Convicção
Algumas pessoas mentem com tanta convicção
que em determinado momento
até ela mesma acredita ser verdade.
III
Morrem as
estações, morrem os tempos!
Morrem os
dias, como as noites morrem:
Também
acaba o homem —
E o Anjo
do extermínio, desdenhoso,
Encara
estultas pompas, que distinguem
O servo
do senhor, o rei dos povos;
E fazendo
correr-lhes pelas frontes
A rasoura
da morte, traça o nível.
Que cabe
aos homens todos.
Tudo no
mundo expira:
Só
sobranceiro à lousa o Gênio altivo
Nos vôos
acompanha a eternidade!
Soberbo
em seu poder persegue a morte,
E
consegue vencê-la,
Mil
vítimas lhe arranca,
E da
imortalidade nos altares
As mostra
coroadas.
Em vão do
manto esquálido
A bárbara
sacode o voraz verme
No
cadáver do sábio;
Lá desce
o Gênio intrépido,
Em vão as
frias cinzas lhe arremessa
Nos
abismos do olvido;
E, ao
lume da lanterna da memória,
Ajunta as
cinzas, sopra o fogo santo
Da santa
poesia,
O sábio
ressuscita e pasma o mundo!
O MESMO
Desde a quadra mais antiga De que rezam pergaminhos, Cantam a mesma
cantiga Na floresta os passarinhos.
Têm o
mesmo aroma as flores,
Mesma
verdura as campinas,
A brisa
os mesmos rumores,
Mesma
leveza as neblinas.
Tem o sol
as mesmas luzes,
Tem o mar
as mesmas vagas,
O deserto
as mesmas urzes,
A mesma
dureza as fragas.
Os mesmos
tolos o mundo,
A mulher
o mesmo riso,
O
sepulcro o mesmo fundo,
Os homens
o mesmo siso.
E neste
insípido giro,
Neste vôo
sempre a esmo,
Vale a
pena, em seu retiro,
Cantar o
poeta, mesmo?
A UM
MONUMENTO
Triste
negra vassalagem
Do mais
baixo servilismo,
Negreja
no espaço a imagem
Consagrada
ao despotismo.
E em
torno dela agrupados,
Vergonha
de nossa idade!
Estão os
vultos sentados
Dos
filhos da liberdade!
O povo
curva-se e passa,
Porque
não vê a ironia
Que
encerra essa brônzea massa
Indigna
da luz do dia.
Porque
nunca leu a história
Das
turvas eras passadas,
Folhas
brilhantes de glória,
Mas de
sangue borrifadas.
Porque não conhece o drama
Do mártir que ali morrera,
Por zelar a sacra chama
Que a liberdade acendera.
Pobre turba! Néscia e fátua,
Na sua soberania,
Beija os pés à fria estátua
Que há de esmagá-la algum dia!
CHILDE-HAROLD
(Sobre uma página de Byron)
Não te rias assim, oh! não te
rias,
Basta de sonhos, de ilusões
fatais!
Minh’alma é nua, e do porvir às
luzes
Meus roxos lábios sorrirão
jamais!
Que pesar me consome? ah! não
procures
Erguer a lousa de um pesar
profundo,
Nem apalpares a matéria lívida,
E a lama impura que pernoita ao
fundo!
Não são as flores da ambição
pisadas,
Não é a estrela de um porvir
perdida...
Que esta cabeça coroou de sombras
E a tumba inclina ao despontar da
vida!