quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Poesia De quinta Na usina:Fernando Pessoa: Mestre.


Mestre são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.
Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,
Mas decorrê-la,
Tranqüilos, plácidos,
Lendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios

De Natureza ...

Poesia De quinta Na Usina: Fernando Pessoa: Abdicação.



Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho.
Eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa — eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços
Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma

Como a paisagem ao morrer do dia.

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis: A ARTUR DE OLIVEIRA, ENFERMO:




Sabes tu de um poeta enorme
Que andar não usa
No chão, e cuja estranha musa,
Que nunca dorme,
Calça o pé, melindroso e leve,
Como uma pluma,
De folha e flor, de sol e neve,
Cristal e espuma;
E mergulha, como Leandro,
A forma rara
No Pó, no Sena, em Guanabara
E no Escamandro;
Ouve a Tupã e escuta a Momo,
Sem controvérsia,
E tanto ama o trabalho, como
Adora a inércia;
Ora do fuste, ora da ogiva,
Sair parece;
Ora o Deus do ocidente esquece
Pelo deus Shiva;
Gosta do estrépito infinito,
Gosta das longas
Solidões em que se ouve o grito
Das arapongas;
E, se ama o lépido besouro,
Que zumbe, zumbe,
E a mariposa que sucumbe
Na flama de ouro,
Vaga-lumes e borboletas,
Da cor da chama,
Roxas, brancas, rajadas, pretas,
Não menos ama
Os hipopótamos tranqüilos,
E os elefantes,
E mais os búfalos nadantes
E os crocodilos,
Como as girafas e as panteras,
Onças, condores,
Toda a casta de bestas-feras
E voadores.
Se não sabes quem ele seja
Trepa de um salto,
Azul acima, onde mais alto
A águia negreja;
Onde morre o clamor iníquo
Dos violentos,
Onde não chega o riso oblíquo
Dos fraudulentos;
Então, olha de cima posto
Para o oceano,
Verás num longo rosto humano
Teu próprio rosto.
E hás de rir, não do riso antigo,
Potente e largo,
Riso de eterno moço amigo,
Mas de outro amargo,
Como o riso de um deus enfermo
Que se aborrece
Da divindade, e que apetece

Também um termo...

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis: Poema: Embirração: .


