A dois
O relacionamento a dois, é como o bom vinho.
A durabilidade do seu bom sabor,
depende exclusivamente do seu estado de conservação.
Poema do livro:
"Entre Lírios e Promessas"
A dois
O relacionamento a dois, é como o bom vinho.
A durabilidade do seu bom sabor,
depende exclusivamente do seu estado de conservação.
Poema do livro:
"Entre Lírios e Promessas"
Sombria
E no peito o coração pulsa,
a embalar desenganos,
a sepultar sentimentos,
a aquecer magoas.
E a sombria farsa do desejo,
lampeja um novo querer.
Mas....
Poema na integra no livro:
"Entre Lírios e Promessas"
Perda
Morte, bela morte,
a alma se prostra em prantos.
Pobre alma que chora em vão,
pois nada volta, nunca volta.
O sentimento vai,
a vontade fica,...
Poema na integra no livro:
"Entre Lírios e Promessas"
O MAR
Sacode as
vagas de teu dorso imenso,
Oh!
profundo oceano! Ergue-as altivas
Com seus
frígios barretes! Em vão tentam
Lutar
contigo temerárias frotas,
Traçar-te
raias a vaidade humana!
Tu és
eterno e vasto como o espaço,
Livre
como a vontade onipotente.
Régio
manto do globo! povo infindo
De
soberbos Titães! gênio da força,
Salve
três vezes!... Das espáduas amplas
Derribas
todo o jugo que te oprime,
Tragas
gigantes de carvalho e cedro,
E a
fronte erguendo majestosa e bela
Diademas
de pérolas atiras
Às
estrelas do céu, e ao mundo cospes
A férvida
saliva em desafio!
Quantos
impérios celebrados, fortes
Não
floresceram de teu trono às bases
Sublime
potestade! e onde estão eles?
O que é
feito de Roma, Assíria e Grécia,
Cartago,
a valorosa? As vagas tuas
Lambiam-lhes
os muros, quer nos tempos
De paz e
de bonança, quer na quadra
Em que
chuvas de setas se cruzavam
À face
torva das hostis falanges!
Tudo esb’roou-se, se desfez em cinzas, Sumiu-se como os traços que o
romeiro Deixa de Núbia na revolta areia!
Só tu, oh! mar, sem termos, imutável Como o quadrante lúgubre do tempo,
Ruges, palpitas sem grilhões nem peias!
Nunca na
face desse azul sombrio,
Onde
tranqüilas, ao chorar das brisas,
Poesias
do céu, flores do éter,
As
estrelas se miram namoradas...
Nunca o
fogo e a lava, a guerra e a morte,
A armada
dos tiranos há deixado
Um
vestígio sequer de seus destroços!
Tal como
à tarde do primeiro dia
Que ao
orbe clareou, hoje te ostentas
Na tua
majestade horrenda e bela!
Espelho
glorioso onde entre fogos
Se mostra
onipotente, nas tormentas
A face do
Senhor! Monstro sublime
Cujas
garras de ferro o globo abraçam...
Até que
um dia, quem o sabe? exausto
Lance o
último alento! ah! no teu seio
Talvez
tremendo espírito se agite,
Misto
sombrio de paixões sem freios,
Cuja
expressão vislumbra-te no rosto,
Ora
hediondo de compressos músculos,
Ora suave
como o louro infante
Sobre o
seio materno, ora cruento
Gotejando
suor, escuma e raiva!
Níobe
eterna! de teu ventre túmido
Os
monstros dos abismos rebentaram,
Em cujo
dorso de argentadas conchas
Os raios das estrelas resvalavam:
De teu lodo fecundo,
inextinguível,
Brotaram continentes cujas
grimpas
Iam bater na abóbada cerúlea;
Teus paços de coral e de
esmeraldas
Encerravam princesas vaporosas,
Louras ondinas, encantados
gênios,
Soberbas divindades! Entretanto
Viste tudo cair! riscada a Atlântida
Da face do universo, os brônzeos
deuses
Desterrados pra sempre, e só
restou-te
Uma voz gemedora que chorava:
- Já não vive o Deus Pã! oh! Pã é
morto!
Oceano sem fundo! vagas túmidas
Abismo de mistério, ah! desde a
infância
Preso na teia da atração divina
Eu vos busquei sedento! sobre as
praias,
Curvas como os alfanjes dos
eunucos,
Eu me perdia nos dourados dias
Da santa primavera, ouvindo os
brados
Dos marinhos corcéis, molhando as
plantas
Na gaze salitrosa que envolvia
A areia cintilante! após mais
tarde
Sentava-me no cimo dos rochedos,
Suspirando de amor aos verdes
olhos,
Aos moles braços que do salso
leito
Erguiam-se tão meigos e
adorados!...
Amo-te ainda, oh! mar! amo-te
muito,
Mas não tranqüilo umedecendo a
proa
Da gôndola lasciva, nem chorando
às carícias da lua! Amo-te
horrível,
Arrogante e soberbo, repelindo
Os furacões que roçam-te nas
crinas,
Quebrando a asa de fogo que das
nuvens
Procura te domar, batendo a terra
Com teus flancos robustos,
levantando
Triunfante e feroz no tredo
espaço
A cabeça estrelada de ardentias!
Amo-te assim, oh! mar, porque
minh’alma
Vê-te imenso e potente,
desdenhoso
Rindo às quimeras da cobiça
humana!
