
Escravo—não, não morri
Nos ferros da escravidão;
Lá nos palmares vivi,
Tenho livre o coração!
Nas minhas carnes rasgadas,
Nas faces ensangüentadas
Sinto as torturas de cá;
Deste corpo desgraçado
Meu espirito soltado
Não partiu—ficou-me lá!...
Se de hum quadrado
Fizer hum ôvo
N'isso dou provas
De escriptor novo.
Sobre as abas sentado do Parnaso,
Pois que subir não pude ao alto cume,
Qual pobre, de hum Mosteiro á Portaria,
De trovas fabriquei este volume.
Vasias de saber, e de prosapia,
Não tractam de-Ariosto ou Lamartine
Nem recendem as ternas ambrosias
De Marsyas, Lamiras e Aritine.
Sam rithmas de tarello, atropeladas,
Sem metro, sem cadência e sem bitola,
Que formam no papel um ziguezague,
Como os passos de rengo manquitóla.
Grosseiras producções d'inculta mente,
Em horas de pachorra construídas;
Mas filhas de hum bestunto que não rende
Torpe lisonja ás almas fementidas.
O desejo de velar teu sono
Embalar teus sonhos
Aquecer teu corpo
Acalentar tua alma
Ser teu ensejo de existência
Ter a paciência de te esperar.
Com o resplandecer dos teus olhos
A alegria dos teus sorrisos
Que é o néctar do meu viver.
Há coisas que entram em sua vida
Feito tempestade em fúria.
Abala toda a sua estrutura.
E termina feita brisa leve
Sem deixar vestígios.