quarta-feira, 20 de julho de 2022

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:

  




CANTO DO SERTANEJO

Salve, oh! florestas sombrias, Salve, oh! broncas penedias, Onde as rijas ventanias Murmuram fera canção, Nas sombras deste deserto Do norte ao rude concerto, Sentado de Deus tão perto Quem é que teme o Bretão?

Cobre-se a selva de flores,

Brincam voláteis cantores

Bebendo os langues odores

Que passam na viração,

Rugem cavernas frementes,

Silvam medonhas serpentes,

Bradam raivosas torrentes,

Quem é que teme o Bretão?

Ah! correi filhos das matas,

Através das cataratas,

Entre suaves cantatas

Ao gênio da solidão,

Cuspi nos dias escassos,

Rompei os imigos laços...

Não tendes dois fortes braços?

Que Loucos! nas fundas clareiras,

Aos urros das cachoeiras

Nas brenhas das cordilheiras,

Feia morte encontrarão!

Quem tem do ermo as grandezas,

As serras por fortalezas

Não teme as loucas bravezas

Do temerário Bretão!

Daqui decide-se a sorte,

Daqui troveja-se a morte,

Daqui se extingue a coorte

Que insulta a brava nação!...

Gritos das selvas, dos montes,

Dos matagais e das fontes

Retumbam nos horizontes...

Quem é que teme o Bretão?

Salve, oh! florestas sombrias,

Salve, oh! broncas penedias,

Onde as rijas ventanias

Perpassam varrendo o chão,

Neste profundo deserto

De negros antros coberto

Sentado de Deus tão perto

Quem é que teme o Bretão?

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:




Atalhos

Sem qualquer anseio ou senectude,
e todas as virtudes se dispersem
pelos atalhos mais irônicos que criamos.
Para sermos aceitos, em meios ...

conteúdo do livro:



Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:




Periferia

É assim que se fala.
Aqui ninguém se cala.
Não temos medo de bala.
Mesmo que seja bala perdida ou
achada.
Essa tal de elite que só vem na TV
para nos ofender, achando que aqui só tem
lixo, e que não vamos crescer.
Pois então se prepara porque a qualquer
momento nós vamos descer, e todo mundo vai
ver, nem que seja na TV, que a periferia está
viva.
Então Brasília se cuide, porque estamos
chegando.
E não se enganem, pois vai dar muito pano...

conteúdo do livro:





Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:




Calmaria

O sono perturbador da calma

A alma fria do desejo imposto

O gosto amargo da despedida

A vida correndo como o Rio

Na inquietude para encontrar...

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Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varella:


 

VOZ DO POETA

Perdão, Senhor meu Deus! Busco-te embalde

Na natureza inteira! O dia, a noite,

O tempo, as estações mudos sucedem-se,

Mas eu sinto-te o sopro dentro dalma!

Da consciência ao fundo te contemplo!

E movo-me por ti, por ti respiro,

Ouço-te a voz que o cérebro me anima,

E em ti me alegro, e canto, e penso!

Da natureza inteira que aviventas

Todos os elos a teu ser se prendem,

Tudo parte de ti e a ti se volta;

Presente em toda a parte, e em parte alguma,

Íntima fibra, espírito infinito,

Moves potente a criação inteira!

Dás a vida e a morte, o olvido e a glória!

Se não posso adorar-te face a face,

Oh! basta-me sentir-te sempre, e sempre!

Eu creio em ti! eu sofro, e o sofrimento

Como ligeira nuvem se esvaece

Quando murmuro teu sagrado nome!

Eu creio em ti! e vejo além dos mundos,

Minha essência imortal brilhante e livre,

Longe dos erros, perto da verdade,

Branca dessa brancura imaculada

Que os gênios inspirados nesta vida

Em vão tentaram descobrir no mármore!

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varella:


 

DE CANTOS RELIGIOSOS

 AVE! MARIA!

 

A noite desce - lentas e tristes

Cobrem as sombras a serrania,

Calam-se as aves, choram os ventos,

Dizem os gênios: - Ave! Maria!

Na torre estreita de pobre templo

Ressoa o sino da freguesia,

Abrem-se as flores, Vesper desponta,

Cantam os anjos: - Ave! Maria!

No tosco alvergue de seus maiores,

Onde só reinam paz e alegria,

Entre os filhinhos o bom colono

Repete as vozes: - Ave! Maria!

E, longe, longe, na velha estrada,

Pára e saudades à pátria envia

Romeiro exausto que o céu contempla,

E fala aos ermos: - Ave! Maria!

Incerto nauta por feios mares,

Onde se estende névoa sombria,

Se encosta ao mastro, descobre a fronte,

Reza baixinho: - Ave! Maria!

Nas soledades, sem pão nem água,

Sem pouso e tenda, sem luz nem guia,

Triste mendigo, que as praças busca,

Curva-se e clama: - Ave! Maria!

 Só nas alcovas, nas salas dúbias,

 Nas longas mesas de longa orgia

Não diz o ímpio, não diz o avaro,

Não diz o ingrato: - Ave! Maria!

Ave! Maria! - No céu, na terra!

Luz da aliança! Doce harmonia!

Hora divina! Sublime estância!

Bendita sejas! - Ave! Maria!

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:



A SÃO PAULO

Terra da liberdade!

Pátria de heróis e berço de guerreiros,

Tu és o louro mais brilhante e puro,

O mais belo florão dos brasileiros!

Foi no teu solo, em borbotões de sangue

Que a fronte ergueram destemidos bravos,

Gritando altivos ao quebrar dos ferros:

-   Antes a morte que um viver de escravo

À voz das aves, ao soprar do norte,

 Que um rei potente às multidões curvada

Bradou soberbo: - Independência ou morte!

 Foi no teu seio que surgiu, sublime,

 Trindade eterna de heroísmo e glória,

Cujas estátuas cada vez mais belas,

Dormem nos templos da brasília história!

Eu te saúdo, oh! majestosa plaga,

 Filha dileta, e estrela da nação,

Que em brios santos carregaste os cílios

À voz cruenta de feroz Bretão!

 Pejaste os ares de sagrados cantos,

 Ergueste os braços e sorriste à guerra,

Mostrando ousada ao murmurar das turbas,

Bandeira imensa da cabrália terra!

 Eia! caminha, o Partenon da glória

 Te guarda o louro que premia os bravos!

Voa ao combate repetindo a lenda:

-   Morrer mil vezes que viver escravos!

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:


 

 (F. X. DE NOVAES.)

Se grosseiro alveilar ou charlatão

Entre nós se proclama sabichão;

E, com cartas compradas na Allemanha,

Por anil nos impinge ipecacuanha;

Se mata, por honrar a Medicina,

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:


 

SORTIMENTO DE GORRAS

PARA

A GENTE DO GRANDE TOM.

Seja um sábio o fabricante,

Seja a fabrica mui rica,

Quem carapuças fabrica

Soffre um dissabor constante;

Obra prompta, vôa errante,

Feita avulso, e sem medida;

Mas no vôo suspendida,

Por qualquer que lhe appareça,

Lá lhe fica na cabeça,

Té as orelhas mettida !

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:



 — 22 —

Tregeitos femineos,

Pisar delicado,

Andar compaçado;

Oh céos, que luxuria,

Que terna meluria!—

Que ar seductor,

Que todo elegante,

Que lindo semblante,

Que pé delicado—

Parece moldado!

Mas se queres, Leitor, ver um contraste,

Adonis em Morcego transformado,

Ou Cupido em figura de Macaco—

Aproxima-te ao néscio namorado.

E' hum velho farçola, desfructavel,

Com fumaças de joven, repinpado,

Que ao ridículo se presta, qual demente,

Ou de praça de touros mascarado.