sábado, 30 de outubro de 2021

Dante Alighieri: A Divina Comédia: Inferno:

 



CANTO VI

No terceiro círculo estão os gulosos, cuja pena consiste em ficarem prostrados debaixo de uma forte chuva de granizo, água e neve, e ser dilacerados pelas unhas e dentes de Cérbero. Entre os condenados Dante encontra Ciacco, florentino, que fala com Dante acerca das discórdias da pátria comum.
DO soçobro tornando a aflita mente, Que da cópia infelice contristado
3 Havia tanto o padecer pungente,
Achei-me novamente circundado
De outros míseros, de outras amarguras,
6 Que via em toda parte, ao longe e ao lado.
Sou no terceiro círculo, onde escuras, Eternas chuvas, gélidas caíam,
9 Pesadas, sempre as mesmas, sempre impuras.
Saraiva grossa, neve, água desciam Desse ar pelas alturas tenebrosas:
12 No chão caindo infeto odor faziam.
Latia com três fauces temerosas, Cérbero, o cão multíface e furente,
15 Contra as turbas submersas, criminosas.
Sangüíneos olhos tem, o ventre ingente, Barba esquálida, as mãos de unhas armadas; 18 Rasga, esfola, atassalha a triste gente.

Domingo na Usina: Augusto Mesquitela Lima:


Augusto Mesquitela Lima (Mindelo, 10 de Janeiro de 1929 — Lisboa, 14 de Janeiro de 2007) foi um antropólogo e escritor cabo-verdiano.
Teve mais de 30 trabalhos científicos e 25 livros publicados, entre os quais Uma Leitura Antropológica da Poética de Sérgio Frusoni. É o decano dos antropólogos cabo-verdianos, internacionalmente reconhecido como especialista em arte da África Central.
Biografia
Mesquitela Lima era neto de Bernardo Mesquitela, governador de Cabo Verde em 1913. Estudou no Liceu Gil Eanes do Mindelo e iniciou a carreira de funcionário colonial, em 1949, como escriturário da Alfândega de Cabo Verde. Em 1952 foi para Angola como chefe de posto da Inspecção dos Serviços Administrativos e Negócios Indígenas. Prosseguiu os seus estudos em Lisboa em 1959 no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina. Formado em Estudos Políticos e Sociais do Ultramar, foi para o Instituto de Investigação Científica de Angola, onde dirigiu em Luanda o Museu de Angola. Na província da Lunda Norte, leste de Angola, estudou vários grupos étnicos, com especial destaque para os kyaka.
Regressou a Portugal após a Revolução de 25 de Abril de 1974. A partir de 1975 passou a leccionar na Universidade Nova de Lisboa, onde foi professor catedrático e jubilado como professor de Antropologia Cultural da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
Em 1977 doutorou-se na Universidade de Paris X – Nanterre. Também em Paris trabalhou com grandes nomes da antropologia mundial como Claude Lévi-Strauss ou Roger Bastide. Em 1978 criou o Departamento de Antropologia na Universidade Nova de Lisboa, assim como o Instituto de Estudos Africanos.
À data da sua morte o Professor Mesquitela Lima era director do Instituto Superior de Gestão. Faleceu devido a uma pneumonia.
Bibliografia
"Introdução à antropologia cultural, em co-autoria com Bento Marinez e João Lopes Filho".

fonte de origem:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mesquitela_Lima



Domingo na Usina: Biografias: Manuel dos Santos Lopes:



Manuel dos Santos Lopes (Mindelo, São Vicente (Cabo Verde), 23 de Dezembro de 1907 — Lisboa, 25 de Janeiro de 2005) foi um ficcionista, poeta e ensaísta e um dos fundadores da moderna literatura cabo-verdiana que, com Baltasar Lopes da Silva e Jorge Barbosa, foi responsável pela criação da revista Claridade.
Manuel Lopes escrevia os seus textos em português, embora utilizasse nas suas obras expressões em crioulo cabo-verdiano. Foi um dos responsáveis por dar a conhecer ao mundo as calamidades, as secas e as mortes em São Vicente e, sobretudo, em Santo Antão.[1][2][3]
Biografia
Emigrou ainda jovem tendo a sua família fixado em 1919 em Coimbra (Portugal), onde fez os estudos liceais.
Quatro anos depois, voltou a Cabo Verde como funcionário de uma companhia inglesa.
Em 1936, fundou com Baltasar Lopes a revista Claridade, de que sairiam nove números.
Em 1944 foi transferido para a ilha do Faial, nos Açores, onde viveu até se fixar em Lisboa, em 1959.
Regressou apenas por duas vezes ao seu arquipélago.[1][2][3]
Obras

Ficção

Chuva Braba, 1956 1957

O Galo Que Cantou na Baía (e outros contos caboverdianos), 1959

Os Flagelados do Vento Leste, 1959

Poesia

Horas Vagas, 1934

Poema de Quem Ficou, 1949

Folha Caída, 1960

Crioulo e Outros Poemas, 1964

Falucho Ancorado, 1997

Ensaio

Monografia Descritiva Regional, 1932

Paul, 1932

Temas Cabo-verdianos, 1950

Os Meios Pequenos e a Cultura, 1951

Reflexões Sobre a Literatura Caboverdiana, 1959

As Personagens de Ficção e Seus Modelos, 1973[1][2][3]

fonte de origem:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Lopes

Domingo na Usina: Biografias: Manuel de Novas:



Manuel de Novas, Manuel d' Novas ou Manel d' Novas (Santo Antão, 24 de Fevereiro de 1938 — Mindelo, São Vicente, 28 de Setembro de 2009) foi um dos poetas e compositores cabo-verdianos mais conhecidos internacionalmente.
Baptizado como Manuel Jesus Lopes, Manuel de Novas escreveu Stranger ê um ilusão, Lamento d'um emigrante e outras letras. Considerado, por isso, um dos mais importantes trovadores de Cabo Verde, compositor preferido de Cesária Évora e Bana, entre outros.
Apesar de ter nascido na ilha vizinha, Manuel de Novas é considerado um filho do Mindelo, ilha de São Vicente, onde viveu.
Manel d' Novas ficou conhecido essencialmente por ter uma postura crítica em relação à sociedade mindelense, ilha onde vivia e que o adoptou como filho. Outra particularidade do compositor era a sua escrita em crioulo cabo-verdiano.
Internado na Unidade de Cuidados Especiais do Hospital Baptista de Sousa, o compositor acabou por falecer vítima de complicações decorrentes do acidente vascular cerebral (AVC) que sofrera três anos antes em Portugal. O compositor foi velado em sua casa, em Monte Sossego, a pedido dos familiares.

Poemas mais famosos

Apocalipse

Cmé catchorr (morna-coladeira)

Cumpade Ciznone

D. Ana

Ess Pais

Morte d'um Tchuc (morna-coladeira)

Nôs raça

Psú nhondenga (morna-coladeira)

Stranger ê um Ilusão (morna)

Tudo tem se limite

Lamento d'um emigrante

Lisboa, capital di sôdade (em conjunto com Rui Machado)

Literatura

César Augusto Monteiro, Manel d' Novas: Música, Vida, Cabo-verdianidade (2003)

fonte de origem:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Novas

Domingo na Usina: Biografias: Luís Romano de Madeira Melo:



Luís Romano de Madeira Melo (Vila de Ponta do Sol, 6 de Outubro[1] de 1922 - Natal, 22 de janeiro de 2010)[2] foi um poeta, romancista e folclorista cabo-verdiano, com trabalhos em português e em crioulo cabo-verdiano da ilha de Santo Antão, idioma que preferia designar por "língua cabo-verdiana".[3][4]
Idealista, polígrafo independente, a sua produção tem sido editada em órgãos literários locais e internacionais. Grande parte da temática de Luís Romano gira em torno de sua terra natal, Cabo Verde, que ele designa como "Kabverd". Visceralmente realista, consagrou sua vida literária ao empenho de dignificar a cultura e a civilização caboverdianas. Preocupação e apoio estimulante: estabelecimento oficial da língua materna do Kriolander em todo o Arquipélago. Personificando ansiedade dos conterrâneos desalienados, ele se tornou pioneiro em sacrificar-se, ao conseguir com destemor e risco de vida, a publicação do primeiro romance de denúncia nativa, Famintos, sobre a tragédia do povo caboverdiano durante o período flagicioso da década de 1940.[5] Os manuscritos desse romance foram trazidos de Cabo verde colados ao longo do seu corpo para escapar à censura política.
No final dos anos 50 do século XX, Luís Romano aderiu aos ideais da independência, tendo chegado a desempenhar cargos de direção no PAIGC, sendo perseguido pela PIDE. Fugiu para Argel e Paris e exilou-se, depois, no Brasil, onde viveu desde 1962.
Obras

Os Famintos (1962): romance em língua portuguesa.

Clima (1963): poemas em língua portuguesa, crioulo cabo-verdiano e francês

Cabo Verde-Renascença de uma Civilização no Atlântico Médio (1967): colectânea de poemas e contos em português e crioulo cabo-verdiano.

Negrume/Lzimparin (1973): contos em crioulo cabo-verdiano, com tradução para língua portuguesa.

Ilha (1991): contos da "Europáfrica" e da "Brasilamérica" em português e, em parte, em crioulo cabo-verdiano

Contos

"Nho Zidôr" (in Ilha), "Pasaport Kabverd" (in Ilha), "Daluz" (in Negrume), "Tánha" (in Negrume), "Destino" (in Negrume), "Estórias de Tipêde i Tilôbe" (in Cabo Verde-Renascença de uma Civilização…)

fonte de origem:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Romano_de_Madeira_Melo

Domingo na Usina: Biografias: Jorge Vera-Cruz Barbosa:



Jorge Vera-Cruz Barbosa (Cidade da Praia, Cabo Verde, 22 de maio de 1902 - Cova da Piedade/Almada, 6 de janeiro de 1971 foi um escritor cabo–verdiano.
Nasceu na ilha de Santiago, fez os seus estudos primários entre Lisboa e a Cidade da Praia. Aos dezoito anos começou a trabalhar na Alfândega de São Vicente. Aposentou-se na Ilha do Sal em 1967. Em 1970, já debilitado, foi viver para Lisboa, onde faleceu.
Colaborou em várias revistas e jornais portugueses e cabo–verdianos e ainda na revista luso-brasileira Atlântico [1]. Com a publicação do seu primeiro livro, Arquipélago em 1935 foi um marco para o nascimento da poesia cabo-verdiana, e por isso é considerado o pioneiro da moderna poesia cabo verdiana, onde os problemas sociais e políticos passaram a constituir uma das grandes temáticas do escritor.
Jorge Barbosa escreveu ainda Ambiente (1941), Caderno de um Ilhéu (1955, Prémio Camilo Pessanha) e, na altura os proibidos, mas editados mais recentemente, Meio Milénio, Júbilo e Panfletário.
Um poema seu, Prelúdio, encontra-se no CD Poesia de Cabo Verde e sete poemas de Sebastião da Gama, de Afonso Dias.
Obras
Arquipélago,1935

Ambiente (1941

Caderno de um Ilhéu (1956)

Postumamente, em 2002, a sua Obra Poética foi reunida pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, onde se acrescentou três livros inéditos, ordenados pelo poeta: I – Expectativa; II – Romanceiro dos Pescadores; III – Outros Poemas.[2]
Legado
Na cidade do Mindelo , na Ilha de São Vicente existe a Escola Secundária Jorge Barbosa. Antes da Independência de Cabo Verde,em 1975, esta escola chamava-se Liceu Nacional Infante D.Henrique[3].
No sul da Cidade da Praia, em Cabo-Verde, existe uma avenida chamada Avenida Jorge Barbosa[4].
Na Ilha do Sal existe uma biblioteca chamada Biblioteca Municipal Jorge Barbosa.

fonte de origem:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Barbosa

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Dante Alighieri: A Divina Comédia: Inferno:

  


“Nossos olhos, por vezes encontrados, Cessam de ler; ao gesto a cor mudara.
132 Um ponto só deu causa aos nossos fados.
“Ao lermos que nos lábios osculara O desejado riso, o heróico amante,
135 Este, que mais de mim se não separa,
“A boca me beijou todo tremante, De Galeotto fez o autor e o escrito.
138 Em ler não fomos nesse dia avante”.
Enquanto a história triste um tinha dito, Tanto carpia o outro, que eu, absorto
Em piedade, senti letal conflito,
142 E tombei, como tomba corpo morto.
4. Minos, rei de Creta e que na mitologia pagã era juiz do Inferno. — 58. Semíramis, rainha de Babilônia, viúva do rei Nino. — 61. Dido, rainha de Cartago, que amou a Enéias. — 63. Cleópatra, rainha do Egito. — 64. Helena, mulher de Menelau, rei de Esparta que causou a guerra de Tróia. — 67. Páris e Tristão, cavaleiros dos romances medievais. — 73. Companheiros dois, Francesca de Rimini e Paulo Malatesta, que foram mortos por Gianciotto Malatesta, marido de Francesca e
irmão de Paulo, por eles terem ficado apaixonados um pelo outro.

Contos do Sábado na Usina: Humberto de Campos: A promessa VI:

 


Aproximava-se o dia do regresso dos rapazes. Todo aquele mês havia sido de festas, de homenagens aos bravos soldados conterrâneos. E à medida que se escoavam as horas, mais se confrangia a alma de Maria Inácia. O seu coração não se saciava de acariciar o filho. As noites, levava- as acordada, passando-lhe as mãos pelos cabelos, cobrindo-o com o lençol, beijando-lhe a cabeça adormecida. Nos primeiros dias, estava certa de que a Senhora das Dores consideraria uma loucura a promessa que lhe fizera, e a perdoaria. Pouco a pouco, porém, a proporção que se aproximava o dia do regresso, foi a su'alma se inquietando. Prometera dar a sua vida pela do filho, se ainda o abraçasse uma vez. Deus o trouxera aos seus braços, ao seu carinho, à sua presença. Devia cumprir o voto? E, se não cumprisse,


Deus não a castigaria no coração, arrebatando-o ao mundo, nos novos combates em que tomasse parte?

 Esse pensamento afligia-a. Até que, de repente, resolveu:

 -  Não, eu devo cumprir a promessa. Devo, sim. Antes eu do que meu filho. E eu resistiria, acaso, à dor de perdê-lo, se o perdesse por culpa: minha, por falta minha perante Deus?

Contos do Sábado na Usina: Artur Azevedo: PLEBISCITO:



abade. 

A cena passa-se em 1890. 
A família está toda reunida na sala de jantar. 
O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um 
Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga. 
Os pequenos são dois, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à 
mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias. 
Silêncio 
De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta: 
— Papai, que é plebiscito? 
O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme. O pequeno insiste: 
— Papai? 
Pausa: 
— Papai? 
Dona Bernardina intervêm: 
— Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar que lhe faz mal. O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos. 
— Que é? que desejam vocês? 
— Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito? 
— Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito? 
— Se soubesse não perguntava. 
O senhor Rodrigues volta-se para dona Bernardina, que continua muito ocupada com a gaiola: 
— Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito! 
— Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei. 
— Que me diz?! Pois a senhora não sabe o que é plebiscito? 
— Nem eu, nem você; aqui em casa ninguém sabe o que é plebiscito. 
— Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante! 
— A sua cara não me engana. Você é muito prosa. Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!... 
— A senhora o que quer é enfezar-me! 
— Mas, homem de Deus, para que você não há de confessar que não sabe? Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra. Já outro dia foi a mesma coisa quando Manduca lhe perguntou o que era proletário. Você falou, falou, e o menino ficou sem saber! 
— Proletário, acudiu o senhor Rodrigues, é o cidadão pobre que vive do trabalho mal remunerado. 
— Sim, agora sabe porque foi ao dicionário; mas dou-lhe um doce, se me disser o que é plebiscito sem arredar dessa cadeira! 
— Que gostinho tem a senhora em tornar-me ridículo na presença destas crianças? 
— Oh! ridículo é você mesmo quem se faz. Seria tão simples dizer: — Não sei Manduca, não sei o que é plebiscito; vai buscar o dicionário, meu filho. 
O senhor Rodrigues ergueu-se de um ímpeto e brada: 
— Mas eu sei! 
— Pois se sabe, diga! 
— Não digo para me não humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo! 
E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o seu quarto, batendo violentamente a porta. 
No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário... 
A menina toma a palavra: 
— Coitado de papai! Zangou-se logo depois do jantar! Dizem que é tão perigoso! 
— Não fosse tolo, observa dona Bernardina, e confessasse francamente que não sabia o que é plebiscito. 
— Pois sim, acode Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involuntário de toda aquela discussão: pois sim, mamãe, chame papai e façam as pazes. 
— Sim! sim! façam as pazes! diz a menina em tom meigo e suplicante. Que tolice! duas pessoas que se estimam tanto zangarem-se por causa do plebiscito! 
Dona Bernardina dá um beijo na filha, e vai bater à porta do quarto: 
— Seu Rodrigues, venha sentar-se: não vale a pena zangar-se por tão pouco. 
O negociante esperava a deixa. A porta abre-se imediatamente. Ele entra, atravessa a sala, e vai sentar- se na cadeira de balanço. 
— É boa! brada o senhor Rodrigues depois de largo silêncio; é muito boa! Eu! eu ignorar a significação da palavra plebiscito! Eu!... 
A mulher e os filhos aproximam-se dele 
O homem continua num tom profundamente dogmático: 
— Plebiscito... 
E olha para todos os lados a ver se há por ali mais alguém que possa aproveitar a lição. 
— Plebiscito é uma lei decretada pelos povos romanos, estabelecido em comícios. 
— Ah! suspiram todos, aliviados. 
— Uma lei romana, percebem? E querem introduzi-la no Brasil! É mais um estrangeirismo.

Contos do Sábado na Usina: Machado de Assis: LINHA RETA E LINHA CURVA IV:

 

No dia seguinte, ao meio-dia, Diogo apresentou-se ao Tito, e depois de falar sobre diferentes coisas, tirou do bolso uma cartinha, que fingira ter esquecido até então, e a qual mostrava não dar grande apreço. - Que bomba! disse ele consigo, na ocasião em que Tito rasgou a sobrecarta. Eis o que dizia a carta: "Dei-lhe o meu coração. Não quis aceitá-lo, desprezou-o mesmo. A sua bota magoou-o demais para que ele possa palpitar ainda. Está morto. Não o censuro; não se deve falar de luz aos cegos; a culpada fui eu. Supus que pudesse dar-lhe uma felicidade, recebendo outra. Enganei-me. "Tem a glória de retirar-se com todas as honras de guerra. Eu é que fico vencida. Paciência! Pode zombar de mim; não lhe contesto o direito que tem para isso. "Entretanto, devo dizer-lhe que eu bem o conhecia; nunca lho disse, mas conhecia-o; desde o dia em que o vi pela primeira vez em casa de Adelaide, reconheci na sua pessoa o mesmo homem que um dia veio atirar-se aos meus pés... Era zombaria então, como hoje. Eu já devia conhecê-lo. Caro pago o meu engano. Adeus, adeus para sempre." Lendo esta carta, Tito olhava repetidas vezes para Diogo. Como é que o velho se prestara àquilo? Era autêntica ou apócrifa a tal carta? Sobre não trazer assinatura, tinha a letra disfarçada. Seria uma arma de que o velho usara para descartar-se do rapaz? Mas, se fosse assim, era preciso que ele soubesse do que se passara na véspera. Tito releu a carta muitas vezes; e, despedindo-se do velho, disse-lhe que a resposta iria depois. Diogo retirou-se esfregando as mãos de contente. É que a carta cuja leitura os leitores fizeram ao mesmo tempo que o nosso herói não era a que Emília lera a Diogo. Na minuta apresentada ao velho a viúva declarava simplesmente que se retirava para a corte, e acrescentava que entre as recordações que levava de Petrópolis figurava Tito, pela figura que ele havia representado diante dela. Mas essa minuta, por uma destreza puramente feminina, não foi a que Emília mandou a Tito, como viram os leitores. À carta de Emília respondeu Tito nos seguintes termos: "Minha senhora, "Li e reli a sua carta; e não lhe ocultarei o sentimento de pesar que ela me inspirou. Realmente, minha senhora, é esse o estado do seu coração? Está assim tão perdido por mim? "Diz Vossa Excelência que eu com a minha bota machuquei o seu coração. Penaliza-me o fato, sem que eu entretanto o confirme. Não me lembra até hoje que tivesse feito estrago algum desta natureza. Mas, enfim, Vossa Excelência o diz, e eu devo crê-lo. "Lendo esta carta Vossa Excelência dirá consigo que eu sou o mais audaz cavalheiro que ainda pisou a terra de Santa Cruz. Será um engano de observação. Isto em mim não é audácia, é franqueza. Lastimo que as coisas chegassem a este ponto, mas não posso dizer-lhe nada mais que a verdade. "Devo confessar que não sei se a carta a que respondo é de Vossa Excelência. A sua letra, de que eu já vi uma amostra no álbum de D. Adelaide, não se parece com a da carta; está evidentemente disfarçada; é de qualquer mão. Demais, não traz assinatura. "Digo isto porque a primeira dúvida que nasceu em meu espírito proveio do portador escolhido. Pois quê! Vossa Excelência não achou outro senão o próprio Diogo? Confesso que de tudo o que tenho visto em minha vida, é isto o que mais me faz rir. "Mas eu não devo rir, minha senhora. Vossa Excelência abriu-me o seu coração de um modo que inspira antes compaixão. Esta compaixão não lhe é desairosa, porque não vem por sentido irônico. É pura e sincera. Sinto não poder dar-lhe essa felicidade que me pede; mas é assim. 

