quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis; Poema: O SOFÁ:

            Oh! Como é suave os olhos 
            Sinta alegria perto,
            Sobre um sofá reclinado
            Lindos sonhos a sonhar,
           Sentindo de uns lábios d’anjo
           Um medroso murmurar!
           Um sofá! Mais belo símbolo
           Da preguiça outro não há...
           Ai, que belas entrevistas
           Não se dão sobre um sofá,
           E que de beijos ardentes
           Muita boca aí não dá!
           Um sofá! Estas violetas
           Murchas, secas como estão
           Sobre o seu sofá mimoso,
           Cheirosas, vivas então,
           Achei um dia perdidas,
           Perdidas: por que razão!
           Talvez ardente entrevista
           Toda paixão, toda amor
           Fizesse ali esquecê-las...
          Quem não sabe? sem vigor
          Estas flores só recordam
          Um passado encantador!
          Um sofá! Ameno sítio
          Para colher um troféu,
         Para cingir duas frontes
         De amor num místico véu,
         E entre beijos vaporosos
         Da terra fazer um céu!
         Um sofá! Mais belo símbolo
         Da preguiça outro não há...
         Ai, que belas entrevistas
         Não se dão sobre um sofá,
         E que de beijos ardentes
         Muita boca aí não dá!

Poesias De Quinta Na Usina: Machado de Assis:HORAS VIVAS:


 Noite; abrem-se as flores...
Que esplendores!
Cíntia sonha amores
Pelo céu.
Tênues as neblinas
Às campinas
Descem das colinas,
Como um véu.
Mãos em mãos travadas
Animadas,
Vão aquelas fadas
Pelo ar;
Soltos os cabelos,
Em novelos,
Puros, louros, belos,
A voar.
— "Homem, nos teus dias
Que agonias,
Sonhos, utopias,
Ambições;
Vivas e fagueiras,
As primeiras,
Como as derradeiras
Ilusões!
— Quantas, quantas vidas
Vão perdidas,
Pombas malferidas
Pelo mal!
Anos após anos,
Tão insanos,
Vêm os desenganos
Afinal.
— Dorme: se os pesares
Repousares.
Vês? — por estes ares
Vamos rir;
Mortas, não; festivas,
E lascivas,
Somos — horas vivas

De dormir. —"

Poesia De Quinta Na Usina: Fernando Pessoa: Do que Quero:


 Do que quero renego, se o querê-lo
Me pesa na vontade. Nada que haja
Vale que lhe concedamos
Uma atenção que doa.
Meu balde exponho à chuva, por ter água.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me é dado,
E o que falta não quero.
O que me é dado quero
Depois de dado, grato.
Nem quero mais que o dado

Ou que o tido desejo.

Poesia De Quinta Na Usina:Fernando Pessoa: Atrás Não Torna.



Atrás não torna, nem, como Orfeu, volve
Sua face, Saturno.
Sua severa fronte reconhece
Só o lugar do futuro.
Não temos mais decerto que o instante
Em que o pensamos certo.
Não o pensemos, pois, mas o façamos

Certo sem pensamento.

Poesia De Quinta Na Usina: D'Araujo: Submergir:


O ser é capaz de submergir seus grandes amores,
 para simplesmente, se consumirem em seus 
próprios fantasmas.

Poesia De Quinta Na Usina:D'Araújo: Brilho fosco:




E na vertente alucinante do desejo do ser feliz, 

o brilho fosco no semblante do olhar, 
e o sorriso escaço, e sem vida, 
da a dimensão da inútil luta contra o desejo da alma.