quinta-feira, 14 de março de 2019

Poesia De Quinta na Usina: Dante Alighieri: INFERNO: CANTO I (trecho inicial):





No meio do caminho desta vida
me vi perdido numa selva escura,
solitário, sem sol e sem saída.

Ah, como armar no ar uma figura
desta selva selvagem, dura, forte,
que, só de eu a pensar, me desfigura?

É quase tão amargo como a morte;
mas para expor o bem que encontrei,
outros dados darei da minha sorte.

Não me recordo ao certo como entrei,
tomado de uma sonolência estranha,
quando a vera vereda abandonei.

Sei que cheguei ao pé de uma montanha,
lá onde aquele vale se extinguia,
que me deixara em solidão tamanha,

e vi que o ombro do monte aparecia
vestido já dos raios do planeta
que a toda gente pela estrada guia.

Então a angústia se calou, secreta,
lá no lago do peito onde imergira
a noite que tomou minha alma inquieta;

e como náufrago, depois que aspira
o ar, abraçado à areia, redivivo,
vira-se ao mar e longamente mira,

o meu ânimo, ainda fugitivo,
voltou a contemplar aquele espaço

que nunca ultrapassou um homem vivo.

Poesia De quinta Na Usina:João do Rio:


No espírito humano a rua chega a ser uma imagem que se liga a todos os sentimentos e serve para todas as comparações. Basta percorrer a poesia anônima para constatar a flagrante verdade. É quase sempre na rua que se fala mal do próximo. Folheemos uma coleção de fados. Lá está a idéia: Adeus, ó Rua Direita Ó Rua da Murmuração.
Onde se faz audiência
Sem juiz nem escrivão.

Aliás muito tímida, como devendo ser cantada por quem tem culpa no cartório. Mas, se um apaixonado quer descrever o seu peito, só encontra uma comparação perfeita.

O meu peito é uma rua Onde o meu bem nunca passa,
É a rua da amargura
Onde passeia a desgraça.
Se sente o apetite de descrever,

os espécimens são sem conta.
Na rua do meu amor
Não se pode namorar:
De dia, velhas à porta, De noite, cães a ladrar.

E é suave lembrar aquele sonhador que, defronte da janela da amada e desejando realizar o impossível para lhe ser agradável, só pôde sussurrar esta vontade meiga:

Se esta rua fosse minha Eu mandava ladrilhar
De pedrinhas de brilhante
Para meu bem passar.

 O povo observa também, e diz mais numa quadra do que todos nós a armar o efeito de períodos brilhantes. Sempre recordarei um tocador de violão a cantar com lágrimas na voz como diante do inexorável destino: Vista Alegre é rua morta A Formosa é feia e brava A Rua Direita é torta A do Sabão não se lava... 

Poesia De Quinta Na Usina: Paulo Leminski:


Hoje eu saí lá fora

Como se tudo já tivesse havido Já tivesse havido a guerra

A festa

Já tivesse havido E eu, e eu, e eu
Fosse puro espírito

Aqui tô eu pra te proteger Dos perigos da noite, do dia

Sou fogo, sou terra, sou água, sou gente Eu também sou filho de Santa Maria Se dona Maria soubesse

Que o filho pecava e pecava tão lindo Pegava o pecado e jogava de lado


E fazia da Terra uma estrela Sorrindo.

Poesia De Quinta Na Usina: Luís de Camões: Soneto:012:



Vossos olhos, Senhora, que competem co Sol em fermosura e claridade, enchem os meus de tal suavidade

que em lágrimas, de vê-los, se derretem.

Meus sentidos vencidos se sometem assi cegos a tanta majestade;
e da triste prisão, da escuridade, cheios de medo, por fugir remetem.

Mas se nisto me vedes por acerto, o áspero desprezo com que olhais torna a espertar a alma enfraquecida.

Ó gentil cura e estranho desconcerto! Que fará o favor que vós não dais, quando o vosso desprezo torna a vida?

Poesia de quinta Na Usina: D'Araújo: Sem argumento:


Quando é que vamos entender que a mentira é o argumento mais inútil da insatisfação, 
pois o máximo que conseguimos é enganarmos a nós mesmo,
e que a mentira e a fuga só aumenta o abismo, 
entre a necessidade do fazer e os sentimentos possíveis.

Como podemos fugir de nossa inevitável realidade diária, 
sempre tentando criar novas realidades que não vão dar em nada, 
porque que ao invés de fugirmos não encaramos os fatos, 
eminentes e nos livramos para sempre dos inconvenientes, 
para assim começar um novo viver, que lhe seja satisfatório.

Pois agregar um novo ao velho viver, pode acabar aniquilando aos dois. 
E assim fatalmente nos tornamos vazios e inconsequentes.
Amor, sexo, não foi, não é, nem nunca será o laço que nos prende um ao outro.
O que nos faz um só é o desejo interminável de estarmos sempre juntos, 
com a mesma alegria do viver.



Conteúdo do Livro:

















Editora: www.perse.com.br

Poesia de quinta Na Usina: D'Araújo: Faces da mini-saia:


Mini-saia, instrumento de tortura
Largamente usada nos países de clima tropical.

Este objeto tem um efeito
Profundamente degenerativo a sensibilidade masculina.

Mais que na maioria das mulheres
Vêm valorizar suas delicadas silhuetas
E arengam a sua sensualidade.

Mais que para outras só vem a acentuar
Sua profunda vulgaridade.
Mini-saia uso livre,

Mais com efeito variado. 



Conteúdo do Livro:



















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