quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Poesia De quinta Na Usina:D'Araújo: Reflexão.




A adversidade do homem é tão
incompreensível que nos remete 
a uma reflexão mais profunda.

Na qual, porque alguns atravessam 
o inferno sorrindo enquanto outros 
chegam ao paraíso chorando.

D'Araujo.

Poesia De Quinta Na Usina:Machado de Assis: Ícaro.


1859

Que queres tu que eu te peça?
Um olhar que não consola?
Podes guardar essa esmola
Para quem ta for pedir,
A um olhar de volúpia
Que ensina discreto espelho
Queres que eu curve o joelho,
E quebre todo um porvir?
É audaz o pensamento.
Não vês que um olhar é pouco?
Eu fora cobarde e louco
Se te aceitasse um olhar!
A flor da pálida face,
Esse raio luminoso,
É a esperança de um gozo
Que bem se pode evitar.
Este fogo que me impele
Para a esfera dos desejos
Cresce, vigora nos beijos
De uma boca de mulher;
Tem asas como as das águias;
Nem pousa sobre o granito;
Aspira para o infinito;
Pede tudo e tudo quer!
É ambição desmedida?
Prevejo tal pensamento:
A inclinação de um momento
Não me dá direito a mais.
A chama ainda indecisa
Uma hora alimentaste,
E agora que recuaste
Quebras os laços fatais.
Era tarde! As fibras todas
Já vão meio consumidas;
Perdi na vida — mil vidas
Que é preciso resgatar.
Bem vês que a perda foi grande.
Quero um preço equivalente;
Guarda o teu olhar ardente
Que não me paga um olhar.
Alma de fogo encerrada
Em livre, em audaz cabeça
Não pode crer na promessa
Que os olhos, que os olhos dão!
Talvez levada de orgulho
Com este amor insensato
Quer a verdade do fato
Para dá-la ao coração.
E sabes o que eu te dera?
Nem tu calculas o preço...
Olha bem se te mereço
Mais que um só olhar dos teus:
Dera-te todo um futuro
Quebrado a teus pés, quebrado,
Como um mundo derrocado
Caído das mãos de Deus!
Era uma troca por troca,
Ambos perdiam no abraço
Mas estreitava-se o espaço
Que nos separa talvez.
Foras um sonho que eu tive,
Uma esperança bem pura;
Foras meu céu de ventura
Em toda a sua nudez!
Que este fogo que me impele
Para a esfera dos desejos
Cresce, vigora nos beijos
De uma boca de mulher;
Tem asas como as das águias;
Nem pousa sobre o granito;
Aspira para o infinito,

Pede tudo e tudo quer!

Poesia De Quinta Na Usina:Fernando Pessoa:Como uma voz de fonte que cessasse:


Como uma voz de fonte que cessasse
(E uns para os outros nossos vãos olhares
Se admiraram), p'ra além dos meus palmares
De sonho, a voz que do meu tédio nasce
Parou... Apareceu já sem disfarce
De música longínqua, asas nos ares,
O mistério silente como os mares,
Quando morreu o vento e a calma pasce...
A paisagem longínqua só existe
Para haver nela um silêncio em descida
P'ra o mistério, silêncio a que a hora assiste...
E, perto ou longe, grande lago mudo,
O mundo, o informe mundo onde há a vida...

E Deus, a Grande Ogiva ao fim de tudo...

Poesia De Quinta Na Usina:Machado de Assis: Flor da Mocidade:


Eu conheço a mais bela flor;
És tu, rosa da mocidade,
Nascida, aberta para o amor.
Eu conheço a mais bela flor.
Tem do céu a serena cor,
E o perfume da virgindade.
Eu conheço a mais bela flor,
És tu, rosa da mocidade.
Vive às vezes na solidão,
Como filha da brisa agreste.
Teme acaso indiscreta mão;
Vive às vezes na solidão.
Poupa a raiva do furacão
Suas folhas de azul-celeste.
Vive às vezes na solidão,
Como filha da brisa agreste.
Colhe-se antes que venha o mal,
Colhe-se antes que chegue o inverno;
Que a flor morta já nada vale.
Colhe-se antes que venha o mal.
Quando a terra é mais jovial
Todo o bem nos parece eterno.
Colhe-se antes que venha o mal,

Colhe-se antes que chegue o inverno.


Texto-fonte: Falenas:
Obra Completa, Machado de Assis, vol. II,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Publicado originalmente no Rio de Janeiro, por B.-L. Garnier, em 1870.

Poesia De quinta Na Usina: Fernando Pessoa:110:


" Cada qual tem o seu álcool. Tenho álcool bastante em existir. 
Bêbado de me sentir, vagueio
e ando certo. Se são horas, recolho ao escritório como qualquer outro. 
Se não são horas, vou
até o rio fitar o rio, como qualquer outro. Sou igual. 
E por detrás de isso, céu meu, constelome

às escondidas e tenho o meu infinito."









Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares
Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~magno/

Poesia De quinta Na usina: D'Araújo: Avesso:



A réstia que corta o horizonte, 


na linha reta do meu pensar,

Me da o repouso do aconchego do colo da vida,

que escorrega nas mãos do falso destino, de menino travesso.



Aceitando o avesso da vida que passa olhando 

as vidraças do tempo que resta, 

nos arreios da testa, 

que separa a visão, da cegueira da alma.

D'Araujo.

Conteúdo do Livro: