sábado, 3 de agosto de 2013

Poetas Ambulantes: Saída de agosto.

Poetas Ambulantes: Saída de agosto.: Atenção passageiros,  motoristas, cobradores, cidadãos paulistanos esse sábado sairemos com poesia e alegria em punhos equilibr...

Machado de Assis; Uma Flor - Uma Lagrima:


Out. 1858

— Por que há de a musa que coroam rosas
Da rocha inculta só rebentam cardos:
Lágrima fria de pisados olhos
Não cabe em chão de pérolas.
— Por que há de a musa que coroam rosas
Vir debruçar-se no ervaçal inculto,
E pedir um perfume à flor da noite
Que o vento enregelara?
Minha musa é a virgem das florestas
Sentada à sombra da palmeira antiga;
Cantando, e só — por uma noite amarga
Uma canção de lágrimas...
A aura noturna perpassou-lhe as tranças,
A mão do inverno enregelou-lhe os seios,
Roçou-lhe as asas na carreira ardente
O anjo das tempestades.
Por que há de a musa que coroam rosas
Pedir-lhe um canto? O alaúde é belo
Quando amestrada mão lhe roça as cordas
Num canto onipotente.
Pede-se acaso à ave que rasteja
Rasgado vôo? ao espinhal perfumes?
Risos da madrugada ao céu da noite
Sem luar nem estrelas?
Pedem-se as rosas aos jardins da vida;
Da rocha inculta só rebentam cardos;
Lágrima fria de pisados olhos

Não cabe em chão de pérolas.