
“Hemos de ir onde os corpos nossos moram,
Como as outras, mas sem que os revistamos,
105 Mor pena aos que em perdê-los prestes foram.
“Arrastados serão por nós: aos ramos Pendentes ficarão nesta floresta
108 Nos troncos, em que, assim, vedes, penamos”.
105 Mor pena aos que em perdê-los prestes foram.
“Arrastados serão por nós: aos ramos Pendentes ficarão nesta floresta
108 Nos troncos, em que, assim, vedes, penamos”.
Ouvíamos ainda a sombra mesta,
De mais dizer cuidando houvesse o intento.
111 Eis sentimos rumor, que nos molesta.
Assim monteiro, à caça pouco atento,
De mais dizer cuidando houvesse o intento.
111 Eis sentimos rumor, que nos molesta.
Assim monteiro, à caça pouco atento,
Do javardo e dos cães ouve o estrupido
114 E das ramadas o estalar violento.
Súbito vejo à esquerda, espavorido,
Súbito vejo à esquerda, espavorido,
Fugindo esp'ritos dois nus, lacerados,
117 Ramos rompendo ao bosque denegrido.
“Ó morte!” um clama — “acode aos desgraçados!”
117 Ramos rompendo ao bosque denegrido.
“Ó morte!” um clama — “acode aos desgraçados!”
O segundo, que tardo se julgava:
120 “Ninguém, ó Lano, os pés tanto apressados
“De Toppo nas refregas te observava!”
120 “Ninguém, ó Lano, os pés tanto apressados
“De Toppo nas refregas te observava!”
Porém, de todo já perdido o alento,
123 Numa sarça acolheu-se que ali stava.
Corria, enchendo a selva, em seguimento
123 Numa sarça acolheu-se que ali stava.
Corria, enchendo a selva, em seguimento
De famintas cadelas negro bando,
126 Quais alões da cadeia ao todo isento
A sombra homiziada se enviando,
126 Quais alões da cadeia ao todo isento
A sombra homiziada se enviando,
A fez pedaços a matilha brava,
129 E logo após levou-os ululando.
Então meu Guia pela mão me trava,
129 E logo após levou-os ululando.
Então meu Guia pela mão me trava,
Conduz-me à sarça, que se em vão carpia
132 Pelas roturas, que o seu sangue lava.
“Ó Jacó Santo André!” triste dizia —
“Ó Jacó Santo André!” triste dizia —
“Podia eu ser-te acaso amparo certo?
135 Em mim por crimes teus que culpa havia?” —
Disse-lhe o Mestre, quando foi mais perto:
135 Em mim por crimes teus que culpa havia?” —
Disse-lhe o Mestre, quando foi mais perto:
“Quem és tu, que o teu sangue e mágoas exalas
138 Por golpes tantos, de que estás coberto?” —
Tornou-lhe: “Ó alma que dessa arte falas
Tornou-lhe: “Ó alma que dessa arte falas
E tu que o dano vês, que me separa,
141 Da fronde minha, agora amontoá-las
“Dignai-vos junto à rama, que as brotara.
141 Da fronde minha, agora amontoá-las
“Dignai-vos junto à rama, que as brotara.