quarta-feira, 22 de junho de 2022

Poesia de quinta na Usina: D'Araújo:

 




A rua, a praça e a garça

A Rua a praça e a garça
Qual seriam a graça de uma rua ou praça
Sem a presença das garças.
Oh! Pobre sonhador.
Onde já se viu garças na praça.
Mas qual seria a graça da garça na praça.
Então porque a rua?
Seria ela o caminho da garça
Ou talvez o caminho da praça?
Qual seria a graça de uma rua sem praça.....

 


Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Curvas

E ao cair da alvorada ela vem
E me cobre com o seu manto dourado
E o perfume dos deuses me possui
Em chamas de eterno sabor.
Seu corpo com curvas que me lembram
Os caminhos da eternidade.
Você me embriaga com seu sorriso que mais parece.....

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Revelia

Apesar das densas nuvens negras
Que povoam o céu dos seus pensamentos.
Mesmo assim o sol....

Poesia de Quinta na Usina; Luís de Camões:

 



011

Tomou-me vossa vista soberana adonde tinha armas mais à mão,
por mostrar que quem busca defensão contra esses belos olhos, que se engana.
Por ficar da vitória mais ufana, deixou-me armar primeiro da Razão; 
cuidei de me salvar, mas foi em vão,
que contra o Céu não val defensa humana.
Mas porém se vos tinha prometido o vosso alto destino esta vitória,
ser-vos tudo bem pouco está sabido.
Que, posto que estivesse apercebido, não levais de vencer-me grande 
glória: maior a levo eu de ser vencido.

Poesia de Quinta na Usina: Luís de Camões:

 



020

Transforma se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar; não tenho, 
logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sòmente pode descansar, pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, 
assi co a alma minha se conforma,
está no pensamento como ideia:
o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma.

Poesia de Quinta na Usina: Luís de Camões:

 



090

Um mover d'olhos, brando e piadoso, sem ver de quê; 
um riso brando e honesto, quase forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;
um despejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; 
üa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo e gracioso;
um encolhido ousar; üa brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento;
esta foi a celeste fermosura da minha Circe, e o mágico veneno 
 que pôde transformar meu pensamento.



Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos:

 




MEDITANDO

Penso em venturas! A alma do homem pensa Sempre em venturas! 
Sorte do homem! O homem Há de embalar eternamente a crença
Sem ter grilhões e sem ter leis que o domem!
Punjam -no os vermes da Desgraça, assomem Descrenças, 
surjam tédios na Descrença, Luta, e morrem os vermes que o consomem, 
Vence, e por fim, nada há que o abata e o vença!
Por isso, poeta, eu penso na Ventura!
E o pensamento, na Suprema Altura
Sinto, no imenso Azul do Firmamento
Ir rolando pelo ouro das estrelas,
E esse ouro santo vir rolando pelas
Trevas profundas do meu pensamento!

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos:

 


SONETO

Para que nesta vida o espírito esfalfaste Em vãs meditações, 
homem meditabundo?! Escalpelaste todo o cadáver do mundo
E, por fim, nada achaste... e, por fim, nada achaste!
A loucura destruiu tudo que arquitetaste
E a Alemanha tremeu ao teu gemido fundo!...
De que te serviu, pois, estudares, profundo,
O homem e a lesma e a rocha e a pedra e o carvalho e a haste?!
Pois, para penetrar o mistério das lousas, Foi-te mister sondar 
a substância das cousas Construíste de ilusões um mundo diferente,
Desconheceste Deus no vidro do astrolábio E quando a ciência vã te 
proclamava sábio A tua construção quebrou-se de repente!

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos:



O ÉBRIO

Bebi! Mas sei porque bebi!... Buscava Em verdes nuanças de miragens, 
ver Se nesta ânsia suprema de beber, Achava a Glória que ninguém achava!
E todo o dia então eu me embriagava -- Novo Sileno, 
-- em busca de ascender A essa Babel fictícia do Prazer
Que procuravam e que eu procurava.
Trás de mim, na atra estrada que trilhei, Quantos também, 
quantos também deixei, 
Mas eu não contarei nunca a ninguém .
A ninguém nunca eu contarei a história Dos que, como eu, 
foram buscar a Glória E que, como eu, irão morrer também .