terça-feira, 30 de novembro de 2021

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Ana Cristina Barreira:


 

Autora: Ana Cristina Barreira

País: Portugal 🇵🇹

29 de Novembro de 2021

Título: Canto à vida

Num lamento infundado

há queixumes nesta vida

que o que temos foi dado

sem pedir contrapartida

*

Tudo o que nos foi pedido

foi só viver com rectidão

ao amor darmos ouvidos

e escutar o coração

*

Nunca nos foi sugerido

ignorar credo ou cor

apenas tratar toda a gente

com igualdade e amor

*

Ser feliz é minha meta

sem atropelar ninguém

ajudando outros podendo

e não quando me convém

*

a vida é doce e bela

é sabê-la aproveitar

eu pretendo ser feliz

enquanto aqui andar

©Todos os Direitos de Autor reservados nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto

Foto: Matilde Lima

Quarta na Usina: Poetisas da rede: Maria Sonia Laukaitis:


 

Conquista...

Teus olhos têm brilho de estrelas... inefáveis

Na mais densa escuridão

Luz...

Mostra me caminhos

Por onde devo passar

Conduz me aos braços

Onde desejo chegar...

Te acordar com carinho

Mil beijos...desejos...

Lhe ver sorrindo ao despertar

Tua voz é hino...

Melodia...doce canção

Amo te ouvir dizer...

Te amo...

És minha conquista

Inspiração...

Amada serei

Nos teus dias mais lindos

Viverei...

Absurdamente te amo

Ama se na vida

Somente uma única vez.

01/11/2021

Direitos Autorais

Reservados!

País Brasil 🇧🇷

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Katica Zmijarevic:


 

Na névoa das memórias

Todos os trovões estavam disparando de cabeça para baixo como se o diabo tivesse dormido debaixo do meu travesseiro.

Todos os ossos me machucam como tu naquela noite quando tocaste o hino, um estranho na noite

O céu estava dando à luz enquanto o bebê chorava nas incubadoras

A terra é a culpada, e é por isso que eu choro, e todos choramos, e os desconhecidos que cruzam as pernas, e as mãos estão arrastando nos bolsos procurando materiais para uma música incalculável.

Oh minha querida, não feche as janelas, enquanto o sol brilha, não julgue o pecado destinado está, e ele ri enquanto os Anjos

eles dançam fora por perdão aos já perdoados que atiram direto no coração

Que tipo de lei é essa onde as mães sangram em solo fértil, era assim que você queria

Querias que crescessem flores nas tuas sobrancelhas, enquanto os coletores de penas vão à missa

Essa é a massa que eu paguei, eu a natureza volta debaixo do sovaco onde dói mais que o sol nunca toca

E eu me pergunto que passos levam ao Céu?

@utorska@

uma verdadeira pessoa respeitável

30 /11/2021.

Katica Zmijarevic

Croácia 🇵🇾

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Lucia Santanna:


 

"O TEMPO QUE PASSA"

Autoria:Lúcia Santanna Santanna.

Em 07/12/2019

O tempo passou tão depressa,

como o vento que só se sente,

levando consigo lembranças,

deixando-nos o hoje, o presente;

Foram - se magoas,tudo levou

seduziu a vida com novo amor...

embalou- a com versos e poesias,

fomou -a poeta, a fez escritor ;

Coloriu de azul as águas do mar,

trouxe magias e alegrias...

fechou os olhos... fingiu não ver,

que o mundo é feito de fantasias;

O tempo passa, deixe- o passar,

que traga amor em seu lugar,

dando nos certezas e alegrias...

um carinho certo, deixando- nos sonhar ;

Passa vento não faças barulho,

não queiras o tempo acordar,

deixe- o seguir o seu caminho,

deixando o amor em seu lugar!

Direitos autorais reservados

Em 08/12/2019

Poetisa : Lucia Santanna Santanna

(Lúcia Lucia Santanna)

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Solange Rezende:


 

Dor

Hoje acordei sentindo dores...

Dor na alma, dor no coração, dor no corpo, dor na mente...

Nesse momento as lágrimas caem no teclado do meu notebook...

Espalhando toda a minha dor...

Que escorre misturada com essas lágrimas gritando por socorro.

Socorro que ninguém ouve...

Socorro que ninguém atende...

Socorro que se perde no ar e desaparece...

Somente aumenta dentro do peito que continua gritando em silêncio...

São dores de saudade, de solidão, de desprezo...

Mas também são dores de amor...

Dores que corroem o coração sem dó.

Dores que maltratam a alma sem arrependimento.

Dores que atacam o corpo trazendo enfermidade.

Dores que invadem a mente fazendo grande reboliço.

E ai a pergunta que não quer calar

Onde foi meu Deus que eu errei? Onde?

Mostre-me antes que eu me vá e não volte mais.

Autora: Solange Rezende

País: Brasil

Data: 30.11.2021

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Maria Eunice Silva Bueno:


 

Nosso amor.

O nosso amor

é o mesmo amor

que ainda grita

cura a ferida

nos faz inteiros

nos faz benditos

destino e fado

sorte divina...

O nosso amor

 é o de sempre

tão almejado

tanto esperado

meio arredio

dentro da gente

dentro do rosto

por entre as ruas

por sóis e luas...

E o nosso amor

não se detém

não enxerga invernos

só primaveras

são duas mãos

feitas de céu

sonho e quimera

prece atendida

 letra, cantiga

sacra canção..

nicebueno

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Edna Lago:


 

SER

Acordar e ver

Engano fatídico sentir,

A falta de amor , compreensão

Desrespeito para com o outro ter ,

Somos parte de uma peça teatral?

Onde o vilão abate com fúria

A presa insegura ,

Indomável sentimento , transformar

Acordar a raiva, o desprezo,

Olhar perto o desprezível

Pele de cordeiro, intrépido ser,

O importante é lembrar

Que tudo a tona vem,

Hora certa, choque levar,

Mas saber que vai passar,

Nada impune ficará

O retorno vem, verás…

Seja justo, abra os olhos

És capaz de um novo caminho trilhar,

Aproveite a vida, saiba viver ,

Ainda há tempo de mudar

Uma nova pessoa respeitável

Renovada sem máscara usar.

Edna Lago

D.A.9610/98

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Irondina Luiza:


 

Ritariano

Solidão

Barco,flutuante solitário.

Eu, sozinha velejo.

Choro, procurando você.

Coração acelerado.

Sonhador!

Acadêmica:Irondina Luiza

Pedro Gomes-MS

Brasil

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Marilú Mattos:


 

A TARDE SE VAI ...

MAGISTRAL E LINDA

UMA TARDE BEM-VINDA

A VIDA PULSANDO

É CEDO AINDA

MAS A TARDE SE VAI...

NAS RUAS A CORRERIA É  INTENSA

HÁ VIDAS EM MÃO  DUPLA

MAS NINGUÉM TEM CULPA...

É A ROTINA IMENSA

É O TEMPO QUE NÃO  PÁRA...

É O CANTAR DOS PNEUS

É A EUFORIA DAS CRIANÇAS

É O TURBILHÃO DE GENTE

É A VIDA E OS SONHOS SEUS...

É O AGORA

O SEU PRESENTE

É O FIM DE SEMANA

É O DESCANSO NA FOLGA...

É O SE ATIRAR NA CAMA

É O AMOR QUE O EMPOLGA 

É O CÉU E O MAR...

O ESTAR COM A FAMÍLIA

É O ENCONTRO DE AMIGOS

É A NECESSÁRIA  ENERGIA...

É O DESLIGAR DO MOTOR

É O SEU BEM ESTAR

É A PURA ALEGRIA

É A PAZ ENCONTRADA

NA TARDE QUE SE VAI...

É O SOL SE ESCONDENDO

NA NOITE QUE CAI

É SÓ GRATIDÃO...

É AMOR ,

NADA MAIS!!!

Marilú Mattos

(Grão de Areia)

29/11/2019

Brasil

Direitos reservados


Insônias: D'Araújo:


 

Mar adentro

Como pude sonhar em terminar os meus dias,
Ouvindo tua voz, vendo teu sorriso,
Sentindo o teu cheiro,
Lendo os teus olhos.
Beijando tua boca,
Acariciando teu corpo
E me aquecendo no teu calor......

Conteúdo do livro:




Dante Alighieri: A Divina Comédia: Inferno:


 
14. Cérbero, monstro, meio cão, meio dragão, com três cabeças, que, 
segundo a mitologia antiga, estava à guarda do inferno. —
52. Ciacco, parasita florentino. 
— 65. O partido selvagem, os Brancos. 
— 80. Farinata etc., nomes de florentinos ilustres.


CANTO VII
Pluto, que está de guarda à entrada do quarto círculo, tenta amedrontar a Dante com palavras irosas. Mas Virgílio o faz calar- se, e conduz o discípulo a ver a pena dos pródigos e dos avarentos, que são condenados a rolar com os peitos grandes pesos e trocarem-se injúrias. Os Poetas discorrem sobre a Fortuna, e, depois, descem ao quinto círculo e vão margeando o Estiges, onde estão mergulhados os irascíveis e os acidiosos.

domingo, 28 de novembro de 2021

Crônicas de Segunda na Usina: Aluísio Azevedo: 4.o Capitulo:



 Eliminaram Ii Kammon, mas o grande fato estava consumado, bem ou mal os tratados concluídos, e o Japão aberto aos estrangeiros.Em breve, à semelhança da América do Norte, os Estados europeus entravam de mandar os seus representantes diplomáticos, e atrás destes surgiam logo, de focinho  arregaçado e palpitante, os primeiros furões comercias, os farejadores de negócios virgens de exploração, os avançados de Ashaverus que aí já vinha se arrastando azafamado de saco vazio às costas; enquanto do arquipélago muitos indígenas curiosos, estalando por gosto o ocidental fruto até aí proibido pelas "Cem Leis", muniam-se de ouro e tomavam as pressas o primeiro barco a sair para a China, com medo de que, uma vez morto o Regente, não fosse de novo trancada a autorização de viajar pelo estrangeiro. Esta leva tão espontânea, quase toda de gente moça e rica, na melhor parte inteligente e ávida de aprender coisas novas; haveria no futuro de influir também nos acontecimentos políticos do país.Quanto ao que neste ia por dentro, agora a grande questão pública era apurar se valiam ou não valiam os tratados apenas com a assinatura do Shogun. O Imperador abanava as mãos e sacudia os ombros, declarando a quem lhe ia falar em credenciais e exequatur que não lhe constava haver nenhum compromisso formal entre o seu império e qualquer Potência estrangeira; e que de sua parte evidenciassem ao novo Regente a necessidade de desenganar semelhantes importunos antes de ser preciso lançar mão dos meios extremos. Ao mesmo tempo decreta a retirada de todo o forasteiro que se ache no território sem clara e positiva autorização do Micado, e delega a Mito essa incumbência, repetindo-lhe numa carta escrita de seu próprio punho, a frase da vassoura e da poeira com que ele havia ressuscitado do outro mundo para acudir ao momento crítico. Visionário! Agora já não era uma simples esquadra que flutuava nas águas japonesas, era uma formidável armada constituída pelo contingente marítimo das principais potências do mundo. Dir-se-ia um congresso universal nas costas do Japão, porque, além das bandeiras que de tão longe vinham por defender os seus tratados, outras novas iam chegando desejosas de entrar também em fala com a sedutora esfinge do Extremo Oriente. E os radicais elementos patrióticos do altaneiro Sul coração do Império, sequiosos por descarregar em alguém ou alguma coisa a raiva de cruel despeito em que ardiam, nada podendo fazer contra o verdadeiro objeto do seu impotente desespero, voltaram-se contra a instituição a que pertencera o causador de tio irreparável desastre nacional; tomando porém o Shogunato para alvo dos golpes que precisavam descarregar, forçoso era opor-lhe em campo de combate a bandeira de outro poder, pelo qual se batessem e pelo qual, no momento da vitória, substituíssem o do vencido, resolveram então, depois de muito bem discutir o caso, adotar o unitarismo do Trono como ideal político. Mito, consultado, aplaudiu-os e deu-lhes de conselho que procurassem pôr à sua frente os príncipes do extremo sul. Foi desse modo que se formou, para logo se desenvolver maravilhosamente, o partido popular do Imperador, coisa que até aí nunca tinha existido no movimento político do país. Ora, como o pobre Soberano, no seu empírico patriotismo, punha antes de tudo a preocupação de expulsar os estrangeiros, o novo partido, por cair-lhe em graça, fez o seu lema com o grito de guerra "Honra ao Micado! Fora os bárbaros!", apesar de compreender perfeitamente a impossibilidade de levar a efeito nessa ocasião tão adorado sonho. Assim pois vinha à luz o partido do Imperador já com um plano de mistificação urdido contra o seu próprio chefe, disposto a servir-se da mesma maromba que caíra das mãos fracas de Yeçada e que servira Ii Kammon para equilibrar os seus primeiros passos no governo, pois como esses iria dizendo ao Micado que se constituía e fortificava só com o fim de bater os estrangeiros, quando a sua real intenção era, pelo menos antes de cuidar doutra coisa, combater o Shogunato. Os daimos do sul, ligando-se a esse elemento popular, não calculavam o alcance que contra eles próprios poderia ter a campanha empreendida, não previam que a unificação do poder do trono iria absorver também o dos principados; e contavam ingenuamente que, abolido o Shogunato, o Império voltaria sem dúvida ao regime feudal de antes de Yoritomo, quando os príncipes governavam ao lado do Imperador e não estavam sujeitos i alçada do Shogun. Quanto ao que pensava a Nobreza e Povo com respeito aos estrangeiros, era opinião corrente que qualquer ação decisiva seria impossível contra eles enquanto existissem a Corte e as forças shogunais para defendê-los dentro do país, desde porém que o Imperador concentrasse na mão todo o poder e comandasse diretamente os daimos, claro estava que a questão seria prontamente resolvida. Eis aqui em que estado se achava o país nas vésperas da sua grande revolução. A terrível guerra civil que se ia abrir, isto é, a luta de parte dos príncipes e parte do povo contra a instituição do Shogunato ou contra a dinastia dos Tokugawas, era pois conseqüência direta dos atos de Ii Kammon e não tinham raízes em nenhum fator político precedente à chegada do Comodoro Perry, como pretendem os ocidentais nos seus livros sobre o Japão.


