segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Crônicas De Segunda Na Usina:Machado de Assis: Sufrágios pelo rei de Portugal:


16 DE DEZEMBRO DE 1861.
A lei das condecorações – O sr. Ministro do Império – O fim do
decreto – Escola-normal de teatro – Nada de concorrência –
Os fins do teatro – Sufrágios pelo rei de Portugal.
Dizia um filósofo antigo que as leis eram as coroas das cidades.
Para caracterizá-las assim deve supor-se que leis sejam boas e
sérias. As leis más ou burlescas não podem ser contadas no número
das que tão pitorescamente designa o pensador a que me refiro.
A folha oficial deu a público um decreto que reúne as duas
condições: de abusivo e de ridículo; é o decreto que regula a
concessão de condecorações. A imprensa impugnou o ato
governamental, e à folha oficial foram ter algumas respostas, com
que se procurou tornar a coisa séria.
Mas se a coisa era burlesca e má, má e burlesca ficou; as
interpretações dos sacerdotes não trouxeram outra convicção ao
espírito do vulgo. Devo todavia notar que a má impressão produzida
pelo regulamento das condecorações diminuiria se tivesse atendido
para o nome do ministro que firmou o decreto.
Benza-o Deus, o Sr. Ministro do Império não é, nunca foi, e muito
menos espera ser uma águia. Adeja na sua esfera comum, tem por
horizonte a beira dos telhados da sua secretária, e deixa as nuvens e
os espaços largos a quem envergar asas de maiores dimensões que
as suas.
Isto no gabinete, isto na tribuna; o homem da palavra luta de
mediocridade com o homem da pena, e, força é dizer, quando este
parece que suplanta aquele, aquele vence a este, para de novo ser
vencido.
Por isso há de dar água pela barba a quem descobrir qual dos dois é
mais vulgar.
Se tivesse atendido a esta circunstância, o pasmo não teria sido tão
grande, porque está escrito que o fruto participa das qualidades da
árvore, e o tal decreto devia doer mais ao Sr. Ministro do que se
pensa. S. Excia. levou seu tempo a trabalhar naquela obra, não
comunicou a ninguém a novidade que ia dar, pelo menos não houve
esse zum-zum que precede, as mais das vezes, aos atos do poder, e
um belo dia disse consigo: - “Vou causar uma surpresa a estes
queridos fluminenses: amanhã pensam ler na folha oficial uma
cataplasma árida do expediente dos meus colegas, e eu dou-lhes
este acepipe preparado por minhas bentas mãos”. E publicou-se o
regulamento.
Ora, cuidar que depois da sua obra a musa da história o receberia
nos braços, e ver que ele teve o mais triste dos acolhimentos, o do
ridículo, é um transe duro de sofrer, e maior do que se houvesse
ligado pouca importância ao resultado das suas lucubrações.
Cada ministro gosta de deixar entre outros trabalhos, um que
especifique o seu nome no catálogo dos administradores.
A matéria das condecorações seduziu o Sr. Ministro do Império ;
datavam de longe os decretos que a regulavam, o Sr. Ministro quis
reunir esses retalhos para fazer o seu manto de glória, e organizou
um regulamento geral.
O primeiro artigo desse regulamento espantou a todos, porque exigiu
20 anos de serviços não remunerados, para concessão de uma
condecoração, era murar a grande porta das graças, e fazia admirar
que o governo com as próprias mãos quebrasse uma das suas boas
armas eleitorais.
O art. 9.º restabeleceu os ânimos; muravam a grande porta, é
verdade, mas abriam um largo corredor, ou antes, reconheciam e
legalizavam essa via de comunicação aberta pelo abuso.
O governo quis ser esperto, mas o público não se deixou cair no laço
armado à sua boa fé.
Não vá agora o leitor pensar que me pronuncio assim porque
considero a concessão de graças o sumo bem que pode desejar toda
a ambição do coração humano!Deus me absolva se peco, mas eu não
