quarta-feira, 14 de abril de 2021

Poesia de quinta na Usina: D'Araújo:

 


Convicção

Algumas pessoas mentem com tanta convicção
que em determinado momento
até ela mesma acredita ser verdade.

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Amor eterno amor:

Queria eu que este dia não tivesse fim com
você a cuidar de mim, e tua pele feita seda à deslizar sobre o meu enlouquecer.
A chama eternamente acesa a me incendiar
esta minha vida alheia este teu corpo que me queima esta voz que me faz ferver.
Em ver-te feito canção a flutuar no ar no mar Ou chão,
sob os ventos que me levam a imaginar este seu olhar meigo
e sereno, que me toma feito veneno a percorrer minhas veias,.....

Poema na Integra no Livro:
"Entre Lírios e Promessas"

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Presença

Por entre nuvens e montanhas minha
alma flutua em busca de tua presença.
A noite cai e eu não tenho você para
Aquecer minha alma.
O frio da madrugada gela meu corpo.
O dia nasce e você é só um sonho que
não Termina.
Como posso continuar sonhando se já....

Poema na Integra no Livro:
"Entre Lírios e Promessas"

Poesia de Quinta na Usina: Laurindo Ribeiro:

 


III

 

Morrem as estações, morrem os tempos!

 

Morrem os dias, como as noites morrem:

 

Também acaba o homem —

 

E o Anjo do extermínio, desdenhoso,

 

Encara estultas pompas, que distinguem

 

O servo do senhor, o rei dos povos;

 

E fazendo correr-lhes pelas frontes

 

A rasoura da morte, traça o nível.

 

Que cabe aos homens todos.

 

Tudo no mundo expira:

 

Só sobranceiro à lousa o Gênio altivo

 

Nos vôos acompanha a eternidade!

 

Soberbo em seu poder persegue a morte,

 

E consegue vencê-la,

 

Mil vítimas lhe arranca,

 

E da imortalidade nos altares

 

As mostra coroadas.

 

Em vão do manto esquálido

 

A bárbara sacode o voraz verme

 

No cadáver do sábio;

 

Lá desce o Gênio intrépido,

 

Em vão as frias cinzas lhe arremessa

 

Nos abismos do olvido;

 

E, ao lume da lanterna da memória,

 

Ajunta as cinzas, sopra o fogo santo

 

Da santa poesia,

 

O sábio ressuscita e pasma o mundo!

Poesia de Quinta na Usina: Laurindo Ribeiro:

 




O GÊNIO E A MORTE

II

Que é feito, ó Primavera,
Das frescas odoríferas grinaldas
Que a fronte te adornavam?
Murchas caíram; jazem esmagadas
Aos pés de gelo do caduco inverno!
Os pomos sazonados,
Que pendiam das árvores frondosas,
Orgulho e pompa dos alegres prados,
Ei-los dispersos pelo chão molhado
Do pranto que em tristeza o céu derrama,
Ao ver-lhe a fronte merencória e pálida,
Debruçada do cume das montanhas,
Com lágrimas saudar do sol os raios,
Qual mísero vivente, a quem torturam
As galas da alegria.
Beijada pelos zéfiros — c’roada
De viçosas capelas, — pelos bosques,
Jardins, e prados, e alcantis dos montes,
Eu a vi passear; — vi toda a terra
De flores se cobrir, trajar verduras,
Ao toque de seus passos;
Vi... mas mudou-se da estação ridente
O quadro encantador; — e já bramidos
Dos desatados temporais proclamam —
Que é morta a Primavera.

Poesia de Quinta na Usina: Laurindo Ribeiro:

 




I

Sobre as asas de fogo
Da águia ardente que no espaço voa,
Saudado pelo cântico das aves,
De flores perfumado,
Entre nuvens de púrpura — risonho
Nos céus assoma o dia.
O exército dos astros afugentam
Seus coruscantes raios;
E passeia garboso pelo espaço,
Como triunfador pela campina,
Donde expulsara as hostes inimigas.
Lá no meio da arena do triunfo,
Como um olho de Deus devassa o mundo:
As plantas que a manhã de vida enchera,
Com seu intenso ardor, bárbaro cresta —
Qual jovem indiscreto, em loucos dias
De vulcânica idade,
No coração desseca, mata, extingue
Sentimentos que a infância alimentara...
Da glória ao grau supremo
Subiste, ó rei; humilha-te — vassalo
Também és do Senhor — descer te cumpre.
Ei-lo que abdicou — Já vai tardio
Pela estrada do ocaso, e já tristonha
Lhe escorre pelo rosto a luz enferma!
Sobre leito de chumbo se reclina, —
E, no momento extremo,
Seus olhos chamejantes
Extremo olhar saudoso à terra volvem.
Último arranco!... Cai desfalecido
Nos braços do crepúsculo.
Morreu o dia; — e a noite piedosa
Em seu manto de dó lhe envolve o túmulo.

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varella:

 


O MESMO

Desde a quadra mais antiga De que rezam pergaminhos, Cantam a mesma cantiga Na floresta os passarinhos.

 

Têm o mesmo aroma as flores,

 

Mesma verdura as campinas,

A brisa os mesmos rumores,

Mesma leveza as neblinas.

 

Tem o sol as mesmas luzes,

 

Tem o mar as mesmas vagas,

O deserto as mesmas urzes,

A mesma dureza as fragas.

 

Os mesmos tolos o mundo,

 

A mulher o mesmo riso,

O sepulcro o mesmo fundo,

Os homens o mesmo siso.

 

E neste insípido giro,

 

Neste vôo sempre a esmo,

Vale a pena, em seu retiro,

Cantar o poeta, mesmo?

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:

 


A UM MONUMENTO

Triste negra vassalagem

Do mais baixo servilismo,

Negreja no espaço a imagem

Consagrada ao despotismo.

 

E em torno dela agrupados,

 

Vergonha de nossa idade!

Estão os vultos sentados

Dos filhos da liberdade!

 

O povo curva-se e passa,

 

Porque não vê a ironia

Que encerra essa brônzea massa

Indigna da luz do dia.

 

Porque nunca leu a história

 

Das turvas eras passadas,

Folhas brilhantes de glória,

Mas de sangue borrifadas.


93

 

 

Porque não conhece o drama

 

Do mártir que ali morrera,

Por zelar a sacra chama

Que a liberdade acendera.

 

Pobre turba! Néscia e fátua,

 

Na sua soberania,

Beija os pés à fria estátua

Que há de esmagá-la algum dia!

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varella:

 


CHILDE-HAROLD

 

(Sobre uma página de Byron)

Não te rias assim, oh! não te rias,

Basta de sonhos, de ilusões fatais!

Minh’alma é nua, e do porvir às luzes

Meus roxos lábios sorrirão jamais!

 

Que pesar me consome? ah! não procures

 

Erguer a lousa de um pesar profundo,

Nem apalpares a matéria lívida,

E a lama impura que pernoita ao fundo!

 

Não são as flores da ambição pisadas,

 

Não é a estrela de um porvir perdida...

Que esta cabeça coroou de sombras

E a tumba inclina ao despontar da vida!