quarta-feira, 13 de abril de 2022

Poesia de Quinta na Usina: Machado de Assis:

 




OS DEUSES DA GRÉCIA iv
(Schiller)

Quando, co’os tênues vínculos de gozo,
Ó Vênus de Amatonte, governavas Felizes* raças, encantados povos
Dos fabulosos tempos;
Quando fulgia a pompa do teu culto,
E o templo ornavam delicadas rosas,
Ai! quão diverso o mundo apresentava
A face aberta em risos!
Na poesia envolvia-se a verdade;
Plena vida gozava a terra inteira;
E o que jamais hão de sentir na vida
Então sentiam homens.
Lei era repousar no amor; os olhos
Nos namorados olhos se encontravam;
Espalhava-se em toda a natureza
Um vestígio divino.
Onde hoje dizem que se prende um globo
Cheio de fogo, — outrora conduzia
Hélios o carro de ouro, e os fustigados
Cavalos espumantes.
Povoavam Oreades**os montes,
No arvoredo Doriades vivia,
E agreste espuma despejava em flocos
A urna das Danaides.
Refúgio de uma ninfa era o loureiro;
Tantália ***moça as rochas habitava;
Suspiravam no arbusto e no caniço
Sírinx, Filomela.
Cada ribeiro as lágrimas colhia
De Ceres pela esquiva Perséfone;
E do outeiro chamava inutilmente
Vênus o amado amante.
Entre as raças que o pio tessaliano
Das pedras arrancou, — os deuses vinham;
Por cativar uns namorados olhos
Apolo pastoreava.
Vínculo brando então o amor lançava
Entre os homens, heróis e os deuses todos;
Eterno culto ao teu poder rendiam,
Ó deusa de Amatonte!
Jejuns austeros, torva gravidade
Banidos eram dos festivos templos;
Que os venturosos deuses só amavam
Os ânimos alegres.
Só a beleza era sagrada outrora;
Quando a pudica Tiemonte mandava,
Nenhum dos gozos que o mortal respira
Envergonhava os deuses.
Eram ricos palácios vossos templos;
Lutas de heróis, festins e o carro e a ode,
Eram da raça humana aos deuses vivos
A jucunda homenagem.
Saltava a dança alegre em torno a altares;
Louros c’roavam numes; e as capelas
De abertas, frescas rosas, lhes cingiam
A fronte perfumada.
Anunciava o galhofeiro Baco
O tirso de Evoé; sátiros fulvos
Iam tripudiando em seu caminho;
Iam bailando as Menades.
A dança revelava o ardor do vinho;
De mão em mão corria a taça ardente,
Pois que ao fervor dos ânimos convida
A face rubra do hóspede.
Nenhum espectro hediondo ia sentar-se
Ao pé do moribundo. O extremo alento
Escapava num ósculo, e voltava
Um gênio a tocha extinta.
E além da vida, nos infernos, era
Um filho de mortal quem sustentava
A severa balança; e co’a voz pia
Vate ameigava as Fúrias.
Nos Elíseos o amigo achava o amigo;
Fiel esposa ia encontrar o esposo;
No perdido caminho o carro entrava
Do destro Automedonte.
Continuava o poeta o antigo canto;
Admeto achava os ósculos de Alceste;
Reconhecia Pilades o sócio
E o rei tessálio as flechas.
Nobre prêmio o valor retribuía
Do que andava nas sendas da virtude;
Ações dignas do céu, filhas dos homens,
O céu tinham por paga.
Inclinavam-se os deuses ante aquele
Que ia buscar-lhe algum mortal extinto;
E os gêmeos lá no Olimpo alumiavam
O caminho ao piloto.
Onde és, mundo de risos e prazeres?
Porque não volves, florescente idade ?
Só as musas conservavam teus divinos*
Vestígios fabulosos.
Tristes e mudos vejo os campos todos;
Nenhuma divindade aos olhos surge;
Dessas imagens vivas e formosas
Só a sombra nos resta.
Do norte ao sopro frio e melancólico,
Uma por uma, as flores se esfolharam;
E desse mundo rútilo e divino
Outro colheu despojos.
Os astros interrogo com tristeza,
Seleno, e não te encontro; à selva falo,
Falo à vaga do mar, e à vaga, e à selva,
Inúteis vozes mando.
Da antiga divindade despojada,
Sem conhecer os êxtases que inspira,
Desse esplendor que eterno a fronte lhe orna
No original consta o seguinte verso, corrigido na errata: 
 Só a poeira conserva teus divinos...
Não sabe a natureza.
Nada sente, não goza do meu gozo;
Insensível à força com que impera,
O pêndulo parece condenado
Às frias leis que o regem.
Para se renovar, abre hoje a campa,
Foram-se os numes ao país dos vates;
Das roupas infantis despida, a terra
Inúteis os rejeita.
Foram-se os numes, foram-se; levaram
Consigo o belo, e o grande, e as vivas cores,
Tudo que outrora a vida alimentava,
Tudo que é hoje extinto.
Ao dilúvio dos tempos escapando,
Nos recessos do Pindo se entranharam:
O que sofreu na vida eterna morte,
Imortalize a musa!*

