quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Poesia De quinta Na Usina: Machado de Assis. Poema:STELLA



Já raro e mais escasso
A noite arrasta o manto,
E verte o último pranto
Por todo o vasto espaço.
Tíbio clarão já cora
A tela do horizonte,
E já de sobre o monte
Vem debruçar-se a aurora.
À muda e torva irmã,
Dormida de cansaço,
Lá vem tomar o espaço
A virgem da manhã.
Uma por uma, vão
As pálidas estrelas,
E vão, e vão com elas
Teus sonhos, coração.
Mas tu, que o devaneio
Inspiras do poeta,
Não vês que a vaga inquieta
Abre-te o úmido seio?
Vai. Radioso e ardente,
Em breve o astro do dia,
Rompendo a névoa fria,
Virá do roxo oriente.
Dos íntimos sonhares
Que a noite protegera,
De tanto que eu vertera,
Em lágrimas a pares,
Do amor silencioso,
Místico, doce, puro,
Dos sonhos de futuro,
Da paz, do etéreo gozo,
De tudo nos desperta
Luz de importuno dia;
Do amor que tanto a enchia
Minha alma está deserta.
A virgem da manhã
Já todo o céu domina...
Espero-te, divina,
Espero-te, amanhã.

Recanto dos Poetas: Poema do Dia: Avesso: D'Araújo

"Confira o poema na integra, no Recanto dos poetas"
Poema: Avesso:
A réstia que corta o horizonte, 
na linha reta do meu pensar,
Me da o repouso do aconchego do colo da vida,

que escorrega nas mãos do falso destino, de menino travesso...






Poesia De Quinta Na Usina:Fernando Pessoa: A pálida luz da manhã de inverno:


 A pálida luz da manhã de inverno,
O cais e a razão
Não dão mais 'sperança, nem menos 'sperança sequer,
Ao meu coração.
O que tem que ser
Será, quer eu queira que seja ou que não.
No rumor do cais, no bulício do rio
Na rua a acordar
Não há mais sossego, nem menos sossego sequer,
Para o meu 'sperar.
O que tem que não ser

Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.

Poesias Inéditas:
 Fernando Pessoa :Fonte: http://www.secrel.com.br/jpoesia/fpesso.html










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Poesia De quinta Na Usina: Fernando Pessoa; Poema: Cada Coisa.


Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.
À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.
À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,
E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do Sol) —
Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem
Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.
E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos
Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,

E há só noite lá fora.


 Poemas:Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa)
(Fonte:http://www.secrel.com.br/jpoesia/reis.html)

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis: TEU CANTO:


29 jun. 1855
A UMA ITALIANA.

É sempre nos teus cantos sonorosos
Que eu bebo inspiração.
DO AUTOR “Meu Anjo”.
Tu és tão sublime
Qual rosa entre as flores
De odores Suaves;
Teu canto é sonoro
Que excede ao encanto
Do canto
Das aves.
Eu sinto nest’alma,
Num meigo transporte,
Meu forte
Dulçor;
Se soltas teu canto
Que o peito me abala,
Que fala
De amor.
Se soltas as vozes
Que podem à calma,
Minh’alma
Volver;
Minh’alma se enleva
Num gozo expansivo
De vivo
Prazer.
Donzela, esta vida
Se eu tanto pudera,
Quisera
Te dar;
Se um beijo eu pudesse
Ardente e fugace
Na face

Pousar.

Antonio Araujo - Sarau Beco dos Poetas - 26 04 2015