domingo, 11 de dezembro de 2022

Crônicas de Segunda Na Usina:Lima barreto: As Enchentes:


 As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro, inundações desastrosas.

 

Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicial interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de haveres e destruição de imóveis.

 

De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do dever de evitar tais acidentes urbanos.

 

Uma arte tão ousada e quase tão perfeita, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples problema.

 

O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares, dos freios elétricos, não pode estar à mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida intagral.

Como está acontecendo atualmente, ele é função da chuva. Uma vergonha!

Não sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema não é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheiros municipais, procrastinando a solução da questão.

 

O Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio.

 

Cidade cercada de montanhas e entre montanhas, que recebe violentamente grandes precipitações atmosféricas, o seu principal defeito a vencer era esse acidente das inundações.

 

Infelizmente, porém, nos preocupamos muito com os aspectos externos, com as fachadas, e não com o que há de essencial nos problemas da nossa vida urbana, econômica, financeira e social.

 

Vida urbana, 19-1-1915


Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: CRÔNICA DO COTIDIANO – MÍDIAS SOCIAIS NA VIDA DE UM BERADEIRO:



Feicebuk, uatizapio e tuite. Nessa era da informação rápida e rasteira, as pessoas estão se comunicando muito e rapidamen- te. E haja aperreio. 
O tal do “Uatizapio” é uma “caninga” só. O celular apita toda hora, e ainda tem gente que bota uns toques de alerta bem interessantes. Um colega colocou o relinchar de um jumento e outro colocou uma buzina de caminhão. Não tem quem aguente. Uma colega colocou o toque que é “o gritinho de chatura de uma dondoca alvoroçada quando alguém diz que a cor das suas unhas não está combinando com a cor do terceiro botão do lado esquerdo da sub-blusa que ela está vestindo”. Lembre-se da dondoca mais chata e mais fresca que conhece, e imagine esse som: aaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiêêêêê. Ra- paz, quem está ao lado dela na hora que a peste do celular apita só tem vontade de dar-lhe um cascudo. 
No caso do Tuite, já foi descoberto que o inventor é homem. Jamais seria uma mulher, porque as conversas são curtíssimas. O povo gosta é de dizer o que está fazendo, pois acha importante e pensa que todo mundo quer saber. O dana- do é que se fosse mesmo importante, a pessoa não ia parar de fazer para tuitar. E o danado é que o importante é ter muitos seguidores, e cada vez mais. Mas, acho que esse negócio não é legal não. Jesus só tinha 12 seguidores, e um ainda o lascou. Quanto mais essa negada que quer ter milhões de seguidores. Vai só se lascar.

Crônicas de Segunda na Usina: Erça de Queiroz: XIII Londres, 5 de Março [de 1878]:



