Quando saíram, o deputado disse ao médico:
- Meu amigo, você é desleal comigo...
- Por quê? perguntou Estêvão meio sério e meio risonho, não compreendendo a observação do deputado.
- Sim, continuou Menezes; você esconde-me um segredo...
- Eu?
- É verdade: e um segredo de amor.
- Ah!... disse Estêvão; por que diz isso?
- Reparei há pouco que, ao passo que os mais conversavam em política, você pensava em uma mulher, e mulher... lindíssima...
Estêvão compreendeu que estava descoberto; não negou.
- É verdade, pensava em uma mulher.
- E eu serei o último a saber?
- Mas saber o quê? Não há amor, não há nada. Encontrei uma mulher que me impressionou e ainda agora me preocupa; mas é bem possível que não passe disto. Aí está. É um capítulo interrompido; um romance que fica na primeira página. Eu lhe digo: há de me ser difícil amar.
- Por quê?
- Eu sei? custa-me a crer no amor.
Menezes olhou fixamente para Estêvão, sorriu, abanou a cabeça e disse:
- Olhe, deixe a descrença para os que já sofreram as decepções; o senhor está moço, não conhece ainda nada desse sentimento. Na sua idade ninguém é céptico... Demais, se a mulher é bonita, eu aposto que daqui a pouco há de dizer-me o contrário.
- Pode ser... respondeu Estêvão.
E ao mesmo tempo entrou a pensar nas palavras de Menezes, palavras que ele comparava ao episódio do teatro Lírico.
Entretanto, Estêvão foi ao convite de Magdalena. Preparou-se e perfumou-se como se fosse falar a uma noiva. Que sairia daquele encontro? Viria de lá livre ou cativo? Já seria amado? Estêvão não deixou de pensá-lo; aquele convite parecia-lhe uma prova irrecusável. O médico entrando num tílburi começou a formar vários castelos no ar.
Enfim chegou à casa.
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