quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




A onça, o bode e o homem

A onça com o instinto de
Sobreviver, ela devora.
O bode com o instinto de
Manter-se ele consome.
O homem com o instinto
De refazer, ele destrói.

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Da Alma

Aqueça seus desejos com toda intensidade de sua alma
Mas nunca aqueça sua alma
Com toda a intensidade de seus desejos......

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


 



Calor, amar e dor

A dor do amar
A dor do não amar
O amar sem dor
O calor do amar
A dor da falta do calor do amar.
Amar além da dor
O calor além do amar.....

Poesia de Quinta na Usina: Alphonsus Guimarães:

 



XI

Cantem outros a clara cor virente
Do bosque em flor e a luz do dia eterno...
Envoltos nos clarões fulvos do oriente,
Cantem a primavera: eu canto o inverno.
Para muitos o imoto céu clemente
É um manto de carinho suave e terno: Cantam a vida, 
e nenhum deles sente Que decantando vai o próprio inferno. 
Cantam esta mansão, onde entre prantos
Cada um espera o sepulcral punhado
De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos...
Cada um de nós é a bússola sem norte.
Sempre o presente pior do que o passado.
Cantem outros a vida: eu canto a morte.

poesia de Quinta na Usina: Alphosus Guimarães:

 



X

Como se moço e não bem velho eu fosse
Uma nova ilusão veio animar-me.
Na minh’alma floriu um novo carme,
O meu ser para o céu alcandorou-se. 
Ouvi gritos em mim como um alarme. 
E o meu olhar, outrora suave e doce, 
Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se 
Todo em raios que vinham desolar-me. 
Vi-me no cimo eterno da montanha, 
Tentando unir ao peito a luz dos círios 
Que brilhavam na paz da noite estranha. 
Acordei do áureo sonho em sobressalto:
Do céu tombei aos caos dos meus martírios, 
Sem saber para que subi tão alto...

Poesia de Quinta na Usina: Primeiras Trovas Burlescas:

 




— 125 —

Homem—sentiu na carne desnudada
O açoite do algoz nodoar a honra,
E o sangue sobre a face envergonhada
Mudo escreveu o grito da deshonra!
Era escravo!—deixai-o que combata;
Livre nunca elle foi, quer sel-o agora,
Como o peixe no mar, a ave na matta,
Como no Céo a aurora!
Oh deixai-o morrer 1—d'este martyrio
Não alceis a calumnia ao gráo da historia!
Que fique a lusa mão em seu delírio
Já que o corpo manchou, manchar a gloria!
Respeitemos as cinzas do guerreiro
Que no pó sacudira a alteira fronte!
Quem sabe esse mysterio segredeiro
Do sol lá no horisonte?!
Não se vendeu! infâmia... era hum escravo!
Sentiu o estygma vil, horrendo sèllo;
Pulsou-lhe o coração, viu que era hum bravo;
Quiz despertar do negro pesadèllo!
Tronco sem folhas, triste e solitário,
Debalde o vento assoberbar tentou,
Das azas do tufão ao sopro vário
Estremeceu—tombou!
Deztmbro de A. I. Aniunes.

Poesia de Quinta na Usina: Primeiras Trovas Burlescas:

 




— 126 —

Paz ao sepulchro! Calabar morreu!
Sobre o topo da cruz falia á verdade;
Quiz ser livre também—elle escolheu,
Entre duas prisoens quiz ter vontade!
E a mão heróica que susteve a Hollanda
A covardia entrega desarmada!.... >
Vergonha eterna a Providencia manda
A' ingratidão manchada!
Morreu!—mas lá no marco derradeiro
O coração de amor bateu-lhe ainda!
Minha mãe, murmurou... era agoureiro
Esse queixume de huma dor infinda!
Morreu, o escravo se desfez em pó
Ferros lançai-lhe agora, si o podeis!
Vinde tyrannos—elle está bem sò,
Dictai-lhe agora leis!...

Poesia de Quinta na Usina: Primeiras Trovas Burlescas:



— 1 9 -

Com sabença profusa irei cantando
Altos feitos da gente luminosa,
Que a trapaça movendo portentosa
A' mente assombra, e pasma á natureza!
Espertos eleitores de encommenda,
Deputados, Ministros, Senadores,
Galfarros Diplomatas—chuchadores,
De quem resa a cartilha da esperteza.
Caducas Tartarugas—desfructaveisr
Velharoens tabaquentos—sem juízo,
Irrisórios fidalgos—de improviso,
Finórios traficantes—patriotas;
Espertos maganoens, de mão ligeira.
Emproados juizes de trapaça,
E outros que de honrados teem fumaça,
Mas que são refinados agiotas.
Nem eu próprio á festança escaparei;
Com foros de Africano fidalgote,
Montado n'hum Barão, com ar de zóte—
Ao rufo do tambor, e dos zabumbas,
Ao som de mil aplausos retumbantes,
Entre os netos*da Ginga, meus parentes,
Pulando de prazer e de contentes— 
Nas danças entrarei d'altas cayumbas.