penso assim. O que, porém, cumpre dizer em honra da verdade, é
que o decreto de 7 de dezembro é uma lei manca e burlesca.
Entre os atos de nulo valor do governo ocupa esse um lugar distinto.
Oxalá que ande ele melhor avisado na organização de uma escola
normal de teatro, sobre o que está uma comissão encarregada de
dar o seu parecer.
Espera-se com ânsia, e pela minha parte, com fé, o resultado do
estudo da comissão, porque a matéria apesar de importante não foi
até aqui estudada.
Entretanto, antes que tenha aparecido o trabalho oficial, já uma
opinião se manifestou nas colunas do “Correio Mercantil”.
Essa opinião sinto dizê-la, devia ser a última lembrada, se merecesse
ser lembrada.
A doutrina liberal de concorrência aplicada à espécie prejudica o
ponto essencial da questão, e que se tem em vista atingir.
Criar no teatro uma escola de arte, de língua e de civilização, não é
obra de concorrência, não pode estar sujeita a essa mil
eventualidades que têm tornado, entre nós, o teatro uma coisa difícil
e a arte uma profissão incerta.
É na ação governamental, nas garantias oferecidas pelo poder, na
sua investigação imediata, que existem as probabilidades de uma
criação verdadeiramente séria e seriamente verdadeira.
Uma legislação emanada da autoridade, a reunião dos melhores
artistas, a escolha dos mestres de ensino, a criação de escolas
elementares de ensino, onde se aprenda arte e língua, duas coisas
muitas vezes ausentes de nossas cenas, a boa remuneração ao
trabalho dos compositores, um júri de julgamento de peças, em boas
bases, ficando extinto o conservatório, tudo isto sem descuidar-se na
flutuação das receitas, tais são os fundamentos, não de um teatroescola,
mas do teatro, na sua acepção mais abstrata.
Virá o estímulo, os outros aprenderão no primeiro, e arte torna-se
um fato, uma coisa real.
Mas deixar à luta individual a criação de uma escola nas condições
exigidas, equivale a não criar coisa nenhuma. E se alguma coisa se
fizer há de ser em demasia lento.
Não, o teatro não é uma indústria, como diz a opinião a que me
refiro; não nivelemos assim as idéias e as mercadorias.
O teatro não é um bazar, e se é, que estranhas mercadorias são
estas, chamadas Othelo, Athalia, Tartufo, Marion Delorme e Frei Luiz
de Souza, e como devem soar mal, nos centros comerciais, os nomes
de Shakespeare, Racine, Molière, Victor Hugo e Almeida Garrett.
Não é o teatro uma escola de moral? Não é o palco um púlpito?
Diz Victor Hugo no prefácio da Lucrecia Borgia: “O teatro é uma
tribuna, o teatro é um púlpito. O drama, sem sair dos limites
imparciais da arte, tem uma missão nacional, uma missão social e
uma missão humana. Também o poeta tem cargo de almas. Cumpre
que o povo não saia do teatro sem levar consigo alguma moralidade
austera e profunda. A arte só, a arte pura, a arte propriamente dita,
não exige tudo isso do poeta; mas no teatro não basta preencher as
condições da arte.”
Estou certo de que a comissão e o governo não entregarão à
concorrência a criação de uma escola normal de teatro. Isto no
pressuposto de que a nomeação da comissão não foi uma fantasia do
autor do decreto das graças.
Dito isto, passemos a outras coisas. Mas o quê?Depois da minha
última revista, nada se deu que mereça uma menção ou um
comentário.
O que de mais notável sei, é que se continua a celebrar missas e
ofícios fúnebres pelo rei D. Pedro V; na sexta-feira foi o do cônsul de
Portugal, hoje é o da sociedade Portuguesa de Beneficência
Dezesseis de Setembro, o da Dezoito de Julho, o da Igualdade e
Beneficência, e de uma comissão da Prainha.
Folgo por ver que nestas homenagens prestadas à majestade morta,
fala menos o ânimo dos vassalos que o coração dos amigos e

admiradores das virtudes daquele ilustre soberano.

