quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


A dois

 

O relacionamento a dois, é como o bom vinho.

A durabilidade do seu bom sabor, 

depende exclusivamente do seu estado de conservação.

Poema do livro:

"Entre Lírios e Promessas"

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Sombria

 

E no peito o coração pulsa,

a embalar desenganos,

a sepultar sentimentos,

a aquecer magoas.

 

E a sombria farsa do desejo,

lampeja um novo querer.

Mas....

Poema na integra no livro:

"Entre Lírios e Promessas"

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Perda

 

Morte, bela morte,

a alma se prostra em prantos.

Pobre alma que chora em vão,

pois nada volta, nunca volta.

 

O sentimento vai,

a vontade fica,...

Poema na integra no livro:

"Entre Lírios e Promessas"

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:

   


O MAR

Sacode as vagas de teu dorso imenso,

Oh! profundo oceano! Ergue-as altivas

Com seus frígios barretes! Em vão tentam

Lutar contigo temerárias frotas,

Traçar-te raias a vaidade humana!

Tu és eterno e vasto como o espaço,

Livre como a vontade onipotente.

 

Régio manto do globo! povo infindo

 

De soberbos Titães! gênio da força,


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Salve três vezes!... Das espáduas amplas

 

Derribas todo o jugo que te oprime,

Tragas gigantes de carvalho e cedro,

E a fronte erguendo majestosa e bela

Diademas de pérolas atiras

Às estrelas do céu, e ao mundo cospes

A férvida saliva em desafio!

 

Quantos impérios celebrados, fortes

 

Não floresceram de teu trono às bases

Sublime potestade! e onde estão eles?

O que é feito de Roma, Assíria e Grécia,

Cartago, a valorosa? As vagas tuas

Lambiam-lhes os muros, quer nos tempos

De paz e de bonança, quer na quadra

Em que chuvas de setas se cruzavam

À  face torva das hostis falanges!

Tudo esb’roou-se, se desfez em cinzas, Sumiu-se como os traços que o romeiro Deixa de Núbia na revolta areia!

 

Só tu, oh! mar, sem termos, imutável Como o quadrante lúgubre do tempo, Ruges, palpitas sem grilhões nem peias!

 

Nunca na face desse azul sombrio,

 

Onde tranqüilas, ao chorar das brisas,

Poesias do céu, flores do éter,

As estrelas se miram namoradas...

Nunca o fogo e a lava, a guerra e a morte,

A armada dos tiranos há deixado

Um vestígio sequer de seus destroços!

Tal como à tarde do primeiro dia

Que ao orbe clareou, hoje te ostentas

Na tua majestade horrenda e bela!

Espelho glorioso onde entre fogos

Se mostra onipotente, nas tormentas

A face do Senhor! Monstro sublime

Cujas garras de ferro o globo abraçam...

Até que um dia, quem o sabe? exausto

Lance o último alento! ah! no teu seio

Talvez tremendo espírito se agite,

Misto sombrio de paixões sem freios,

Cuja expressão vislumbra-te no rosto,

Ora hediondo de compressos músculos,

Ora suave como o louro infante

Sobre o seio materno, ora cruento

Gotejando suor, escuma e raiva!

 

Níobe eterna! de teu ventre túmido

 

Os monstros dos abismos rebentaram,

Em cujo dorso de argentadas conchas


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Os raios das estrelas resvalavam:

 

De teu lodo fecundo, inextinguível,

Brotaram continentes cujas grimpas

Iam bater na abóbada cerúlea;

Teus paços de coral e de esmeraldas

Encerravam princesas vaporosas,

Louras ondinas, encantados gênios,

Soberbas divindades! Entretanto

Viste tudo cair! riscada a Atlântida

Da face do universo, os brônzeos deuses

Desterrados pra sempre, e só restou-te

Uma voz gemedora que chorava:

- Já não vive o Deus Pã! oh! Pã é morto!

 

Oceano sem fundo! vagas túmidas

 

Abismo de mistério, ah! desde a infância

Preso na teia da atração divina

Eu vos busquei sedento! sobre as praias,

Curvas como os alfanjes dos eunucos,

Eu me perdia nos dourados dias

Da santa primavera, ouvindo os brados

Dos marinhos corcéis, molhando as plantas

Na gaze salitrosa que envolvia

A areia cintilante! após mais tarde

Sentava-me no cimo dos rochedos,

Suspirando de amor aos verdes olhos,

Aos moles braços que do salso leito

Erguiam-se tão meigos e adorados!...

 

Amo-te ainda, oh! mar! amo-te muito,

 

Mas não tranqüilo umedecendo a proa

Da gôndola lasciva, nem chorando

às carícias da lua! Amo-te horrível,

Arrogante e soberbo, repelindo

Os furacões que roçam-te nas crinas,

Quebrando a asa de fogo que das nuvens

Procura te domar, batendo a terra

Com teus flancos robustos, levantando

Triunfante e feroz no tredo espaço

A cabeça estrelada de ardentias!

 

Amo-te assim, oh! mar, porque minh’alma

 

Vê-te imenso e potente, desdenhoso

Rindo às quimeras da cobiça humana!

Amo-te assim! ditoso no teu seio

Zombo do mundo que meu ser esmaga,

Sou livre como as vagas que me cercam

E só a tempestade e a Deus respeito.

