quarta-feira, 24 de junho de 2020

Poesia de Quinta na Usina: Floebela Espanca: TORTURA:


Tirar dentro do peito a emoção, A lúcida verdade, 
o sentimento! 
- E ser, depois de vir do coração, 
Um punhado de cinza esparso ao vento!... 
Sonhar um verso d´alto pensamento, 
E puro como um ritmo d´oração! 
- E ser, depois de vir do coração, 
O pó, o nada, o sonho dum momento!... 
São assim ocos, rudes, os meus versos: Rimas perdidas, 
vendavais dispersos, Com que eu iludo os outros, com que minto! 
Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, 
estranho e duro, Que dissesse, a chorar, isto que sinto!

Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca: EU...:


Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, 
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada ... a dolorida ... 
Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, 
triste e forte, Impele brutalmente para a morte! 
Alma de luto sempre incompreendida!... 
Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... 
Sou a que chora sem saber por quê... 
Sou talvez a visão que alguém sonhou. Alguém que veio ao mundo pra me ver, 
E que nunca na vida me encontrou!

Poesia de Quinta na Usina: Paulo Leminsk:



Minha cabeça cortada Joguei na tua janela Noite de lua

Janela aberta Bate na parede Perdendo dentes Cai na cama

Pesada de pensamentos Talvez te assustes Talvez a contemples Contra a lua

Buscando a cor de meus olhos Talvez a uses

Como despertador Sobre o criado-mudo Não quero assustar-te

Peço apenas um tratamento condigno Para essa cabeça súbita

De minha parte


Poesia de Quinta na Usina: Paulo Leminsk: Obra-prima:



o soneto a crônica o acróstico o medo do esquecimento 

o vício de achar tudo ótimo e esses dias 

longos dias feito anos sim pratico todos 

os gêneros provincianos

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo: Cadáveres Alheios:


 


O que nos machuca naqueles,

que estão sempre tão próximos,

É o vasto senso de oportunismo

destilado pelos mais nobres seres.

Como se eles pudessem repousar

as suas desgraças e desenganos,

Sobre os cadáveres alheios.


Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo: Inconsequente:


 

Em prosas e versos, vou criando

O meu próprio universo.

Onde caibam os meus sonhos e desenganos.

Pois quando abrimos mão da felicidade.

Jogamo-nos no abismo dos desejos inconsequentes

Do sofrimento.