quarta-feira, 11 de maio de 2022

Poesia de Quinta na Usina; D'Araújo:






Seria

A inestimável beleza da utopia do ser.

O que acredita que é, sem nunca ter sido...

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:


 

A fila

 

A fila anda, a fila para.

Para e anda a fila.

Na frente à imensidão das águas.

Atrás a cancela que fecha os corações aflitos.

Poesia de Quinta na Usina; D'Araújo:



Pesadelos

Sonho, pesadelo, visão, visagem.
Todos na mesma imagem.
Acordo, repouso e descanso,
Nos braços do novo dia que nasce.
Antes que a nova noite chegue...

Poesia de Quinta na Usina; Florbela Espanca:



O TEU OLHAR

Passam no teu olhar nobres cortejos, Frotas, 
pendões ao vento sobranceiros, 
Lindos versos de antigos romanceiros, 
Céus do Oriente, em brasa, como beijos, 
Mares onde não cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros, 
Todo um povo de heróis e marinheiros, 
Lanças nuas em rútilos lampejos; 
Passam lendas e sonhos e milagres!
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres, 
Em centelhas de crença e de certeza!
E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim, 
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!

Poesia de quinta na Usina; Florbela Espanca:



PERDI OS MEUS FANTÁSTICOS CASTELOS

Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma... 
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los: 
Quebrei as minhas lanças uma a uma!
Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? 
– Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma! Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel, Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...
Sobem-me aos lábios súplicas estranhas... 
Sobre o meu coração pesam montanhas... 
Olho assombrada as minhas mãos vazias...

Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca:



FALO DE TI ÀS PEDRAS DAS ESTRADAS

Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que e louro como o teu olhar, 
Falo ao rio, que desdobra a faiscar, 
Vestidos de princesas e de fadas;
Falo às gaivotas de asas desdobradas, 
Lembrando lenços brancos a acenar, 
E aos mastros que apunhalam o luar 
Na solidão das noites consteladas; 
Digo os anseios, os sonhos, os desejos 
Donde a tua alma, tonta de vitória,
Levanta ao céu a torre dos meus beijos!
E os meus gritos de amor, cruzando o espaço, 
Sobre os brocados fúlgidos da glória,
São astros que me tombam do regaço!

Poesia de Quinta na Usina: luís Vaz de Camões:



097

Com grandes esperanças já cantei, com que os deuses no 
Olimpo conquistara;
despois vim a chorar porque cantara e agora choro já porque chorei.
Se cuido nas passadas que já dei, custa me esta lembrança só tão cara
que a dor de ver as mágoas que passara tenho pola mor mágoa que passei.
Pois logo, se está claro que um tormento dá causa que outro n'alma se acrescente,
já nunca posso ter contentamento.
Mas esta fantasia se me mente? Oh! ocioso e cego pensamento! 
Ainda eu imagino em ser contente?

Poesia de Quinta na Usina: Luís Vaz de Camões:



159

Chorai, Ninfas, os fados poderosos daquela soberana fermosura!
Onde foram parar na sepultura aqueles reais olhos graciosos?
Ó bens do mundo, falsos e enganosos! Que mágoas para ouvir! 
Que tal figura jaza sem resplandor na terra dura, com tal rosto e cabelos tão fermosos!
Das outras que será, pois poder teve a morte sobre cousa tanto bela
que ela eclipsava a luz do claro dia?
Mas o mundo não era dino dela, por isso mais na terra não esteve; 
ao Céu subiu, que já *se* lhe devia.

 

 

Poesia de Quinta na Usina: Luís Vaz de Camões:



086

Cara minha inimiga, em cuja mão pôs meus contentamentos a ventura, 
faltou te a ti na terra sepultura, porque me falte a mim consolação.
Eternamente as águas lograrão a tua peregrina fermosura;
mas, enquanto me a mim a vida dura, sempre viva em minh'alma te acharão.
E se meus rudos versos podem tanto que possam prometer te longa história 
daquele amor tão puro e verdadeiro,
celebrada serás sempre em meu canto; 
porque enquanto no mundo houver memória, 
será minha escritura teu letreiro.