domingo, 10 de julho de 2022

Crônicas de Segunda na Usina: Entrevista com D'Araújo: Programa do Bruno:



Para Assistir a entrevista com D'Araújo no Programa do Bruno, 

na Rádio voluntários da Pátria, Ouricuri - PE.

clique no linque abaixo:

https://www.instagram.com/tv/Cfy1gYbKuuw/?igshid=MDJmNzVkMjY%3D&fbclid=IwAR2buSS_w8qGdWuXySJ4EwW9glrkP6qPTdLwj8u0TTTfMdCibfhsWylPQ8A

Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas:

 



EXAME PAPANICOLAU – II 

Paciente entra para a coleta de preventivo, vai logo dizendo: não sei se vai dar, sinto dores que estão me dando ínguas. Eu lhe disse: se não der para colher, vejo o que está acontecendo. 
Posicionada, eu procurei o lugar para introdução do espéculo, e só encontrei um emaranhado de pelos, que se enovelaram entre si, repuxando suas raízes, causando a famosa “foliculite”. 
Você terá que cortar esse excesso de pelos, pois pelo volume, se engancharam até dando nós, disse eu. Aí, a resposta dela foi “trash”: meu parceiro não deixa. Mas, eu vou cortar agora, você vai ser medicada e se ele reclamar mande me procurar, eu lhe disse. 
Ele veio? Nunca. Pode???

Crônicas de Segunda na Usina: Erça de Queiroz: Londres, 14 de Abril de 1877:






