projetos televisivos foram descritos como kafkianos, e o estilo recebe
especial atenção no gênero de ficção-científica distópica. Obras desse gênero
que foram classificadas como kafkianas incluem o filme britânico Brazil, de
1985, de Terry Gilliam, e o filme noir Dark City, de 1998. Entre os filmes de
outros gêneros que receberam a mesma classificação estão The Tenant (1967) e
Barton Fink (1991).216 A série televisiva The Prisoner, tanto a versão original
de 1965 quanto o remake de 2009, é também muitas vezes descrita como
kafkiana.217 218
Celebrações
Foi
fundado em Praga o Museu de Franz Kafka, dedicado à vida e obra do escritor. Um
dos destaques do museu é a exposição Město K. Franz Kafka a Praha (A Cidade de
K. Franz Kafka e Praga, em tradução literal), que foi primeiro mostrada ao
público em Barcelona, em 1999, depois mudada para o Museu Judeu em Nova Iorque
e afinal colocada em 2005 em Praga, no distrito de Malá Strana, ao lado do Rio
Moldava. Nela estão diversas fotos e documentos originais da vida de Kafka, com
a intenção, segundo o museu, de imergir o visitante no que seria o mundo em que
o escritor viveu e sobre o qual escreveu.219
O
Prêmio Franz Kafka é um prêmio literário anual patrocinado pela Sociedade de
Franz Kafka e pela Cidade Praga, fundado em 2001. Sua função, de acordo com a
premiação, é promover a literatura como “uma contribuição humanística à
tolerância cultural, nacional, linguística e religiosa, com seus personagens
eternos, sua validade humana e sua capacidade de deixar um testemunho sobre
nosso tempo”.220 O comitê de seleção e os indicados são formados por pessoas de
todo o mundo, mas são limitados a escritores vivos que tenham publicado pelo
menos uma obra em tcheco.220 O vencedor leva $ 10,000, um diploma e uma estátua
de bronze em uma cerimônia realizada na Cidade Velha no feriado tcheco do fim
de outubro.220
A
Universidade de San Diego comanda um Projeto Kafkiano desde 1998, que é o
projeto investigativo oficial em busca dos últimos escritos de Kafka.155
Influência
Ao
contrário de outros escritores famosos, Kafka raramente é citado. Ao invés
disso ele recebe mais destaque por suas visões e perspectiva.221 Shimon
Sandbank, um professor e escritor, afirma que Kafka influenciou Jorge Luis
Borges, Albert Camus, Èugene Ionesco, J. M. Coetzee e Jean-Paul Sartre.222 Um
crítico literário do jornal Financial Times credita Kafka como uma das
influências de José Saramago,223 e Al Silverman, um escritor e editor, comentou
que J. D. Salinger adorava ler as obras de Kafka.224 Em 1999, um comitê
composto por 99 escritores, acadêmicos e críticos literários colocaram O
processo e O castelo como o segundo e o nono, respectivamente, romances mais
importantes em língua alemã do século XX.225 Sandbank afirma ainda que, apesar
da difusão da obra de Kafka, seu estilo enigmático ainda precisa ser levado à
frente.222 Neil Christian Pages, um professor de alemão e literatura na
Universidade de Binghamton que especializou-se na obra de Kafka, diz que a
influência de Kafka transcende os meios literários e impacta também as artes
visuais, a música e a cultura popular.226 Harry Steinhauer, um professor de
literatura alemã e judaica, diz que Kafka “teve maior impacto no meio literário
que qualquer outro escritor do século XX”.34 Brod disse que o século XX ainda
será conhecido como o “século de Kafka”.34
O
professor francês Michel-André Bossy escreveu que Kafka criou um universo
rigidamente inflexível e estéril. Kafka escreveu de forma distinta
utilizando-se de diversos termos legais e científicos. Apesar disso sua ficção
também é composta de humor intrínseco, sempre destacando a “irracionalidade
radical presente no mundo supostamente racional”.174 Seus personagens são
presos, confundidos, culpados, frustrados e ignorantes do mundo irracional em
que vivem. Grande parte da ficção pós-Kafka, especialmente a ficção-científica,
segue temas e preceitos da ficção kafkiana. Isso pode ser visto em obras de
escritores como George Orwell e Ray Bradbury.174
Lista
de obras influenciadas[editar | editar código-fonte]
Título Ano País Mídia Descrição Referência
A
Friend of Kafka 1962 Polónia conto de Isaac Bashevis Singer, vencedor do Prêmio
Nobel, em que conta-se a história de um ator iídiche chamado Jacques Kohn, que
diz ter conhecido Franz Kafka; nesse encontro, de acordo com Jacques Kohn,
Kafka acreditavam em golem, uma criatura lendária da cultura judaica. 227
O
Processo 1962 Estados Unidos filme dirigido por Orson Welles, que disse: “Diga
o que quiser, mas O Processo é minha obra principal, melhor até do que Cidadão
Kane'”. 213 228
Watermelon
Man 1970 Estados Unidos filme parcialmente inspirado por A Metamorfose,
onde um segregacionista branco acorda negro. 229
Kafka-Fragmente,
Op. 24 1985 Roménia música do compositor György Kurtág para soprano e
violino, usando trechos do diário e das cartas de Kafka. 230
Kafka's
Dick 1986 Reino Unido peça de Alan Bennett, em que os fantasmas de
Kafka, seu pai Hermann e Brod entram na casa de um agente de seguros inglês,
aficionado por Kafka, e de sua esposa. 231
Kafka 1991 Estados
Unidos filme escrito por Lem Dobbs, dirigido por Steven
Soderbergh e estrelado por Jeremy Irons, misturando a vida e a obra fictícia de
Kafka, criando um retrato semi-biográfico de Kafka, que no filme investiga o
desaparecimento de um de seus colegas de trabalho, passando por diversas de
suas obras, principalmente O Castelo e O Processo. 232
Franz
Kafka's It's a Wonderful Life 1993 Reino Unido filme escrito e dirigido por Peter Capaldi e
estrelado por Richard E. Grant como Kafka, é um curta-metragem de comédia da
BBC Scotland que venceu um Oscar. 233
Bad
Mojo 1996 Estados Unidos videogame levemente baseado em A Metamorfose, com
personagens com os nomes de Franz e Roger Samms, referindo-se a Gregor Samsa. 234
In
the Penal Colony 2000 Estados Unidos ópera do compositor
Philip Glass. 235
Kafka
à Beira-Mar 2002 Japão romance do escritor Haruki Murakami. 236
Kafka's
Trial 2005 Dinamarca ópera do compositor Poul Ruders, baseado no romance
e em partes da vida de Kafka; apresentada pela primeira vez em 2005 e lançada
em CD. 237
Kafka's
Soup 2005 Reino
Unido livro de Mark Crick, é um pastiche literário na forma de um livro de
culinária, com receitas escritas no estilo kafkiano. 238
Kafkaesque,
em Breaking Bad 2010 Estados Unidos episódio de série televisiva da terceira temporada de Breaking Bad, escrito por Peter Gould e
George Mastras. Nele o personagem Jesse Pinkman vai a um encontro de terapia,
descreve seu trabalho em uma lavandaria corporativa como algo chato, reclamando
sobre seu chefe, pelo qual todos têm medo de encontrar. Um dos líderes do grupo
comenta que “Soa um pouco kafkiano”.
Kafka
the Musical 2011 Reino Unido peça
de rádio pela BBC Radio 3, produzido como
parte da programação Play of the Week. Franz Kafka foi interpretado por David
Tennant. 239
Sound
Interpretations — Dedication To Franz Kafka 2012 Bielorrússia música da gravadora HAZE
Netlabel, é uma compilação musical em que músicos repensam o legado literário
de Kafka. 240
Google
Doodle 2013 Estados Unidos cultura digital um
doodle pela Google comemorando o 130º aniversário de Kafka, em que uma barata
com um chapéu está abrindo uma porta. 241
The
Metamorphosis 2013 Reino Unido dança da companhia Royal Ballet, é uma produção de A
Metamorfose, com o dançarino Edward Watson. 242
Café
Kafka 2014 Flag of Spain.svg Espanha ópera do compositor Francisco Coll, construído com
base em textos e trechos de Franz Kafka; apresentado no Aldeburgh Music, Opera
North and Royal Opera Covent Garden.
Resident
Evil: Revelations 2 2015 Japão, Estados Unidos, Europa Jogo Nome
dos capítulos (“A Colônia Penal” , “Contemplação”, “O Julgamento” e “A
Metamorfose”) são obras de Kafka. O jogo narra frases de Kafka. 243
Escritos[editar
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Lista
dos principais escritos literários de Franz Kafka:
Romances
O
Desaparecido (escrito em 1912 - publicado em 1927)
O
Processo (1914 - 1925)
O
Castelo (1922 – 1926)
Contos
Um
Médico Rural (escrito e publicado em 1919)
Um
Artista da Fome (1922)
A
Grande Muralha da China (escrito em 1918 – publicado em 1931)
Novelas
A
Metamorfose (escrita em 1912 – publicada em 1915).
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_Kafka