Amo-te assim! ditoso no teu seio
Zombo do mundo que meu ser
esmaga,
Sou livre como as vagas que me
cercam
E só a tempestade e a Deus
respeito.
Salve, oceano onipotente e
eterno!
Santo espelho de Deus, três vezes
salve!
...Estâncias....
E o doce
orvalho de amorosos olhos!
* * *
Quando
nas bordas de meu leito escuro
Fatais
espectros de pavor se cruzam,
E
exausto, e lívido, eu procuro embalde
O grato
sono que meus olhos deixa,
Eu
lembro-me de ti!
* * *
Eu
lembro-me de ti, porque saudosa
Sonho-te
a imagem soluçando ao longe,
E a
fronte curva, e umedecidas pálpebras,
Meu nome
dizes ao tufão que passa,
À brisa
doida que te morde as tranças!
* * *
Quando
meu corpo se debate em febre,
E a lava
ardente nas artérias corre...
Quando
cruenta, de funéreos risos,
Pressinto
a morte levantar-se perto,
Eu
lembro-me de ti!
* * *
Eu
lembro-me de ti que és minha vida,
Último
alívio neste mundo insano,
Anjo da
guarda que à minh’alma aflita
Pudera as
trevas espancar com as asas,
Lavar-lhe
as manchas num Jordão de lágrimas!
* * *
Ai! tudo
os homens entre nós quebraram:
A paz, o
riso, as esperanças áureas;
Mas de
teu peito me arrancar não podem,
Nem a
minh’alma desprender da tua!...
Eu
lembro-me de ti!...
ESTÂNCIAS
Quando à
tardinha rumorejam brisas
Roubando
o aroma das agrestes flores,
E doce e
grave, nas viçosas matas,
Mais
triste canto o sabiá desata,
Eu
lembro-me de ti!
* * *
Eu
lembro-me de ti, por que tu’alma
É
o sol de minh’alma e de meu
gênio; E neste exílio que infernal me cerca, Mísera planta, desfaleço e morro
Ao frio toque de hibernal geada!
* * *
Quando
das franjas do Ocidente róseo
Um raio
ainda me clareia o cárcere,
E um tom
suave de tristeza e luzes
Mistura o
dia à palidez da noite,
Eu
lembro-me de ti!
* * *
Eu
lembro-me de ti, porque teu seio
Guarda um
tesouro de piedade santa,
E nesse
instante que o pesar duplica
Faltam-me
as vozes de teus lábios meigos
— 102 —
As caducas pharmacias, livrarias,
As boticas, e vans secretarias;
E já todos a fé perdido tinham,
Por verem que o brutal não descobriam,
Quando idéia feliz, e luminosa,
Na cachóla brilhou d'hum Lampadoza;
Que excedendo em carreira os finos galgos,
Lá foi ter á Secreta dos fidalgos;
E dizem que encontrara registrado
O nome do collosso celebrado:
Era o grande Barão da borracheira,
Que seu titulo comprou na regia feira!...
O PHOSPHORO.
Eram três Sacerdotes sabichoens,
E hum brutal frisão embatinado,
Discutindo os prodígios do talento
E o vasto progresso decantado.
Hum d'elles, que campava de erudito,
brandes casos narrava em tom de ré;
Com testa mal franzida, olhar sisudo,
Revolvendo os mysterios d'alta fé!
Aquelle, litterato de jornaes,
De velhas anrffedoctas chafariz,
Pintava em velha porta enegrecida
A cara de Plutão com alvo giz.
— 104 —
O outro que versado se amostrava
Em rudes tradicções do tempo antigo,
Dizia que Noé sulcára os mares
Mettido com Adão n'hum grande gigo.
Silencio! então bradou o tal masmarro,
Assestando a luneta na caraça;
—Não creyo n'essas burlas, já rançosas,
Em factos antiquados—vil trapaça.
O seClo dezenove altivo mostra
Dos homens o poder que ao Céo transporta;
Os barcos de vapor, a ferreâ estrada,
E o aéreo balão que os ares corta.
E sobre as maravilhas descobertas,
Com chamma encantadora o mundo abraza,
O delgado palito phosphoroso,
Que dos gênios a força audaz empraza!
Oh robusto milagre da razão!
Vejo a flamma brilhante que desponta
No bico de hum graveto delgadinho,
Apenas esfregando—mais pra ponta!
— 113 —
Não cercam a morada luctuosa
Os salgueiros, os fúnebres cyprestes,
Nem lhe guarda os humbraes da sepultura
Pesada lage de espartano mármore,
Somente levantado em quadro negro
Epitaphio se lè, que impõem silencio!
—Descansam n'este lar caliginoso
O mísero captivo, o desgraçado!...
Aqui não vem rasteira a vil lisonja
Os feitos decantar da tyrannia,
Nem offuscando a luz da san verdade
Eleva o crime, perpetua a infâmia.
Aqui não se ergue altar ou throno d'ouro
Ao torpe mercador de carne humana.
Aqui se curva o filho respeitoso
Ante á lousa materna, e o pranto em fio
Cahe-lhe dos olhos revelando mudo
A historia do passado. Aqui nas sombras
Da funda escuridão do horror eterno,
Dos braços de huma cruz pende o mysterio,
Faz-se o sceptro bordão, andrajo a túnica,
Mendigo o rei, o potentado escravo!