No espírito humano a rua chega a ser uma imagem que se liga a todos os sentimentos e
serve para todas as comparações. Basta percorrer a poesia anônima para constatar a flagrante
verdade. É quase sempre na rua que se fala mal do próximo. Folheemos uma coleção de fados.
Lá está a idéia:
Adeus, ó Rua Direita
Ó Rua da Murmuração.
Onde se faz audiência
Sem juiz nem escrivão.
Aliás muito tímida, como devendo ser cantada por quem tem culpa no cartório. Mas, se um apaixonado quer descrever o seu peito, só encontra uma comparação perfeita.
O meu peito é uma rua Onde o meu bem nunca passa,
É a rua da amargura
Onde passeia a desgraça.
Se sente o apetite de descrever,
os espécimens são sem conta.
Na rua do meu amor
Não se pode namorar:
De dia, velhas à porta, De noite, cães a ladrar.
E é suave lembrar aquele sonhador que, defronte da janela da amada e desejando realizar o impossível para lhe ser agradável, só pôde sussurrar esta vontade meiga:
Se esta rua fosse minha Eu mandava ladrilhar
De pedrinhas de brilhante
Para meu bem passar.
O povo observa também, e diz mais numa quadra do que todos nós a armar o efeito de períodos brilhantes. Sempre recordarei um tocador de violão a cantar com lágrimas na voz como diante do inexorável destino: Vista Alegre é rua morta A Formosa é feia e brava A Rua Direita é torta A do Sabão não se lava...
Onde se faz audiência
Sem juiz nem escrivão.
Aliás muito tímida, como devendo ser cantada por quem tem culpa no cartório. Mas, se um apaixonado quer descrever o seu peito, só encontra uma comparação perfeita.
O meu peito é uma rua Onde o meu bem nunca passa,
É a rua da amargura
Onde passeia a desgraça.
Se sente o apetite de descrever,
os espécimens são sem conta.
Na rua do meu amor
Não se pode namorar:
De dia, velhas à porta, De noite, cães a ladrar.
E é suave lembrar aquele sonhador que, defronte da janela da amada e desejando realizar o impossível para lhe ser agradável, só pôde sussurrar esta vontade meiga:
Se esta rua fosse minha Eu mandava ladrilhar
De pedrinhas de brilhante
Para meu bem passar.
O povo observa também, e diz mais numa quadra do que todos nós a armar o efeito de períodos brilhantes. Sempre recordarei um tocador de violão a cantar com lágrimas na voz como diante do inexorável destino: Vista Alegre é rua morta A Formosa é feia e brava A Rua Direita é torta A do Sabão não se lava...
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