quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Poesia de Quinta na Usina: D'Araujo:



 Tardes quentes

Cingiu em mim ò bela flor.
A dor inserta.
A corda presa, a mesa ao relento.
O vento.
O céu azul.
A gloriosa tarde quente,.....

Conteúdo do livro:




Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:


Fiéis cuidadores

Os Livros perdem totalmente a suas
funções, quando condenados a prisão
perpétua do perfilar simétrico de uma
estante.....

Conteúdo do Livro:





Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:


 

O Viajante

Se hoje sou quem sou, é porque me
fizeste assim.
Sigo o meu caminho sem observar o caos
ao meu redor, simplesmente sigo em
frente.
Não me importa aonde vou chegar,
pois o semblante de tristeza na face de
cada ser, já é uma realidade incontestável.
Sigo a velha trilha, deixada ao longo dos
tempos pelos velhos sonhadores como eu,
a observar apenas quantos ainda andam
as cegas, neste horizonte de perdição....

conteúdo do livro:




Poesia de Quinta na Usina: machado de Assis:


  

VII

As flores e os pinheiros
(Tin-Tun-Sing)
Vi os pinheiros no alto da montanha
Ouriçados e velhos;
E ao sopé da montanha, abrindo as flores
Os cálices vermelhos.
Contemplando os pinheiros da montanha,
As flores tresloucadas
Zombam deles enchendo o espaço em torno
De alegres gargalhadas.
Quando o outono voltou, vi na montanha
Os meus pinheiros vivos,
Brancos de neve, e meneando ao vento
Os galhos pensativos.
Volvi o olhar ao sítio onde escutara
Os risos mofadores;
Procurei-as em vão; tinham morrido
As zombeteiras flores.

Poesia de Quinta na Usina: Machado de Assis:

 


 
VIII

Reflexos
(Thu-Fu)

Vou rio abaixo vogando
No meu batel e ao luar;
Nas claras águas fitando,
Fitando o olhar.
Das águas vejo no fundo,
Como por um branco véu,
Intenso, calmo, profundo,
O azul do céu.
Nuvem que no céu flutua,
Flutua n’água também;
Se a lua cobre, à outra lua
Cobri-la vem.
Da amante que me extasia,
Assim, na ardente paixão,
As raras graças copia
Meu coração.

Poesia de Quinta na Usina: Machado de Assis:


Flor e Fruto

A antítese é mair (sic) do que pensaste, amigo.
Está naquela idade em que se busca o abrigo
Do berço contra o sol, do mundo contra o lar;
Antemanhã da vida, hora crepuscular,
Que traz dormente a moça e desperta a menina:
Esta brinca no céu, encarnação divina,
Aquela sonha e crê...quantos sonhos de amor!
São uma e outra a mesma: o fruto sai da flor.
Era a flor perfumosa e bela e delicada,
A sedução da brisa, o amor da madrugada;
Mas nasce o fruto amargo, e traz veneno em si.
Aqui morre a menina e nasce a moça; aqui
Cede a criança-luz o passo à mulher-fogo;
E vai-se o querubim, surge o demônio; 
e logo Da terra faz escrava e quer pisá-la aos pés.
Insurjo-me: serei vassalo mau talvez,
Serei; e ao triste exílio o coração condeno.
Peço a menina-flor, dão-me a mulher-veneno;
Prefiro o meu deserto, a minha solidão:
Ela tem o futuro, e eu tenho o coração.
Bem sabes tu que adoro as louras criancinhas,
E levo a adoração no êxtase. Adivinhas
Que encontro na criança um perfume dos céus
E nela admiro a um tempo a natureza e Deus.
Pois, quando cinjo ao colo uma menina, e penso
Que inda há de ser mulher, sinto desgosto imenso;
Porque pode ser boa, e vítima será,
E, para ser ditosa, há de talvez ser má...
De mim dirás com pena: “Oh! coração vazio!
Cinza que foste luz! lama que foste rio!”
Olha, amigo, a mulher é um ídolo. Tens fé?
Ajoelha e sê feliz; eu contemplo-a de pé.
Cede a Menina e Moça à lei comum: divina
E bela e encantadora enquanto a vês menina;
Moça, transmuda a face e toma um ar cruel:
Desaparece o arcanjo e mostra-se Lusbel.
Amo-a quando é criança, adoro-a quando brinca;
Mas, quando pensativa o rubro lábio trinca,
E os olhos enlanguesce, e perde a rósea cor,
Temo que o fruto-fel surja daquela flor.


Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:



8.

"Vejo-o [o patrão Vasques], vejo os seus gestos de vagar enérgico, 
os seus olhos a pensar para dentro coisas de fora, recebo a perturbação 
da sua ocasião em que lhe não agrado, e a minha alma alegra-se 
com o seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma multidão."

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:



9.

"Ah, compreendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona e necessária, 
mandante e desconhecida. Este homem banal representa a banalidade da Vida. 
Ele é tudo para mim, por fora, porque a Vida é tudo para mim por fora.
E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para mim a vida, 
este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos Douradores, 
representa para mim a Arte. Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, 
porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem aliviar de viver, 
que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar diferente. Sim, 
esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o sentido das coisas, 
a solução de todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que não pode ter solução."

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:



12.

"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. 
O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. 
Faço paisagens com o que sinto."
"De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, 
e a compreensão profunda de estar sentindo...Uma inteligência aguda para me destruir, e um poder de sonho sôfrego de me entreter...Uma vontade morta e uma reflexão que a embala, como a um filho vivo..."

D'Araujo em entrevista para Amanda Martins; Saudades de Pernambuco: "Eu Saí do Nordeste, Mais o Nordeste nuca Saiu de Mim:"