quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Poesia De quinta Na Usina: Machado de Assis: AS SELVAS:




Um silêncio de morte entrou no seio às selvas.
Já não pisa Diana este sagrado chão;
Nem já vem repousar no leito destas relvas
Aguardando saudosa o amor e Endimião.
Da grande caçadora a um solicito aceno
Já não vem, não acode o grupo jovial;
Nem o eco repete a flauta de Sileno,
Após o grande ruído a mudez sepulcral.
Mas Diana aparece. A floresta palpita,
Uma seiva melhor circula mais veloz;
É vida que renasce, é vida que se agita;
À luz do teu olhar, ao som da tua voz!






Crisálidas
Texto-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, vol. II,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Publicado originalmente no Rio de Janeiro, por B.-L. Garnier, em 1864.

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis:ELEGIA:


A bondade choremos inocente
Cortada em flor que, pela mão da morte,
Nos foi arrebatada dentre a gente.
CAMÕES — Elegias
Se, como outrora, nas florestas virgens,
Nos fosse dado — o esquife que te encerra
Erguer a um galho de árvore frondosa
Certo não tinhas um melhor jazigo
Do que ali, ao ar livre, entre os perfumes
Da florente estação, imagem viva
De teus cortados dias, e mais perto
Do clarão das estrelas.
Sobre teus pobres e adorados restos,
Piedosa, a noite ali derramaria
De seus negros cabelos puro orvalho
À beira do teu último jazigo
Os alados cantores da floresta
Iriam sempre modular seus cantos;
Nem letra, nem lavor de emblema humano,
Relembraria a mocidade morta;
Bastava só que ao coração materno,
Ao do esposo, ao dos teus, ao dos amigos,
Um aperto, uma dor, um pranto oculto,
Dissesse: — Dorme aqui, perto dos anjos,
A cinza de quem foi gentil transunto
De virtudes e graças.
Mal havia transposto da existência
Os dourados umbrais; a vida agora
Sorria-lhe toucada dessas flores
Que o amor, que o talento e a mocidade
À uma repartiam.
Tudo lhe era presságio alegre e doce;
Uma nuvem sequer não sombreava,
Em sua fronte, o íris da esperança;
Era, enfim, entre os seus a cópia viva
Dessa ventura que os mortais almejam,
E que raro a fortuna, avessa ao homem.
Deixa gozar na terra.
Mas eis que o anjo pálido da morte
A pressentiu feliz e bela e pura,
E, abandonando a região do olvido,
Desceu à terra, e sob a asa negra
A fronte lhe escondeu; o frágil corpo
Não pôde resistir; a noite eterna
Veio fechar seus olhos;
Enquanto a alma, abrindo
As asas rutilantes pelo espaço.
Foi engolfar-se em luz, perpetuamente,
Tal a assustada pomba, que na árvore
O ninho fabricou, — se a mão do homem
Ou a impulsão do vento um dia abate
No seio do infinito;
O recatado asilo, — abrindo o vôo,
Deixa os inúteis restos
E, atravessando airosa os leves ares,
Vai buscar noutra parte outra guarida.
Hoje, do que era inda lembrança resta,
E que lembrança! Os olhos fatigados
Parecem ver passar a sombra dela;
O atento ouvido inda lhe escuta os passos;
E as teclas do piano, em que seus dedos
Tanta harmonia despertavam antes,
Como que soltam essas doces notas
Que outrora ao seu contato respondiam.
Ah! pesava-lhe este ar da terra impura,
Faltava-lhe esse alento de outra esfera,
Onde, noiva dos anjos, a esperavam
As palmas da virtude.
Mas, quando assim a flor da mocidade
Toda se esfolha sobre o chão da morte,
Senhor, em que firmar a segurança
Das venturas da terra? Tudo morre;
À sentença fatal nada se esquiva,
O que é fruto e o que é flor. O homem cego
Cuida haver levantado em chão de bronze
Um edifício resistente aos tempos,
Mas lá vem dia, em que, a um leve sopro,
O castelo se abate,
Onde, doce ilusão, fechado havias
Tudo o que de melhor a alma do homem
Encerra de esperanças.
Dorme, dorme tranqüila
Em teu último asilo; e se eu não pude
Ir espargir também algumas flores
Sobre a lájea da tua sepultura;
Se não pude, — eu que há pouco te saudava
Em teu erguer, estrela, — os tristes olhos
Banhar nos melancólicos fulgores,
Na triste luz do teu recente ocaso,
Deixo-te ao menos nesses pobres versos
Um penhor de saudade, e lá na esfera
Aonde aprouve ao Senhor chamar-te cedo,
Possas tu ler nas pálidas estrofes
A tristeza do amigo.

1861.

Crisálidas
Texto-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, vol. II,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Publicado originalmente no Rio de Janeiro, por B.-L. Garnier, em 1864.

Poesia De Quinta Na Usina: Fernando Pessoa: 95:


"Somos quem não somos e a vida é pronta e triste."
"Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas
praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se
deveria ter querido, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amamos e perdemos e,
depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que o não havíamos amado; o que
julgávamos que pensávamos quando sentíamos; o que era uma memória e críamos que era
uma emoção; e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a
estuar fino na praia, no decurso nocturno do meu passeio à beira-mar ...

Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para si-mesmo?"


Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares
Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~magno/

Poesia De Quinta Na Usina: Fernando Pessoa: A tua voz fala amorosa...:



Qual é a tarde por achar
Em que teremos todos razão
E respiraremos o bom ar
Da alameda sendo verão,
Ou, sendo inverno, baste 'star
Ao pé do sossego ou do fogão?
Qual é a tarde por voltar?
Essa tarde houve, e agora não.
Qual é a mão cariciosa
Que há de ser enfermeira minha —
Sem doenças minha vida ousa —
Oh, essa mão é morta e osso ...
Só a lembrança me acarinha

O coração com que não posso.








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"O Grito da Alma" poesias e pensamentos
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Poesia De Quinta Na Usina:D'Araújo:Inevitável:


Como é dolorosa esta terrível sensação 
de que no momento exato do nosso nascimento, 
na verdade já temos os exatos nove meses 
a menos nesta nossa breve existência.

Qual não são o desafio de sermos felizes, 
quando sabemos que a cada dia que passa 
não é um dia a mais na sua vida, e sim, um a menos.


Por que então tanta pressa com o tempo, 
se ele nos leva ao inevitável fim.

Poesia De Quinta Na Usina: D'Araújo:



"A música que ecoa nos ouvidos dos insanos,

é a mesma que embala e acalenta a alma dos nobres"



D'Araújo; No Sarau do Forum. SBC.

Conteúdo do livro: Entre Lírios e Promessas:




27ª Antlogia "LOGOS" MINHAS SINCERAS DESCULPAS: D'Araújo





Se for para me desculpar, então que seja...
Pelo sorriso que não retribui.
Pelo abraço que não dei.
Pelo beijo que não roubei.
Pelo amor que não compreendi.
Pelos desejos que não senti.
Pelas noites que adormeci.
Pelos sonhos que não vivi.
Pelos dias que não te vi.
Pelos prazeres que não me dei.
Pelos orgasmos que não te proporcionei.
E pelo tempo que por descuido, eu nem vi passar...

 D'Araújo