quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo: Beleza:





Veja como é bela
A fada que permeia meus sonhos
E incendeia meus desejos.

Que invade meus sentimentos.
Que clareia os meus caminhos mais perversos.

E que me traz de volta um universo de possibilidades,
Com todas as Verdades da minha existência......

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo: Perfume:



Com mãos atadas
Em cordas de sentimentos e dores que não cessam
Perco toda minha pressa.
Visto a minha capa de virtudes duvidosas.

E o frescor do perfume nobre que exala.....

Poesia de quinta na Usina: D'Araújo: Regra:




Que a exceção não seja a regra
Nem a regra a exceção.
Apenas escute o coração
E viva a que tem que ser vivido.

Que o amor dure Enquanto for.....

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa: "O coração, se pudesse pensar, pararia." :



"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. 
Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero. 
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:

 


"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:

 


 

"Prefiro o Vasques homem meu patrão, que é mais tratável, nas horas difíceis, que todos os patrões abstractos do mundo." 

"Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que me sirvo, pelas costas dobradas do Sérgio, que faz guias de remessa um pouco para além de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar - ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como à grande indiferença das estrelas."

Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana: Os ventos camoneanos:

 



Bóreas, Aquilão, todos os ventos camoneanos fizeram enormes estragos nos telhados, 
Bóreas, Aquilão, o Noto, o diabo, esgoelaram as cordas da chuva, abordaram a casa [rangente 
bramaram palavrões belíssimos no fragor do assalto Bóreas... e os outros marinheiros bêbados 
agora estão todos eles caídos no convés da madrugada... 
Afinal a coisa parece que não foi assim tão bruta: as minhas cortinas agitam-se festivamente, 
enfunam-se como velas pandas Apenas, em todas as varandas, as açucenas estão degoladas. 
Talvez sejam em última análise manjericões. E agora esse ventinho metido a Fígaro parece que está me fazendo a barba. 
O céu está deslavadamente claro. Lá embaixo, na calçada 
- último resquício clássico 
Cupido, o pobre garoto, choraminga na lata de lixo. 

Poesia de Quinta na Usina: Cruz Sousa: VANDA:

 


 


Vanda! Vanda do amor, formosa Vanda, Macuama gentil, de aspecto triste, 
Deixa que o coração que tu poluíste Um dia, se abra e revivesça e expanda. 
Nesse teu lábio sem calor onde anda A sombra vã de amores que sentiste Outrora, 
acende risos que não viste Nunca e as tristezas para longe manda. 
Esquece a dor, a lúbrica serpente 
Que, embora esmaguem-lhe a cabeça ardente, Agita sempre a cauda venenosa. 
Deixa pousar na seara dos teus dias A caravana irial das alegrias 
Como as abelhas pousam numa rosa.