A porta estreita mantinha guardada toda
alegria. Quase por inteira fechada para
que a liberdade não saísse, e a
felicidade por ventura, viesse fugir.
Tão logo amanhecia, uma pequena
janela era aberta, a forma em L na porta permitia a entrada da luz do
sol, para alimentar a casa, seus moradores e suas pequenas felicidades: Um
quintal cheio de plantas, ervas de cheiro e para remédio, os santos de devoção
e um poço.
Na casa simples, baixa, o telhado
duas águas, recebia o sol e
também nuvens azuis e cinzas de chuva, e
os gatos a desfilarem, ou a descansarem
preguiçosos.
Na casa pequenina com gosto de céu, e cor de
primavera habitava três senhoras,
fervorosas na fé, mantenedoras da paz e
amantes de flores que eram plantadas em pequenos baldes em frente à casa,
flores de boa noite e um
comigo-ninguém-pode que anunciavam o poder das mãos que o regavam, almas boas,
guardadas sempre na natureza , adornadas
de solidariedade, voz mansa e doce ao
conversarem com os vizinhos.
Além da porta, adentrando o quintal da
pequena casa, o poço precioso vertia água tão doce, como a da chuva, água brotada do interior da terra, leito de rios,
águas claras e limpas como as almas
habitantes da casa.
O poço
alimentava as plantas, e a porta
com pequena janela em L sempre era
aberta para dizer bom dia a quem ali
passasse. Quando não chovia, e faltava água,
as senhorinhas abriam a porta por
inteiro, e deixavam que os vizinhos em
fila, em frente à casa enchessem latas,
vasilhas, baldes e até barris com o precioso líquido.
A casa simples, de porta delgada, com janelinha em L, só se
fechava para que maus agouros, e nem coisas vãs a invadisse. Mas todos
os dias, à primeira luz da manhã se abria, ao canto das flores,
ao cheiro dos passarinhos e para a voz
dos vizinhos de toda parte que lhe pediam água ou eum raminho de erva crescida
no quintal para curar as dores, as mazelas do corpo e da alma.
A casa pequenina, tão simples, e sua porta
com janela em L entreaberta, convidava
visitantes, bichos, plantas e flores a
se achegarem, pois refletia luz e vida,
e extrema modéstia, mas guardava dentro dela o bem mais precioso, o valor da humanidade: a gentileza.
Na
casa onde descansavam a luz, a natureza, gente de bem e de grande generosidade,
quanto mais se dava, mais bonita ficava,
uma casa com porta entreaberta em L para sempre se dar bom dia à felicidade.
Paula
Belmino