Finalmente ontem, pelas três horas da tarde, em San Stefano, a paz entre a Turquia e a Rússia foi assinada. Ontem era na história imperial da Rússia um dia ilustre: era o aniversário da emancipação dos servos, do nascimento do imperador e da sua subida ao trono: e por um refinamento de vaidade czariana foi ontem o dia escolhido para completar, por uma assinatura num papel, o fim do Império Turco. Devia ter sido decerto para Alexandre II um momento de orgulho hiperbólico ouvindo debaixo da janela do Palácio de Inverno milhares de vassalos cantarem, com a cabeça descoberta, como no respeito de uma celebração religiosa, o hino do czar – o pensar que no dia em que fazia vinte e três anos que seu pai Nicolau vencido e humilhado morria de despeito, ele tomava a desforra das derrotas passadas, recuperava as províncias perdidas, rasgava o ofensivo Tratado de Paris, destruía o Império Otomano, humilhava grandes potências e ganhava um lugar entre os grandes conquistadores do século. Nesse momento verdadeiramente pôde crer na missão da Santa Rússia. De resto em Sampetersburgo, ao que dizem os telegramas desta manhã, o entusiasmo tomou as proporções de um delirium tremens. O imperador levou três horas a ir do palácio ao teatro, no meio de uma multidão fanática uivando o hino imperial, ébria de orgulho nacional, aclamando Alexandre, o Libertador. Em San Stefano, o grão-duque Nicolau passou uma revista de cerimonial às tropas, e os arautos anunciaram, ao som das músicas triunfais, o fim da campanha. Depois te Deum, jantares, champanhe e hurras pela Santa Rússia! De resto, os Turcos, com a passividade e a resignação da raça fatalista, aceitam a derrota, que é uma determinação de Alá, e não parecem ter conservado rancor aos Russos. Os correspondentes citam como perfeita a confraternização dos soldados russos e turcos: vêem-se, junto às linhas de demarcação, conversando, jogando, cantando, dançando, fumando, numa patuscada de bons amigos: um correspondente telegrafa que anteontem, na estrada de Pera, encontrara dois fortes destacamentos de tropas russas e turcas, que, tendo-se encontrado no mesmo caminho, faziam a passeata em fileiras misturadas, os oficiais em grupo, formando adiante, as bandas unidas tocando com denodo A Filha de Madame Angot. Os Turcos não parecem protestar: de Istambul vêm todos os dias a San Stefano milhares de curiosos ver os Russos, apertar-lhes a mão, dar-lhes os parabéns de boa chegada: de resto, os negociantes de Constantinopla estão encantados com a presença daqueles milhares de consumidores, que duplicarão os preços dos géneros. A única criatura viva que em San Stefano protestou foi um jumento. Este ilustre descendente do amigo de Sancho e do amigo de Maomet mostrou desde o começo das negociatas da paz uma inquietação que bem depressa se definiu num ódio asinino contra os Russos. E o burro de um cangalheiro – e apenas pressente um uniforme russo afila a orelha, firma-se nas patas dianteiras e escouceia com um patriotismo que deve fazer corar o sultão e os paxás. E, dizem os correspondentes, a grande curiosidade de San Stefano, e faz o divertimento dos oficiais de sua alteza o grão-duque Vitorino. Debalde se tem procurado convencê-lo da nova vantagem e do novo progresso que a Turquia, ou o bocadito da Turquia que resta, vai gozar sob o protectorado russo; o jumento, com a teima que faz a honra e a força da sua raça, responde com coices aos argumentos. Este jumento ficará na história. É, depois de Osman Paxá, a única alma viril do império. É o último patriota turco! Eis pois enfim finda a Turquia: as condições da paz não são conhecidas senão nas suas linhas gerais, mas tanto quanto se sabe, e não se sabe tudo, a Turquia perde a România, a Sérvia, o Montenegro como tributários, perde a Bósnia, perde toda a Bulgária, perde quase toda a Romélia e fica-lhe apenas na Europa uma tira de terra em volta de Constantinopla: o espaço para se plantarem as hortas da cidade, uma migalha de território para os legumes. Na Ásia perde o melhor da Arménia. Como potência europeia findou: é uma potência asiática. Ei-los enfim, depois de tantos séculos, expulsos do continente; mas custou: entre a guerra que os arrojou do Algarve e da Andaluzia até à campanha que os sacode da Romélia e da Bulgária mediaram séculos. A luta começada pelos reis católicos da Península é completada pelo czar e será terminada pelo czar; Constantinopla é deixada simplesmente aos Turcos, como um favor transitório, que bem depressa perderão também; o sultão levará a sua corte, o seu serralho, os seus eunucos e os seus tamborins para Drussa ou para Esmirna, na Ásia Menor, e nunca mais ouviremos falar dele; reentrarão, com toda a inércia do fatalismo, na passividade e no animalismo da vida puramente asiática; esquecerão tudo o que aprenderam na Europa, e na desgraça, prendendo-se mais ao mais puro maometanismo e isolando-se no Alcorão, não serão bem depressa mais do que um povo pitoresco e semibárbaro que se irá visitar, com risco e com fadiga, ao interior da Ásia Menor! Assim acabam os impérios. Evidentemente, o sultão, os paxás, cederam tudo para conservar Constantinopla: Constantinopla é a vida doce e mole nos haréns de Istambul e nos jaliks do Bósforo: contanto que lhes restem as doçuras do kief, a sesta nos quiosques das Aguas Doces da Europa e as belas circassianas bem educadas no deboche, que lhes importa o mais? A filosofia deste país é a seguinte: um país sacrificado ao egoísmo da sua classe dirigente. O Times chega a afiançar que por um contrato secreto com a Rússia os paxás continuarão a receber os seus rendimentos e os seus tributos especiais, que não serão afectados pelo pagamento da indemnização de guerra. Quem vai pagar é o pobre camponês otomano, tão sóbrio, tão bravo, tão honesto. Sempre a velha, a velha história: aristocracias ligando-se para a exploração das suas plebes! E que faz, no entanto, a Inglaterra? Arma-se até aos dentes: arma-se com um luxo quase bárbaro: solta dos seus estaleiros fileiras de couraçados; acumula montanhas de torpedos; quer tornar os seus obuses mais numerosos que as areias das praias! Leio todos os dias, por curiosidade, a lista dos preparativos nos arsenais, nas usinas do Governo, nas fábricas de canhões; confunde a imaginação! Os seis milhões de libras votados há um mês estão, diz-se, quase gastos – e tudo isto para quê? Para ir à conferência. Está fazendo a sua toilette da conferência. Com efeito, como ninguém sabe as condições da paz, todo o interesse está na conferência. Em que prejudicam essas condições a Inglaterra ou a Áustria? Mistério. Há-de saber-se amanhã, ou além. E é então que a dificuldade começa, se se vir que elas são incompatíveis com os interesses, com a dignidade, com a mesma segurança da Inglaterra. Duas das condições que decerto seriam um motivo de conflito, a entrega da frota turca aos Russos e a hipoteca do tributo do Egipto ao pagamento da indemnização da guerra, diz-se que foram suprimidas. Foram? Alguns jornais duvidam. Assim a impaciência de saber verdadeiramente as verdadeiras condições desta paz é ansiosa, cheia de pânico. Da sua publicação sairá uma nova guerra? Elas devem ser, com efeito, bem extraordinárias, visto que a Rússia as tem conservado tão secretas e que se está preparando como para uma outra campanha: mobilização de corpos de exército, encomenda de torpedos, fabricação de canhões, tudo isto prova que o czar conta com a oposição da Inglaterra e talvez da Áustria, quando sabidas as condições da paz, e que esta preparado para se bater em sua defesa. Mas que pode fazer a Inglaterra? A Inglaterra tem de aceitar os factos realizados. Não tem alianças: a França está decidida a não se mexer, nem para dar uma opinião; até declarou que vai à conferência contra vontade, por dever de etiqueta; a Áustria está imobilizada pela Alemanha; a Itália igualmente. O que resta à Inglaterra? Os pequenos estados constitucionais, com que ela poderia formar uma cruzada liberal contra a Rússia. Armemos os pequenos estados constitucionais, diz-se aqui, armemos a Bélgica, a Holanda, Portugal, e teremos um efectivo de duzentos mil homens. Mas esta aliança com os pequenos não parece do gosto da política de Lord Beaconsfield; os jornais tories nem mesmo lhe dão a importância de lhe enunciar a possibilidade; ela não daria à Inglaterra, estrategicamente, um concurso eficaz, e só traria a esses estados catástrofes. Nenhum deles tem interesses na questão do Oriente; nenhum deles tem a loucura de gastar o seu sangue (dado que a Inglaterra forneça o dinheiro) para batalhar as batalhas da Inglaterra; nenhum deles aceitaria comprometer o seu progresso, a sua tranquilidade, o seu comércio, o seu trabalho, sem mesmo poder esperar compensações; a Inglaterra não tem sido uma mãe tão carinhosa que mereça que se faça por ela sacrifícios quando ela está em dificuldades: a sua gratidão é suspeita; não há, como ela, para abandonar um amigo num dia de crise; vide a história lamentável da Dinamarca. Os pequenos estados, portanto, declinariam, sem dúvida, a honra desta aliança ilustre. E a Inglaterra só tem a continuar isolada. E é assim que a Alemanha paga à Rússia a sua dívida de 1870 e 1871. O que tem sido esta guerra do Oriente? O pagamento de uma dívida de gratidão. A Rússia em 1870 deixou a Alemanha arrancar à França duas províncias e cinco milliards e constituir a unidade germânica na família dos Hohenzollerns. A Alemanha, por seu turno, deixa a Rússia estender-se do lado da Ásia e da Turquia, encarregando-se de conservar a Europa quieta e imóvel. Tudo isto se passa entre Guilherme Hohenzollern e Alexandre Romanoff, e entre os dois velhos amigos, os dois velhos compadres de Frankfürt, Bismarck e Gortschatcoff. Delicadezas trocadas entre personagens! E Bismarck, por outro lado, consegue um grande fim: a Rússia quanto mais se alarga mais se enfraquece, quanto mais se arma mais se arruína. A Alemanha anima-a neste caminho, como os agiotas animam os filhos-famílias à vida aventureira e rica. A Rússia, concentrando-se, desenvolvendo os seus poderosos recursos, formando-se para a liberdade, será um terrível vizinho para a Alemanha; mas a Rússia, lançando-se nas aventuras da cruzada cristã na Ásia e da cruzada pan-eslavista no Sul da Europa, marcha à sua ruína, pelos desperdícios da força. De modo que Bismarck, ao mesmo tempo que paga a dívida de gratidão ao seu aliado, impele-o implicitamente à decadência. Política sábia, bem própria do antigo coronel dos couraceiros que uma retórica consagrada transformou no solitário de Varzin. Annuncio vobis gaundium magnum: habemos pontificem. Desde esta declaração lançada de uma janela do Vaticano sobre o povo romano, na Praça de 5. Pedro, todas as preocupações do mundo católico e incatólico estão fixadas em Joaquin Pecci, Leão XIII, papa infalível pela reunião dos votos de quarenta e cinco cardeais falíveis. O que prova que quarenta e cinco falibilidades fazem uma infalibilidade. Leão XIII parece ser um homem rígido, com experiência do mundo e do governo, prático, bom administrador, de tendências ligeiramente liberais, de vida austera, letrado, poeta mesmo. A sua figura é um pouco ascética, não tem nada daquela doce e risonha velhice de Pio IX, tão cheia de afabilidade, de suavidade, de graça e de finura: Leão XIII tem uma velhice seca, imponente, um pouco triste. O povo romano deu vivas ao saber a sua nomeação, o que não impediu que ontem apedrejasse as janelas do Palácio Toleschi, que se iluminara para celebrar a coroação de Leão XIII. Isto provém do exacto sentimento italiano: estimam bem que o papa seja um italiano que resida em Roma, depois de ter sido nomeado em Roma, e que seja liberal – mas não querem que o papado saia do Vaticano e se misture à vida civil. A nomeação do italiano Pecci agradou-lhes – mas que os palácios de Roma façam iluminações, agora que ele está nomeado, não! O Governo é absolutamente da mesma ideia: e toda a demonstração papal fora das sombras do Vaticano encontrará a sua reprovação; e assim não permitiu que a coroação de Leão XIII fosse pública. Isto dará em breve a sua consequência. Leão XIII encerrar-se-á no Vaticano, como Pio IX, e pôr-se-á em hostili-dade ao Governo italiano e ao mundo liberal, como Pio IX, o que é no fundo a lógica, a força e a glória do papa e do papado. Não há nenhuma novidade literária ou teatral. A política absorve toda a actividade cerebral: os filósofos fazem artigos de política nas revistas; os romancistas, mais batalhadores e mais exaltados, fazem-na nos jornais; os poetas fazem canções bélicas; e os pintores alegorias patrióticas: e todas estas produções são medíocres. A imprensa tem-se, sobre a questão do Oriente, entregado a um fluxo labial desordenado. Rolam torrentes de prosa e de retórica. Entre os que se chamam partido da paz – e os que se chamam partido da guerra – há uma luta de eloquência, que tem todos os pesados furores, todo o animal encarniçamento do boxe. Os jornais da guerra – tomam sobretudo à sua conta o infeliz Lord Derby. Este político é digno de piedade: todas as contrariedades por que tem passado a Inglaterra são-lhe atribuídas com um luxo de epítetos injuriosos e um hiperbolismo de verrina – que causa melancolia. A Vanity Fair, um jornal elegante, de boa sociedade, estimado, respeitável, abandona-se sobre Lord Derby a excessos que a política costuma reprimir. Às vezes começa os seus artigos com moderação, bom raciocínio, linguagem correcta: de repente, encontra na sua argumentação o nome de Lord Derby. Endoidece. Atira-se a ele, morde-o, espezinha-o, arranca-lhe pedaços de membros, bate-o como um bife, chafurda-o na lama, baba-se de cólera. Há dias representava Lord Derby, de joelhos diante do embaixador russo Schuvalloff, rogando-lhe que por piedade não humilhasse mais a Inglaterra: Lord Derby beijava-lhe as mãos, abraçava-lhe as pernas... Aqui traduzo: – Fora daqui! – brada Schuvalloff. – Não, conde, deixe-me estar a seus pés. Não humilhe mais a Inglaterra. Nós fazemos tudo. Retiramos a frota. Destruímos a frota. Quer que destruamos a frota? É só vossa excelência dizê-lo! É um momento, com dinamite. – Fora daqui, pulha! – Sim, sou um pulha! Obrigado. Que honra que vossa excelência se digne notar que eu sou um pulha! Sou-o realmente, já que vossa excelência o diz. Deixe-me beijar mais a sua mão; que quer que eu faça para lhe provar a minha adoração? Quer que cante de galo? Neste momento o público, fora, vem fazer um charivari debaixo das janelas do embaixador. Uma pedrada quebra um vidro. E logo entra, arremessado pela janela, um gato morto. Schuvalloff dá um pontapé em Lord Derby, exclamando: – Vê, imbecil. Aí está já esse grosseiro povo da Inglaterra a insultar-me, a atirar-me bichos mortos. – O gato morto? – grita Lord Derby. – O gato morto era para mim! Todos os gatos mortos são para mim! Eles sabem que eu mordo-me por gatos mortos. (Abraça-se ao gato morto, beija o gato morto.) Senhor conde, uma palavra! Diga que a Rússia, a santa Rússia, a nobre Rússia, a Rússia nossa ama –não há-de bater na Inglaterra, nem fazer-nos mal, nem assustar-nos. Diga-o, senhor conde! Veja: rojo a minha cabeleira no chão, verto as minhas lágrimas – apertando contra mim o meu gato morto! – Fora daqui, covarde, ou trabalha o chicote – diz Schuvalloff. – Eu saio, eu saio, excelentíssimo senhor. Vossa excelência mande; eu saio, eu saio aos recuões. Mas primeiro permita, dê licença, é um instante... (Atira-se-lhe aos pés e põe-se com humildade a lamber-lhe o verniz das botas.) Que me dizem a este meio de fazer polémica – com um ministro da Inglaterra? O Echo, jornal de paz, procede de outro modo. Traduzo um dos seus últimos períodos: «Os estudantes de medicina de Londres, que têm sido tão conspícuos em todas as manifestações belicosas dos últimos dias, escrevem uma carta ao Echo prevenindo-nos de que virão a esta redacção dar-nos uma correcção que, segundo eles, merece a maneira como temos castigado esta importuna e imbecil intervenção dos senhores estudantes nos meetings bélicos. Pois bem, prevenimos apenas os senhores estudantes disto: que há, empregadas na redacção e imprensa do Echo, cento e cinquenta pessoas, que a provisão de bengalas é sólida e que a vontade é boa. Que suas senhorias venham quanto antes.» O Echo é um dos melhores e mais acreditados jornais de Londres. Naturalmente, os grandes jornais, os jornais-personagens, o Times, o Daily Telegraph, o Daily News, o Standard, o Morning Post, conservam uma compostura mais digna, e nunca perdem a linha majestosa. Mas tudo o que a ironia, o sarcasmo, a alusão pérfida, podem produzir de mais acerado é trocado entre eles numa prosa correcta e grave. São gentlemen que se trocam num salão injúrias bem redigidas, com uma atitude cortês, o fel no coração e o sorriso nos lábios. Nunca vi tanto ódio – sob tanta polidez.

Crônicas De Segunda Na Usina:Mano Ril:



Coluna disegunda: Sem foto para você prestar atenção nas palavras...
Não me lembro bem quando foi que comecei a não enxergar com bons olhos o mês de agosto. Até porque, até aqui não aconteceu nada de desastroso no mês oito de cada ano, já aconteceu em fevereiro, junho, outubro e dezembro que são meses que vivo com gosto, com vontade. Mas em agosto até hoje nada de mau. Sei lá, acho que é a alma que fica esquisita no mês do “cachorro louco”, é até contraditório eu deveria me sentir super-relax no mês do cachorro louco tendo um pouco de cachorro e de louco em mim. Por falar nisso... já já tenho que soltar os cachorros pra eles correrem um pouco por ai, livres. E você já soltou seus cachorros?
Sempre deixei pra falar mal de agosto quando setembro chega. Oxi, falo mesmo pelas costas desse mês desinteressante. Só que estou aqui pra quebrar regras e rotinas, como virou regra falar de agosto em setembro, estou falando de agosto no começo de agosto mesmo, e ele que trate de ser um mês bacanudo pra nós todos.
Agosto só quero te avisar que maio veio antes de você, roubou sua brisa e tomou o seu posto de mês badarosca. Então você pode ficar com inveja e ser igual maio foi nos últimos anos só pra provocar e deixar bem claro que o chato do ano é você.
Tô lembrando aqui que agosto é o mês dos pais deve ser por isso meu olhar desconfiado. Tudo que faz lembrar algumas vivências com meu pai me causam nó no estomago e insegurança, os trabalhos de escola homenageando o pai nunca foi entregue, sempre ficou na bolsa ou eram esquecidos no armário do colégio. Tinha medo dele não gostar ou até mesmo fazer desfeita pela cartolina em forma de gravata com os escritos da professora “papai te amo” – não me lembro de ter dito uma vez sequer pro meu pai que o amo. Não me orgulho disso, acredite.
Viu como agosto é esquisito? O texto já esta ficando melancólico...
Agosto já esta no seu terceiro dia. Três dias com sol. Escrevo essa coluna na minha casa. A Mayara volta às aulas amanhã e poderei leva-la até a porta da escola, e no final da semana vou receber a lembrança do dia dos pais dado por ela. A minha sobrinha Maria Eduardo nasceu em dez de agosto. Epa espere ai...
Olha esse agosto se fazendo bonito. Sei lá qual que é o mano, mas o mundo gira e a gente pode sempre dar o troco. Acho que chegou a vez de dar o troco em agosto. A gosto.
Mano Ril
Fonte de origem:

https://www.facebook.com/mauricio.ril?fref=nf

Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: ANO QUE SE VAI, ANO QUE SE VEM:


É, 2013 foi especial. Até a cirurgia me ajudou a voltar a es- crever e ficar mais tempo com a família. Mas 2014 vai ser mais especial ainda. Teremos muitas comemorações: no meu caso, farei 35 anos do Pré-Marista, 30 anos de formado em Odontologia, 23 anos de casamento, 23 anos de formado em Educação Física, 23 anos de trabalho na ETFRN/CEFET/IFRN, sem falar que ficarei um ano mais experiente. 
Ana Flávia completará 20 anos de formatura, e tere- mos os muitos aniversários das filhas e familiares. 
Juntando todas estas comemorações com o Carnaval, Copa do Mundo, São João, os feriadões e os finais de semana normais, os whiskytórios convencionais, além das eleições, acho que vão sobrar poucos dias sem ter farra. 
Dessa forma, já estou pesquisando em todos os gran- des magazines e nos sites de vendas pela internet se há dispo- nibilidade de fígado, para entrega imediata, pois ainda esqueci- me de falar do Réveillon.


Domingo Na Usina:Biografias:Rachel de Queiroz:


Rachel de Queiroz (1910-2003) foi uma escritora brasileira. A primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, eleita para a cadeira nº 5, em 1977. Foi também jornalista, romancista, cronista, tradutora e teatróloga. Integrou o quadro de Sócios Efetivos da Academia Cearense de Letras. Seu primeiro romance "O Quinze", ganhou o prêmio da Fundação Graça Aranha. O "Memorial de Maria Moura" foi transformado em minissérie para televisão e apresentado em vários países.

Rachel de Queiroz (1910-2003) nasceu, em Fortaleza, capital do Ceará, em 17 de novembro de 1910. Filha de Daniel de Queiroz Lima e Clotilde Franklin de Queiroz, descendente pelo lado materno da família de José de Alencar. Em 1917, foi para o Rio de Janeiro, junto com a família, que procurava fugir da seca que desde 1915 atingia a região. Mais tarde a romancista iria aproveitar o tema para escrever seu primeiro livro "O Quinze". Pouco tempo depois, seguiram para Belém do Pará, onde passaram dois anos.

De volta à Fortaleza, ingressou no Colégio Imaculada Conceição, diplomando-se professora, em 1925. Estreou no jornalismo em 1927, no Jornal "O Ceará", com o pseudônimo de Rita de Queluz, publicando uma carta ironizando o concurso Rainha dos Estudantes.

Em fins de 1930, com vinte anos apenas, projetava-se na vida literária do país, através da publicação do romance "O Quinze", uma obra de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca. O livro foi editado em apenas mil exemplares e já mostrava as características que marcariam toda sua obra. A consagração veio com o Prêmio da Fundação Graça Aranha, em 1931.

Em 1932, publicou um novo romance, intitulado "João Miguel". Em 1937, retornou com "Caminho de Pedras". Dois anos depois, conquistou o prêmio da Sociedade Felipe d'Oliveira, com o romance "As Três Marias". No Rio, onde residia desde 1939, colaborou no "Diário de Notícias", na revista "O Cruzeiro" e no "O Jornal".

Rachel de Queiroz publicou mais de duas mil crônicas, que resultou na edição dos livros: "A Donzela e a Moura Torta", "100 Crônicas Escolhidas", "O Brasileiro Perplexo, "O Caçador de Tatu" e "Cenas Brasileiras"

Em 1950, publicou em folhetins, na revista O Cruzeiro, o romance "O Galo de Ouro". Tem duas peças de teatro, "Lampião", escrita em 1953, e "A Beata Maria do Egito", de 1958, laureada com o prêmio de teatro do Instituto Nacional do Livro. No campo da literatura infantil, escreveu o livro "O Menino Mágico", a pedido de Lúcia Benedetti. O livro surgiu, entretanto, das histórias que inventava para os netos.

Rachel de Queiroz traduziu para o português mais de quarenta obras. O presidente da República, Jânio Quadros, a convidou para ocupar o cargo de Ministra da Educação, que foi recusado. Na época, justificando sua decisão, teria dito: "Sou apenas jornalista e gostaria de continuar sendo apenas jornalista."

Foi membro do Conselho Estadual de Cultura do Ceará. Participou da 21ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em 1966, onde serviu como delegada do Brasil, trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem. Foi membro do Conselho Federal de Cultura desde a sua fundação em 1967, até sua extinção em 1989. Foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 5, em 4 de agosto de 1977. Integrou o quadro de sócios Efetivos da Academia Cearense de Letras. Foi sócia honorária da Academia Sobralense de Estudos e Letras e da Academia Municipalista do Estado do Ceará.

Em 1985, foi inaugurada em Ramat-Gau, Tel Aviv (Israel), a creche "Casa de Rachel de Queiroz", sendo Rachel de Queiroz, a única escritora brasileira a contar com essa honraria naquele País. Colaborou semanalmente no jornal O Povo, de Fortaleza e desde 1988, iniciou colaboração semanal no jornal O Estado de São Paulo e no Diário de Pernambuco.

Rachel de Queiroz faleceu em sua casa no Rio de Janeiro, de um ataque cardíaco, no dia 4 de novembro de 2003.

Obras de Rachel de Queiroz


O Quinze, 1930
João Miguel, 1932
Caminho de Pedras, 1937
As Três Marias, 1939
A Donzela e a Moura Torta, 1948
O Galo de Ouro, 1950, folhetins na revista O Cruzeiro
Lampião, 1953
A Beata Maria do Egito, 1958
100 Crônicas escolhidas, 1958
O Brasileiro Perplexo, 1964
O Caçador de Tatu, 1967
O Menino Mágico, 1969
Dora Doralina, 1975
As Menininhas e Outras Crônicas, 1976
O Jogador de Sinuca e Mais Historinhas, 1980
Cafute e Pena-de-Prata, 1986
Memorial de Maria Moura, 1992
Nosso Ceará, 1997
Tantos Anos, 1998
Três Romances, 1948
Quatro Romances, 1960


Fonte de origem:
http://www.e-biografias.net/rachel_queiroz/