Crônicas De Segunda Na Usina: Lima Barreto:15 de novembro:


Escrevo esta no dia seguinte ao do aniversário da proclamação da República. Não fui à cidade e deixei-me ficar pelos arredores da casa em que moro, num subúrbio distante. Não ouvi nem sequer as salvas da pragmática; e, hoje, nem sequer li a notícia das festas comemorativas que se realizaram. Entretanto, li com tristeza a notícia da morte da princesa Isabel. Embora eu não a julgue com o entusiasmo de panegírico dos jornais, não posso deixar de confessar que simpatizo com essa eminente senhora.

Veio, entretanto, vontade de lembrar-me o estado atual do Brasil, depois de trinta e dois
anos de República. Isso me acudiu porque topei com as palavras de compaixão do Senhor Ciro de Azevedo pelo estado de miséria em que se acha o grosso da população do antigo Império Austríaco. Eu me comovi com a exposição do doutor Ciro, mas me lembrei ao mesmo tempo do aspecto da Favela, do Salgueiro e outras passagens pitorescas desta cidade.

Em seguida, lembrei-me de que o eminente senhor prefeito quer cinco mil contos para reconstrução da avenida Beira-Mar, recentemente esborrachada pelo mar.
Vi em tudo isso a República; e não sei por quê, mas vi.

Não será, pensei de mim para mim, que a República é o regime da fachada, da ostentação, do falso brilho e luxo de parvenu, tendo como repoussoir a miséria geral? Não posso provar e não seria capaz de fazê-lo.

Saí pelas ruas do meu subúrbio longínquo a ler as folhas diárias. Lia-as, conforme o gosto antigo e roceiro, numa "venda" de que minha família é freguesa.

Quase todas elas estavam cheias de artigos e tópicos, tratando das candidaturas presidenciais. Afora o capítulo descomposturas, o mais importante era o de falsidade.
Não se discutia uma questão econômica ou política; mas um título do Código Penal.

Pois é possível que, para a escolha do chefe de uma nação, o mais importante objeto de discussão seja esse?

Voltei melancolicamente para almoçar, em casa, pensando, cá com os meus botões, como devia qualificar perfeitamente a República.

Entretanto - eu o sei bem - o 15 de Novembro é uma data gloriosa, nos fastos da nossa história, marcando um grande passo na evolução política do país.

Marginália, 26-11-1921

Crônicas De Segunda Na Usina: Machado de Assis: Comentários da semana: Prefácio político:


1 DE NOVEMBRO DE 1861.
Prefácio político – Exposição – Ensino Praxedes –
Coroa ao Dr. Pinheiro Guimarães – O mágico Felipe –
Regata - Comemoração de defuntos.
O que há de política? É a pergunta que naturalmente ocorre a todos,
e a que me fará o meu leitor, se não é ministro. O silêncio é a
resposta. Não há nada, absolutamente nada. A tela da atualidade
política é uma paisagem uniforme; nada a perturba, nada a modifica.
Dissera-se um país onde o povo só sabe que existe politicamente
quando ouve o fisco bater-lhe à porta.
O que dá razão a este marasmo? Causas gerais e causas especiais.
Foi sempre princípio nosso do governo aquele fatalismo que entrega
os povos orientais de mãos atadas às eventualidades do destino. O
que há de vir, há de vir, dizem os ministros, que, além de acharem o
sistema, cômodo, por amor da indolência própria, querem também
pôr a culpa dos maus acontecimentos nas costas da entidade
invisível e misteriosa, a que atribuem tudo.
Dizem, é verdade, que há tal ministro que, adotando politicamente
aquele princípio, descrê da sua legitimidade quando se trata da sua
pessoa, e que, longe de esperar que a chuva lhe traga água, vai á
própria fonte buscar com que estancar a sede. O leitor vê bem o que
há de profundamente injurioso em semelhante proposição, e
facilmente compreenderá o sentimento que me leva não insistir
neste ponto.
Mas, seja ou não assim, o que nos importa saber é que os nossos
governos são, salvas as devidas exceções, mais fatalistas que um
turco de velha raça. Seria este ministério uma exceção? Não; tudo
nele indica a filiação que o liga intimamente aos da boa escola. É um
ministério-modelo; vive do expediente e do aviso; pouco se lhe dá do
conteúdo do ofício, contanto que tenha observado na confecção dele
as fórmulas tabelioas; dorme á noite com a paz na consciência, uma
vez que de manhã tenha assinado o ponto na secretaria.
Está dada a razão por que subiu no meio das antífonas e das orações
dos amigos, apesar dos travos de fel com que alguns quiseram fazerlhe
amargar a taça do poder. Diziam estes: “É um ministério
medíocre”. Mas, por Deus, por isso mesmo é que é sublime!Em
nosso país a vulgaridade é um título, a mediocridade um brasão ;
para os que têm a fortuna de não se alarem além de uma esfera
comum é que nos fornos do Estado se coze e tosta o apetitoso pãode-
ló, que é depois repartido por eles, para glória de Deus e da
pátria. Vai nisto um sentimento de caridade, ou, direi mesmo, um
princípio de equidade e de justiça. Por toda a parte cabem as
regalias ás inteligências que se aferem por um padrão superior; é
bem que os que se não acham neste caso tenham o seu quinhão em
qualquer ponto da terra. E dão-lhe grosso e suculento, a bem de se
lhes pagar as injúrias recebidas da civilização.
Não se admire, portanto, o leitor se não lhe dou notícias políticas.
Política, como eu e o meu leitor entendemos, não há. E devia agora
exigir-se de um melro o alcance do olhar da águia e o rasgado de
seu vôo? Além de ilógico fora crueldade. Estamos muito bem assim;
demais, não precisa o império de capricórnio.
É sob a gerência deste ministério que vai efetuar-se em nossa capital
uma festa industrial, a exposição de 1 de dezembro.
Se o leitor acompanhou as discussões do senado este ano, deve
lembrar-se que quase no fim da sessão o Sr. senador Penna, que ali
ejaculou alguns discursos “notáveis”, entre eles o dos pesos e
medidas do Sr. Manoel Felizardo, levantou-se e pediu a opinião do
Sr. ministro do fomento acerca da conveniência de representar o
Brasil na próxima exposição de Londres.O Sr. ministro, que por uma
coincidência, que não passou despercebida, havia previsto os
sentimentos do honrado senador, levantou-se e declarou que já
havia pensado nisso, e que dentro de quatro dias tinham de aparecer
as instruções regulamentares das exposições parciais no Brasil, para
delas extrair-se o melhor, e enviar-se á exposição de
Londres.Portanto, os dois heróis da exposição são os Srs. Penna e
ministro do fomento, a quem, em minha opinião, devem ser
conferidas as primeiras medalhas, a não ser que se olhe como
prêmio comemorativo a presidência de Mato-Grosso e as ajudas de
custo, que, por eleição do sagrado concílio, couberam ao Sr.
Herculano Penna. Em todo o caso há uma dívida contraída com o Sr.
ministro do fomento.
As instruções apareceram um pouco sibilinas e indigestas, como
salada mal preparada, mas dignas do ministro e do ministério. E
imediatamente as ordens se expediram, com uma presteza cuja
raridade não posso deixar de comemorar, e em toda a parte se
preparam a esta hora as exposições parciais.
A da corte tem lugar no dia 2 de dezembro, no edifício da escola
central. A decoração está a cargo do Sr. Dr. Lagos, que é um dos
mais importantes expositores. Disse-me alguém que àquele nosso
distinto patrício se entregou uma soma fabulosa. . . (mente)
mesquinha, o que é realmente digno de censura, se não atendermos
à divisa do ministério, e a que é impossível fazer uma exposição e ao
mesmo tempo mandar uma jovem comissão estudar à Europa os
sistemas postais. A exposição é uma coisa bonita; mas há muito
moço que ainda não foi a Paris, e é preciso não deixar que esses
belos espíritos morram abafados pela nossa atmosfera brasileira.
Ora, a economia. . .
A Exposição corresponderá aos esforços dos seus diretores, se a
atenção pública não for desviada pela nova obra “Ensino Praxedes”,
de que dá notícia a folha oficial. É um novo método de ensino,
fundado sobre a filosofia do A B C. Ouço já o meu sôfrego leitor
perguntar-me o que é a filosofia do A B C. Eu ainda não li o precioso
livro; mas diz-me um boticário, que o folheou entre duas receitas,
que essa filosofia cifra-se em demonstrar que não há entre as letras
do alfabeto a diferença que geralmente se supõe, e que o A e o G se
parecem como duas gotas de água. Talvez o meu leitor não ache
muito clara a identidade; mas é aí que está a sutileza do novo
método.
Ocorre-me lembrar uma coisa. Este livro deve figurar na exposição
de Londres. Ali se reserva uma sala para a exposição de planos,
livros e métodos pedagógicos de ensino primário. Vê-se que o novo
“Ensino” está correndo para lá como um rio para o mar.
A matéria do ensino é grave e profunda; não se deve perder material
algum que possa servir à organização da instrução pública, como ela
deve ser feita. Ora, compreendesse bem que o sistema do “Ensino
Praxedes” vem dar um grande avanço, porque, se pela analogia, ou
antes, identidade dos caracteres, chegamos a converter o alfabeto
em uma só letra, é evidente que teremos feito mais que todos o que
têm estudado e desenvolvido a matéria e, se é dado crismar o novo
método, proponho que se desdenhe o título de “Método-vapor”, e
que se lhe de o que lhe compete, “Método-elétrico.”
A obrigação de comentar leva-me a fazer transições bruscas; por
isso passo sem preâmbulo do novo livro a oferta que por parte de
alguns amigos e admiradores acaba de ser feita ao Sr. Dr. Pinheiro
Guimarães, autor do drama “História de uma moça rica”.
Afirmo que o leitor, se não é beato, está tão convencido como eu da
justiça daquela oferta. Ela significa, além disso, um desmentido
solene às censuras que, em mal da composição do novo dramaturgo,
haviam levantado os que sentem em si à alma daquele herói de
Molière, que pecava em silêncio e se acomodava com o céu.
As palmas que acompanhavam a entrega da coroa ao Sr.Dr.Pinheiro
Guimarães confirmaram ainda uma vez a boa opinião que nós
espíritos desprevenidos, sinceramente amante das letras, tem criado
o poeta. Estou certo de que elas valem mais que a alma devota dos
censores.
Tem outro alcance a coroa do autor da “História de uma moça rica”;
é um incentivo à mocidade laboriosa, que, vendo assim aplaudidas e
festejadas as composições nacionais, não se deixará ficar no escuro,
e virá a cada operário por sua vez enriquecer com um relevo o
monumento da arte e da literatura.
A nossa capital tem sido visitada por mais de um mágico, e sem
dúvida está ainda fresca a impressão que produziu o distinto
Hermann, que fazia coisas com aquelas bentas mãos de pôr a gente
a olhar o sinal. No tempo em que Hermann divertia a curiosidade
infantil do nosso povo, chegou aqui um colega, que, reconhecendo
não poder competir com tão distinto mestre, resolveu esperar
melhores dias, e foi exercer a sua arte pelo interior.
Agora apareceu ele, o Sr. Philippe, filho de um mágico célebre de
Paris. Trabalha com destreza e habilidade, e faz passar o espectador
algumas horas de verdadeira satisfação. Se o meu leitor quiser
verificá-lo deve ir ao Ginásio sempre que o Sr. Philippe trabalhar.
Efetua-se hoje à tarde a grande regata de que falei em um dos meus
“Comentários” passados, e cujo programa as folhas publicaram
ontem.
Ao que parece, o divertimento será em regra, e amadores e
espectadores terão uma tarde deliciosa a passar. Compreende-se
bem que os Ingleses se distraiam das suas graves preocupações
para tomar parte ou presenciar uma regata, hoje que o
divertidíssimo soco inglês é punido pelas leis da Grã-Bretanha.
Vejam se não excita a fibra ver quatro escaleres rasgando com as
quilhas cortadoras o seio de um mar calmo e azul, e os remeiros,
com o estímulo e o entusiasmo nos olhos, empregando toda a
perícia, a ver quem primeiro chega ao termo da carreira, que é a
terra da promissão!
Diga-se o que quiser dos Ingleses, mas confesse-se que nesta
predileção pela regata e outros divertimentos do mesmo gênero
mostram eles que Deus também os dotou da bossa do bom gosto.
Honra àqueles graves insulares!
Os moços que hoje tomam parte na regata são pela maior parte,
oficiais da nossa jovem marinha, mas entram no divertimento
franceses e ingleses que não deviam faltar a ele. A festa é, portanto,
completa, e desta vez é deveras uma regata, pois que os escaleres
devem correr próximos à praia, para que todos possam ver.
Depois da festa do mar, vem a festa dos cemitérios, a comemoração
dos mortos, piedosa romagem que a população faz às pequenas e
solitárias necrópoles, onde repousam os restos do irmão, do pai, do
consorte, da mãe e do amigo.
É uma peregrinação imponente. Os romeiros vão de luto orar pelos
que repousam no último jazigo, e derramar à vista de todos, as
lágrimas da saudade e da tristeza. É esta uma das práticas dos
povos cristãos que mais impressionam a alma do homem
verdadeiramente religioso, embora a vaidade humana macule, como
acontece em todas as coisas da vida, a grave e melancólica
cerimônia, com as suas suntuosas distinções.
Dizem os que têm visitado a antiga cidade de Constantino que há
uma grande diferença entre um cemitério turco e um cemitério
cristão. Aquele não inspira o sentimento que se experimenta quando
se entra neste. O turco entrelaça a morte à vida, de modo que não
se passeia com terror ou melancolia entre duas alas de túmulos. A
razão desta diferença parece estar na própria religião. O que quereis
que seja a morte para um povo a quem se promete na eternidade, a
eternidade dos gozos mais voluptuosos que a imaginação mais viva
pode imaginar? Esse povo, que vive no requinte dos prazeres
materiais, só entende o que fala aos sentidos, e considera bem
aventurados os que morreram que já gozam ou estão perto de gozar
os prazeres prometidos pelo profeta.
Mas filosoficamente, terão razão eles ou nós, filhos da igreja cristã?
Há razão para ambas as partes, e cumpre acatar os sentimentos

alheios para que não desrespeitem os nossos.

Comentários da semana
Texto-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis,
Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938.
Publicado originalmente o Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, de 01/11/1861 a
05/05/1862.