quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Incrédulo

Ontem foi o meu hoje mais expressivo
Amanhã talvez seja o meu ontem mais transgressivo.
Quem sabe se o ontem o hoje e o amanhã
Não estão juntos
Na mesma dança......

poema na integra no livro "O Grito da Alma"

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Valores

Às vezes, atropelamos o tempo

E passamos a nos deparar,

Somente com coisas e valores

Que nos parece tão grandiosos.

 

E com o passar do infalível tempo

Passamos a valorizar

Aquelas pequenas coisas

Que num passado recente

Eram consideradas insignificantes e fúteis.....


poema na integra no livro "O Grito da Alma"

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Cego a claridade oposta

No olho de um furacão cego

Feito prego que não aprendeu

A desviar das corrente que lhe prendem

Ao tempo passado, sem presente.

 

Correndo com medo do futuro

Atrás do muro com a ferrugem do infalível tempo

Já não tenho a dimensão exata se este é o meu fim

Ou apenas o recomeço.....


poema na integra no livro "O Grito da Alma"

Poesia de Quinta na Usina: Luís de Camões:

 



019

Tempo é já que minha confiança se desça de üa falsa opinião;
mas Amor não se rege por razão; não posso perder, logo, a esperança.
A vida, si; que üa áspera mudança não deixa viver tanto um coração. 
E eu na morte tenho a salvação?
Si, mas quem a deseja não a alcança.
Forçado é logo que eu espere e viva. Ah! dura lei de Amor, 
que não consente quietação nüa alma que é cativa!
Se hei de viver, enfim, forçadamente, para que quero a glória fugitiva
de üa esperança vã que me atormente?

Poesia de Quinta na Usina: Luís de Camões:

 



060

Todo o animal da calma repousava, só Liso o ardor dela não sentia;
que o repouso do fogo em que ardia consistia na Ninfa que buscava.
Os montes parecia que abalava o triste som das mágoas que dezia; 
mas nada o duro peito comovia,
que na vontade d'outrem posto estava.
Cansado já de andar pela espessura, no tronco d'üa faia, 
por lembrança, escreveu estas palavras de tristeza:
«Nunca ponha ninguém sua esperança em peito feminil, que, de natura, 
somente em ser mudável tem firmeza».

Poesia de Quinta na Usina: Luís de Camões:

 



069

Tomava Daliana por vingança da culpa do pastor que tanto amava,
casar com Gil vaqueiro; e em si vingava o erro alheio e pérfida esquivança.
A discrição segura, a confiança, as rosas que seu rosto debuxava, o descontentamento 
lhas secava, que tudo muda üa áspera mudança.
Gentil planta disposta em seca terra, lindo fruito de dura mão colhido, 
lembranças d'outro amor, e fé perjura,
tornaram verde prado em dura serra; interesse enganoso, amor fingido, 
fizeram desditosa a fermosura.



Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos:


 



A DOR

Chama-se a Dor, e quando passa, enluta E todo mundo que por ela passa
Há de beber a taça da cicuta E há de beber até o fim da taça!
Há de beber, enxuto o olhar, enxuta
A face, e o travo há de sentir, e a ameaça Amarga dessa desgraçada fruta
Que é a fruta amargosa da Desgraça!
E quando o mundo todo paralisa E quando a multidão toda agoniza,
Ela, inda altiva, ela, inda o olhar sereno
De agonizante multidão rodeada, Derrama em cada boca envenenada 
Mais uma gota do fatal veneno!

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos:

 




TERRA FÚNEBRE

Aqui morreram tantos poetas! Tanta Guitarra morta este lugar encerra!...
Aqui é o Campo-Santo, aqui é a Terra!
Em que a alma chora e em que a Saudade canta!
O caminheiro que o Pesar desterra,
Pare chorando nesta Terra Santa,
E se cantar como a Saudade canta,
O caminheiro fique nesta Terra!
À noute aqui um trovador eterno Chora, abraçado às campas dos poetas, 
-- Esse sombrio trovador é o Inverno!
Aqui é a Terra, onde, ao noturno açoute, Carpem na sombra pássaros ascetas, 
Gemem poetas -- pássaros da Noute!

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos:




SONETO

O sonho, a crença e o amor, sendo a risonha 
Santíssima Trindade da Ventura
Pode ser venturosa a criatura
Que não crê, que não ama e que não sonha?!
Pois a alma acostumada a ser tristonha Pode achar 
por acaso ou porventura Felicidade numa sepultura, 
Contentamento numa dor medonha?!
Há muito tempo, o sonho, do meu seio Partiu num célere arrebatamento
De minha crença arrebentando a grade
Pois se eu não amo e se também não creio De onde me vem este contentamento,
De onde me vem esta felicidade?!