Salve, oceano onipotente e eterno!

Santo espelho de Deus, três vezes salve!


Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:


 

...Estâncias....

E o doce orvalho de amorosos olhos!

 

* * *

 

Quando nas bordas de meu leito escuro

 

Fatais espectros de pavor se cruzam,

E exausto, e lívido, eu procuro embalde

O grato sono que meus olhos deixa,

Eu lembro-me de ti!

 

* * *

 

Eu lembro-me de ti, porque saudosa

 

Sonho-te a imagem soluçando ao longe,

E a fronte curva, e umedecidas pálpebras,

Meu nome dizes ao tufão que passa,

À  brisa doida que te morde as tranças!

*   * *

 

Quando meu corpo se debate em febre,

 

E a lava ardente nas artérias corre...

Quando cruenta, de funéreos risos,

Pressinto a morte levantar-se perto,

Eu lembro-me de ti!

 

* * *

 

Eu lembro-me de ti que és minha vida,

 

Último alívio neste mundo insano,

Anjo da guarda que à minh’alma aflita

Pudera as trevas espancar com as asas,

Lavar-lhe as manchas num Jordão de lágrimas!

 

* * *

 

Ai! tudo os homens entre nós quebraram:

 

A paz, o riso, as esperanças áureas;

Mas de teu peito me arrancar não podem,

Nem a minh’alma desprender da tua!...

Eu lembro-me de ti!...

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:


 

ESTÂNCIAS

Quando à tardinha rumorejam brisas

Roubando o aroma das agrestes flores,

E doce e grave, nas viçosas matas,

Mais triste canto o sabiá desata,

Eu lembro-me de ti!

 

* * *

 

Eu lembro-me de ti, por que tu’alma

 

É   o sol de minh’alma e de meu gênio; E neste exílio que infernal me cerca, Mísera planta, desfaleço e morro Ao frio toque de hibernal geada!

 

* * *

 

Quando das franjas do Ocidente róseo

 

Um raio ainda me clareia o cárcere,

E um tom suave de tristeza e luzes

Mistura o dia à palidez da noite,

Eu lembro-me de ti!

 

* * *

 

Eu lembro-me de ti, porque teu seio

 

Guarda um tesouro de piedade santa,

E nesse instante que o pesar duplica

Faltam-me as vozes de teus lábios meigos


Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:

 


— 102 —

As caducas pharmacias, livrarias,

As boticas, e vans secretarias;

E já todos a fé perdido tinham,

Por verem que o brutal não descobriam,

Quando idéia feliz, e luminosa,

Na cachóla brilhou d'hum Lampadoza;

Que excedendo em carreira os finos galgos,

Lá foi ter á Secreta dos fidalgos;

E dizem que encontrara registrado

O nome do collosso celebrado:

Era o grande Barão da borracheira,

Que seu titulo comprou na regia feira!...

O PHOSPHORO.

Eram três Sacerdotes sabichoens,

E hum brutal frisão embatinado,

Discutindo os prodígios do talento

E o vasto progresso decantado.

Hum d'elles, que campava de erudito,

brandes casos narrava em tom de ré;

Com testa mal franzida, olhar sisudo,

Revolvendo os mysterios d'alta fé!

Aquelle, litterato de jornaes,

De velhas anrffedoctas chafariz,

Pintava em velha porta enegrecida

A cara de Plutão com alvo giz.

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:

 


— 104 —

O outro que versado se amostrava

Em rudes tradicções do tempo antigo,

Dizia que Noé sulcára os mares

Mettido com Adão n'hum grande gigo.

Silencio! então bradou o tal masmarro,

Assestando a luneta na caraça;

—Não creyo n'essas burlas, já rançosas,

Em factos antiquados—vil trapaça.

O seClo dezenove altivo mostra

Dos homens o poder que ao Céo transporta;

Os barcos de vapor, a ferreâ estrada,

E o aéreo balão que os ares corta.

E sobre as maravilhas descobertas,

Com chamma encantadora o mundo abraza,

O delgado palito phosphoroso,

Que dos gênios a força audaz empraza!

Oh robusto milagre da razão!

Vejo a flamma brilhante que desponta

No bico de hum graveto delgadinho,

Apenas esfregando—mais pra ponta!

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:

 


— 113 —

Não cercam a morada luctuosa

Os salgueiros, os fúnebres cyprestes,

Nem lhe guarda os humbraes da sepultura

Pesada lage de espartano mármore,

Somente levantado em quadro negro

Epitaphio se lè, que impõem silencio!

—Descansam n'este lar caliginoso

O mísero captivo, o desgraçado!...

Aqui não vem rasteira a vil lisonja

Os feitos decantar da tyrannia,

Nem offuscando a luz da san verdade

Eleva o crime, perpetua a infâmia.

Aqui não se ergue altar ou throno d'ouro

Ao torpe mercador de carne humana.

Aqui se curva o filho respeitoso

Ante á lousa materna, e o pranto em fio

Cahe-lhe dos olhos revelando mudo

A historia do passado. Aqui nas sombras

Da funda escuridão do horror eterno,

Dos braços de huma cruz pende o mysterio,

Faz-se o sceptro bordão, andrajo a túnica,

Mendigo o rei, o potentado escravo!