 94 "Não devo estender-me e, contudo custa-me arrancar a pena de cima do papel. É que poucos terão a posição que eu ocupo agora, a posição de requestado. Mas devo acabar e acabo aqui, mandando-lhe os meus pêsames e rogando a Deus para que encontre um coração menos frio que o meu. "A letra vai disfarçada como a sua, e; como na sua carta, deixo a assinatura em branco." Esta carta foi entregue à viúva na mesma tarde. À noite Azevedo e Adelaide foram visitá-la. Não puderam dissuadi-la da idéia da viagem para a Corte. Emília usou mesmo de uma certa reserva para com Adelaide, que não pôde descobrir os motivos de semelhante procedimento, e retirou-se um tanto triste. No dia seguinte, com efeito, Emília e a tia aprontaram-se e saíram para voltar para a corte. Diogo ficou em Petrópolis ainda, cuidando em aprontar as malas... Não queria, dizia ele, que o público, vendo-o partir em companhia das duas senhoras, supusesse coisas desairosas à viúva. Todos estes passos admiravam Adelaide, que, como disse, via na insistência de Emília e nos seus modos reservados um segredo que não compreendia. Quereria ela por aquele meio de viagem atrair Tito? Nesse caso era cálculo errado; visto que o rapaz, naquele dia como nos outros, acordou tarde e almoçou alegremente. - Sabe, disse Adelaide, que a esta hora deve ter partido para a cidade a nossa amiga Emília? - Já tinha ouvido dizer. - Por que será? - Ah! isso é que eu não sei. Altos segredos do espírito de mulher! Por que sopra hoje a brisa deste lado e não daquele? Interessa-me tanto saber uma coisa como outra. No fim do almoço Tito, como quase sempre, retirou-se para ler durante duas horas. Adelaide ia dar algumas ordens quando viu com pasmo entrar-lhe em casa a viúva, acompanhada de um criado. - Ah! não partiste? disse Adelaide correndo a abraçá-la. - Não me vês aqui? O criado saiu a um sinal de Emília. - Mas que há? perguntou a mulher de Azevedo, vendo os modos estranhos da viúva. - Que há? disse esta. Há o que não prevíamos... És quase minha irmã... posso falar francamente. Ninguém nos ouve? - Ernesto está fora e o Tito lá em cima. Mas que ar é esse? - Adelaide! disse Emília com os olhos rasos de lágrimas, eu o amo! - Que me dizes? - Isto mesmo. Amo-o doidamente, perdidamente, completamente. Procurei até agora vencer esta paixão, mas não pude; e quando, por vãos preconceitos, tratava de ocultar-lhe o estado do meu coração, não pude, as palavras saíram-me dos lábios insensivelmente... - Mas como se deu isto? - Eu sei! Parece que foi castigo; quis fazer fogo e queimei-me nas mesmas chamas. Ah! não é de hoje que me sinto assim. Desde que os seus desdéns em nada cederam, comecei a sentir não sei o quê; ao princípio despeito, depois um desejo de triunfar, depois uma ambição de ceder tudo, contanto que tudo ganhasse; afinal não fui senhora de mim. Era eu quem me sentia doidamente apaixonada e lho manifestava, por gestos, por palavras, por tudo; e mais crescia nele a indiferença, mais crescia o amor em mim. - Mas estás falando sério? - Olha antes para mim. - Quem pensara?... - A mim própria parece impossível; porém é mais que verdade... - E ele?... - Ele disse-me quatro palavras indiferentes, nem sei o que foi, e retirou-se. - Resistirá? - Não sei. - Se eu adivinhara isto não te insinuaria naquela malfadada idéia. 

 95 - Não me compreendeste. Cuidas que eu deploro o que acontece? Oh! não! Sinto-me feliz, sinto-me orgulhosa... É um destes amores que brotam por si para encher a alma de satisfação: devo antes abençoar-te... - É uma verdadeira paixão... Mas acreditas impossível a conversão dele? - Não sei; mas seja ou não impossível, não é a conversão que eu peço; basta-me que seja menos indiferente e mais compassivo. - Mas que pretendes fazer? perguntou Adelaide sentindo que as lágrimas também lhe rebentavam dos olhos. Houve alguns instantes de silêncio. - Mas o que tu não sabes, continuou Emília, é que ele não é para mim um simples estranho. Já o conhecia antes de casada. Foi ele quem me pediu em casamento antes de Rafael... - Ah! - Sabias? - Ele já me havia contado a história, mas não nomeara a santa. Eras tu? - Era eu. Ambos nos conhecíamos, sem dizermos nada um ao outro... - Por quê? A resposta a esta pergunta foi dada pelo próprio Tito, que assomara à porta do interior. Tendo visto entrar a viúva de uma das janelas, Tito desceu abaixo a ouvir a conversa dela com Adelaide. A estranheza que lhe causava a volta inesperada de Emília podia desculpar a indiscrição do rapaz. - Por quê? repetiu ele. É o que lhes vou dizer. - Mas antes de tudo, disse Adelaide, não sei se sabe que uma indiferença, tão completa, como a sua, pode ser fatal a quem lhe é menos indiferente? - Refere-se à sua amiga? perguntou Tito. Eu corto tudo com uma palavra. E voltando-se para Emília, disse, estendendo-lhe a mão: - Aceita a minha mão de esposo? Um grito de alegria suprema ia saindo do peito de Emília; mas não sei se um resto de orgulho, ou qualquer outro sentimento, converteu essa manifestação em uma simples palavra, que aliás foi pronunciada com lágrimas na voz: - Sim! disse ela. Tito beijou amorosamente a mão da viúva. Depois acrescentou: - Mas é preciso medir toda a minha generosidade; eu devia dizer: aceito a sua mão. Devia ou não devia? Sou um tanto original e gosto de fazer inversão em tudo. - Pois sim; mas de um ou de outro modo sou feliz. Contudo um remorso me surge na consciência. Dou-lhe uma felicidade tão completa como a que recebo? - Remorso? se é sujeita aos remorsos deve ter um, mas por motivo diverso. A senhora está passando neste momento pelas forcas caudinas. Fi-la sofrer, não? Ouvindo o que vou dizer concordará que eu já antes sofria, e muito mais. - Temos romance? perguntou Adelaide a Tito. - Realidade, minha senhora, respondeu Tito, e realidade em prosa. Um dia, há já alguns anos, tive eu a felicidade de ver uma senhora, e amei-a. O amor foi tanto mais indomável quanto que me nasceu de súbito. Era então mais ardente que hoje, não conhecia muito os usos do mundo. Resolvi declarar-lhe a minha paixão e pedi-la em casamento. Tive em resposta este bilhete... - Já sei, disse Emília. Essa senhora fui eu. Estou humilhada; perdão! - Meu amor lhe perdoa; nunca deixei de amá-la. Eu estava certo de encontrá-la um dia e procedi de modo a fazer-me o desejado. - Escreva isto e dirão que é um romance, disse alegremente Adelaide. - A vida não é outra coisa... acrescentou Tito. Daí a meia hora entrava Azevedo. Admirado da presença de Emília quando a supunha a rodar no trem de ferro, e mais admirado ainda das maneiras cordiais por que se tratavam Tito e Emília, o marido de Adelaide inquiriu a causa disso. - A causa é simples, respondeu Adelaide; Emília voltou porque vai casar-se com Tito. 

 96 Azevedo não se deu por satisfeito; explicaram-lhe tudo. - Percebo, disse ele. Tito não tendo alcançado nada caminhando em linha reta, procurou ver se alcançava caminhando por linha curva. Às vezes é o caminho mais curto. - Como agora, acrescentou Tito. Emília jantou em casa de Adelaide. À tarde apareceu ali o velho Diogo, que ia despedir-se porque devia partir para a Corte no dia seguinte de manhã. Grande foi a sua admiração quando viu a viúva. - Voltou? - É verdade, respondeu Emília rindo. - Pois eu ia partir, mas já não parto. Ah! recebi uma carta da Europa: foi o capitão da galera Macedônia que ma trouxe! Chegou o urso! - Pois vá fazer-lhe companhia, respondeu Tito. Diogo fez uma careta. Depois, como desejasse saber o motivo da súbita volta da viúva, esta explicou-lhe que se ia casar com Tito. Diogo não acreditou. - É ainda um laço, não? disse ele piscando os olhos. E não só não acreditou então, como não acreditou daí em diante, apesar de tudo. Daí a alguns dias partiram todos para a Corte. Diogo ainda se não convencia de nada. Mas, quando entrando um dia em casa de Emília viu a festa do noivado, o pobre velho não pôde negar a realidade e sofreu um forte abalo. Todavia, teve ainda coração para assistir às festas do noivado. Azevedo e a mulher serviram de testemunhas. "É preciso confessar, escrevia dois meses depois o feliz noivo ao esposo de Adelaide; - é preciso confessar que eu entrei num jogo arriscado. Podia perder; felizmente ganhei."

Contos do Sábado na Usina: Raduan Nassar: Aí pelas três da tarde: Para José Carlos Abbate:



Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom-senso do mundo, aplicando-se em idéias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares à sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo "ciao" ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pêlo, mas sem ferir o pudor (o seu pudor, bem entendido), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assome depois com sua nudez no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances. Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado), e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.

Contos do Sábado na Usina: Adélia Prado: Sem enfeite nenhum:




A mãe era desse jeito: só ia em missa das cinco, por causa de os gatos no scuro serem pardos. Cinema, só uma vez, quando passou os Milagres 
do padre Antônio em Urucánia. Desde aí, falava sempre, excitada nos olhos, apressada no cacoete dela de enrolar um cacho de cabelo: se eu fosse lá, quem sabe? 
Sofria palpitação e tonteira, lembro dela caindo na beira do tanque, o vulto dobrado em arco, gente afobada em volta, cheiro de alcanfor. 
Quando comecei a empinar as blusas com o estufadinho dos peitos, o pai chegou pra almoçar, estudando terreno, e anunciou com a voz que fazia nessas ocasiões, meio saliente: companheiro meu tá vendendo um relogim que é uma gracinha, pulseirinha de crom', danado de bom pra do Carmo. Ela foi logo emendando: tristeza, relógio de pulso e vestido de bolér. Nem bolero ela falou direito de tanta antipatia. Foi água na fervura minha e do pai. 
Vivia repetindo que era graça de Deus se a gente fosse tudo pra um convento e várias vezes por dia era isto: meu Jesus, misericórdia... A senhora tá triste, mãe? eu falava. Não, tou só pedindo a Deus pra ter dó de nós. 
Tinha muito medo da morte repentina e pra se livrar dela, fazia as nove primeiras sextas-feiras, emendadas. De defunto não tinha medo, só de gente viva, conforme dizia. Agora, da perdição eterna, tinha horror, pra ela e pros outros. 
Quando a Ricardina começou a morrer, no Beco atrás da nossa casa, ela me chamou com a voz alterada: vai lá, a Ricardina tá morrendo, coitada, que Deus perdoe ela, corre lá, quem sabe ainda dá tempo de chamar o padre, falava de arranco, querendo chorar, apavorada: que Deus perdoe ela, Deus perdoe ela, ficou falando sem coragem de sair do lugar. 
Mas a Ricardina era de impressionar mesmo, imagina que falou pra mãe, uma vez, que não podia ver nem cueca de homem que ela ficava doida. Foi mais por isso que ela ficou daquele jeito, rezando pra salvação da alma da Ricardina. 
Era a mulher mais difícil a mãe. Difícil, assim, de ser agradada. Gostava que eu tirasse só dez e primeiro lugar. Pra essas coisas não poupava, era pasta de primeira, caixa com doze lápis e uniforme mandado plissar. Acho mesmo que meia razão ela teve no caso do relógio, luxo bobo, pra quem só tinha um vestido de sair. 
Rodeava a gente estudar e um dia falou abrupto, por causa do esforço de vencer a vergonha: me dá seus lápis de cor. Foi falando e colorindo de laranjado, uma rosa geométrica: cê põe muita força no lápis, se eu tivesse seu tempo, ninguém na escola me passava, inteligência não te falta, o que falta é estudar, por exemplo falar você em vez de cê, é tão mais bonito, é só acostumar. Quando o coração da gente dispara e a gente fala cortado, era desse jeito que tava a voz da mãe. 
Achava estudo a coisa mais fina e inteligente era mesmo, demais até, pensava com a maior rapidez. Gostava de ler de noite, em voz alta, junto com tia Santa, os livros da Pia Biblioteca, e de um não esqueci, pois ela insistia com gosto no título dele, em latim: Máguina pecatrís. Falava era antusiasmo e nunca tive coragem de corrigir, porque toda vez que usava essa palavra, tava muito alegre, feito naquela hora, desenhando, feito no dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou: coitado, até essa hora no serviço pesado. 
Não estava gostando nem um pouquinho do desenho, mas nem que eu falava. Com tanta satisfação ela passava o lápis, que eu fiquei foi aflita, como sempre que uma coisa boa acontecia. 
Bom também era ver ela passando creme Marsílea no rosto e Antisardina nº 3, se sacudindo de rir depois, com a cara toda empolada. Sua mãe é bonita, me falaram na escola. E era mesmo, o olho meio verde. 
Tinha um vestido de seda branco e preto e um mantô cinzentado que ela gostava demais. 
Dia ruim foi quando o pai entestou de dar um par de sapato pra ela. 
Foi três vezes na loja e ela botando defeito, achando o modelo jeca, achando a cor regalada, achando aquilo uma desgraça e que o pai tinha era umas bobagens. Foi até ele enfezar e arrebentar com o trem, de tanta raiva e mágoa. 
Mas sapato é sapato, pior foi com o crucifixo. O pai, voltando de cumprir promessa em Congonhas do Campo, trouxe de presente pra ela um crucifixo torneadinho, o cordão de pendurar, com bambolim nas pontas, a maior gracinha. Ela desembrulhou e falou assim: bonito, mas eu preferia mais se fosse uma cruz simples, sem enfeite nenhum. 
Morreu sem fazer trinta e cinco anos, da morte mais agoniada, encomendando com a maior coragem: a oração dos agonizantes, reza aí pra mim, gente. 
Fiquei hipnotizada, olhando a mãe. Já no caixão, tinha a cara severa, de quem sente dor forte, igualzinho no dia que o João Antônio nasceu, Entrei no quarto querendo festejar e falei sem graça: a cara da senhora, parece que tá com raiva, 
O Senhor te abençoe e te guarde, 
Volva a ti o Seu Rosto e se compadeça de ti, O Senhor te dê a Paz. 
Esta é a bênção de São Francisco, que foi abrandando o rosto dela, descansando, descansando, até como ficou, quase entusiasmado. 
Era raiva não. Era marca de dor.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Dante Alighieri: A Divina Comédia: Inferno:

  



“Amor nos igualou da morte o efeito:
A quem no-la causou, Caína, esperas”.
108 Após tais vozes foi silêncio feito.
Daquelas almas as angústias feras Em meditar amargo a fronte inclino
111 Té que o Mestre exclamou: “Que consideras?”
Quando pude, falei: “Cruel destino! Que doce cogitar! Que meigo encanto,
114 Precederam do par o fim maligno!” —
Aos dois voltei-me e disse-lhes, entanto: “Teus martírios, Francesca, me angustiam, 
117 Movem-me o triste, compassivo pranto.
“Quando os doces suspiros só se ouviam, Como, em que Amor mostrar-vos há querido 
120 Os desejos, que ainda se escondiam?” —
— “Não há” — disse — “tormento mais dorido Que recordar o tempo venturoso
123 Na desgraça. Teu Mestre o tem sentido.
“Mas porque de saber és desejoso, Como nasceu a flor do nosso afeto, 
126 Direi chorando o lance lastimoso.
“Por passatempo eu lia e o meu dileto De Lanceloto extremos namorados; 
129 Éramos sós, de coração quieto.

