sábado, 22 de janeiro de 2022

Contos do Sábado na Usina: Olavo Bilac: FEITO NO ESCURO...:


Ele era branco, e ela branca, Ambos claros como a luz... Casaram. Baile de arranca, E pagodeira de truz... 
O mais formoso dos ninhos Era a casa, à beira-mar, Onde, como dois pombinhos, Foram os dois arrulhar. 
Só eles... e um cozinheiro, Que era o crioulo Manuel, Crioulo lesto e ligeiro, Obediente... e fiel. 
Ali, Amor assentava Os seus doces arraiais, 
E o mar, gemendo, invejava Aqueles beijos... e o mais. 
Nove meses decorridos, Uma notícia correu: Escutaram-se os vagidos... 
E o morgadinho nasceu! 
Que horror! que espanto! o menino, Filho daquela afeição, 
Era belo e pequenino, Mas... preto como carvão!... 
O marido, ardendo em chama, 
Fígado cheio de fel, Quer, ali mesmo na cama, 
Estrangular a infiel. 
Ela, porém, que o conhece, Pergunta: — "Você que tem? "Você maluco parece... "Reflita um pouco, meu bem! 
"Bem lhe eu dizia, homem duro! "Porém, você a teimar... 
"Olhe! O que é feito no escuro, "Sempre há-de de escuro ficar! 
"Pois... o pobre pequenino... "Feito de noite... bem se vê... Cada qual tem seu destino.... 
"O culpado foi você. " 
Tudo acaba em alegria... 
Mas o Manuel, no fogão, Malicioso sorria, 
E temperava o feijão. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário