quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo: A vergonha do mundo:



O homem, com sua vasta inteligência imbecilizada      

E a espécie humana nas suas grandes conquistas no espaço

A procura de seres de inteligência superior.

 

Gastam-se bilhões em pesquisas esquizofrênicas

E falsamente evolutivas na indústria aeroespacial

Mas são incapazes de sucumbir

O maior e mais vergonhoso mau da humanidade.

 

A fome e a miséria

Que denigre e mancha a raça

Humana.

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo: Fome:

 


O que é fome para você?

Fome é amar

E não ser correspondido

Suplicar e não ser atendido

 

É correr e não chegar nunca

Ao destino desejado.

Fome é gritar e não ser ouvido

 

É achar que é livre

Mas não poder gozar da liberdade

Ou não saber utilizá-la  

 

Fome é sonhar um sonho falso

É viver sem laços e morrer no abraço

Ou sentir cansaço.

 

Fome é acordar sozinho

E não ter caminho

Por onde seguir

 

Fome é deitar no leito

E pensar a respeito

Da fome que há.

  

Fome é ter comida

E não poder comer  

É chorar sem lágrimas

É gritar sem dor

 

 

 

 

 

 

 

 

É sentir pavor de um dia

Ver que a fome

Está em tudo que há

E que não vai parar.

 

Fome é correr sem direção

É sofrer por uma grande paixão

Fome é justiça tardia

 

É o cair do dia

Com agonia da fome que dá

Ao se lembrar

Da fome que há

E para você o que é fome?

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo: Guerreiro ou menino:



E lá está o guerreiro na sua arena de fogo

Com a sua espada em punho

E um sonho em seu peito.

E lá está o menino no seu jardim de acácias

Com seu brinquedo nas mãos e a certeza na alma.

 

E lá está o guerreiro em sua arena de sonhos.

E lá está o menino com a calma dos deuses.

E lá está o guerreiro como as fúrias das tempestades.

E lá está o menino com sua espada de sonhos.

 

E lá está o guerreiro com seu brinquedo da alma.

E lá está o menino com seu brinquedo

De formas estranhas de frente pra rede

Que divide o sonho da glória do pesadelo da derrota.

 

E lá está o guerreiro que flutua como os deuses

No tapete de fogo, neste eterno jogo.

E lá está o menino príncipe dos sonhos de uns.

E lá está o guerreiro do pesadelo de outros.

 

Lá está o menino guerreiro que não tem inimigo

Ou adversários apenas guerreiros e meninos

Que compartilham dos mesmos sonhos.

E lá está o menino com a calma das tempestades.

E cá estamos nós a lavar nossas almas.

Poesia de Quinta na Usina: (Sonho de uma Noite de Verão) William Shakespeare:



Há quem diga que todas as noites são de sonhos....

Quando penso em você me sinto flutuar,

me sinto alcançar as nuvens,

tocar as estrelas, morar no céu...

 

Tento apenas superar

a imensa saudade que me arrasa o coração,

mas, que vem junto com as doces lembranças do teu ser.

 

Lembrando dos momentos

em que juntos nosso amor se conjugava

em uma só pessoa, nós ...

É através desse tal sentimento, a saudade,

que sobrevivo quando estou longe de você.

Ela é o alimento do amor que encontra-se distante...

 

A delicadeza de tuas palavras

contrasta com a imensidão do teu sentimento.

Meu ciúme se abranda com tuas juras

e promessas de amor eterno.

 

A longa distância apenas serve para unir o nosso amor.

A saudade serve para me dar

a absoluta certeza de que ficaremos para sempre unidos...

 

E nesse momento de saudade,

quando penso em você,

quando tudo está machucando o meu coração

e acho que não tenho mais forças para continuar;

eis que surge tua doce presença,

com o esplendor de um anjo;

e me envolvendo como uma suave brisa aconchegante...

 

 

Tudo isso acontece porque amo e penso em você...

Poesia de Quinta na Usina: William Shakespeare:

 


O tempo é algo que não volta atrás.

Por isso plante seu jardim e decore sua alma,

Ao invés de esperar que alguém lhe traga flores...


O tempo é algo que não volta atrás. Por isso...

Há quem diga que todas as noites são de sonhos.

Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. 

No fundo, isto não tem muita importância.

O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. 

Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, 

em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos: A LÁGRIMA:




-- Faça-me o obséquio de trazer reunidos Clorureto de sódio, água e albumina...
Ah! Basta isto, porque isto é que origina A lágrima de todos os vencidos!
-- A farmacologia e a medicina Com a relatividade dos sentidos 
Desconhecem os mil desconhecidos Segredos dessa secreção divina.
-- O farmacêutico me obtemperou. -- Vem -me então à lembrança o pai ioiô 
Na ânsia psíquica da última eficácia!
E logo a lágrima em meus olhos cai. Ah! Vale mais lembrar-me eu de meu 
Pai, Do que todas as drogas da farmácia!

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos: As Cismas do destino III:



“Homem! por mais que a Idéia deintegres, Nessas perquisições que não têm pausa, 
Jamais, magro homem, saberás a causa De todos os fenômenos alegres! 
Em vão, com a bronca enxada árdega, sondas 
A estéril terra, e a hialina lâmpada oca, Trazes, por perscrutar (oh! ciência louca!) 
O conteúdo das lágrimas hediondas. 
Negro e sem fim é esse em que te mergulhas lugar do Cosmos, onde a dor infrene 
É feita como é feito o querosene Nos recôncavos úmidos das hulhas! 
Porque, para que a Dor perscrutes, fora Mister que, não como és, em síntese, antes Fosses, 
a refletir teus semelhantes, 
A própria humanidade sofredora! 
A universal complexidade é que Ela Compreende. E se, por vezes, se divide, Mesmo ainda assim, 
seu todo não RESIDENCIA No quociente isolado da parcela! 
Ah! Como o ar imortal a Dor não finda! Das papilas nervosas que há nos tatos Veio e vai desde os tempos mais transatos Para outros tempos que hão de vir ainda! 
Como o machucamento das insônias Te estraga, quando toda a estuada Idéia Dás ao sôfrego estudo da ninféia 
E de outras plantas dicotiledôneas! 
A diáfana água alvíssima e a hórrida áscua Que da ígnea flama bruta, estriada, espirra; A formação molecular da mirra, o cordeiro simbólico da Páscoa; 
As rebeladas cóleras que rugem 
No homem civilizado, e a ele se prendem Como às pulseiras que os mascates vendem A aderência teimosa da ferrugem; 
O orbe feraz que bastos jojos acres Produz’a rebelião que na batalha, 
Deixa os homens deitados, sem mortalha, Na sangueira concreta dos massacres; 
Os sanguinolentíssimos chicotes 
Da hemorragia; as nódoas mais espessas, O achatamento ignóbil das cabeças, Que ainda degrada os povos hotentotes; 
O Amor e a Fome, a fera ultriz que o fojo Entra, à espera que a mansa vítima o entre, 
-- Tudo que gera no materno ventre A causa fisiológica do nojo; 
As pálpebras inchadas na vigília, As aves moças que perderam a asa, O fogão apagado de uma casa, Onde morreu o chefe da família; 
O trem particular que um corpo arrasta Sinistramente pela via férrea, 
A cristalização da massa térrea, O tecido da roupa que se gasta; 
A água arbitrária que hiulcos caules grossos Carrega e come; as negras formas feias Dos aracnídeos e das centopéias, 
O fogo-fátuo que ilumina os ossos; 
As projeções flamívomas que ofuscam, Como uma pincelada rembrandtesca, A sensação que uma coalhada fresca 
Transmite às mãos nervosas dos que a buscam; 
O antagonismo de Tífon e Osíris, 
O homem grande oprimindo o homem pequeno A lua falsa de um parasseleno, 
A mentira meteórica do arco-íris; 
Os terremotos que, abalando os solos, Lembram paióis de pólvora explodindo, A rotação dos fluidos produzindo A depressão geológica dos pólos; 
O instinto de procriar, a ânsia legítima Da alma, afrontando ovante aziagos riscos, 
O juramento dos guerreiros priscos Metendo as mãos nas glândulas da vítima; 
As diferenciações que o psicoplasma Humano sofre da mania mística, A pesada opressão característica 
Dos dez minutos de um acesso de asma; 
E, (conquanto contra isto ódios regougues) A utilidade fúnebre da corda 
Que arrasta a rês, depois que a rês engorda, À morte desgraçada dos açougues... 
Tudo isto que o terráqueo abismo encerra Forma a complicação desse barulho Travado entre o dragão do humano orgulho E as forças inorgânicas da terra! 
Por descobrir tudo isso, embalde cansas! Ignoto é o gérmem dessa força ativa Que engendra, em cada célula passiva, A heterogeneidade das mudanças! 
Poeta, feito malsão, criado com os sucos De um leite mau, carnívoro asqueroso, Gerado no atavismo monstruoso 
Da alma desordenada dos malucos; 
Última das criaturasinferiores Governada por átomos mesquinhos, Teu pé mata a uberdade dos caminhos E esteriliza os ventres geradores! 
O áspero mal que a tudo, em torno, trazes, Amálogo é ao que, negro e a seu turno, Traz o ávido filóstomo noturno 
Ao sangue dos mamíferos vorazes! 
Ah! Por mais que, com o espírito, trabalhes A perfeição dos seres existentes, 
Hás de mostrar a cárie dos teus dentes Na anatomia horrenda dos detalhes! 
O Espaço -- esta abstração spencereana Que abrange as relações de coexistência E só! Não tem nenhuma dependência 
Com as vértebras mortais da espécie humana! 
As radiantes elipses que as estrelas Traçam, e ao espectador falsas se antolham São verdades de luz que os homens olham Sem poder, no entretanto, compreendê-las. 
Em vão, com a mão corrupta, outro éter pedes Que essa mão, de esqueléticas falanges, Dentro dessa água que com a vista abranges, Também prova o princípio de Arquimedes! 
A fadiga feroz que te esbordoa 
Há de deixar-te essa medonha marca, Que, nos corpos inchados de anasarca, Deixam os dedos de qualquer pessoa! 
Nem terás no trabalho que tiveste A misericordiosa toalha amiga, 
Que afaga os homens doentes de bexiga E enxuga, à noite, as pústulas da peste! 
Quando chegar depois a hora tranqüila, Tu serás arrastado, na carreira, 
Como um cepo inconsciente de madeira Na evolução orgânica da argila! 
Um dia comparado com um milênio Seja, pois, o teu último Evangelho... 
É a evolução do novo para o velho E do homogêneo para o heterogêneo! 
Adeus! Fica-te aí, com o abdômen largo A apodrecer!... És poeira e embalde vibras! O corvo que comer as tuas fibras 
Há de achar nelas um sabor amargo!”

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos: AS CISMAS DO DESTINO II:



Foi no horror dessa noite tão funérea Que eu descobri, maior talvez que Vinci, 
Com a força visualística do lince,
A falta de unidade na matéria!
Os esqueletos desarticulados, Livres do acre fedor das carnes mortas, 
Rodopiavam, com as brancas tíbias tortas, Numa dança de números quebrados!
Todas as divindades malfazejas,
Siva e Arimã, os duendes, o In e os trasgos, Imitando o barulho dos engasgos,
Davam pancadas no adro das igrejas.
Nessa hora de monólogos sublimes, A companhia dos ladrões da noite, 
Buscando uma taverna que os açoite, Vai pela escuridão pensando crimes.
Perpetravam -se os atos mais funestos, E o luar, da cor de um doente de icterícia,
Iluminava, a rir, sem pudicícia, A camisa vermelha dos incestos.
Ninguém, de certo, estava ali, a espiar-me, Mas um lampião, lembrava ante o meu rosto, 
Um sugestionador olho, ali posto
De propósito, para hipnotizar-me!
Em tudo, então, meus olhos distinguiram Da miniatura singular de uma aspa,
À anatomia mínima da caspa, Embriões de mundos que não progrediram!
Ser cachorro! Ganir incompreendidos Verbos! Querer dizer-nos que não finge, 
E a palavra embrulhar-se na laringe, Escapando-se apenas em latidos!
Despir a putrescível forma tosca, Na atra dissoluçào que tudo inverte, 
Deixar cair sobre a barriga inerte O apetite necrófago da mosca!
A alma dos animais! Pego-a, distingo-a, Acho-a nesse interior duelo secreto
Entre a ânsia de um vocábulo completo E uma expressão que não chegou à língua!
Surpreendo-a em quatrilhões de corpos vivos, Nos antiperistálticos abalos
Que produzem nos bois e nos cavalos A contração dos gritos instintivos!
Tempo viria, em que, daquele horrendo Caos de corpos orgânicos disformes 
Rebentariam cérebros enormes, Como bolhas febris de água, fervendo!
Nessa época que os sábios não ensinam, A pedra dura, os montes argilosos 
Criariam feixes de cordões nervosos
E o neuroplasma dos que raciocinam!
Almas pigméias! Deus subjuga-as, cinge-as À imperfeição! 
Mas vem o Tempo, e vence-O, E o meu sonho crescia nosilâncio,
Maior que as epopéias carolíngias!
Era a revolta trágica dos tipos Ontogênicos mais elementares, 
Desde os foraminíferos dos mares À grei liliputiana dos pólipos.
Todos os personagens da tragédia,
Cansados de viver na paz de Buda,
Pareciam pedir com a boca muda
A ganglionária célula intermédia.
A planta que a canícula ígnea torra,
E as coisas inorgânicas mais nulas
Apregoavam encéfalos, medulas
Na alegria guerreira da desforra!
Os protistas e o obscuro acervo rijo Dos espongiários e dos infusórios 
Recebiam com os seus órgãos sensóricos O triunfo emocional do regozijo.
E apesar de já não ser assim tão tarde, Aquela humanidade parasita,
Como um bicho inferior, berrava, aflita, No meu temperamento de covarde!
Mas, refletindo, a sós, sobre o meu caso Vi que, igual a um amniota subterrâneo, 
jazia atravassada no meu crânio
A intercessão fatídica do atraso!
A hipótese genial do microzima Me estrangulava o pensamento guapo, 
E eu me encolhia todo como um sapo Que tem um peso incômodo por cima!
Nas agonias do delirium -tremens, Os bêbedos alvares que me olhavam, Com os copos cheios esterilizavam A substância prolífica dos sêmens!
Enterravam as mãos dentro das goelas, E sacudidos de um tremor indômito Expeliam, na dor forte do vômito, Um conjunto de gosmas amarelas.
Iam depois dormir nos lupanares Onde, na glória da concupiscência, Depositavam quase sem consciência As derradeiras forças musculares.
Fabricavam destarte os bastodermas, Em cujo repugnante receptáculo Minha perscrutação via o espetáculo De uma progênie idiota de palermas.
Prostituição ou outro qualquer nome, por tua causa, embora o homem te aceite,
É que as mulheres ruins ficam sem leite E os meninos sem pai morrem de fome!
Por que há de haver aqui tantos enterros? Lá no “Engenho” também, a morte é ingrata...
Há o malvado carbúnculo que mata A sociedade infante dos bezerros!
Quantas moças que o túmulo reclama!
E após a podridão de tantas moças, Os porcos espojando-se nas poças Da virgindade reduzida à lama!
Morte, ponto final da última cena, Forma difusa da matéria embele, Minha filosofia te repele,
Meu raciocínio enorme te condena!
Diante de ti, nas catedrais mais ricas, Rolam sem eficácia os amuletos, Oh! Senhora dos nossos esqueletos E das caveiras diárias que fabricas!
E eu desejava ter, numa ânsia rara, Ao pensar nas pessoas que perdera, A inconsciência das máscaras de cera Que a gente prega, como um cordão, na cara!
Era um sonho ladrão de submergir-me Na vida universal,e, em tudo imerso, Fazer da parte abstrada do Universo, Minha morada equilibrada e firme!
Nisto, pior que o remorso do assassino, Reboou, tal qual, num fundo de caverna, Numa impressionadora voz interna,
o eco particular do meu Destino;