Sexta na Usina: Poetas da Rede: Gustavo Drummond:


 

DOSSIÊ

Daltônico genético

atônito ateu,

pesuasivo  pensador

Filósofo eclético.

Alvo como breu

Pacífico agitador

Mecânico fonético

Líder como águia.

Idéias convincentes,

sonhos  possíveis,

Ousado no trato.

Orçado em quilates.

Inventa mas não mente

Palavras indizíveis,

Bebe no prato

Sujeito á descarte.

(gustavo drummond)

Sexta na Usina: Poetas da Rede: Ricardo Melo:


 

/"Convivência"\

Prestem atenção.

Vou explicar algo.

E por abuso , ainda explico rimando porque nesse momento estou voando...

Sem fragrâncias,

Porque não tem toque e nem choque,

E as flores perderam suas referências...

Falo de,  /"Convivências"\

E com competência, detalho em escritas, essa diligência....

Segurando firme no volante, sigo com a minha, plena consciência...

Pois bem!

Quem deixa suas essências para viver de aparências, perde sua existência..

No começo,

Vive uma adocicada vida de paciência.

No decorrer de uma história,

A paciência passa á ser uma , cega carência.

E por fim,

Causa doenças porque a incompetência tomou o lugar da inteligência.

Lembrando que,

Esse poema não é uma ciência...

É uma alta explicação que fala das escolhas mal tomadas das más influências...

E também, não é uma poesia de excelência.

É apenas um tapa na cara de quem quer saber o segredo,

Do quê e viver uma vida real, de extrema dependência.....

Se você vive isso porque errou...

Então,

Minhas condolências...

Tente se reerguer nessa frase que se faz agora de conselho...

E quem a escreve, é um Poeta Voador quê não voa por diversão não...

👇👇👇👇👇👇

Da próxima vez,

Antes de tudo,

Busque algumas evidências,

E cuidado com as, consequências...

Boa sorte...

Autor : Ricardo Melo

O Poeta que Voa

Sexta na Usina: Poetas da Rede: DrMagdiel Molina Montalvo:


 

Título:"Reservado"

¡Acéchenla!

un fetiche se redime en ella

una donariosa,

una disoluta artífice, no sé.

¡Créenla!

sobre el reverso del tálamo

o sobre el escarseo conubano de sus faros.

¡Créenla!

sobre su cabellera fragosa y sus cadejos,

sobre la boca que maúlla y su novísima

laguna nívea.

¡Créenla!

en el tupido gorjeo de sus corolas

cuando se escurren facciosa por su fárfara

y se imaginan otras oscuridades

de indecentes vuelos.

Créenla en la bujia de su cadalso

con sus violentas sacudidas

y agitados temblores

en púlpitos herejes de profecías

y entre vitrales concatendos al viso

explosivo de sus colores.

¡Acéchenla!

una efigie cohabita en ella

con inflexiones de sirgas

en el festejo bebido de una melodía

cuando se iluminan sus proscrita piernas.

¡Acéchenla!

y vean el agazajo de su erotismo,

cuando se desvistes la gloria y su caos

y rebusca con sus dedos

cada acantilado que le habita

y deposita allí todo su desenfreno.

Sientan la lluvia de su boca

cayendo sobre sus ebrias aréolas,

con su mañana de leche y sembradio

expurgando las encarnadas raíces

y sus destellos.

Pides y lloras una mirada

y se te escucha ávida

en dónde retozan las manos

y tu oráculo clama un flameante universo.

Y siento qué crece mi horizonte

siento qué se rasga mi piel

por tan encarnizado aire,

y voy al encuentro de su lengua

con sus fragosos caminos,

a sentir como te frotas la lámpara

con afrodisíacas fragancias,

y a mirar como te muerdes los labios

y tu dichosa sonrisa de fabricados horrores.

Me ruega que libere su espalda de su juicio

que anochezca en todas sus oscuridades

pero solo me permite observar

cada delirante pose sobre cada estacion.

Mírame cuando danzo con el "Part time love"

un blues seducido,

mírame, me vuelves a exclamar

¡mírame! y me grita

y oigo las métricas de su orgasmo,

¡mirame!

y un quejido rompe mis brazos

hasta desgastar mi diluvio

y siento su olor que llega demente a mi cerebro

a través de un fogoso cristal rebuscado

en donde mi vista alucina

cada una de tus tramas,

"Part time love"

"Part time love"

se escucha a Luther Allison,

y te levantas aún dentro de un río lúdico

cierras las cortinas de mis ojos

y con un beso me haces terminar la noche.

Autor: DrMagdiel Molina Montalvo.

Derecho de autor.

País: Cuba.

Género: Poesía eróticas