segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Terça na Usina: Grupos de Literatura da Rede: JN NETO - contos e poesias:

 


Aqui estão meus escritos, na grande maioria na época de adolescente, onde se acha possível mudar o mundo, e a desilusão chegando aos poucos. Hoje ñ penso mais em mudar, mas teto sem dúvida MELHORAR!...

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Terça na Usina; Grupos de Literatura da Rede: Poesias, poemas, aldravia e afins:

 


Pagina destinada a poesias, poemas, aldravias, contos e afins....

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Insônias D'Araújo:


 

Mulheres em cárcere

 Olhos que falam.

Corpos que sentem.

Sorrisos ausentes.

Almas que gemem.

Consumindo-se entre sonhos e desejos dentro de si mesmas,....


conteúdo do livro:



 

Crônicas de Segunda na Usina:*QUANDO A GENTE VAI EMBORA*:



“A GENTE VAI EMBORA... e fica tudo aí, os planos a longo prazo e as tarefas de casa, as dívidas com o banco, as parcelas do carro novo que a gente comprou pra ter status.
A GENTE VAI EMBORA... sem sequer guardar as comidas na geladeira, tudo apodrece, a roupa fica no varal.
A GENTE VAI EMBORA... se dissolve e some toda a importância que pensávamos que tínhamos, a vida continua, as pessoas superam e seguem suas rotinas normalmente.
A GENTE VAI EMBORA... as brigas, as grosserias, a impaciência, serviram para nos afastar de quem nos trazia felicidade e amor.
A GENTE VAI EMBORA... e todos os grandes problemas que achávamos que tínhamos se transformam em um imenso vazio, não existem problemas. Os problemas moram dentro de nós. As coisas têm a energia que colocamos nelas e exercem em nós a influência que permitimos.
A GENTE VAI EMBORA... e o mundo continua normal , como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença. Na verdade, não faz. Somos pequenos, porém, prepotentes. Vivemos nos esquecendo de que a morte anda sempre à espreita.
A GENTE VAI EMBORA... pois é. É bem assim: Piscou, a vida se vai... O cachorro é doado e se apega aos novos donos.
Os viúvos se casam novamente, andam de mãos dadas e vão ao cinema.
A GENTE VAI EMBORA... e somos rapidamente substituídos no cargo que ocupávamos na empresa. As coisas que sequer emprestávamos são doadas, algumas jogadas fora. Quando menos se espera...
A GENTE VAI EMBORA. Aliás, quem espera morrer?
Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse melhor.
Talvez a gente colocasse nossa melhor roupa hoje, talvez a gente comesse a sobremesa antes do almoço. Talvez a gente esperasse menos dos outros...
Se a gente esperasse pela morte, talvez perdoasse mais, risse mais, saísse à tarde para ver o mar, o pôr do sol, talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro.
Quem sabe, a gente entendesse que não vale a pena se entristecer com as coisas banais, ouvisse mais música e dançasse mesmo sem saber.
O tempo voa. A partir do momento que a gente nasce, começa a viagem veloz com destino ao fim - e ainda há aqueles que vivem com pressa! Sem se dar o presente de reparar que cada dia a mais é um dia a menos, porque...
A GENTE VAI EMBORA o tempo todo, aos poucos e um pouco mais a cada segundo que passa.
O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM O POUCO TEMPO que lhe resta?!

Que possamos ser cada dia melhores, amorosos, humildes, e que saibamos reconhecer o que realmente importa nessa passagem pela Terra!!!

Até porque... A GENTE VAI EMBORA...”

fonte de origem:

https://www.facebook.com/renata.kosmala.1?__tn__=%2CdC-R-R&eid=ARCRnne2Gkw6pzAJnILLgmMnnRH4fTqEdbigImomOhoRNEND-iGN0kJRF5PlZmw14Xhf52crwz6ndc85&hc_ref=ARTNAQGNlgEXASrRflxGmzyCR_9CTzgAK6q2R6VHNYe38cBguXzWnobfh0vPcSL6jhk&fref=nf

Crônicas De segunda Na usina:: Machado de Assis: Cherchez la femme:


Quem inventou esta frase, como uma advertência própria a devassar a origem de todos os crimes, era talvez um ruim magistrado, mas, com certeza, excelente filósofo. Como arma policial, a frase não tem valor, ou pouco e restrito; mas aprofundai-a, e vereis tudo que ela abrange; vereis a vida inteira do homem.
Antes da sociedade, antes da família, antes das artes e do conforto, antes das belas rendas e sedas que constituem o sonho da leitora assídua deste jornal, antes das valsas de Strauss, dos Huguenotes, de Petrópolis, dos landaus e das luvas de pelica; antes, muito antes do primeiro esboço da civilização, toda a civilização estava em gérmen na mulher. Neste tempo ainda não havia pai, mas já havia mãe. O pai era o varão adventício, erradio e fero que se ia, sem curar da prole que deixava. A mãe ficava; guardava consigo o fruto do seu amor casual e momentâneo, filho de suas dores e cuidados; mantinha-lhe a vida. Não desvie a leitora os seus belos olhos desse infante bárbaro, rude e primitivo; é talvez o milionésimo avô daquele que lhe fabricou agora o seu véu de Malines ou Bruxelas; ou — provável conjetura! — é talvez o milionésimo avô de Meyerbeer, — a não ser que o seja do Sr. Gladstone ou da própria leitora. Se quereis procurar a mulher, é preciso ir até lá, até esse tempo, d'ogni luce mutto, antes dos primeiros albores. Depois, regressai.
Vinde, rio abaixo dos séculos, e onde quer que pareis, a mulher vos aparecerá, com o seu grande influxo, algumas vezes maléfico, mas sempre irrecusável; achá-la-eis na origem do homem e no fim dele; e se devemos aceitar a original teoria de um filósofo, ela é quem transmite a porção intelectual do homem.
Assim, amável leitora, quando alguém vier dizer-vos que a educação da mulher é uma grande necessidade social, não acrediteis que é a voz da adulação, mas da verdade. O assunto é decerto prestado à declamação; mas a idéia é justa. Não vos queremos para reformadoras sociais, evangelizadoras de teorias abstrusas, que mal entendeis, que em todo caso desdizem do vosso papel; mas entre isso e a ignorância e a frivolidade, há um abismo; enchamos esse abismo. A companheira do homem precisa entender o homem. A graça da sociedade deve contribuir para ela mais do que com o influxo de suas qualidades tradicionais. Enfim, é preciso que a mulher se descative de uma dependência, que lhe é imortal, que não lhe deixa muita vez outra alternativa entre a miséria e a devassidão.
Vindo à nossa sociedade brasileira, urge dar à mulher certa orientação que lhe falta. Duas são as nossas classes feminis, — uma crosta elegante, fina, superficial, dada ao gosto das sociedades artificiais e cultas; depois a grande massa ignorante, inerte e virtuosa, mas sem impulsos, e em caso de desamparo, sem iniciativanem experiência. Esta tem jus a que lhe dêem os meios necessários para a luta da vida social; e tal é a obra que ora empreende uma instituição antiga nesta cidade, que não nomeio porque está na boca
de todos, e aliás vai indicada noutra parte desta publicação.
A ocasião é excelente para uns apanhados de estilo, uma exposição.
grave e longa do papel da mulher no futuro, para uma dissertação acerca do valor da mulher, como filha, esposa, mãe, irmã, enfermeira e mestra, tudo lardeado dos nomes de Rute e Cornélia, Récamier e a
Marquesa de Alorna. Não faltaria dizer que a mulher é a estrela que leva o homem pela vida adiante, e que principalmente as leitoras d’A Estação merecem o culto de todos os espíritos elegantes. Mas estas coisas subentendem-se, e não se dizem por ociosas. Baste-nos isto: educar a mulher é educar o próprio homem, a mãe completará o filho.

Texto-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, V.III, 1994.
Publicado originalmente em A Estação, Rio de Janeiro, 15/08/1881.

Crônicas De Segunda Na Usina: Lima Barreto: A universidade:



Voltam os jornais a falar que é tenção do atual governo criar nesta cidade uma universidade. Não se sabe bem por quê e a que ordem de necessidades vem atender semelhante criação. Não é novo o propósito e de quando em quando, ele surge nas folhas, sem que nada o justifique. e sem que venha remediar o mal profundo do nosso chamado ensino superior 
Recordação da Idade Média, a universidade só pode ser compreendida naquele tempo de reduzida atividade técnica e científica, a ponto de, nos cursos de suas vetustas instituições de ensino, entrar no estudo de música e creio mesmo a simples aritmética.

Não é possível, hoje, aqui no Brasil, que essa tradição universitária chegou tão diluída, criar semelhante coisa que não obedece ao espírito do nosso tempo, que quer nas profissões técnicas cada vez mais especialização.

O intuito dos propugnadores dessa criação é dotar-nos com um aparelho decorativo, suntuoso, naturalmente destinado a fornecer ao grande mundo festividades brilhantes de colação de grau e sessões solenes.
Nada mais parece que seja o intuito da ereção da nossa universidade.
De todos os graus de nosso ensino, o pior é o superior; e toda a reforma radical que se quisesse fazer nele, devia começar por suprimi-lo completamente.

O ensino primário tem inúmeros defeitos, o secundário maiores, mas o superior, sendo o menos útil e o mais aparatoso, tem o defeito essencial de criar ignorantes com privilégios marcados em lei, o que não acontece com os dois outros.

Esses privilégios e a diminuição da livre concorrência que eles originam, fazem que as escolas superiores fiquem cheias de uma porção de rapazes, alguns às vezes mesmo inteligentes, que, não tendo nenhuma vocação para as profissões em que simulam estar, só têm em vista fazer exame, passar nos anos, obter diplomas, seja como for, a fim de conseguirem boas colocações no mandarinato nacional e ficarem cercados do ingênuo respeito com que o povo tolo cerca o doutor.

Outros que só se destinam a ter titulo de engenheiro que efetivamente quer ser engenheiro e assim por diante, de forma que o sujeito se dedicasse de fato aos estudos respectivos, não se consegue com um simples rótulo de universidade ou outro qualquer.

Os estudos propriamente de medicina, de engenharia, de advocacia, etc., deviam ficar separados completamente das doutrinas gerais, ciências constituídas ou não, indispensáveis para a educação espiritual de quem quer ter uma opinião e exprimi-la sobre o mundo e sobre o homem.

A esse ensino, o Estado devia subvencionar direta ou indiretamente; mas o outro, o técnico, o de profissão especial, cada um fizesse por si, exigindo o Estado para os seus funcionários técnicos que eles tivessem um estágio de aprendizagem nas suas oficinas, estradas, hospitais, etc...

Sem privilégio de espécie alguma, tendo cada um de mostrar as suas aptidões e preparo na livre concorrência com os rivais, o nível do saber e da eficiência dos nossos técnicos (palavra da moda) havia de subir muito.
A nossa superstição doutoral admite abusões que, bem examinadas, são de fazer rir.
Por exemplo, temos todos nós como coisa muito lógica que o diretor do Lloyd deve ser engenheiro civil. Por quê? Dos Telégrafos, dos Correios - por quê também?


Aos poucos, na Central do Brasil, os engenheiros foram avassalando os grandes empregos da "gema".
Por quê?

Um estudo nesse sentido exigiria um trabalho minucioso de exame de textos de leis e regulamentos que está acima da minha paciência; mas era bom que alguém tentasse fazê-lo, para mostrar que a doutomania não foi criada pelo povo, nem pela avalanche de estudantes que enche as nossas escolas superiores; mas pelos dirigentes, às vezes secundários, que a fim de satisfazer preconceitos e imposições de amizade, foram pouco a pouco ampliando os direitos exclusivos do doutor.

Ainda mais. Um dos males, decorrentes dessa superstição doutoral, está na ruindade e na estagnação mental do nosso professorado superior e secundário.

Já não bastava a indústria do ensino para fazê-lo mandrião e rotineiro, veio ainda por cima a época dos negócios e das concessões.
Explico-me:

Um moço que, aos trinta anos, se faz substituto de uma nossa faculdade ou escola superior, não quer ficar adstrito às funções de seu ensino. Pára no que aprendeu, não segue o desenvolvimento da matéria que professa. Trata de arranjar outros empregos, quando fica nisso, ou, se não - o que é pior - mete-se no mundo estridente das especulações monetárias e industriais da finança internacional.

Ninguém quer ser professor como são os da Europa, de vida modesta, escarafunchando os seus estudos, seguindo o dos outros e com eles se comunicando ou discutindo. Não; o
professor brasileiro quer ser um homem de luxo e representação, para isso, isto é, para ter os meios de custear isso, deixa às urtigas os seus estudos especiais e empresta o seu prestígio aos brasseur d'affaires bem ou mal-intencionados.

Para que exemplificar? Tudo isto é muito sabido e basta que se fale em geral, para que a indicação de um mal geral não venha a aparecer como despeito e ataque pessoal.

A universidade, coisa sobremodo obsoleta, não vem curar o mal do nosso ensino que viu passar todo um século de grandes descobertas e especulações mentais de toda a sorte, sem trazer, por qualquer dos que o versavam, um quinhão por mínimo que fosse.

O caminho é outro; é a emulação.

Feiras e mafuás, 13-3-1920