quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Poesia De Quinta Na Usina: Fernando Pessoa:Aqui neste profundo apartamento:


 Aqui neste profundo apartamento
Em que, não por lugar, mas mente estou,
No claustro de ser eu, neste momento
Em que me encontro e sinto-me o que vou,
Aqui, agora, rememoro
Quanto de mim deixer de ser
E, inutilmente, [....] choro

O que sou e não pude ter.


Poesias Inéditas:
 Fernando Pessoa
Fonte: http://www.secrel.com.br/jpoesia/fpesso.html









Link para Download do Manual Prático de Bioga;


Poesia De Quinta Na Usina:Fernando Pessoa: Cada dia sem gozo não foi teu:


 Cada dia sem gozo não foi teu
Foi só durares nele. Quanto vivas
Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega

A natural ventura!

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis: Círculo vicioso:


 Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— "Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
— "Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!"
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
— "Mísera! tivesse eu aquela enorme, àquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!"
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
— "Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...

Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"

Ocide
 Ocidentais:
Texto-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, vol. III,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Publicado originalmente em Poesias Completas, Rio de Janeiro: Garnier, 1901.








Link para adquirir o Livro: Calabouço contos e outros:
http://24.233.183.33/cont/login/Index_Piloto.jsp?ID=bv24x7br



Poesia de Quinta Na Usina: D' Araújo:Confortável:




Em sua carcaça inerte o espírito repousa.
No conforto do assento do sofá da sala,
a TV rouba-lhe o tempo.
O computador acalenta seus ensejos.

A esperança é morta.
O sonho nem nasceu.

Mas a vida ainda pulsa,
ali, junto aquele corpo inerte,
que só espera a morte.



Poesia De quinta Na usina: D'Araujo: Simples assim:


A vida é simples assim,
Viver e amar, amar e viver,
Viver e amar, até a existência se esvair
em um desejo eterno de poder,
ficar e continuar, há viver, e amar,
amar e viver....

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis: NOIVADO:


 Vês, querida, o horizonte ardendo em chamas?
Além desses outeiros
Vai descambando o sol, e à terra envia
Os raios derradeiros;
A tarde, como noiva que enrubesce,
Traz no rosto um véu mole e transparente;
No fundo azul a estrela do poente
Já tímida aparece.
Como um bafo suavíssimo da noite,
Vem sussurrando o vento,
As árvores agita e imprime às folhas
O beijo sonolento.
A flor ajeita o cálix: cedo espera
O orvalho, e entanto exala o doce aroma;
Do leito do oriente a noite assoma;
Como uma sombra austera.
Vem tu, agora, ó filha de meus sonhos,
Vem, minha flor querida;
Vem contemplar o céu, página santa
Que amor a ler convida;
Da tua solidão rompe as cadeias;
Desce do teu sombrio e mudo asilo;
Encontrarás aqui o amor tranqüilo...
Que esperas? que receias?
Olha o templo de Deus, pomposo e grande;
Lá do horizonte oposto
A lua, como lâmpada, já surge
A alumiar teu rosto;
Os círios vão arder no altar sagrado,
Estrelinhas do céu que um anjo acende;
Olha como de bálsamos rescende
A c'roa do noivado.
Irão buscar-te em meio do caminho
As minhas esperanças;
E voltarão contigo, entrelaçadas
Nas tuas longas tranças;
No entanto eu preparei teu leito à sombra
Do limoeiro em flor; colhi contente
Folhas com que alastrei o solo ardente
De verde e mole alfombra.
Pelas ondas do tempo arrebatados,
Até à morte iremos,
Soltos ao longo do baixel da vida
Os esquecidos remos.
Firmes, entre o fragor da tempestade,
Gozaremos o bem que amor encerra,
Passaremos assim do sol da terra

Ao sol da eternidade.