sábado, 10 de abril de 2021

Domingo na Usina: Biografias: Rocha Pombo:

 


Terceiro ocupante da Cadeira 39, eleito em 16 de março de 1933, na sucessão de Alberto de Faria. Bastante adoentado não chegou a tomar posse .
Rocha Pombo (José Francisco da Rocha Pombo) nasceu em Morretes, PR, a 4 de dezembro de 1857, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 26 de junho de 1933. Era filho de Manuel Francisco Pombo e de Angélica da Rocha.
Jornalista, professor, poeta e historiador, iniciou-se cedo no jornalismo ao fundar e dirigir O Povo, em cujas páginas fez as campanhas abolicionista e republicana. Sua colaboração se estendeu a outros órgãos da então província, pela qual foi eleito deputado provincial em 1886.
Mudou-se em 1897 para a Capital Federal, continuando a exercer as profissões de jornalista e de professor. Ingressou por concurso na congregação do Colégio Pedro II e lecionou, também, na Escola Normal.
No Paraná fundaria, em 1912, a Universidade, de vida efêmera.
Em 1900 foi Rocha Pombo admitido como sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Publicou, além de livros de poesias, diversos e importantes livros sobre variados assuntos. Rodolfo Garcia, seu sucessor na Academia, deu o seguinte testemunho sobre a História do Brasil de Rocha Pombo: “Entretanto não há como desconhecer o extraordinário mérito da obra de Rocha Pombo, sua utilidade provada, os serviços prestados aos estudiosos, que a estimam entre todas as congêneres. Se conferidas as estatísticas das bibliotecas, verifica-se que sua História do Brasil é, nessa classe, o livro mais consultado, o mais lido de todos, o que significa popularidade e vale pela mais legítima das consagrações.”
O mesmo autor concluía: “No gênero, a História do Brasil é a mais vasta, a mais considerável de nossa literatura, pela superfície imensa que cobre, das origens do Brasil aos dias presentes.”
O livro em questão foi criticado por João Ribeiro, que o achou “Difuso, frio, raras vezes ameno, de leitura difícil. Entretanto, há grande cópia de informações úteis nele.”

Atualizado em 06/04/2016.
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Domingo na Usina: Biografias: Alberto de Faria:

 


Alberto de Faria, advogado, industrial, ensaísta, biógrafo, crítico literário, nasceu na cidade de Campos, RJ, a 5 de agosto de 1865, filho de Joaquim Fortunato de Faria e Sousa e de D. Francisca Catarina Bourguier, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 29 de novembro de 1931.
Formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo e destacou-se como líder abolicionista e republicano. Fixou-se então em Campinas onde teve banca de advogado com sucesso. Vindo a residir no Rio, prosseguiu na carreira de advogado e foi diretor de empresas comerciais e industriais.
Como resultado de intensas pesquisas publicou a primeira biografia do Visconde de Mauá, em 1926.
Seu filho, Otávio de Faria, foi um romancista que, a exemplo do pai, também pertenceu à Academia Brasileira de Letras. Teve como genros dois notáveis expoentes da cultura brasileira: Afrânio Peixoto e Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde).
Segundo ocupante da cadeira 39, foi eleito em 2 de agosto de 1928, na sucessão de Oliveira Lima, e recebido em 12 de dezembro de 1928 pelo acadêmico Hélio Lobo. Seu sucessor foi Rocha Pombo, que não chegou a tomar posse, e foi sucedido por Rodolfo Garcia.
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Domingo na Usina: Biografias: Oliveira Lima:

 


