Janelinha de trem
Desejo de um dia ficar repousandoSob uma dessas cruzes de volta de estrada
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Imagina, meu charo Zebedeu,
A figura que fiz de Camapheu!...
Outras cousas eu tenho, de primor,
E, como sei que á ellas dás valor,
As irei pouco a pouco relatando
Para que tu as vas apreciando;
Sobre tudo hum discurso bestial
Que espantou hum preclaro Tribunal.
Amigo Zebedeu^ querido amigo,
Dormindo ou acordado eu sou-xom tigo.
Não te esqueças do Vate—
Muriçoca,
Doctor da Mula-Russa—
Tapióca.
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« Meus Senhores!—Presentes e futuros—
« Perdoem se me expresso em termos duros.
« Esta nobre e luzida companhia,
« Que se augmenta de dia para dia,
« E' qual ramo de rosas florecente
« Em peito de donzella refulgente,
« Exalando perfume delicado,
« Que nos faz commetter mortal peccado!
« E' a luz do progresso, da razão,
« Pelo mundo espargindo o seu clarão;
-« E' o facho da tocha da verdade
« Que nas trevas derrama a claridade,
« E' do fogo do Céo brilhante efluvio
« As águas estancando do dilúvio!
« E' rayo que fuzila reluzente,
« Qual razão na cachóla do demente,
« E' o fero inimigo da mamparra
« Que a vil estupidez no mundo esbarra!...»
Imagina, meu charo Zebedeu,
A figura que fiz de Coripheu!
Tive applausos, foi cousa nunca vista,
Disseram que na testa eu tinha crista.
Huns gritavam que eu era o Mirabeau,
Apezar da figura de Crapaud;
Aquell' outro dizia—que talento!
Os Lentes bradavam—que portento!!...
Os collegas, de mais entendimento,
Baixinho murmuravam—que jumento!!....
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Sobre as grimpas subi dò Heliconiô,
Montado iio cachaço do demônio;
As Musas deslumbrei com meu tambor,
Os foros conquistei de alto cantor.
Com odes, d'improviso, fiz fracasso,
Deixando o louro Apollo n'hum cagasso!
Os versos recitei com força tal,
Que os ouvintes fugiram p'ra o quintal,
Sentindo lá por dentro tal barulho,
Que no chão cada hum fez seu embrulha
Oh talento da Musa purgativa,
Que á turba confundiste em roda viva!
Na grande e magestosa Faculdade,
Onde provas já dei de habilidade,
Os collegas me encaram respeitosos,
Pelos actos que fiz, maravilhosos;
E n'hum dia que fui á sabbatina
O meu lente espichei—tiníia batina!
Na festa que lá vem de anno em anno,
Do Atheneu, que chamam, P&ülistano,
Já fiz huma tremenda discurseirá,
A* que todos chamaram—babüseira.
Disse cousas que todos se espantaram,
Não sei como patetas hão ficaram!
Oh poder do talento, da razão,
Mais troante què hiim tiro de canhão!
—Cedendo á rija torça quê me pucha
Hum trecho aqui te dou da tãl éstUcha.-
Triste beleza
Como seria triste a beleza do sonhar,Insanidade
Prefiro o anonimato, a curvar-me as