Crônicas de Segunda Na Usina: lima Barreto: Maio:


Estamos em maio, o mês das flores, o mês sagrado pela poesia. Não é sem emoção que o vejo entrar. Há em minha alma um renovamento; as ambições desabrocham de novo e, de novo, me chegam revoadas de sonhos. Nasci sob o seu signo, a treze, e creio que em sexta-feira; e, por isso, também à emoção que o mês sagrado me traz, se misturam recordações da minha meninice. 
Agora mesmo estou a lembrar-me que, em 1888, dias antes da data áurea, meu pai chegou em casa e disse-me: a lei da abolição vai passar no dia de teus anos. E de fato passou; e nós fomos esperar a assinatura no largo do Paço. 
- Na minha lembrança desses acontecimentos, o edifício do antigo paço, hoje repartição dos Telégrafos, fica muito alto, um sky-scraper; e lá de uma das janelas eu vejo um homem que acena para o povo. 
Não me recordo bem se ele falou e não sou capaz de afirmar se era mesmo o grande Patrocínio. 
Havia uma imensa multidão ansiosa, com o olhar preso às janelas do velho casarão. Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com lenço, vivas... 
Fazia sol e o dia estava claro. Jamais, na .minha vida, vi tanta alegria. Era geral, era total; e os dias que se seguiram, dias de folganças e satisfação, deram-me uma visão da vida inteiramente festa e harmonia. 
Houve missa campal, no Campo de São Cristóvão. Eu fui também com meu pai; mas pouco me recordo dela, a não ser lembrar-me que, ao assisti-la, me vinha aos olhos a Primeira missa, de Vitor Meireles. Era como se o Brasil tivesse sido descoberto outra vez... Houve o barulho de bandas de músicas, de bombas e girândolas, indispensável aos nossos regozijos; e houve também préstitos cívicos. Anjos despedaçando grilhões, alegrias toscas passaram lentamente pelas ruas. Construíram-se estrados para bailes populares; houve desfile de batalhões escolares e eu me lembro que vi a princesa imperial, na porta da atual Prefeitura, cercada de filhos, assistindo àquela fieira de numerosos soldados desfiar devagar. Devia ser de tarde, ao anoitecer. 
Ela me parecia loura, muito loura, maternal, com um olhar doce e apiedado. Nunca mais a 
vi e o imperador nunca vi, mas me lembro dos seus carros, aqueles enormes carros dourados, puxados por quatro cavalos, com cocheiros montados e um criado à traseira. 
Eu tinha então sete anos e o cativeiro não me impressionava. Não lhe imaginava o horror; não conhecia a sua injustiça. Eu me recordo, nunca conheci uma pessoa escrava. Criado no Rio de Janeiro, na cidade, onde já os escravos rareavam, faltava-me o conhecimento direto da vexatória instituição, para lhe sentir bem os aspectos hediondos. 
Era bom-saber se a alegria que trouxe à cidade a lei da abolição foi geral pelo país. Havia de ser, porque já tinha entrado na consciência de todos a injustiça originária da escravidão. 
Quando fui para o colégio, um colégio público, à rua do Resende, a alegria entre a criançada era grande. Nós não sabíamos o alcance da lei, mas a alegria ambiente nos tinha tomado. 
A professora, Dona Teresa Pimentel do Amaral, uma senhora muito inteligente, a quem muito deve o meu espírito, creio que nos explicou a significação da coisa; mas com aquele feitio mental de criança, só uma coisa me ficou: livre! livre! 
Julgava que podíamos fazer tudo que quiséssemos; que dali em diante não havia mais limitação aos propósitos da nossa fantasia. 
Parece que essa convicção era geral na meninada, porquanto um colega meu, depois de um castigo, me disse: "Vou dizer a papai que não quero voltar mais ao colégio. Não somos todos livres?" 
Mas como ainda estamos longe de ser livres! Como ainda nos enleamos nas teias dos preceitos, das regras e das leis! 
Dos jornais e folhetos distribuídos por aquela ocasião, eu me lembro de um pequeno jornal, publicado pelos tipógrafos da Casa Lombaerts. Estava bem impresso, tinha umas vinhetas elzevirianas, pequenos artigos e sonetos. Desses, dois eram dedicados a José do Patrocínio e o outro à princesa. Eu me lembro, foi a minha primeira emoção poética a leitura dele. Intitulava-se "Princesa e Mãe" e ainda tenho de memória um dos versos: 
"Houve um tempo, senhora, há muito já passado..." 
São boas essas recordações; elas têm um perfume de saudade e fazem com que sintamos a eternidade do tempo. 
Oh! O tempo! O inflexível tempo, que como o Amor, é também irmão da Morte, vai ceifando aspirações, tirando presunções, trazendo desalentos, e só nos deixa na uma essa saudade do passado às vezes composta de coisas fúteis, cujo relembrar, porém, traz sempre  prazer. 
Quanta ambição ele não mata! Primeiro são os sonhos de posição: com os dias e as horas e, a pouco e pouco, a gente vai descendo de ministro a amanuense; depois são os do Amor - oh! como se desce nesses! Os de saber, de erudição, vão caindo até ficarem reduzidos ao bondoso Larousse. Viagens... Oh! As viagens! Ficamos a fazê-las nos nossos pobres quartos, com auxílio do Baedecker e outros livros complacentes. 
Obras, satisfações, glórias, tudo se esvai e se esbate. Pelos trinta anos, a gente que se julgava Shakespeare, está rente que não passa de um "Mal das Vinhas" qualquer; tenazmente, porém, ficamos a viver, -esperando, esperando... o quê? O imprevisto, o que pode acontecer amanhã ou depois. Esperando os milagres do tempo e olhando o céu vazio de Deus ou Deuses, mas sempre olhando para ele, como o filósofo Guyau. 
Esperando, quem sabe se a sorte grande ou um tesouro oculto no quintal? 
E maio volta... Há pelo ar blandícias e afagos; as coisas ligeiras têm mais poesia; os pássaros como que cantam melhor; o verde das encostas é mais macio; um forte flux de vida percorre e anima tudo... 
O mês augusto e sagrado pela poesia e pela arte, jungido eternamente à marcha da Terra, volta; e os galhos da nossa alma que tinham sido amputados - os sonhos, enchem-se de brotos muito verdes, de um claro e macio verde de pelúcia, reverdecem mais uma vez, para de novo perderem as folhas, secarem, antes mesmo de chegar o tórrido dezembro. 
E assim se faz a vida, com desalentos e esperanças, com recordações e saudades, com tolices e coisas sensatas, com baixezas e grandezas, à espera da morte, da doce morte, padroeira dos aflitos e desesperados... 
Feiras e mafuás, 4-5-1911

Crônicas de Segunda Na Usina: Lima Barreto: A mulher brasileira:




É  de uso que, nas sobremesas, se façam brindes em honra ao aniversariante, ao par que se casa, ao infante que recebeu as águas lustrais do batismo, conforme se tratar de um natalício, de um casamento ou batizado. Mas, como a sobremesa é a parte do jantar que predispõe os comensais a discussões filosóficas e morais, quase sempre, nos festins familiares, em vez de se trocarem idéias sobre a imortalidade da alma ou o adultério, como observam os Goncourts, ao primeiro brinde se segue outro em honra à mulher, à mulher brasileira.

Todos estão vendo um homenzinho de pince-nez, testa sungada, metido numas roupas de circunstâncias; levantar-se lá do fim da mesa; e, com uma mão ao cálice, meio suspenso, e a outra na borda do móvel, pesado de pratos sujos, compoteiras de doce, guardanapos, talheres e o resto - dizer: “Peço a palavra"; e começar logo: Minhas senhoras, meus senhores". As conversas cessam; Dona Lili deixa de contar a Dona Vivi a história do seu último namoro; todos se aprumam nas cadeiras; o homem tosse e entra em matéria: “A mulher, esse ente sublime..." E vai por aí, escachoando imagens do Orador familiar, e fazendo citações de outros que nunca leu, exaltando as qualidades da mulher brasileira, quer como mãe, quer como esposa, quer como filha, quer como irmã.

A enumeração não foi completa; é que o meio não lhe permitia completá-la.
É  uma cena que se repete em todos os festivos ágapes familiares, às vezes mesmo nos de alto bordo.
Haverá mesmo razão para tantos gabos? Os oradores terão razão? Vale a pena examinar.
 Não direi. que, como mães, as nossas mulheres não mereçam esses gabos; mas isso não
é  propriedade exclusiva delas e todas as mulheres, desde as esquimós até às australianas, são merecedoras dele. Fora daí, o orador estará com a verdade?

Lendo há dias as Memórias, de Mine. d'Épinay, tive ocasião de mais de uma vez constatar a floração de mulheres superiores naquele extraordinário século XVIII francês.

Não é preciso ir além dele para verificar a grande influência que a mulher francesa tem tido na marcha das idéias de sua pátria.

Basta-nos, para isso, aquele maravilhoso século, onde não só há aquelas que se citam a cada passo, como essa Mine. d'Épinay, amiga de Grimm, de Diderot, protetora de Rousseau, a quem alojou na famosa “Ermitage", para sempre célebre na história das letras; e Mine. du Deffant, que, se não me falha a memória, custeou a impressão do Espírito das leis. Não são unicamente essas. Há mesmo um pululamento de mulheres superiores que influem, animam, encaminham homens superiores do seu tempo. A todo o momento, nas memórias, correspondências e confissões, são apontadas; elas se misturam nas intrigas literárias, seguem os debates filosóficos.

É  uma Mine. de Houdetot; é uma Marechala de Luxemburgo; e até, no fundo da Sabóia, na doce casa de campo de Charmettes, há uma Mine. de Warens que recebe, educa e ama um pobre rapaz maltrapilho, de quem ela faz mais tarde Jean-Jacques Rousseau.

E foi por ler Mine. d'Épinay e recordar outras leituras, que me veio pensar nos calorosos elogios dos oradores de sobremesas à mulher brasileira. Onde é que se viram no Brasil, essa influência, esse apoio, essa animação das mulheres aos seus homens superiores?

É  raro; e todos que o foram, não tiveram com suas esposas, com suas irmãs, com suas mães, essa comunhão nas idéias e nos anseios, que tanto animam, que tantas vantagens trazem ao trabalho intelectual.

Por uma questão qualquer, Diderot escreve uma carta a Rousseau que o faz sofrer; e logo este se dirige a Mme. d'Épinay, dizendo: “Se eu vos pudesse ver um momento e chorar, como seria aliviado!" Onde é que se viu aqui esse amparo, esse domínio, esse ascendente de uma mulher; e, entretanto, ela não era nem sua esposa, nem sua mãe, nem sua irmã, nem mesmo sua amante!

Como que adoça, como que tira as asperezas e as brutalidades, próprias ao nosso sexo, essa influência feminina nas letras e nas artes.

Entre nós, ela não se verifica e parece que aquilo que os nossos trabalhos intelectuais têm de descompassado, de falta de progressão e harmonia, de pobreza de uma alta compreensão da vida, de revolta clara e latente, de falta de serenidade vem daí.

Não há num Raul Pompéia influência da mulher; e cito só esse exemplo que vale por legião. Se houvesse, quem sabe se as suas qualidades intrínsecas de pensador e de artista não nos poderia ter dado uma obra mais humana, mais ampla, menos atormentada, fluindo mais suavemente por entre as belezas da vida?

Como se sente bem a intimidade espiritual, perfeitamente espiritual, que há entre Balzac e a sua terna irmã, Laura Sanille, quando aquele lhe escreve, numa hora de dúvida angustiosa dos seus tenebrosos anos de aprendizagem: "Laura, Laura, meus dois únicos desejos, 'ser célebre e ser amado', serão algum dia satisfeitos?" Há disso aqui?

Se nas obras dos nossos poetas e pensadores, passa uma alusão dessa ordem, sentimos que a coisa não é perfeitamente exata, e antes o poeta quer criar uma ilusão necessária do que exprimir uma convicção bem estabelecida. Seria melhor talvez dizer que a comunhão espiritual, que a penetração de idéias não se dá; o poeta força as entradas que resistem tenazmente.

É  com desespero que verifico isso, mas que se há de fazer? É preciso ser honesto, pelo menos de pensamento...

É   verdade que os homens de inteligência vivem separados do país; mas se há uma pequena minoria que os segue e acompanha, devia haver uma de mulheres que fizesse o mesmo.

Até como mães, a nossa não é assim tão digna dos elogios dos oradores inflamados. A sagacidade e agilidade de espírito fazem-lhes falta completamente para penetrar na alma dos filhos; as ternuras e os beijos são estranhos às almas de cada um. Sonho do filho não é percebido pela mãe; e ambos, separados, marcham no mundo ideal. Todas elas são como aquela de que fala Michelet: "Não se sabe o que tem esse menino. Minha Senhora, eu sei: ele nunca foi beijado".

Basta observar a maneira de se tratarem. Em geral, há jeitos cerimoniosos, escolhas de frases, ocultações de pensamentos; o filho não se anima nunca a dizer francamente o que sofre
ou o que deseja e a mãe não o provoca a dizer.
Sem sair daqui, na rua, no bonde, na barca, poderemos ver a maneira verdadeiramente familiar, íntima, sem morgue nem medo, com que as mães inglesas, francesas e portuguesas tratam os filhos e estes a elas. Não há sombra de timidez e de terror; não há o "senhora" respeitável; é "tu", é “você”.

As vantagens disso são evidentes. A criança habitua-se àquela confidente; faz-se homem e, nas crises morais e de consciência, tem onde vazar com confiança as suas dores, diminuí-las, portanto, afastá-las muito, porque dor confessada é já meia dor e tortura menos. A alegria de viver vem e o sorumbatismo, o mazombo, a melancolia, o pessimismo e a fuga do real vão-se.

Repito: não há tenção de fazer uma mercurial desta crônica; estou a exprimir observações que julgo exatas e constato com raro desgosto. Antes, o meu maior desejo seria dizer das minhas patrícias, aquilo que Bourget disse da missão de Mme. Taine, junto a seu grande marido, isto é, que elas têm cercado e cercam o trabalho intelectual de seus maridos, filhos ou irmãos de uma atmosfera na qual eles se movem tão livremente como se estivessem sós, e onde não estão de fato sós.

Foi, portanto combinado a leitura de uma mulher ilustre com a recordação de um caso corriqueiro da nossa vida familiar que consegui escrever estas linhas. A associação é inesperada; mas não há do que nos surpreender com as associações de idéias.

Vida urbana, 27-4-1911

Crônicas De Segunda Na Usina:A FAMÍLIA QUE PRODUZ A PRÓPRIA COMIDA EM 370 METROS QUADRADOS (2700 KG DE COMIDA)


Hoje em dia, chegar até o final do mês não é fácil por causa do aumento dos custos, da dificuldade de encontrar um emprego e dos salários muito baixos no caso uma pessoa ache uma ocupação. No entanto, a técnica usada poresta família de Los Angeles pode ser um exemplo perfeito de como podemos conseguir sobreviver produzindo o próprio alimento sozinhos e cultivando-o utilizando as mais modernas técnicas.
Nos arredores da capital da Califórnia, nos Estados Unidos, vive a família Dervaes. É uma família que possui um jardim com uma superfície de cerca de 370 metros quadrados. As dimensões são normais, nada de exagerado, mas mesmo com pouco você pode conseguir realizar muita coisa. A cada ano, esta família consegue com seu pedaço de terreno obter uma alta quantidade de comida, o suficiente para se sustentar. Na verdade, são mais de 2000 os vegetais que são cultivados no terreno dos Dervaes. Além disso, podemos especificar uma quantidade elevada de fruta de estação e ovos nascidos graças ás galinhas que pertencem à criação da pensão.

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Números muito interessantes para um grupo de pessoas que podem viver com muito pouco e não precisam de nada mais. A produção dos Dervaes é realmente admirável e alcança números incríveis. Os campos produzem alimentos também, para outras pessoas que pretendem comprá-lo, garantindo uma renda familiar de quase 90.000 reais por ano. Uma técnica que, ao que parece, traz benefícios para a família mas também para os outros.
No super-jardim dos Dervaes há de tudo. A partir de vegetais até as frutas, de ovos de galinha biologicos até as flores comestíveis e o mel. Há algo para todos os gostos e para cada tipo de exigência, com uma longa série deprodutos biológicos e compatíveis com o meio ambiente. Mais de 400 variedades de produtos estão presentes no grande jardim, com preços de venda que são perfeitos se consideramos o seu inquestionável valor, capaz de satisfazer até os paladares mais exigentes.

dervaes
Devemos também mencionar a capacidade da família californiana de minimizar o consumo ambiental e as despesas. Na verdade, os membros da família instalaram vários painéis solares para fazer funcionar as máquinas agrícolas , com energia renovável sempre limpa. A poluição é quase eliminada e os Dervaes não causam nenhum impacto na atmosfera, agindo em nome da limpeza e do respeito pelo ecossistema.
 Os produtos são cultivados de acordo com a estação e sua venda é estritamente reservada para os restaurantes na área, resultando em excelentes ganhos do ponto de vista puramente econômico. Com o excesso de dinheiro, a família pode adquirir bens não produzidos internamente. É suficiente ter experiência, boa vontade e determinação para realizar uma pequena empresa de alimentos através do cultivo das próprias terras.




fonte:http://www.astoupeiras.com/


via-http://dicass.org/?p=7395%2F

Crônicas de segunda na Usina: SARAU SUBURBANO



SARAU SUBURBANO em São Paulo, de casa nova, GIOSTRA LIVRARIA no Bixiga.

***

Olá amigos, seguidores, poetas e público em geral.

Viemos aqui hoje (28/01/20) anunciar oficialmente que a GIOSTRA LIVRARIA, na Rua Rui Barbosa, 201 (ao lado do Teatro Sérgio Cardoso), será a nova casa do SARAU SUBURBANO que comemorada em maio, 10 anos.

Desde quando surgiu, em 4 de Maio de 2010 que o Sarau Suburbano aconteceu na Livraria Suburbano Convicto, que encerrou as atividades em dezembro 2019. Desde então, queríamos definir o novo local, ideia sempre foi seguir no Bixiga, só não imaginamos que continuaríamos numa "LIVRARIA", uma pessoa indicou a GIOSTRI e desde nosso primeiro contato, rolou um entendimento, ontem estive lá em reunião com o produtor da casa e acertamos os detalhes, por isso viemos anunciar.

Será sempre na 2a, segunda-feira de cada mês, a 1a edição na casa nova será dia 10 de FEVEREIRO de 2020.

Avisa geral !!!

Alessandro Buzo

idealizador e apresentador do "Sarau Suburbano"

***

Serviço

Sarau Suburbano no Bixiga, Ano 10.

10 de fevereiro de 2020 - Das 19h30 às 22h

LOCAL: GIOSTRI LIVRARIA

Rua Rui Barbosa, 201

Bixiga

São Paulo - SP

Apresentação: Alessandro Buzo

gratis