Oliveira Lima (Manuel de Oliveira Lima), um dos mais notáveis historiadores brasileiros nasceu na capital de Pernambuco em 25 de dezembro de 1867, filho de Luís de Oliveira Lima e Maria Benedita de Oliveira Lima. Faleceu em Washington (Estados Unidos da América), em 24 de março de 1928.
Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, foi educado em Lisboa desde a mocidade. Familiarizou-se com os diplomatas brasileiros que serviam em Portugal, especialmente com Lopes Gama, o Barão de Carvalho Borges e o Barão de Aguiar de Andrada para os quais prestou serviços de cópias de ofícios e notas. Frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa e estudou no Colégio Lazarista o curso de Humanidades. Oliveira Lima aproveitou sua permanência na antiga metrópole para dedicar-se a profundas pesquisas de caráter histórico.
Entrou no serviço diplomático brasileiro em 1890 como Adido à legação em Lisboa e, no ano seguinte, era promovido a Secretário. Mais tarde, sob a chefia do Barão de Itajubá, desenvolveu sua atividade em Berlim. Em 1896 foi transferido para Washington, na qualidade de Primeiro-Secretário, às ordens de Salvador de Mendonça. Já publicara até esse ano três livros: Pernambuco, seu desenvolvimento histórico, Sete anos de República e Aspectos da literatura colonial.
De Washington passou mais tarde para Londres onde conviveu durante algum tempo com Joaquim Nabuco, Eduardo Prado, Graça Aranha e José Carlos Rodrigues.
Nova designação levou Oliveira Lima ao Japão e, em 1904, à Venezuela, nomeação esta que desgostou profundamente o historiador.
Acrescentara à sua bibliografia novas obras: Memória sobre o descobrimento do Brasil, História do reconhecimento do Império, Elogio de F. A. Varnhagen, No Japão e Secretário Del-Rei (peça histórica).
A atividade literária de Oliveira Lima se estendia à colaboração em jornais de Pernambuco e de São Paulo, dando margem à publicação de Pan-Americanismo e Coisas Diplomáticas.
Em 1907 foi nomeado para chefiar a legação do Brasil em Bruxelas, cumulativamente com a da Suécia.
Em 1913 o Senado brasileiro vetou a indicação do nome de Oliveira Lima para a chefia de nossa legação em Londres, sob a acusação de monarquista. O veto se deveu à interferência, naquela Casa, do Senador Pinheiro Machado.
Ficando jubilado, prosseguiu Oliveira Lima no acabamento de seus escritos de natureza histórica, fixando residência em Washington onde teve oportunidade de prestar relevantes serviços na Universidade Católica, à qual legaria sua magnífica biblioteca.
Dom João VI no Brasil, sua obra mais importante já fora publicada em 1909, tendo sido seguida pelo O movimento da Independência (1922).
Segundo opinião de Américo Jacobina Lacombe, “toda a intriga contra Oliveira Lima se fez em torno de dois pontos: o seu monarquismo e os seus ataques à carreira em seus livros”.
A publicação póstuma das Memórias de Oliveira Lima teve enorme repercussão, sobretudo pelas revelações íntimas e apreciações críticas feitas pelo grande historiador pernambucano.
Recebeu o acadêmico Artur Orlando.
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Domingo na Usina: Biografias: Francisco Adolfo de Varnhagen:

 


Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, nasceu em São João de Ipanema, SP, a 17 de fevereiro de 1816. Filho de Frederico Luís Guilherme de Varnhagen e de Maria Flávia de Sá Magalhães, estudou no Real Colégio da Luz em Lisboa, de 1825 a 1832 e, a seguir, ingressou na Academia de Marinha, cujo curso frequentou em 1832 e 1833. Faleceu em Viena, Áustria, a 26 de junho de 1878. É o patrono da cadeira nº 39 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Oliveira Lima.
Tenente de artilharia do exército português aperfeiçoou-se em assuntos de natureza militar e de engenharia. Publicou em 1838 um ensaio intitulado Notícia do Brasil. Colaborou em O Panorama, dirigido pelo grande historiador português Alexandre Herculano. Divulgou, fruto das primeiras notáveis pesquisas sobre a época do descobrimento do Brasil, o Diário de Navegação de Pero Lopes de Sousa. Já licenciado do exército português tornou-se sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (18 de julho de 1840).
Nomeado adido à legação do Brasil em Lisboa, em 1841, foi incumbido de pesquisar documentos sobre a História e a Legislação referentes ao nosso país. Nesse mesmo ano passou a integrar o Imperial Corpo de Engenheiros do exército brasileiro, do qual se desligou três anos depois. Voltou à carreira de diplomata e, em 1854, conseguiu editar a História Geral do Brasil, sem indicação explícita de autoria, assinada apenas “por um sócio do Instituto Histórico do Brasil, natural de Sorocaba.”
Seguiu-se uma série de missões diplomáticas em vários países da América do Sul e, em 1868, em Viena. Representa o Brasil, em 1872 no Congresso Estatístico de São Petersburgo. Em 1877 percorre, no Brasil, o interior das províncias de São Paulo, Goiás e Bahia. É agraciado pelo governo imperial com os títulos de Barão e Visconde de Porto Seguro (1874). No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ocupou os cargos de 1º Secretário e de Diretor da Revista da entidade.
A extensa e bem documentada obra de Varnhagen inclui, entre os mais notáveis de seus escritos, O descobrimento do Brasil, O Caramuru perante a história, Tratado descritivo do Brasil em 1587, História completa das lutas holandesas no Brasil, Épicos brasileiros, Florilégio da poesia brasileira, Amador Bueno, drama histórico, Cancioneiro, Literatura dos livros de cavalaria.
Dele escreveu Oliveira Lima: “Francisco Adolfo de Varnhagen foi por certo o mais notório e o mais merecedor dos estudiosos do passado brasileiro; foi um ardente investigador, um infatigável ressuscitador de crônicas esquecidas nas bibliotecas e de documentos enterrados nos arquivos, um valioso corretor de falsidades e ilustrado conhecedor de fatos. O traço dominante da individualidade de Varnhagen é a paixão da investigação histórica à qual subordinou todas as suas manifestações de escritor.
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Domingo na Usina: Biografias: José Sarney:

 


Sexto ocupante da Cadeira nº 38, eleito em 17 de julho de 1980, na sucessão de José Américo de Almeida e recebido em 6 de novembro de 1980 pelo Acadêmico Josué Montello. Recebeu os Acadêmicos Marcos Vinicios Vilaça e Affonso Arinos de Mello Franco.
José Sarney nasceu em Pinheiro (MA), a 24 de abril de 1930. Filho de Sarney de Araújo Costa e Kyola Ferreira de Araújo Costa. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito do Maranhão. Casado com Marly Macieira Sarney. Filhos: Roseana Sarney Murad, Fernando José Macieira Sarney e José Sarney Filho.
Vida política
– Deputado Federal (1956-59, 1959-63 e 1963-65).

– Governador do Estado do Maranhão (1965-1970).

– Senador da República pelo Maranhão (1971-79 e 1979-85).

– Vice-presidente da República (1985).

– Presidente da República (1985-90).

– Senador da República pelo Amapá (1991-99 ; 1999-2007 e 2007-2015).

– Presidente do Senado Federal (1995-97 ; 2003-05 e 2009-2013).
É o mais longevo político brasileiro, com 60 anos consecutivos de mandatos eletivos e com o maior tempo de mandatos no Senado Federal (39 anos).
Vida literária e cultural
– Membro da Academia Brasileira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Academia Maranhense de Letras, da Academia Brasiliense de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa.
– Redator dos jornais O Imparcial, Combate, Jornal do Dia, Jornal do Povo, O Estado do Maranhão, São Luís, Maranhão (1947-1980). Diretor do Suplemento de Letras e Artes de O Imparcial (1950). Colaborador dos jornais Diário de Pernambuco e Correio do Ceará, das revistas Clã (Ceará), Região (Pernambuco), e Ilha (Maranhão) (1948), do Jornal do Brasil, de O Globo, das revistas Senhor e o Cruzeiro; da Folha de S. Paulo (1982-85 e durante 20 anos consecutivos, de 1991 a 2011) e O Estado do Maranhão.
– Membro do InterAction Council (ex-chefes de Estado e de Governo).
– Doutor Honoris Causa das seguintes universidades: Universidade de Coimbra; Universidade de Moscou; Academia Dako Romana; Universitatea de Vest “Vasile Goldis” Arad; Universidade Federal do Maranhão; Universidade Estadual do Maranhão.
Condecorações
Recebeu, entre outras, as seguintes medalhas: Medalha Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras; Medalha José Bonifácio, do Senado Federal; Medalha do Pacificador, do Ministério do Exército; Medalha da Inconfidência; Medalha do Mérito da Cultura; Medalha do Mérito Mauá; La Médaille de La Ville de Paris.
É ou foi Grão-Mestre e tem Grã-Cruz ou o Grão-Colar das seguintes ordens, entre outras: Ordem Nacional do Mérito; Ordem do Rio Branco; Ordem do Mérito Judiciário; Ordem do Cruzeiro do Sul; Ordem do Congresso Nacional; Ordem do Mérito das Forças Armadas; Ordem do Mérito Militar; Ordem do Mérito Aeronáutico; Ordem do Mérito Naval; Ordem do Mérito das Comunicações; Ordem da Legião de Honra (França); Ordem de Sant’Iago da Espada (Portugal); Ordem Militar de Cristo (Portugal); Orden Del Libertador (Venezuela); Orden del Cóndor de Los Andes (Bolívia); Orden de Bernardo O´Higgins (Chile); Orden El Sol Del Perú; Orden Nacional al Mérito (Equador); Ordem do Mérito da República Italiana; Ordem Orange de Nassau (Holanda); Ordem Nacional Estrela da Romênia; Sagrada Ordem Militar Constantiniana de São Jorge (Casa Real de Bourbon Duas Sicílias).

Atualizado em 01/04/2016.

fonte de origem:

https://www.academia.org.br/academicos/jose-sarney/biografia

Domingo na Usina: Biografias: José Américo de Almeida:

 


Quinto ocupante da Cadeira 38, eleito em 27 de outubro de 1966, na sucessão de Maurício de Medeiros e recebido pelo Acadêmico Alceu Amoroso Lima em 28 de junho de 1967. Recebeu o Acadêmico João Cabral de Melo Neto.
José Américo de Almeida nasceu em Areia, Paraíba, a 10 de janeiro de 1887. Era filho de Inácio Augusto de Almeida e de Josefa Leopoldina Leal de Almeida. Faleceu na cidade de João pessoa a 10 de março de 1980.
Órfão de pai aos 9 anos, o menino foi entregue aos cuidados do tio Padre Odilon Benvindo. José Américo fez seus estudos no Seminário da capital do Estado e no Liceu Paraíbano. Em 1903 ingressou na Faculdade de Direito do Recife e após a formatura foi nomeado para o cargo de promotor público na comarca de Sousa. Em 1911 passou a ocupar as elevadas funções de Procurador Geral do Estado.
A publicação do romance "A bagaceira", em 1928, projetou-lhe o nome em todo o país, com o destaque dado à literatura regionalista que, ainda no século XIX, se concentrara, sobretudo, nas obras de Franklin Távora e de Domingos Olímpio
Em 1922 publicara José Américo as "Reflexões de uma cabra" a que se seguiu "A Paraíba e seus problemas"(1923) obra de grande conteúdo social.
Secretário do Interior e Justiça durante o governo de João Pessoa na Paraíba, teve de enfrentar os conflitos políticos na região de Princesa.
Com a vitória da Revolução de 1930 assumiu, de 1930 a 1934, o Ministério da Viação e Obras Públicas. Um desastre aéreo na cidade de Salvador, em 1932, deixou-o seriamente ferido.
Em 1934 Getúlio Vargas o nomeou para o cargo de Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, que não chegou a exercer. Eleito Senador em 1935,foi depois, designado Ministro do Tribunal de Contas da União.
Depois do êxito de "A bagaceira" publicou, ainda, os romances "O boqueirão"(1935) e "Coiteiros.
Em 1937 foi apresentado como candidato dos partidos governistas à presidência da República, mas o golpe de Estado de 10 de novembro desse ano suprimiu a campanha eleitoral. O Congresso Nacional foi dissolvido e implantado, no país, o Estado Novo.
Em fevereiro de 1945, com uma entrevista ao matutino carioca "Correio da Manhã" José Américo contribuiu decisivamente para pôr fim à ditadura implantada por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937.
Nas eleições de 2 de dezembro de 1945 José Américo foi eleito Senador pelo seu Estado natal. Voltando a ocupar a pasta ministerial da Viação e Obras Públicas em 1951, cargo em que se conservou até o suicídio do Presidente Vargas em de 24 de agosto de 1954.
Entregou-se José Américo à tarefa de escrever as suas memórias e, em 1966, ingressou na Academia Brasileira de Letras, ocupando a vaga deixada pelo trágico falecimento do professor Maurício de Medeiros.
A União Brasileira de Escritores presta-lhe significativa homenagem - em 1977 - como "O Intelectual do Ano".
No ano anterior publicara o homenageado mais um livro de memórias, intitulado "Antes que me esqueça".
Atualizado em 10/07/2017.
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Domingo na Usina: Biografias: Maurício de Medeiros:

 


Quarto ocupante da Cadeira 38, eleito em 28 de abril de 1955, na sucessão do Acadêmico Celso Vieira e recebido pelo Acadêmico Clementino Fraga em 9 de agosto de 1955.
Maurício de Medeiros nasceu na cidade do Rio de Janeiro, RJ, a 14 de julho de 1885. Era filho de José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e de Maria Carolina Ribeiro de Medeiros. Faleceu Maurício na mesma cidade a 23 de junho de 1966.
Um de seus irmãos, Medeiros e Albuquerque, foi figura de relevante destaque nas letras e na história dos primórdios da República no Brasil, tendo ocupado, na década de 1920, a presidência da Academia Brasileira de Letras.
Médico, professor, escritor e político, estudou Maurício de Medeiros no Colégio Pedro II e na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, da qual viria a ser um dos professores catedráticos. Fez cursos de especialização médica na França, nos anos de 1906 e 1907.
De regresso ao Brasil passou a colaborar em alguns periódicos do Rio de Janeiro e de São Paulo, entre os quais a Gazeta de Notícias e o Correio Paulistano - nos anos de 1908 e 1909.
Retomada a atividade jornalística no Brasil em 1920, colaborou nos anos seguintes em A Gazeta, de São Paulo, e em A Noite, Correio da Manhã e Diário Carioca, do Rio de Janeiro.
Envolvendo-se na política foi eleito deputado estadual no Estado do Rio de Janeiro em 1916, e deputado federal em 1921. Voltou a ser eleito para a Câmara dos Deputados em 1927 e 1930.
Em 1950 foi nomeado chefe da delegação brasileira ao I Congresso Mundial de Psiquiatria. Participou, também, dos congressos de Neuropatologia realizados em Roma e Londres, nos anos de 1952 e 1955, respectivamente.
Exerceu o cargo de Ministro da Saúde nos governos de Nereu Ramos e de Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Atualizado em 24/11/2016.
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Domingo na Usina: Biografias: Celso Vieira:

 


Terceiro ocupante da Cadeira 38, eleito em 20 de julho de 1933, na sucessão de Santos Dumont e recebido pelo Acadêmico Aloísio de Castro em 5 de maio de 1934. Recebeu o Acadêmico Vítor Viana.
Celso Vieira (Celso Vieira de Matos Melo Pereira) nasceu na cidade do Recife, PE, em 12 de janeiro de 1878, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19 de dezembro de 1954. Era filho de Rafael Francisco Pereira e de Marcionila Vieira de Melo Pereira. Fez seus primeiros estudos no Ginásio Pais Leme, no Pará onde iniciou, também, o curso de Direito que concluiu no Rio de Janeiro.
Biógrafo, ensaísta e historiador, exerceu na capital do país os cargos públicos de auxiliar do chefe de Polícia no Rio de Janeiro; diretor do gabinete do Ministro da Justiça e Secretário do Tribunal de Apelação. Foi um dos fundadores da Academia Pernambucana de Letras.
Ocupou a cadeira nº 38, da Academia Brasileira de Letras, na vaga decorrente do falecimento de Santos-Dumont que, aliás, não chegara a tomar posse. Teve a recebê-lo, a 5 de maio de 1934, o professor Aloísio de Castro. Presidiu a Academia Brasileira no ano de 1940.
Celso Vieira foi sucedido na Academia Brasileira de Letras, pelo médico e professor Maurício de Medeiros.
Atualizado em 05/04/2016.
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Domingo na Usina: Biografias: Alberto Santos-Dumont:

 


Alberto Santos-Dumont, inventor e aeronauta, nasceu a 20 de julho de 1873 em Santa Luzia do Rio das Velhas, hoje cidade de Santos-Dumont, MG, depois de ter sido denominada cidade de Palmira por dilatados anos. Faleceu em Guarujá, SP, em 23 de julho de 1932.
Era filho do engenheiro francês Henrique Dumont e de D. Francisca de Paula Santos. De família abastada, o jovem Alberto iniciou os estudos no Brasil, mas, ainda muito novo passou a estudar em Paris.
Recebeu a influência da leitura de alguns dos inúmeros romances de Júlio Verne, que empolgaram várias gerações de leitores. Em Paris, fiel leitor do escritor francês, manifestou enorme interesse pela construção de balões. A 18 de setembro de 1898 fez subir ao espaço o primeiro de uma série desses engenhos.
Uma grande vitória foi conseguida em 12 de julho de 1901, quando, partindo de um ponto determinado, conseguiu retornar ao mesmo local da partida. O fato teve grande repercussão e, por não ser francês, recusou Santos-Dumont a cruz da Legião de Honra que lhe foi oferecida. No mês seguinte, o Aeroclube da França concedeu-lhe uma medalha de ouro.
Satisfeito com os resultados conseguidos na dirigibilidade de seus balões, Santos-Dumont, em 19 de outubro de 1901, apresentou-se para disputar o prêmio Deutsch de la Meurthe, cujo itinerário consistia na circunavegação da Torre Eiffel dentro do prazo de trinta minutos. Conseguindo realizar a façanha, o prêmio de 100.000 francos foi dividido pelo vencedor entre os pobres de Paris e os mecânicos que com ele haviam trabalhado na construção dos aparelhos voadores.Por sua vez, o Congresso Brasileiro aprovou a concessão de 100 contos de réis ao aeronauta brasileiro, em lei sancionada pelo Presidente da República, Campos Sales, que enviou a Santos-Dumont o seguinte telegrama:
“Tenho o prazer de informar-vos que, hoje, data memorável para o nosso País, assinei a lei votada pelo Congresso Federal vos concedendo, como prova de reconhecimento nacional, cem contos de réis, em memória do brilhante sucesso que alcançastes no vosso ensaio aeronáutico de 19 de outubro.”
O Aeroclube de Paris ofereceu-lhe um banquete no dia 5 de novembro de 1901. Em 1904 foi editado o seu livro Dans l’air, que, em português, seria divulgado com o título de Os meus balões, em 1938. Em 1905 iniciou Santos-Dumont suas experiências com “o mais pesado do que o ar” - o aeroplano.
No ano seguinte, obteve grande êxito com o aparelho 14-Bis, em experiências no Champ de Bagatelle. Neste local, a 12 de novembro de 1906, sob controle do Aeroclube da França, estabeleceu os primeiros recordes de aviação do mundo.
No dia 19 de outubro de 1913 o Aeroclube da França inaugurou em Saint-Cloud um monumento a Santos-Dumont, representando o lendário Ícaro numa estátua de bronze.
No Segundo Congresso Científico Pan-americano, proferiu, a 4 de janeiro de 1916, uma conferência intitulada – “Como o aeroplano pode facilitar as relações entre as Américas”.
Em 1918 o Governo Brasileiro doou a Santos-Dumont o sítio Cabangu, onde nascera, perto da estação de Palmira, em Minas Gerais. No mesmo ano publica o seu segundo livro, O que eu vi, o que nós veremos.
Em 23 de julho de 1932, aos 59 anos de idade, suicidou-se Santos-Dumont em Guarujá, São Paulo, profundamente traumatizado, ao que se presume, com o desenrolar do movimento revolucionário irrompido a 9 do referido mês, nos Estados de São Paulo e Mato Grosso.
Em 1931 a Academia Brasileira de Letras o elegera para ocupar a cadeira nº 38, vaga pelo falecimento do romancista Graça Aranha. Não chegou a tomar posse, e para sua vaga foi escolhido o escritor Celso Vieira.
A 31 de julho de 1932, a cidade de Palmira teve mudado seu nome para Santos-Dumont. Em 22 de setembro de 1959 foi concedido ao pioneiro da aviação o posto honorífico de Marechal-do-Ar e seu nome continuou a encabeçar a lista de oficiais-aviadores, no Almanaque do Ministério da Aeronáutica.
Segundo ocupante da Cadeira 38, foi eleito em 4 de junho de 1931, na sucessão de Graça Aranha, e não chegou a tomar posse.
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Contos do Sábado na Usina: Rubem Fonseca: Passeio noturno - Parte 1:



Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando impostação de voz, a música quadrifônica do quarto do meu filho. Você não vai largar essa mala?, perguntou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar.
Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o volume de pesquisas sobre a mesa, não via as letras e nÚmeros, eu esperava apenas. Você não pára de trabalhar, aposto que os teus sócioS não trabalham nem a metade e ganham a mesma coisa, entrou a minha mulher na sala com o copo na mão, já posso mandar servir o jantar?
A copeira servia à francesa, meus filhos tinham crescido, eu e a minha mulher estávamos gordos. É aquele vinho que você gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha mulher nada pediu,
nós tínhamos conta bancária conjunta.
Vamos dar uma volta de carro?, convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da novela. Não sei que graça você acha em passear de carro todas as noites, também aquele carro custou uma fortuna, tem que ser usado, eu é que cada vez me apego menos aos bens materiais, minha mulher respondeu.
Os carros dos meninos bloqueavam a porta da garagem, impedindo que eu tirasse o meu. Tirei os carros dos dois, botei na rua, tirei o meu, botei na rua, coloquei os dois carros novamente na garagem, fechei a porta, essas manobras todas me deixaram levemente irritado, mas ao ver os pára-choques salientes do meu carro, o reforço especial duplo de aço cromado, senti o coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na ignição, era um motor poderoso que gerava a sua força em silêncio, escondido no capô aerodinâmico. Saí, como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser uma rua deserta, nesta cidade que tem mais gente do que moscas. Na avenida Brasil, ali não podia ser, muito movimento. Cheguei numa rua mal iluminada, cheia de árvores escuras, o lugar ideal. Homem ou mulher? Realmente não fazia grande diferença, mas não aparecia ninguém em condições, comecei a ficar tenso, isso sempre acontecia, eu até gostava, o alívio era maior. Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher fosse menos emocionante, por ser mais fácil. Ela caminhava apressadamente, carregando um embrulho de papel ordinário, coisas de padaria ou de quitanda, estava de saia e blusa, andava depressa, havia árvores na calçada, de vinte em vinte metros, um interessante problema a exigir uma grande dose de perícia. Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu que eu ia para cima dela quando ouviu o som da borracha dos pneus batendo no meio-fio. Peguei a mulher acima dos joelhos, bem no meio das duas pernas, um pouco mais sobre a esquerda, um golpe perfeito, ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões, dei uma guinada rápida para a esquerda, passei como um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantando, de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em nove segundos. Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar, colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casa de subúrbio.
Examinei o carro na garagem. Corri orgulhosamente a mão de leve pelos pára-lamas, os pára-choques sem marca. Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha habilidade no uso daquelas máquinas.
A família estava vendo televisão. Deu a sua voltinha, agora está mais calmo?, perguntou minha mulher, deitada no sofá, olhando fixamente o vídeo. Vou dormir, boa noite para todos, respondi, amanhã vou ter um dia terrível na companhia.

Contos do Sábado na Usina: Lygia Fagundes Telles:





Aloja de antiguidades tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus panos embolorados e livros comidos de traça. Com as pontas dos dedos, o homem tocou numa pilha de quadros. Uma mariposa levantou vôo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas.
-   Bonita imagem - disse ele.
A velha tirou um grampo do coque, e limpou a unha do polegar. Tornou a enfiar o grampo no cabelo.
-   É um São Francisco.
Ele então voltou-se lentamente para a tapeçaria que tomava toda a
parede no fundo da loja. Aproximou-se mais. A velha aproximou-se também.
-   Já vi que o senhor se interessa mesmo é por isso... Pena que esteja nesse estado.
O homem estendeu a mão até a tapeçaria, mas não chegou a tocá-la.
-   Parece que hoje está mais nítida...
-   Nítida? - repetiu a velha, pondo os óculos. Deslizou a mão pela superfície puída. - Nítida, como?
-   As cores estão mais vivas. A senhora passou alguma coisa nela?
A velha encarou-o. E baixou o olhar para a imagem de mãos decepadas. O homem estava tão pálido e perplexo quanto a imagem.
-   Não passei nada, imagine... Por que o senhor pergunta?
-   Notei uma diferença.
-   Não, não passei nada, essa tapeçaria não agüenta a mais leve escova, o senhor não vê? Acho que é a poeira que está sustentando o tecido - acrescentou, tirando novamente o grampo da cabeça. Rodou-o entre os dedos com ar pensativo. Teve um muxoxo: - Foi um desconhecido que trouxe, precisava muito de dinheiro. Eu disse que o pano estava por demais estragado, que era difícil encontrar um comprador, mas ele insistiu tanto... Preguei na parede e ficou. Mas faz anos isso. E o tal moço nunca mais me apareceu.
-   Extraordinário...
A velha não sabia agora se o homem se referia à tapeçaria ou ao caso que acabara de lhe contar. Encolheu os ombros. Voltou a limpar as unhas com o grampo.
-   Eu poderia vendê-la, mas quero ser franca, acho que não vale mesmo a pena. Na hora que se despregar, é capaz de cair em pedaços.
O homem acendeu um cigarro. Sua mão tremia. Em que tempo, meu Deus! em que tempo teria assistido a essa mesma cena. E onde?...
Era uma caçada. No primeiro plano, estava o caçador de arco retesado, apontando para uma touceira espessa. Num plano mais profundo, o segundo caçador espreitava por entre as árvores do bosque, mas esta era apenas uma vaga silhueta, cujo rosto se reduzira a um esmaecido contorno. Poderoso, absoluto era o primeiro caçador, a barba violenta como um bolo de serpentes, os músculos tensos, à espera de que a caça levantasse para desferir-lhe a seta.
O homem respirava com esforço. Vagou o olhar pela tapeçaria que tinha a cor esverdeada de um céu de tempestade. Envenenando o tom verde-musgo do tecido, destacavam-se manchas de um negro-violáceo e que pareciam escorrer da folhagem, deslizar pelas botas do caçador e espalhar-se no chão como um líquido maligno. A touceira na qual a caça estava escondida também tinha as mesmas manchas e que tanto podiam fazer parte do desenho como ser simples efeito do tempo devorando o pano.
-   Parece que hoje tudo está mais próximo - disse o homem em voz baixa. - É como se... Mas não está diferente?
A velha firmou mais o olhar. Tirou os óculos e voltou a pô-los.
-   Não vejo diferença nenhuma.
-   Ontem não se podia ver se ele tinha ou não disparado a seta...
-   Que seta? O senhor está vendo alguma seta?
-   Aquele pontinho ali no arco... A velha suspirou.
-   Mas esse não é um buraco de traça? Olha aí, a parede já está aparecendo, essas traças dão cabo de tudo - lamentou, disfarçando um bocejo. Afastou-se sem ruído, com suas chinelas de lã. Esboçou um gesto distraído: - Fique aí à vontade, vou fazer meu chá.
O homem deixou cair o cigarro. Amassou-o devagarinho na sola do sapato. Apertou os maxilares numa contração dolorosa. Conhecia esse bosque, esse caçador, esse céu - conhecia tudo tão bem, mas tão bem! Quase sentia nas narinas o perfume dos eucaliptos, quase sentia morder-lhe a pele o frio úmido da madrugada, ah, essa madrugada! Quando? Percorrera aquela mesma vereda, aspirara aquele mesmo vapor que baixava denso do céu verde... Ou subia do chão? O caçador de barba encaracolada parecia sorrir perversamente embuçado. Teria sido esse caçador? Ou o companheiro lá adiante, o homem sem cara espiando por entre as árvores? Uma personagem de tapeçaria. Mas qual? Fixou a touceira onde a caça estava escondida. Só folhas, só silêncio e folhas empastadas na sombra. Mas, detrás das folhas, através das manchas pressentia o vulto arquejante da caça. Compadeceu-se daquele ser em pânico, à espera de uma oportunidade para prosseguir fugindo. Tão próxima a morte! O mais leve movimento que fizesse, e a seta... A velha não a distinguira, ninguém poderia percebê-la, reduzida como estava a um pontinho carcomido, mais pálido do que um grão de pó em suspensão no arco.
Enxugando o suor das mãos, o homem recuou alguns passos. Vinha-lhe agora uma certa paz, agora que sabia ter feito parte da caçada. Mas essa era uma paz sem vida, impregnada dos mesmos coágulos traiçoeiros da folhagem.
Cerrou os olhos. E se tivesse sido o pintor que fez o quadro? Quase todas as antigas tapeçarias eram reproduções de quadros, pois não eram?
Pintara o quadro original e por isso podia reproduzir, de olhos fechados, toda a cena nas suas minúcias: o contorno das árvores, o céu sombrio, o caçador de barba esgrouvinhada, só músculos e nervos apontando para a touceira... "Mas se detesto caçadas! Por que tenho que estar aí dentro?"
Apertou o lenço contra a boca. A náusea. Ah, se pudesse explicar toda essa familiaridade medonha, se pudesse ao menos... E se fosse um simples espectador casual, desses que olham e passam? Não era uma hipótese? Podia ainda ter visto o quadro no original, a caçada não passava de uma ficção. "Antes do aproveitamento da tapeçaria..." - murmurou, enxugando os vãos dos dedos no lenço.
Atirou a cabeça para trás como se o puxassem pelos cabelos, não, não ficara do lado de fora, mas dentro, encravado no cenário! E por que tudo parecia mais nítido do que na véspera, por que as cores estavam mais fortes apesar da penumbra? Por que o fascínio que se desprendia da paisagem vinha agora assim vigoroso, rejuvenescido?...
Saiu de cabeça baixa, as mãos cerradas no fundo dos bolsos. Parou meio ofegante na esquina. Sentiu o corpo moído, as pálpebras pesadas. E se fosse dormir? Mas sabia que não poderia dormir, desde sentia a insônia a segui-lo na mesma marcação da sua sombra. Levantou a gola do paletó. Era real esse frio? Ou a lembrança do frio da tapeçaria? "Que loucura!... E não estou louco", concluiu num sorriso desamparado. Seria uma solução fácil. "Mas não estou louco."
Vagou pelas ruas, entrou num cinema, saiu em seguida e quando deu acordo de si, estava diante da loja de antiguidades, o nariz achatado na vitrina, tentando vislumbrar a tapeçaria lá no fundo.
Quando chegou em casa, atirou-se de bruços na cama e ficou de olhos escancarados, fundidos na escuridão. A voz tremida da velha parecia vir de dentro do travesseiro, uma voz sem corpo, metida em chinelas de lã: "Que seta? Não estou vendo nenhuma seta..." Misturando-se à voz, veio vindo o murmurejo das traças em meio de risadinhas. O algodão abafava as risadas que se entrelaçaram numa rede esverdinhada, compacta, apertando-se num tecido com manchas que escorreram até o limite da tarja. Viu-se enredado nos fios e quis fugir, mas a tarja o aprisionou nos seus braços. No fundo, lá no fundo do fosso, podia distinguir as serpentes enleadas num verde-negro.
Apalpou o queixo. "Sou o caçador?" Mas ao invés da barba encontrou a viscosidade do sangue.
Acordou com o próprio grito que se estendeu dentro da madrugada.
Enxugou o rosto molhado de suor. Ah, aquele calor e aquele frio! Enrolou-se nos lençóis. E se fosse o artesão que trabalhou na tapeçaria? Podia revê-la, tão nítida, tão próxima que, se estendesse a mão, despertaria a folhagem. Fechou os punhos. Haveria de destruí-la, não era verdade que além daquele trapo detestável havia alguma coisa mais, tudo não passava de um retângulo de pano sustentado pela poeira. Bastava soprá-la, soprá-la!
Encontrou a velha na porta da loja. Sorriu irônica:
-   Hoje o senhor madrugou.
-   A senhora deve estar estranhando, mas...
-Já não estranho mais nada, moço. Pode entrar, pode entrar, o senhor conhece o caminho...
"Conheço o caminho" - murmurou, seguindo lívido por entre os móveis. Parou. Dilatou as narinas. E aquele cheiro de folhagem e terra, de onde vinha aquele cheiro? E por que a loja foi ficando embaçada, lá longe? Imensa, real a tapeçaria a se alastrar sorrateiramente pelo chão, pelo teto, engolindo tudo com suas manchas esverdinhadas. Quis retroceder, agarrou-se a um armário, cambaleou resistindo ainda e estendeu os braços até a coluna. Seus dedos afundaram por entre galhos e resvalaram pelo tronco de uma árvore, não era uma coluna, era uma árvore! Lançou em volta um olhar esgazeado: penetrara na tapeçaria, estava dentro do bosque, os pés pesados de lama, os cabelos empastados de orvalho. Em redor, tudo parado. Estático. No silêncio da madrugada, nem o piar de um pássaro, nem o farfalhar de uma folha. Inclinou-se arquejante. Era o caçador? Ou a caça? Não importava, não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado?... Comprimiu as palmas das mãos contra a cara esbraseada, enxugou no punho da camisa o suor que lhe escorria pelo pescoço. Vertia sangue o lábio gretado.
Abriu a boca. E lembrou-se. Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor!
"Não..." - gemeu, de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração.