quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Poesia De Quinta Na Usina:D'Araújo:Poema: Surdo:


Uma guerra injusta, 
Aonde a curva do desejo vai alem da razão, 
Qual a paixão sem fim, ou um amor sem começo.
Então paga-se o preço justo do absurdo.

O que tem de belo no esperar eterno, 
No falante calado, ou no ouvinte surdo.
Já é claro a escuridão da observação 
De não enxergar o óbvio.

De aceitar o fato, ou de aceitar a lógica, 
Do despertar pro nada, e não poder viver tudo.
Como encontrar a paz, 
Quando a guerra em nós já é inevitável.

Aí acordamos pro mundo, 
Perfeito ou imperfeito não importa.
Simplesmente vivemos.

D'Araújo.

Conteúdo do livro: O Grito da Alma poesias e pensamentos:
www.blioteca24horas.com




Poesia De Quinta Na Usina:D'Araujo: Vontade:


O desejo em mim, há vontade tua,
e em nós uma chama que arde,
em um eterno querer...

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis:MINHA MUSA :


RJ, 22 fev. 1856

A Musa, que inspira meus tímidos cantos,
É doce e risonha, se amor lhe sorri;
É grave e saudosa, se brotam-lhe os prantos.
Saudades carpindo, que sinto por ti.
A Musa, que inspira-me os versos nascidos
De mágoas que sinto no peito a pungir,
Sufoca-me os tristes e longos gemidos,
Que as dores que oculto me fazem trair.
A Musa, que inspira-me os cantos de prece,
Que nascem-me d’alma, que envio ao Senhor.
Desperta-me a crença, que às vezes ‘dormece
Ao último arranco de esp’ranças de amor.
A Musa, que o ramo das glórias enlaça,
Da terra gigante — meu berço infantil,
De afetos um nome na idéia me traça,
Que o eco no peito repete: — Brasil!
A Musa, que inspira meus cantos é livre,
Detesta os preceitos da vil opressão,
O ardor, a coragem do herói lá do Tibre,
Na lira engrandece, dizendo: — Catão!
O aroma de esp’rança, que n’alma recende,
É ela que aspira, no cálix da flor;
É ela que o estro na fronte me acende,
A Musa que inspira meus versos de amor!

Poesia De Quinta Na Usina:Machado de Assis: AS ROSAS



A Caetano Filgueiras
Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
Matinais;
Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; é o diadema
Da ilusão.
Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio úmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
Em vão, como penhor de puro afeto,
Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
As graças e o perfume.
Rosas, que sois então? — Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.
Tal é o vosso destino,
Ó filhas da natureza;
Em que vos pese à beleza,
Pereceis;
Mas, não... Se a mão de um poeta
Vos cultiva agora, ó rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
Floresceis.

Poesia Quinta Na Usina: Fernando Pessoa: 48:


"A solidão desola-me; a companhia oprime-me. A presença de outra pessoa descaminha-me
os pensamentos; sonho a sua presença com uma distracção especial, que toda a minha atenção
analítica não consegue definir."

* * *



Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares
Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~magno/

Poesia De Quinta Na Usina: Fernando Pessoa: 46:


"Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas
frases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do pequeno tamanho de sua
aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por
isso a aldeia é maior que a cidade...
"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura."
Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda
a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela
sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado
cuja vibração me estremece no corpo todo.
"Sou do tamanho do que vejo!"Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus
nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do
tamanho do que vejo!" Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até
às altas estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão.
E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma
segurança que me dá vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago
luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte.
Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer
palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da
matéria vazia.
Mas recolho-me e abrando-me. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica sendo-me a
alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a
cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer."

* * *


Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares
Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~magno/