Poesia de Quinta na Usina: Machado de Assis:

 



LIVROS E FLORES

Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor *.
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

Poesia de Quinta na Usina: Machado de Assis:

 


 

PÁSSAROS

(Versos escritos no álbum de Manoel de Araújo)
Je veux changer mes pensées en oiseaux.
C. Marot

Olha como, cortando os leves ares,
Passam do vale ao monte as andorinhas;
Vão pousar na verdura dos palmares,
Que à tarde, cobre transparente véu;
Voam também como essas avezinhas
Nesses e em outros poemas, manteve-se 
o porque escrito junto em respeito à vontade autoral.
Não consta o sinal de interrogação no original.
Meus sombrios, meus tristes pensamentos;
Zombam da fúria dos contrários ventos,
Fogem da terra, acercam-se do céu.
Porque o céu é também aquela estância
Onde respira a doce criatura,
Filha de nosso amor, sonho da infância,
Pensamento dos dias juvenis.
Lá, como esquiva flor, formosa e pura,
Vives tu escondida entre a folhagem,
Ó rainha do ermo, ó fresca imagem 
Dos meus sonhos de amor calmo e feliz!
Vão para aquela estância, enamorados,
Os pensamentos de minha alma ansiosa;
Vão contar-lhe os meus dias mal gozados
E estas noites de lágrimas e dor;
Na tua fronte pousarão, mimosa,
Como as aves no cimo da palmeira;
Dizendo aos ecos a canção primeira
De um livro escrito pela mão do amor.
Dirão também como conservo ainda
No fundo de minha alma essa lembrança
Da tua imagem vaporosa e linda,
Único alento que me prende aqui.
E dirão mais que estrelas de esperança
Enchem a escuridão das noites minhas.
Como sobem ao monte as andorinhas,
Meus pensamentos voam para ti.

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:

 




125.

"Arcaram os vossos argonautas com monstros e medos. Também, na viagem do meu pensamento, tive monstros e medos com que arcar. No caminho para o abismo abstracto, que está no fundo das coisas, há horrores, que passar, que os homens do mundo não imaginam e medos que ter que a experiência humana não conhece; é mais humano talvez o cabo para o lugar indefinido do mar comum do que a senda abstracta para o vácuo do mundo."

 

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:

 




124.

"A ânsia de compreender, que para tantas almas nobres substitui a de agir, pertence à esfera da sensibilidade. Substitui a Inteligência à energia, quebrar o elo entre a vontade e a emoção, despindo de interesse todos os gestos da vida material, eis o que, conseguido, vale mais que a vida, tão difícil de possuir completa, e tão triste de possuir parcial.
Diziam os argonautas que navegar é preciso, mas que viver não é preciso. Argonautas, nós, da sensibilidade doentia, digamos que sentir é preciso, mas que não é preciso viver."

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:

 




123.

"Que me pode dar a China que a minha alma me não tenha já dado? E, se a minha alma mo não pode dar, como mo dará a China, se é com a minha alma que verei a China, se a vir? Poderei ir buscar riqueza ao Oriente, mas não riqueza de alma, porque a riqueza de minha alma sou eu, e eu estou onde estou, sem Oriente ou com ele."
"Somos todos míopes, excepto para dentro. Só o sonho vê com o olhar."

 

"Transeuntes eternos por nós mesmos, não há paisagem senão o que somos. Nada possuímos, porque nem a nós possuímos. Nada temos porque nada somos. Que mãos estenderei para que universo? O universo não é meu: sou eu."

 

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Tudo Inverso

 

Minha boca não ver

Meus olhos não sentem

Meus pés não falam

Meus cabelos não ouvem

Minhas orelhas não caem...

Poema na Integra no Livro:

"Entre Lírios e Promessas"

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Acalento

 

Todos ouvem os meus sorrisos

Mas poucos sentem a dor da imensidão

Da minha pobre alma.

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Sempre mais

 

Deleitando-se do enredo de uma vida de ambiguidades.

Deitamos os nossos ensejos na sala ao lado

onde exala o pesado cheiro do pecado

 Ficamos sitiados no convés dos desejos......

Poema na Integra no Livro:

"Entre Lírios e Promessas"