Estamos, parece, nas vésperas da guerra. A Turquia deu ao ultimato da Rússia uma verdadeira resposta turca – verbosa, altiva, teimosa, cheia do espírito de fatalismo muçulmano: recusa tudo: fazer concessões ao Montenegro, desarmar, mandar embaixadores a Sampetersburgo, aceitar as intervenções alheias, renovar quaisquer garantias, quase discutir: desprende-se assim violentamente das combinações diplomáticas, carrega a espingarda e espera. Era fácil prever esta reacção do orgulho turco. Há um ano que a Sublime Porta vive num estado de humilhação permanente. A Europa tem-na tratado como um seu subalterno dependente e inconsciente: impõe-lhe constituições, governa as suas finanças, discute a sua administração, usa da sua capital como de uma sala de hotel para instalar conferências, manda comissões impertinentes investigar os seus massacres domésticos, dá razão às províncias que se insurreccionam, força-a a constantes renovações do funcionalismo, censura as suas despesas, decide nos seus tribunais, obriga-a a nomear um parlamento, repreende-a, diz-lhe «chut!», desacredita-a, ralha-lhe, ameaça-a, não admite que ela tenha um espírito de raça, uma tradição histórica, uma necessidade religiosa e trata-a absolutamente como se ela fosse uma povoação de negros perdida no Sul da África. Esta situação não podia durar. O Turco é inteligente, orgulhoso, bravo, teimoso, fanático; um dia viria em que, enfastiado de ver em roda de si tantos pedagogos a querer dirigi-lo e tantos ferrabrases a franzirem-lhe a testa – devia necessariamente dar dois passos a trás e meter a espingarda à cara. Foi o que sucedeu. Aceitando tacitamente a guerra, a Sublime Porta foi hábil. Qualquer nova concessão que
fizesse seria inútil: a Rússia sempre quis a guerra; através das declarações adocicadas de paz, da proposta de conferências, das esperanças nas soluções diplomáticas a Rússia ia lenta e seguramente preparando a guerra. A Turquia não a podia evitar; e indo, decisivamente, ao encontro dela mostra ao menos um sentimento de dignidade e de força. Além disso impelia-a a grande corrente do sentimento nacional; a cólera pública, excitada pelos ulemás, pelo partido da Velha, Turquia. é tão forte que concessões demasiadas ou a demonstração evidente de uma submissão à Europa faria correr um grande risco à dinastia dos Osmanlis. O actual grão-vizir tinha de mais a mais um interesse de ambição pessoal em se mostrar resistente e enérgico: é que, tendo substituído Midhat Paxá exilado tinha de mostrar as fortes qualidades que o sentimento geral atribui a Midhat: Midhat tem um grande partido, não só em Constantinopla mas em todo o império; ele é considerado como homem capaz de fazer face à Europa, de manter a dignidade da raça turca e de saber morrer com honra: ora o actual grãovizir quer provar, para se manter, que não é um patriota inferior a Midhat: ninguém, na diplomacia, duvida que esta razão de política pessoal influiu poderosamente para a altiva resposta da Turquia ao ultimato da Rússia. Acresce a estas uma outra razão: é que a Turquia não pode licenciar o seu exército e que para o fazer viver tem de o fazer combater. Os Turcos têm quase duzentos mil homens mobilizados, reunidos na fronteira, com grandes esforços e sacrifícios nos dois últimos anos. Que se faria a este exército desmobilizando-o? Num país em que não há caminhos de ferro, quase não há estradas, estes homens, pertencendo às províncias mais afastadas do império, como poderiam voltar às suas casas? O Estado não tem dinheiro para os transportar. Com que recursos pessoais empreenderão eles a viagem? Nesta época do ano, os trabalhos do campo estão feitos; o Estado não tem trabalho que lhes dar, em que se ocupariam eles? A maior parte, em dois anos de acampamento, têm perdido o hábito do trabalho agrícola; o instinto da raça é militar: todo o turco ganha facilmente o hábito de ser soldado; perde mais facilmente o hábito de ser cultivador. Este exército desmobilizado dispersar-se-ia através de províncias pobres, assoladas pela insurreição, e seria um elemento de desordem, de pilhagem, de deboche, e a renovação das cenas da Bulgária: assim o sentimento nacional, estreitas questões de ambição pessoal, inextricáveis dificuldades financeiras – aí está o que leva a Turquia à guerra. O imperador da Rússia, por seu lado, é impelido também pelo entusiasmo público. Um retraimento agora poderia causar como na Turquia um abalo revolucionário em toda a Rússia. E um ódio nacional: os jornais, pela exaltação da sua cólera, pelas narrações permanentes das crueldades e das opressões turcas sobre os cristãos; os comités de Moscovo pela sua vasta influência; o sacerdócio russo por uma prédica irritada e fanática mantêm o espírito nacional num furor permanente contra o Turco; a guerra e considerada santa, sem nenhuma ideia de conquista, de anexação; é possível que a plebe e a rica burguesia mercantil de Moscovo e das cidades pensem em Constantinopla; mas as classes militares, a aristocracia, sabem bem que nem a Inglaterra nem a Áustria lhes permitiriam aumentar o território: e realmente por um puro sentimento, pela libertação dos cristãos que se batem. E no fundo os dois governos – russo e turco são impelidos por um fanatismo contrario. Qual será o resultado da luta? A desproporção de forças na fronteira é grave: os Russos têm duzentos e setenta e cinco mil homens de infantaria, vinte mil cavalos e novecentas peças de artilharia. Os Turcos têm cento e cinquenta mil homens de infantaria, três mil cavalos e duzentos e dezasseis canhões. Este número inferior é compensado por esta consideração: que o Turco é atacado e o Russo ataca – ora é conhecido que o Russo é o mais vagaroso e insuficiente dos exércitos de ataque e o Turco é um admirável soldado de defesa. Ninguém como ele para manter uma posição: é ainda uma qualidade que a sua religião lhe deu: a impassibilidade. Os Russos decerto podem mobilizar rapidamente grandes forças, mas aos Turcos basta-lhes levantar o estandarte do Profeta para que todo o maometanismo, sejam quais forem as dissidências de seita, corra às armas. Kalil Paxá, o embaixador da Turquia em Paris, dizia há dias, como o velhaco sorriso de velho maometano:
– Nós esperamos: e a verdadeira guerra havemos de fazê-la com a Arábia e a Índia. Uma das infelicidades da Turquia é talvez não ter realizado a sua aliança com a Pérsia. A Pérsia podia fazer uma terrível diversão sobre a fronteira asiática da Rússia, e obrigá-la a dividir as suas forças. Mas a aliança persa, segundo os bem informados, foi concluída com a Rússia e o exército persa está armado, disciplinado, instruído, comandado pela Rússia. Que fará a Inglaterra? Há aqui mesmo mil opiniões. A mais geral, há tempos, era a de absoluta indiferença. «A Rússia», dizia-se, «não se atreve a tentar uma anexação: mas mesmo que ela vá a Constantinopla, que importa à Inglaterra?» O caminho da Índia não fica por isso menos livre. Além disso, é digno que a Inglaterra tome o partido de massacradores fanáticos e de devedores insolúveis? E depois de que serve fazermos esforços para conservar a integridade de um país que todos os dias, pela sua relaxação e a sua imprevidência se vai desorganizando a si mesmo? Que se lucrou com o dinheiro, o sangue, que se prodigalizou na guerra de 52? Para que se há-de intervir num duelo que a história e a fé tornam inevitáveis? Assim se falava. Hoje, porém, perante a crise, a linguagem mudou. «Não se poderia realmente compreender», diz-se agora, «que a guerra não tenha como resultado, dada a vitória da Rússia, uma anexação de território»: daí a desmembração do império e o Russo em Constantinopla: mas então, a Rússia estaria no Mediterrâneo, com um dos fortes portos do mar: o poder inglês teria uma diminuição e a sua posse sobre a Índia, um primeiro perigo. Dai vem-se à conclusão que é necessária fatalmente a intervenção. Diz-se mesmo que à mais pequena escaramuça perdida pelos Turcos – a Inglaterra ocupará Constantinopla. A esquadra, reforçada, está em caminho de Bezoka-Bay – que é a antecâmara de Constantinopla. Que a Inglaterra concorreu de certo modo para a guerra é evidente: concorreu com os seus meetings sentimentais e humanitários no Verão passado, dando ânimo aos Russos para seguirem a sua ideia agressiva: concorreu com a presença da esquadra em Constantinopla pouco depois, dando ânimo aos Turcos para resistirem à pressão pacifica da Europa: concorreu depois com a ideia do protocolo que, sendo um reconhecimento tácito da justiça e da força da Rússia, lhe deu um aumento de exigência e de hostilidade – e, sendo uma nova humilhação imposta à Turquia, a tomou mais despeitada e mais difícil de condescendências. É provável, porém, que a guerra não rompa por estas semanas próximas. No protocolo diziase que, dado o caso de uma recusa da parte da Turquia, as potências acordariam numa decisão ulterior a tomar: mas esta decisão, sejam quais forem as combinações diplomáticas que a precedam, terá sempre este resultado – deixar a Turquia em frente da Rússia – e o resultado final, portanto, será igualmente a guerra. En attendant, o ministro das Finanças apresenta o seu orçamento organizado como se a Inglaterra não tivesse a menor probabilidade de uma complicação militar. E um orçamento cheio de confiança, pacífico e próspero. A despesa é calculada em setenta e Oito milhões setecentas e noventa e quatro mil e quarenta e quatro libras. A receita é calculada em setenta e nove milhões e vinte mil libras! O Tesouro tem, pois, o saldo a favor de duzentas e vinte e seis mil libras! Apesar deste orçamento invejável, a situação comercial e industrial da Inglaterra não é boa: em todo o reino há uma depressão na actividade. As indústrias do carvão e do ferro têm tido no Norte um período terrível de estagnação. Muitos altos-fornos estão apagados, muitos trabalhos de exploração carvoeira suspensos. Há milhares de homens sem trabalho. Para se ver a declinação geral do movimento comercial, basta dizer que as grandes companhias de navegação entre a Inglaterra e os Estados Unidos – a Inman, White Star, Guion National – reduziram o número de viagens de paquetes – e que em lugar de saídas semanais têm apenas saídas quinzenais. Acresce que, na maior parte das indústrias, a progressão crescente das exigências dos operários, justamente neste momento de crise, aumenta as dificuldades: é pelo menos o que afirmam os industriais. O movimento crescente para a redução das horas de trabalho afecta, dizem eles, certas indústrias mortalmente: uma grande firma do Norte, exploradora de vastas minas de carvão, que empregava três mil operários, cessou os seus trabalhos, que não podem sem perda, afiançam eles na sua declaração, continuar sob o regime das horas reduzidas.
Começa a falar-se, com seriedade e espanto, numa nova descoberta americana, o telefone: é um telégrafo para a transmissão do som. Esta ideia, que nasceu em 1861, tem tido um progresso tão fecundo que há dois meses já se apresentaram perante as provas públicas dois sistemas rivais. O mais perfeito, parece. é o do Dr. Bell. O seu aparelho, que tem a aparência de um sistema telegráfico e um princípio electromagnético, trans-mitiu sons, numa última experiência, feita a cento e quarenta e três milhas; não só o som da voz chega perfeitamente claro, mas distinguem-se as inflexões mais leves. A experiência foi realizada em Boston e Conway, e àquela forte distância distinguia-se uma rabeca de um violoncelo; o rumor, as conversações, as risadas das pessoas que estavam junto do aparelho em Boston eram ouvidas em Conway com a distinta e exacta nitidez com que se ouve numa torrinha o que se canta no palco. Calcula-se que se poderá fazer chegar o som a transatlânticas distancias. Em Filadélfia organiza-se um concerto experimental, em que o público estará a cinquenta milhas dos artistas.
As novidades literárias são escassas. Ruskin, o célebre critico de arte, publicou um livro, que tem causado uma singular surpresa: é um livro íntimo, uma confissão, uma confidência –de quê? De sentimentos? De aventuras? De sofrimentos ou felicidades pessoais? Não: de despesas de casa! Não sabe a gente se há-de achar este livro um começo de imbecilidade senil ou um resto amável de candura infantil. A alta situação literária e crítica de Ruskin, personalidade original de grande relevo, aumenta o espanto. Imaginem o Sr. Alexandre Herculano publicando, de Vale de Lobos, um panfleto de duzentas páginas em que explicasse o que gasta em seus róis, quanto lhe custa a lavadeira, o que emprestou a fulano, a última conta do alfaiate, etc., etc. Uma coisa curiosa se vê no livro de Ruskin – é que gastou em poucos anos uma fortuna de duzentas mil libras! Parte por uma alta filantropia e uma santa caridade – e parte não sabe como; porque, diz ele, viveu quinze anos com tão sórdida economia, privando-se tão asperamente, que apenas gastava, pobre dele, trinta contos de réis por ano! Agora, diz, restam-lhe duzentos e cinquenta contos: acha que não vale a pena conservar uma soma tão mesquinha. Mete na carteira quinze contos para ir viajar este ano, e do resto faz duas partes –uma para dispersar em caridade, outra para empregar de modo que tenha para todo o futuro mil e quinhentos mil réis por ano: porque, diz ele, descobriu que todo o homem que não pode viver com este rendimento não é digno de possuir a vida.



Uma outra curiosidade é a nova revista mensal O Século XIX. Tem por colaboradores os mais altos nomes de Inglaterra, desde Gladstone, que será em breve o primeiro-ministro, até ao cardeal Manning – que pode vir a ser o futuro papa. A originalidade desta revista é que os seus directores pediram a todos os homens ilustres de Inglaterra – políticos, filósofos, professores, críticos – que lhe escrevessem a sua opinião individual sobre esta tese: «Que influência exerce sobre a moral a diminuição da crença religiosa?» Cada um dos homens ilustres deve responder num período curto, sintético, que se grave com a precisão de uma definição e a profundidade de uma máxima. A colecção destas definições filosóficas, reunidas nas últimas páginas de cada número sob o nome de Symposium. é altamente interessante: até aqui a declaração mais explícita é a do professor Fawcet, que diz: «A crença em Deus deve ser para os que a possam gozar um delicado prazer do espírito, mas a moral está acima e fora desses refinamentos da inteligência.».
A season – os três meses elegantes e aristocráticos de Londres – começa lentamente a organizar-se. Ordinariamente, a aristocracia inglesa, depois da Páscoa, vai a Paris: o príncipe de Gales é o primeiro. Passou-se o Inverno no campo, nos castelos, na caça, e antes do encontro oficial em Londres, vai-se respirar a Paris uma larga golfada de civilização: vê-se o último tom das toilettes, os cortes da Primavera na Lafferrière e no Worth, folheia-se o último livro de Goncourt, faz-se uma passagem nos salões do Eliseu, vê-se a novidade da Páscoa na Comédie Française, vai-se ao Café Anglais e à Maison d’Or, à vontade, de chapéu, o que é para uma lady inglesa uma adorável extravagância, e volta-se à representação pesada e solene de Londres. O tempo, porém, tem estado áspero, havendo frio, com o vento do sudoeste que tem um gume gelado, e o Hyde Park tem ainda a parda tristeza da sua solidão de Inverno. A great attraction desta season será, parece, Orleans Club. É um clube de campo: está à beira do Tamisa, numa paisagem amável, nas verduras de um vasto parque. Era uma propriedade do duque de Aumale. Os prazeres do clube serão piquenique no campo, tiro aos pombos, pescas, pólo, críquete, almoços na relva, bailes de musselina, soirées no parque, etc. Todos os dias dois four-in-hand, conduzidos por membros do clube, levarão a Orleans House os sócios e as convidadas, porque uma feição delicada de Orleans Club é que será também um clube feminino, o que lhe trará inevitavelmente, por um tempo, o encanto e, mais tarde, a ruma. Um outro clube original está em via de organização. E o clube dos torneios. Este deverá ter uma casa ao pé do Hyde Park, onde às cinco horas se serve o chá às senhoras, entre o campo: o fim principal deste clube será formar torneios e caçadas ao falcão. Faz ligeiramente sorrir o programa gótico e feudal deste clube londrino. A caça ao falcão pode conceber-se desde que se vistam os criados com as cores usadas na partida dos pajens do século XIV, se lhes borde no peito, sobre a seda, os escudos de armas e se lhes deixem crescer os cabelos louros em anéis. Assim poderão levantar no punho o carrancudo falcão com o seu capacete de pele de búfalo e a caça pode ter um aspecto suportavelmente feudal. Mas um torneio! Negociantes da City e banqueiros de capacete e armadura, dando-se golpes de montante, numa quinta particular, ao pé da estação de caminho de ferro! Singular diversão! O último torneio que houve em Inglaterra foi há trinta anos no Castelo de Egliton. Tinha sido aclamada rainha da beleza legendária Lady Seymoun. As festas foram esplêndidas. Ficaram célebres as pessoas do elegante marquês de Londonderry. Houve um episódio. Um homem baixo e grosso, de nariz espesso e fortes bigodes, todo coberto de uma armadura aparatosa, caiu na arena, estatelado, esperneando; levantaram-no e sacudiram-no; estava são, só um pouco humilhado: damas e cavaleiros riram; era um estrangeiro, sem grande importância: quatro anos depois era imperador dos Franceses!
Uma curiosidade de Londres – foi o desafio a andar entre o célebre caminhador O’Leary e o seu rival Welton. O desafio foi em Albert Hall e durou seis dias – durante esse tempo, os andarilhos tiveram apenas algumas horas de descanso! O’Leary ganhou, tendo andado quinhentas e vinte milhas; Welton perdeu por dez milhas. O’Leary caminhava com os cotovelos apertados aos rins, calado, olhar direito, tendo agarrado em cada mão, com uma força convulsiva, uma varinha. Welton caminhava bamboleando-se, falando, com um chicote numa das mãos, a outra à cinta – e para se excitar fez-se tocar constantemente à banda alemã de instrumentos de metal uma marcha estridente. Trinta mil pessoas assistiram sucessivamente a este singular desafio. O que se provou? Incontestavelmente que a constituição humana tem um prodigioso poder de resistência, e que esta máquina de carne e ossos não é inferior às de Birmingham. Mas o que é estranho é que no tempo dos caminhos de ferro – se exerça essa preciosa força de resistência, numa arte inútil, obsoleta, quase bárbaras marchas!
O grande teatro da Alhambra representa uma peça fantástica, cortada de bailados, que tem, em Inglaterra, uma singular qualidade – e imoral! É a primeira vez que vejo num palco inglês o amante idealizado e o marido apupado! Milhares de pessoas vão sucessivamente saborear aquele escandalozinho gigante. Vejam a censura inglesa! Admite esta farsa impudente, povoada de mulheres quase nuas, e recusa a Dama das Camélias! Mas é que em Inglaterra não existe censura; Lord Chambellan, um velho caturra de outras idades, excêntrico e variável, é a censura. Governa despoticamente do meio do seu mau humor os teatros de Londres, e com tanta inteligência que permite as farsas imorais de um rabiscador idiota – e impede a representação da obra de Dumas, da Academia Francesa!

Crônicas de Segunda na Usina: Lima Barreto: Variações...:


Não sei se os senhores leram que a policia, graças à denúncia de populares, foi encontrar num matagal de Fábrica das Chitas, um indivíduo de cor preta, que aí armara tenda, comia e fazia outras necessidades naturais. Não diz a notícia dos jornais que o homem se alimentasse de caça e pesca, acabando assim o quadro de uma vida humana perfeitamente selvagem, desenvolvendo-se bem perto da avenida Central que se intitula civilizada. 
Seria um modelo que deveríamos todos imitar; pelo estado em que as coisas estão, com ameaça de ficarem piores, é bem de crer que tenhamos que fazer o que o tal Rolim estava fazendo nas matas do Trapicheiro; entretanto, conquanto o sistema de vida que havia adotado ultimamente o tal solitário, seja digno de sugerir milhares de adeptos, a sua em si mesmo não era lá grande coisa, capaz de ser copiada. O homem já havia tido negócios com a polícia e com a justiça, contando dezoito entradas no Corpo de Segurança e uma condenação por se ter apropriado de coisa alheia; além disto, tinha consigo uma mala com cartas, etc., que parecia não ser dele. É, como vêem, um sujeito ultracivilizado e não um apóstolo convencido da nossa volta à natureza para... fugir aos pasmosos aluguéis de casa. 
Atualmente, nada mais mete medo a um pobre-diabo que a tal história de aluguel de casa: Não há quem não esteja pagando, por trapeiras, exorbitantes locações dignas da bolsa de ricaços e altos escrocs internacionais. Um amigo, muito meu amigo mesmo, paga atualmente, nos confins dos subúrbios, o avantajado aluguel de duzentos e cinco mil-réis por uma casa que, há dois anos, não lhe custava mais de cento e cinqüenta mil-réis. Para melhorar um tão doloroso estado de coisas, a prefeitura põe abaixo o Castelo e adjacências, demolindo alguns milhares de prédios, cujos moradores vão aumentar a procura e encarecer, portanto, ainda mais, as rendas das habitações mercenárias. 
A municipalidade desta cidade tem dessas medidas paradoxais, para as quais chamo a atenção dos governos das grandes cidades do mundo. Fala-se, por exemplo, na vergonha que é a Favela, ali, numa das portas de entrada da cidade - o que faz a nossa edilidade? Nada mais, nada menos do que isto: gasta cinco mil contos para construir uma avenida nas areias de Copacabana. Clama-se contra as péssimas condições higiênicas do matadouro de Santa Cruz, imediatamente a prefeitura providencia chamando concorrência para a construção de um prado de corridas modelo, no Jardim Botânico, à imitação do Chantilly. 
De forma que a nossa municipalidade não procura prover as necessidades imediatas dos seus munícipes, mas as suas superfluidades. É uma teoria de governo que devia estar na cabeça daquele régulo selvagem que atirava sementes fora e só tinha extremos para as bugigangas de vidros coloridos. 
A casa, como ia dizendo, é nos dias que correm, um pesadelo atroz. Todos explicam esse encarecimento da locação dos prédios com a carestia dos materiais de construção, que cresceram de preço demasiadamente nos últimos seis anos, refletindo esse encarecimento no custo dos caibros, ripas, sarrafos, tábuas, esquadrias que já estavam apodrecendo, há mais de vinte, em prédios velhos, de forma que os aluguéis destes tiveram que subir também paralelamente aos novos. 
O Governo Federal - não há negar - tem sido paternal. A sua política, a respeito, é de uma bondade de São Francisco de Assis: aumenta os vencimentos e, concomitantemente, os impostos, isto é, dá com uma mão e tira com a outra. 
Um amanuense ganha hoje perto de um conto de réis; mas, em compensação, só de ama-seca, por mês, paga mais de duzentos mil-réis. Um francês, observando que nós falávamos em quinhentos, em mil, em dois mil-réis, etc., quando eram de fato quantias insignificantes em nada correspondendo o seu poder aquisitivo às altas cifras que nos saíam da boca, disse: 
- Vocês são muito ricos... na aritmética. 
Pois continuamos a ser e ainda havemos de sê-lo por muito tempo. O amanuense que ganha um conto de réis, julgar-se-á milionário ao saber que Fernando de Magalhães deixou o serviço de sua pátria e foi viver à Castela, porque o “Venturoso" lhe negou o aumento de cem réis (um tostão) mensais na sua mesada de fidalgo da casa real; mas julgar- se-á um pobre quando tiver que pagar pelo seu cochicholo trezentos mil-réis, por mês, - preço tal que, talvez, no tempo de Magalhães, o rei não pagasse, se o tivesse de fazer, pelo seu palácio, em Lisboa. 
A questão é do real, essa absoluta e fictícia unidade monetária que nos ilude e espanta os estrangeiros. 
Isto seria uma questão a debater- se no congresso, a qual, talvez, não fosse sem propósito para acalmar os nervos dos deputados e senadores, nos debates dessa chatíssima perlenga de candidaturas presidenciais. É preciso não esquecer que é uma questão de unidade de moeda - base de tudo. 
O que parece atualmente é que o governo, seja municipal, seja federal, é impotente para resolver a carestia da vida e o encarecimento exorbitante dos aluguéis de casas. 
Todos os alvitres têm sido lembrados e todos têm sido rejeitados e criticados asperamente, como não obedecendo às leis de economia política e da ciência das finanças, quer públicas, quer particulares, quer individuais. 
O meu ilustre confrade Veiga Miranda e o mirabolante e algorítmico Cincinato Braga já propuseram, para remediar uma tão deplorável situação, encaminhar grande massa de nossa população para o campo. Eles a querem para as fazendas. Eu proponho melhor. Que sejam dados a cada indivíduo isolado um machado, um facão, uma espingarda de caça, chumbo, espoletas, enxadas, semente, uma cabra, um papagaio e um exemplar de Robinson Crusoe. 
O livro de Defoe será, como a Bíblia desses mórmons de nova espécie; e com a fé que ele lhes há de inocular, teremos, em breve, a cidade do Rio de Janeiro descongestionada e o sertão devassado e povoado. 
Os nossos robinsons irão se estabelecendo pelo caminho, erguendo choças para a sua moradia, onde não haverá barbeiros; plantando cereais, café e cana que não serão perseguidos por insetos daninhos; e encontrarão ainda pelo caminho, jecas que lhes servirão de "sextas-feiras" amigos. A roupa, para os mais industriosos, será obtida com a tecelagem do algodão, pelos meios primitivos; e os mais preguiçosos poderão voltar a vestir-se como os velhos caboclos que figuram em Gonçalves Dias e José de Alencar e nas nossas nobiliarquias respeitáveis, inclusive a de Taques. 
O problema será assim resolvido, em prol do progresso do país e é de notar que tão fecunda solução foi encontrada num simples romance ao qual as pessoas sisudas não dão importância. 
Marginália, 14-1-1922

Crônicas de Segunda na Usina: Machado de Assis: 30 DE NOVEMBRO DE 1862:


O acadêmico Viennet, voltando depois de algum tempo ao campo da publicidade, escreveu estas palavras no prefácio do seu livro: “Me voilà cependant, me voilà encore!”. Guardando todas as proporções, e sem pretender o contentamento e a sensação que o livro do autor da Ligue devia naturalmente produzir, escrevo aquilo mesmo, e acrescento: “Me voilà pour toujours!” 
Para sempre. Neste aposento construído no fundo do edifício que o leitor acaba de percorrer instalo-me eu, e aqui praticarei mansamente com o leitor sobre todas as coisas que nos fornecer a quinzena, sem fadiga para mim nem mágoa para ninguém. Durarão as nossas palestras o intervalo de um charuto, mais infelizes nisto que as rosas de Malherbe. Olhe o leitor: à roda da mesa estão jornais de todo o império; sentemo-nos como bons e pacíficos amigos, e comecemos por encarar afoitamente aqueles estouvados peruanos. 
O leitor sabe já de todas as ocorrências de que foi testemunha o velho Amazonas; sabe que ali troou o canhão e que fomos ludibriados no começo, no meio e no fim. O atentado não se podia revestir de circunstâncias mais agravantes, nem a arrogância peruana podia manifestar-se em mais larga proporção e sob melhor luz. Arrogância, disse eu, e não se pense que foi por não me ocorrer outro termo; arrogância ingênita, filha deste preconceito, que naturalmente os peruanos hão de ter, de que são realmente filhos do Cid e do sol. 
Seja como seja, o fato é que a dignidade da nação brasileira foi vilipendiada e que só uma enérgica intimação poderá ter lugar depois daquelas ocorrências; o país espera ser bem defendido pelo governo nesta deplorável questão. 
No meio de todas as preocupações esta me parece a principal, a que deve ocupar mais lugar e tempo nas lucubrações íntimas do gabinete. Creio que o sentimento do governo é o mesmo; certos atos demonstram que ele não quer protelar a questão, e sem dúvida as ordens levadas pela expedição do Pará hão de ser no sentido de nos desagravar honrosamente. 
O que eu não posso é saber já o que se tem passado, e serei desculpado por não dar notícia sobre os fatos dos navios peruanos e da esquadrilha brasileira. Mas, a 
não dizer mais alguma coisa sobre a questão, como encher o espaço que me resta? Ir ao Castelo assistir à exumação dos ossos de Estácio de Sá? Melhor sorte me dê Deus! Dispenso o leitor dessa viagem, e com isso me dispenso a mim mesmo. Direi, já que falo nos ossos do fundador da cidade, que quaisquer que fossem os inconvenientes do modo por que se procedeu à exumação, e os houve, ainda assim aquela empresa revela que entre nós já se quer cuidar de certas coisas que até hoje pareciam não merecer séria atenção. Ainda bem. Segundo se acha anunciado, efetua-se no dia 1º o ato de inumação dos restos de Estácio de Sá, convenientemente arranjados e entregues aos cuidados de pessoas vigilantes. 
Para alguns é duvidosa a autenticidade dos ossos achados na sepultura do Castelo; devo dizer que esta dúvida só a ouvi articular a pessoas que duvidam de tudo, pela razão de terem sido enganadas muitas vezes, o que é um procedimento acertado. Eu não sei se a dúvida tem lugar, mas louvo-me na opinião geral e na dos professores que dirigiram a exumação, para a qual não faltaram, segundo nos disse a imprensa, todas as instruções arqueológicas. 
Lembra-me agora que Méry, estando em Roma, encontrara um dia alguns sujeitos a cavar em certo lugar, animados por dois lords que, de quando em quando, atiravam uma moeda aos trabalhadores. Méry, apaixonado pelas ruínas, parou e assistiu à exumação do que quer que fosse. Finalmente apareceram uns fragmentos de estátua, a cujo aspecto um olhar experimentado não daria menos de mil anos. 
Grande contentamento dos ingleses, que fizeram conduzir até o carro as preciosidades encontradas no solo romano. Méry pediu humildemente para ajudar a carregar parte daqueles preciosos achados, e com toda a veneração foi depositar a sua carga no carro dos patrícios de lord Palmerston. 
Compreendo a satisfação que deve ter um homem apaixonado pela antiguidade, ao ver diante de si os restos de uma obra que supõe haver encantado os olhos de todo o patriciado romano. E compreendo também o desgosto que havia de ter o autor da Florida, quando, à noite, em uma reunião de pessoas distintas, depois de haver contado o fato da manhã, soube que os restos achados eram de véspera preparados de modo a parecer que datavam de longe, acrescentando o carrasco das suas ilusões que o Museu de Londres esta cheio destas tais antiguidades, coisa que eu creio um pouco dura. 
Não presuma o leitor malicioso que eu trouxe este conto para diminuir a idade aos ossos encontrados na sepultura de Estácio de Sá. Creio que são autênticos, e na verdade é isso que devemos crer todos, porque não podemos crer noutra coisa. Compensa isso à fadiga dos que lá foram ao Castelo assistir ao ato. Eu não fui, e creio que fiz mal. De mais, se é verdade, como eu creio, que além desta vida há uma vida melhor, e que, portanto Estácio de Sá está nos olhando talvez por um destes óculos do céu que nós chamamos estrelas e dumas faíscas dos pés do Onipotente; se é verdade isto, sejam ou não aqueles os ossos autênticos, uma vez que a intenção é boa, Estácio ficará agradecido e aceitará lá de cima a fé, a intenção, se não puder aceitar os ossos. 
Estas reflexões sobre ossos e ruínas levam-me naturalmente ao teatro, que está ameaçado de passar ao estado de monumento curioso, a despeito dos esforços individuais. Mas parece que a força da corrente é superior a todos os esforços, e que não há regime preventivo contra o efeito dos elementos deletérios. Eu não acho culpa do que sucede senão nos poderes do Estado, que ainda se não convenceram de que a matéria de teatros merece uns minutos ao menos da sua atenção como tem merecido nos países adiantados. Quando eu vejo que na França, em março de 48, um mês depois da revolução, se decretava sobre teatro, no meio das preocupações políticas, lastimo deveras que no Brasil o poder executivo tenha limitado a sua ação a dar e a retirar subvenções, e a incomodar uma comissão, de cujas opiniões escritas fez depois pasto às traças da secretaria. 
Voltarei a esta matéria mais tarde, ou talvez faça dela objeto de estudo especial; por agora, cumpre-me mencionar as novidades anunciadas, e que sem dúvida serão novidades realizadas no momento em que o leitor me ler. 
O Ateneu anuncia uma comédia de Emile Augier e Ed. Foussier, As leoas pobres. Esta comédia deve a sua celebridade em Paris a duas coisas: ao seu mérito intrínseco, que é de primeira ordem, e às discussões havidas por ocasião de ser apresentada à comissão de censura. Parece que a comissão saiu um pouco fora dos seus deveres, deixando de fazer censura dramática para fazer censura literária; e a não ser o imperador, ainda hoje a comédia estaria interditada. 
Anuncia também a Sociedade Dramática uma representação da Herança do Chanceler, no Teatro Lírico. 
Em cata de notícias procuro lembrar-me se durante os últimos quinze dias houve alguma publicação literária, ou mesmo iliterária, de que dar parte. Em outra parte não haveria necessidade de procurar; com certeza o revisteiro encontraria, ao começar o seu trabalho, a mesa cheia de publicações. Tudo, porém, é relativo, e o movimento das publicações entre nós ainda é, como outras coisas, lento e raro. 
Vejo agora um exemplar de um novo romance do Museu Literário, intitulado A Lamparina. É a segunda obra que o museu publica, e ainda do mesmo autor. Para os que leram a Lenda do Alfinete esta é a melhor recomendação que se lhe possa dar. Eu só desejo que publicações como o Museu Literário e a Biblioteca Brasileira sejam compreendidas e festejadas pelo público, doce remuneração aos esforços conscienciosos. 
Se fosse possível a comunicação de todos os fatos da vida particular entre o cronista e os seus leitores, eu daria aqui as razões do desconchavo em que vai esta revista, escrita a todo o vapor, para satisfazer às exigências da tipografia. Mas, como não é possível, limito-me a lamentar que assim seja e a despedir-me para a quinzena seguinte.

Crônicas de Segunda Na Usina: Feto sem afeto:



Estava eu ali, tentando resistir até o momento certo para o meu existir.
Mas as coisas que ainda nem me pertencia não me davam trégua como se a minha chegada fosse uma afronta a logica.
Mesmo assim ali no conforto caloroso do útero tudo parecia seguro. Como se nada daquele estranho e perverso mundo externo, pudessem eu alcançar.
Mas o mundo lá fora estava pouco se importando com a minha imensa fragilidade.
Infelizmente eu não podia gritar expressar as minhas insatisfações, ou tão pouco pagar o alto preço exigido para a minha chegada.
Compartilhar as dores dos desenganos daquela que fazia o que estava ao seu alcance para me proteger dos descasos deste mundo.
Como posso chegar confiante, como poderei me transformar em um ser justo.
Como ser uma pessoa alegre, quando tudo que recebo é ponta pé de todos os lados.
Se a única canção de ninar nos meus primeiros dias eram o som de fuzil. E aonde foram parar as boas almas que deveriam me receber de braços abertos, e com um imenso sorriso de felicidade em sua face. E em um ato de desespero tudo que eu tenho há minha frente é o lixão.
Até quando vou conseguir evitar em da o troco, diante de tanta injustiça.
No que você acha que eu vou me transformar quando ficar adulto.
Se me negaram tudo que me era de direito, me transformando em mais um refrão de um triste bolero.
Vocês não vão me transformar em letra de Funk, ou em uma batida de protesto de um Rap.  E se preparem, pois a estatística que vou criar vocês não vão gostar. É só aguardar que eu estou chegando. Como podes esperar bondade em meu ser, se destruíram a minha alma.
Pois já cheguei a um caminho sem volta, onde o meu único acalento talvez seja a própria morte.
Então boa sorte.
Enquanto você degustava o seu delicioso caviar com um bom vinho. Eu estava torcendo para que saísse daquela sacola de lixo, algo que saciasse a aquele vazio de vários dias sem comer, claro você não tem culpa, foi deus que quis assim, assim diz o velho refrão do bom vigário ou do bom Pastor. Só não compreendo que deus é esse, mais tudo bem, o santo papa anda dando boas vindas aos pobres, e os santos pastores enviados do divino em seus sermões também idolatram as boas vindas, principalmente dos dez por cento dos ganhos do rebanho que ele jura que os salvará, e até já comprou um helicóptero de alguns milhares de dólares para levar todos de uma forma mais confortável até ao paraíso, pois vai que deus na sua humildade resolve manda-los de segunda classe até lá.
Vamos fingindo ser burros assim evitamos pensar que estão nos fazendo de otários.
Mais tudo bem, eu vou chegar de mansinho e talvez não sobre um para contar a história.
Ai quem sabe as coisas melhoram e quando lá chegarem avisem a esse seu deus, que é só o começo, e quem sabe ele façam vocês voltarem para devolver o dinheiro, ai eu estarei aqui esperando aquele que me faltou pro pão, e pode até me chamar de ladrão, e talvez vocês tenham razão.


FIM