quarta-feira, 29 de junho de 2022

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:







Tolerância

Como pode o descaso do viver
ser tão tolerante com o tempo preciso.

conteúdo do livro:



Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:



Viaduto

Pra não ficar feio, vai encontrando um meio de
melhorar este prato feio e bem barato.
Com ginga de artista ele cai na pista, levando o
povo pro lado de lá, no segundo andar.

Onde a queda é maior, mais a vista é melhor.
O que é que eu posso fazer pra você entender,
que tem que crescer, sem depender do que vão dizer.
Se você se abala com o que os outros falam no

quarto ou na sala de jantar, nunca vai mudar.
Se não fizer o que tem que ser feito, sempre haverá
defeito em tudo que há.
E se quiser mudar, vai ter que ter muito peito e

talvez seja feito de qualquer jeito, sem você mandar.
É bom que se adiante, antes que lhe jantem pra
comemorar....

conteúdo do livro:





Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:



Holofotes

Longe dos holofotes da perdição,
vamos alinhavando a possibilidade de vivermos
sem a eterna obrigação de chegar a lugar
nenhum, que não seja a felicidade plena...

Conteúdo do livro:




Poesia de Quinta na Usina: Paulo Leminsk:

 


o novo

não me choca mais nada de novo

sob o sol

apenas o mesmo ovo de sempre

choca o mesmo novo

Poesia de Quinta na Usina; Paulo Leminsk:



esta ilusão não desapareça você deixa
que isso aconteça ilusão
igual a essa eu despeço você
da minha peça.

Poesia de Quinta na Usina: Paulo Leminsk:



quando eu tiver setenta anos então vai acabar 
esta adolescência vou largar da vida louca
e terminar minha livre-docência vou fazer 
o que meu pai quer começar a vida com passo 
perfeito vou fazer o que minha mãe deseja aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência quando acabar esta adolescência

Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca:



O MEU SONETO

Em atitudes e em ritmos fleugmáticos, 
Erguendo as mãos em gestos recolhidos, 
Todos brocados fúlgidos, hieráticos,
Em ti andam bailando os meus sentidos...

E os meus olhos serenos, enigmáticos 
Meninos que na estrada andam perdidos, 
Dolorosos, tristíssimos, extáticos,
São letras de poemas nunca lidos...

As magnólias abertas dos meus dedos 
São mistérios, são filtros, são enredos
Que pecados d´amor trazem de rastros...
E a minha boca, a rútila manhã, 
Na Via Láctea, lírica, pagã,
A rir desfolha as pétalas dos astros!...

Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca:


 

OS MEUS VERSOS

 

Rasga esses versos que eu te fiz, amor! Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento, Que a cinza os cubra, que os arraste o vento, Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor, Que volte ao nada o nada de um momento! Julguei-me grande pelo sentimento,

E pelo orgulho ainda sou maior!... Tanto verso já disse o que eu sonhei! Tantos penaram já o que eu penei!

Asas que passam, todo o mundo as sente... Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida! Como se um grande amor cá nesta vida

Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...

 

Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca:

 


O MAIOR BEM

 

Este querer-te bem sem me quereres, Este sofrer por ti constantemente, Andar atrás de ti sem tu me veres Faria piedade a toda a gente.

Mesmo a beijar-me a tua boca mente... Quantos sangrentos beijos de mulheres Pousa na minha a tua boca ardente,

E quanto engano nos seus vãos dizeres!...

Mas que me importa a mim que me não queiras, Se esta pena, esta dor, estas canseiras,

Este mísero pungir, árduo e profundo, Do teu frio desamor, dos teus desdéns, É, na vida, o mais alto dos meus bens? É tudo quanto eu tenho neste mundo?