quarta-feira, 26 de maio de 2021

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Piedade

Se me xingar vai lhe fazer feliz,
Então não poupe tempo esforço
Ou mesmo o seu extenso vocabulário de amarguras.
Pois prefiro ser xingado por alguém.....

Poema na integra no Livro:

"Entre Lírios e Promessas"

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Além do ver

Vivendo das estepes dos sonhos perdidos,
Procuramos nos ouvidos do tempo,
As direções além do ver, do ser, do está,
do sentir, e fugir para o outro....

Poema na Integra: no Livro:

Entre Lírios e Promessas.

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Esconderijo

Como é doloroso perceber que para alguns,
A felicidade se resume, 
a se recolher ao seu esconderijo seguro, onde ...

Poema na integra no Livro:

"Entre Lírios e Promessas".

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:

 




ESTÂNCIAS

O que eu adoro em ti não são teus olhos,
Teus lindos olhos cheios de mistério,
Por cujo brilho os homens deixariam
Da terra inteira o mais soberbo império.
O que eu adoro em ti não são teus lábios,
Onde perpétua juventude mora,
E encerram mais perfumes do que os vales
Por entre as pompas festivais da aurora.
O que eu adoro em ti não é teu rosto
Perante o qual o marmor descorara,
E ao contemplar a esplêndida harmonia
Fídias, o mestre, seu cinzel quebrara.
O que eu adoro em ti não é teu colo,
Mais belo que o da esposa israelita,
Torre de graças, encantado asilo,
Aonde o gênio das paixões habita.
O que eu adoro em ti não são teus seios,
Alvas pombinhas que dormindo gemem,
E do indiscreto vôo duma abelha
Cheias de medo em seu abrigo tremem.
O que eu adoro em ti, ouve, é tu’alma,
Pura como o sorrir de uma criança,
Alheia ao mundo, alheia aos preconceitos,
Rica de crenças, rica de esperança.
São as palavras de bondade infinda
Que sabes murmurar aos que padecem,
Os carinhos ingênuos de teus olhos
Onde celestes gozos transparecem!...
Um não sei quê de grande, imaculado,
Que faz-me estremecer quando tu falas,
E eleva-me o pensar além dos mundos
Quando, abaixando as pálpebras, te calas.
E por isso em meus sonhos sempre vi-te
Entre nuvens de incenso em aras santas,
E das turbas solícitas no meio
Também contrito hei-te beijado as plantas.
E como és linda assim! Chamas divinas
Cercam-te as faces plácidas e belas,
Um longo manto pende-te dos ombros
Salpicado de nítidas estrelas!
Na doida pira de um amor terrestre
Pensei sagrar-te o coração demente...
Mas ao mirar-te deslumbrou-me o raio...
Tinhas nos olhos o perdão somente!

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:

 



O ARREPENDIMENTO Tens razão: já, soberana, Viste-me curvo a teus pés! Alma que do mal se ufana, Tarde conheço quem és!
Mas a imagem que eu buscava, Por quem meu ser suspirava...
Nem pressentiste sequer, Quando uma fada invocando Me vergava soluçando, Prestava culto à mulher.
Tens razão, por grata estrela
Tomei teu brilho falaz,
Sinistra luz da procela,
Círio das horas fatais!
Segui-te através de enganos,
Cheio de sonhos insanos,
Cheio de amor e de afã!
Sombra de arcanjo caído!
Busto inda quente, incendido
Pelos beijos de Satã!
Na fronte cor de açucena
Tinhas brilho sedutor,
Mas eras qual essa flor,
Cujo perfume envenena!
Tinhas nos olhos brilhantes
Os reflexos cambiantes
De uma aurora de verão,
Mas como a charneca escura
Só podridão, lama impura,
Guardavas no coração!
Na negra esteira dos vícios
Que os decaídos formaram,
Teus funestos artifícios
Iludido me arrojaram!
Amei-te: amar foi perder-me!
Foi beijar da terra o verme,
Crendo-o Deus da vastidão...
Em vez do sol que buscava,
Louco afoguei-me na lava
De medonho, atroz vulcão!
Da vida estraguei por ti
Das quadras a mais risonha;
Mas hoje sinto a peçonha
Que nos teus lábios bebi!
Em meio de minha idade
Tenho nalma a soledade,
Na fronte o gelo eternal;
Sinto a morte nas artérias,
E ao medir minhas misérias

Me orgulho de ser mortal!

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:

 




ENOJO

Vem despontando a aurora, a noite morre,
Desperta a mata virgem seus cantores,
Medroso o vento no arraial das flores
Mil beijos furta e suspirando corre.
Estende a névoa o manto e o val percorre,
Cruzam-se as borboletas de mil cores,
E as mansas rolas choram seus amores
Nas verdes balsas onde o orvalho escorre.
E pouco a pouco se esvaece a bruma,
Tudo se alegra à luz do céu risonho
E ao flóreo bafo que o sertão perfuma.
Porém minh’alma triste e sem um sonho
Murmura, olhando o prado, o rio, a espuma:
- Como isto é pobre, insípido, enfadonho!

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:

 


— 118 —

Tenho o meu ponche, a garrucha,

Que mais?

Posso seguir socegado

—Que vou correndo o meu fado,

Vou com Deus, e vou-me em paz.

Poesia de Quinta na Usina: Trovas burlescas:


 

O TOCADOR DE LOTE.

Enrolemos o couro,—é já dia,

Vamos ver nossas bestas no pasto;

Tenho faca, o cigarro alumia,

P'ra tocal-as de lá eu só basto.

Vamos, vamos,—estacas no chão!

Vamos, vamos,—caminhe-se em paz!

Aqui tenho os cabrestos na mão,

Tenho milho, cangalha, embornaes.

Carreguemos—que o sol já lá vem;

Carreguemos—que é tarde—partir!

Decerei esta serra—inda bem 1—

Volto logo, bem sei que heide vir.

O TOCADOR DE LOTE.

Enrolemos o couro,—é já dia,

Vamos ver nossas bestas no pasto;

Tenho faca, o cigarro alumia,

P'ra tocal-as de lá eu só basto.

Vamos, vamos,—estacas no chão!

Vamos, vamos,—caminhe-se em paz!

Aqui tenho os cabrestos na mão,

Tenho milho, cangalha, embornaes.

Carreguemos—que o sol já lá vem;

Carreguemos—que é tarde—partir!

Decerei esta serra—inda bem 1—

Volto logo, bem sei que heide vir.

Poesia de quinta na Usina: Trovas Burlescas:

 


— 119 —

Ai soltemos o lote primeiro,

E na frente que puche a madrinha;

Besta velha—com passo ligeiro,

Que não levas em vão campainha.

Guia as outras, não percas o rumo,

E sentido que alguma não passe;

Tenho os pés callejados,—á prumo

Cahe o sol,—já tostou-me esta face.

Vou dormir lá por baixo da serra;

Tenho o couro, de nada preciso;

Descarrego os jacas,—sobre a terra

Durmo alegre ao luar—que surrriso!

Bem me entendem as bestas, si fallo;

Tem seu nome—qu'eu as baptizei;

No assobio, do relho no estalo

Si converso com ellas eu sei!

Vou cantando—que o sopro d'aragem

Traz-me o riso" na voz do trabalho;

De viola na mão—na viagem

Bato o pé na tyranna, si falho.