quarta-feira, 3 de março de 2021

Poesia de quinta na Usina: D'Araújo:

 


Consciência


Não existe feio

Nem tão pouco o belo

Não há certo ou errado

Não existe sano ou insano.....

poema na integra no Livro:
"O Grito da Alma"

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Razão

Em um ambiente coloquial

Sepulta-se o pensamento lógico

E a plenitude inversa da razão,

Com as inverdades dos sentimentos frios

E exatos como o passo em falso.......

poema na integra no Livro:

"O Grito da Alma"

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Sonhos Mortos


De um enredo sem notas

Visto minhas botas

Que desbotam feito tempo perdido

 

Vejo o rígido do seco e morno vento

Que desce feito cetim a resvalar em mim

 

E o assombro do peso

Que cai sobre meus ombros do desconforto....

poema na integra no Livro: 

O "Grito da Alma"

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:

 


À LUCÍLIA

Se eu pudesse ao luar, Lucília bela,

 

Queimar-te a fronte de insensatos beijos,

Dobrar-te ao colo, minha flor singela,

Ao fogo insano de eternais desejos;

 

Ai! se eu pudesse de minh’alma aos elos

 

Prender tu’alma enfebrecida e cálida,

Erguer na vida os festivais castelos

Que tantas noites planejaste, pálida;

 

Ai! se eu pudesse nos teus olhos turvos

 

Beber a vida da volúpia ao véu,

Bem como os juncos sobre as ondas curvos

A chuva bebem que derrama o céu,

 

Talvez que as mágoas que meu peito ralam

 

Em cinzas frias se perdessem logo,

Como as violas que ao verão trescalam

Somem-se aos raios de celeste fogo!

 

Oh! vem Lucília! é tão formosa a aurora

 

Quando uma fada lhe batiza o alvor,

E a madressilva, que ao frescor vapora

Os ares peja de lascivo amor...

 

Sou moço ainda; de meu seio aos ermos

 

Posso-te louco arrebatar comigo...

De um mundo novo na solidão sem termos

Deitar-te à sombra de amoroso abrigo!

 

Tenho um dilúvio de ilusões na fronte,

 

Um mundo inteiro de esperanças n’alma,

Ergue-te acima de azulado monte,

Terás dos gênios do infinito a palma!...

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:


 

AS SELVAS

 

Selvas do Novo Mundo, amplos zimbórios,

Mares de sombra e ondas de verdura,

Povo de Atlantes soberano e mudo

Em cujos mantos o tufão murmura.

 

Salve! minh’alma vos procura embalde,

 

Embalde triste vos estendo os braços...

Cercam-me o corpo rebatidos muros,

Prendem-me as plantas enredados laços!...

 

Pátria da liberdade! antros profundos!

 

Vastos palácios! eternais castelos!

Mandai-me os gênios das sombrias grutas

De meus grilhões espedaçar os elos!...

 

Ah! que eu não possa me esquivar dos homens,

 

Matar a febre que meu ser consome,

E entre alegrias me arrojar cantando

Nas secas folhas do sertão sem nome!

 

Ah! que eu não possa desprender aos ermos

 

O fogo ardente que meu crânio encerra,

Gastar os dias entre o espaço e Deus

Nas matas virgens da colúmbia terra!

 

Eu não detesto nem maldigo a vida,

 

Nem do despeito me remorde a chaga,

Mas ah! sou pobre, pequenino e débil

E sobre a estrada o viajor me esmaga!

 

Que faço triste no rumor das praças?

 

Que busco pasmo nos salões dourados?

Verme do lodo me desprezam todos,

O pobre e os grandes de esplendor cercados!

 

Fere-me os olhos o clarão do mundo,

 

Rasgam-me o seio prematuras dores,

E à mágoa insana que me enluta as noites,

Declino à campa na estação das flores.

 

E há tanto encanto nas florestas virgens,

 

Tanta beleza do sertão na sombra,

Tanta harmonia no correr do rio,

Tanta delícia na campestre alfombra...

 

Que inda pudera reviver de novo,

 

E entre venturas flutuar minh’alma,

Fanada planta que mendiga apenas

A noite, o orvalho, a viração e a calma!

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:

 


AURORA

Antes de erguer-se de seu leito de ouro,

O rei dos astros o Oriente inunda

De sublime clarão;

Antes de as asas desprender no espaço,

A tempestade agita-se e fustiga

O turbilhão dos euros.

 

As torrentes de idéias que se cruzam,

 

O pensamento eterno que se move

No levante da vida,

São auras santas, arrebóis esplêndidos,

Que precedem à vinda triunfante

De um sol imorredouro.

 

O murmurar profundo, enrouquecido,

 

Que do seio dos povos se levanta,

Anuncia a tormenta;

Essa tormenta salutar e grande

Que o manto roçará, prenhe de fogo,

Na face das nações.

 

Preparai-vos, ó turbas! Preparai-vos,

 

Rebatei vossos ferros e cadeias,

Algozes e tiranos!

A hora se aproxima pouco a pouco,

E o dedo do Senhor já volve a folha

Do livro do destino!

 

Grande há de ser o drama, a ação gigante,

 

Majestosa a lição! luzes e trevas

Lutarão sobre os orbes!

O abismo soltará seus tredos roncos,


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E o frêmito dos mares agitados

 

Se unirá aos das turbas.

 

Os reis convulsarão nos tronos frágeis,

 

Buscando embalde sustentar nas frontes

As úmidas coroas...

Debalde!... o vendaval na fúria insana

Os levará com elas, envolvidos

Num turbilhão de pó!

 

Vis, abatidos, o fidalgo e o rico

 

Sairão de seus paços vacilantes

Nos podres alicerces...

E errantes sobre a terra irão chorando,

Mendigar um farrapo ao vagabundo,

E um pedaço de pão!

 

Estranho povo surgirá da sombra

 

Terrível e feroz cobrindo os campos

De cruentos horrores!

O palácio e a prisão irão por terra,

E um segundo dilúvio, então de sangue,

O mundo lavará!

 

O sábio em seu retiro, estupefato,

 

Verá tombar a imagem da ciência,

Fria estátua de argila,

E um pálido clarão dirá que é perto

O astro divinal que às turbas míseras

Conduz a redenção!

 

Como aos dias primeiros do universo,

 

O globo se erguerá banhado em luzes,

Reflexos de Deus;

E a raça humana sob um céu mais puro

Um hino insigne enviará, prostrada

Aos pés do Onipotente!

 

Irmãos todos serão; todos felizes;

 

Iguais e belos, sem senhor nem peias,

Nem tiranos e ferros!

O amor os unirá num laço estreito,

E o trânsito da vida uma romagem

Se tornará celeste!

 

A hora se aproxima pouco a pouco;

 

O dedo do Senhor já volve a folha

Do livro do destino!...

Ergue-se a tela do teatro imenso,

E o mistério infinito se desvenda

Do drama do Calvário!


 


Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:

 


— 122 —

Bem pequenino

Deixei meu ninho;

Fui correr mundo

Pelo caminho.

Eis chega a noite,

Brilha o luar;

Do fogo em roda

Vão-se aquentar!

Vamos depressa,

Temos café;

Depois diremos

Quem bate o pé.

Tenho hum bentinho,

Tenho hum rozario;

Lá vem as contas

Do meu fadario.

S. Paulo—1850.

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:

 


CALABAR.

Oh não vendeu-se, não!— elle era escravo

Do jugo portuguez—quiz a vingança;

Abriu sua alma ás ambiçoens de hum bravo

E em nova escravidão bebeu a esp'rança!

Combateu... pelejou... entre a batalha

Viu essas vidas que no pó se somem;

Enrolou-se da pátria na mortalha,

Ergueu-se—inda era hum homem!

Calabar! Calabar!—foi a mentira

Que a maldição cuspio em tua memória

Amaste a liberdade;—era huma lyra

De loucos sonhos, d'elevada gloria!

Alma adejando h'este Ceo brilhante

—Sonhaste escravo reviver liberto;

Subiste ao largo espaço triumphante*

Voaste—era hum deserto!

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:

 


— 124 —

A quem trahiste, heroe?—na vil poeira

Que juramento te prendia a fé?!

Escravo por escravo—essa bandeira

Foi de hum soldado—lá ficou de pé!

Viu o sol entre as brumas do futuro

—Elle que por si só nada podia;

Quiz vingar-se também,—no sonho escuro.

Quiz ter também seu dia!

O pulso roixo da fatal cadeia

Brandiu huma arma, pelejou também;

Viram-no erguido na refrega feya,

—Sombrio vulto que o valor sustem!

Respeitai-o—que amou a heroicidade!

Quiz erguer-se também do raso chão!

Foi delírio talvez—a eternidade

Teve no coração!

Oh que o Céo era lindo, e o sol se erguia,

Como hum incêndio nas brasüeas terras;

Da cimejra d*% $glva a voz surgia,

E o som dos ventos nas remotas serras!

Adormeceu.,,^ noite em funda calma

Ouvio ao longe os echos da*floresta;

Batteu-Jhe o coração-^triste sua alma

Sorriu-se—era huma festa!