A balda alexandrina é poço imenso e fundo,
Onde poetas mil, flagelo deste mundo,
Patinham sem parar, chamando lá por mim.
Não morrerão, se um verso, estiradinho assim,
Da beira for do poço, extenso como ele é,
Levar-lhes grosso anzol; então eu tenho fé
Que volte um afogado, à luz da mocidade,
A ver no mundo seco a seca realidade.
Por eles, e por mim, receio, caro amigo;
Permite o desabafo aqui, a sós contigo,
Que à moda fazer guerra, eu sei quanto é fatal;
Nem vence o positivo o frívolo ideal;
Despótica em seu mando, é sempre fátua e vã,
E até da vã loucura a moda é prima-irmã:
Mas quando venha o senso erguer-lhe os densos véus,
Do verso alexandrino há de livrar-nos Deus.
Deus quando abre ao poeta as portas desta vida,
Não lhe depara o gozo e a glória apetecida;
E o triste, se morreu, deixando mal escritas
Em verso alexandrino histórias infinitas,
Vai ter lá noutra vida insípido desterro,
Se Deus, por compaixão, não dá perdão ao erro;
Fechado em quarto escuro, à noite não tem luz,
E se é cá do meu gosto o guarda que o conduz,
Debalde, imerso em pranto, implora o livramento;
Não torna a ser, aqui, das Musas o tormento;
Castigo alexandrino, eterna solidão,
Terá lá no desterro, em prêmio da ilusão;
Verá queimar, à noite, as rosas esfolhadas,
Que a moda lhe ofertara, e trouxe tão cuidadas,
E ao pé do fogo intenso, ardendo em cruas dores,
Verá que versos tais são galhos, não dão flores;
Que, lendo-os a pedido, a criatura santa,
A paciência lhe foge, a fé se lhe quebranta,
Se vai dum verso ao fim; depois... treme... vacila...
Dormindo, cai no chão; mais tarde, já tranqüila,
Sonha com verso-verso, e as ilusões floridas,
Risonhas, vem mostrar-lhe as largas avenidas
Que o longo verso-prosa oculta, do porvir!
Sonhando, ao menos, pode amar, gozar, sentir,
Que um sono alexandrino a deixa ali em paz,
Dormir... dormir... dormir... erguer-se, enfim, vivaz,
Bradando: “Clorofórmio! O gênio que te pôs.
A palma cede ao metro esguio, teu algoz!”
E aspiras, vate, assim, da glória ao ideal?
Triste e funesto afã!... tentativa fatal!
Nesta sede de luz, nesta fome de amor,
O poeta corre a estrela, à brisa, ao mar, à flor;
Quer ver-lhe a luz na luz da estrela peregrina,
Quer-lhe o aroma sentir na rosa da campina,
Na brisa o doce alento, a voz na voz do mar;
Ó inútil esforço! Ó é ímprobo luta!
Em vez da luz, do aroma, ou do alento, ou da voz,
O verso alexandrino, o impassível algoz!...
Não cantas a tristeza, e menos a ventura;
Que em vez do sabiá gemendo na espessura,
Imitarás, no canto, o grilo atrás do lar;
Mas desse estreito asilo, escuro e recatado,
Alegre hás de fugir, que erguendo altivo brado,
A lírica harmonia há de ir-te despertar!
Verás de novo aberta a copiosa fonte!
Da poesia verás tão lúcido o horizonte,
Que a mente não calcula, e onde se perde o olhar,
Que nas asas do gênio, a voar pelo espaço,
Da perna sacudindo o alexandrino laço,
Hás de a mão bendizer que o soube desatar.
Do precipício foge, e segue a luz secreta,
Essa estrela polar dos sonhos do poeta;
Mas, noutro verso, amigo, onde ao mago ideal
A música se ligue, o senso e a verdade;
— Num destes vai-se, a ler, da vida a imensidade,
Da sílaba primeira à sílaba final!
Meu Deus! Esta existência é transitória e passa;
Se fraco fui aqui, pecando por desgraça;
Se já não tenho jus ao vosso puro amor;
Se nem da salvação nutrir posso a esperança,
Quero em chamas arder, sofrer toda a provança:
— Ler verso alexandrino... Oh! isso não Senhor!

Poesia De quinta Na Usina: D'Araújo: Folhas



Apesar do tempo de luta
E tantos sonhos soterrados
Nas valas dos insolentes,
Como podemos continuar
Colhendo as folhas da miséria assistida

Enquanto as raízes das desigualdades
Proliferam-se por entre guetos e favelas
Arquitetonicamente distribuídas a serviço
Dos oportunistas hipócritas de Platão.

Sempre se utilizando delas
Como suas inesgotáveis
Fontes de existência sustentável.
Aqui preços vão fingir que tudo isso é normal
Enquanto lavamos nossas consciências
Nas águas da tranqüilidade
Inexistente e quase perfeita...

D'Araújo.


Poesia De Quinta Na Usina: D'Araújo:ELA:


ELA
Antonio d´Araujo Silva

Um nome poético e sereno,
Em uma pequena face de princesa,
Tudo em ti é beleza.

Sorriso sincero,
Olhar marcante, e um corpo insinuante.
E muito distante do meu mal pensar.

Altura ideal, andar sem igual.
Uma boca que exala uma leve fala,
Que é quase um murmurar

Cabelos rebeldes que às vezes me pede
O toque ideal. Com aquele incomparável
cheiro de puro desejo.
Ai que vejo que tudo é normal.

Nome, face, sorriso, olhar, altura, boca,
Fala cabelo e cheiro, tudo do mesmo corpo,
que só insulta meus impiedosos sentimentos de desejo...

Antonio de Araujo Silva
São Bernardo do Campo - Brasil

Poema que faz parte da coletânea da Fênix Logos 8 Maio 2014: Uma primorosa obra de Arte literária: Meus sinceros agradecimentos a está fantástica autora e divulgadora da literatura mundial; Carmo Vasconcelos: Pela oportunidade de fazer parte deste lindo projeto:

Acesse o link e confira todos os autores que fazem parte da obra: