quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Poesia De Quinta Na Usina: Augusto dos Anjos: O MORCEGO:


Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica dasede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
“Vou mandar levantar outra parede...”
-- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite ele entra

Imperceptivelmente em nosso quarto!

Poesia de Quinta Na Usina: Luís de Camões; Soneto 101:



Ah! minha Dinamene! Assi deixaste quem não deixara nunca de querer-te? 
Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te, tão asinha esta vida desprezaste!

Como já para sempre te apartaste  de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te, que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura morte me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!

Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte! Que pena sentirei, que valha tanto,

que inda tenho por pouco o viver triste?

Poesia De Quinta Na Usina: Fernando Pessoa: 85.



"Fazer qualquer coisa completa, inteira, seja boa ou seja má - e, se nunca é inteiramente boa,
muitas vezes não é inteiramente má - , sim, fazer uma coisa completa causa-me, talvez, mais
inveja do que outro qualquer sentimento. É como um filho: é imperfeita como todo o ente
humano, mas é nossa como os filhos são.
E eu, cujo espírito de crítica própria me não permite senão que veja os defeitos, as falhas, eu,
que não ouso escrever mais que trechos, bocados, excertos do inexistente, eu mesmo, no pouco
que escrevo, sou imperfeito também. Mais valeram pois, ou a obra completa, ainda que má,
que em todo o caso é obra; ou a ausência de palavras, o silêncio inteiro da alma que se

reconhece incapa de agir."


Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares
Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~magno/

Poesia de quinta Na Usina: Laura Riding: Fim Do Mundo:



O tímpano está no fim
A íris ficou transparente.
O sentido se desgasta.
Até o sentido está transparente.
A pressa alcança a pressa.
A terra arredonda a terra.
A mente encosta a mente.
Claro espetáculo: cadê o olho?
Tudo perdido, nenhum perigo
Força a mão heróica.
Corpos não se opõem mais
Um contra o outro. O mundo acabado
É semelhança em toda parte.
Caem os nomes do contraste
No centro que se expande.
O mar seco estende o universal.
Nem súplica nem negativa
Perturbam a evidência geral.
A lógica tem lógica, e eles ficam
Trancados nos braços um do outro,
Senão seriam loucos,
Com tudo perdido e nada que prove

Que até o nada sobrevive ao amor.

Poesia De Quinta Na Usina: D'Araújo: Mar à dentro:


 Como pude sonhar em terminar os meus dias,
Ouvindo tua voz, vendo seu sorriso,
Sentindo o teu cheiro,
Lendo os teus olhos.

Beijando tua boca,
Acariciando teu corpo
E me aquecendo no teu calor.

Simplesmente por um segundo me fugiu
O inevitável fato, que tudo que começa um dia acaba.

E neste eterno sufrágio da alma,
Vou remando mar adentro,
 na esperança de um dia alcançar

o acalento de está novamente em águas calma e terra firme.


Conteúdo do livro:



















Editora: www.perse.com.br

Poesia de Quinta Na Usina:D'Araujo:Quando eu não mas pensar em Ti:



Para cada dia que em ti eu não mas pensar, 
uma rosa eu vou plantar.


E assim vou construir o Jardim do meu novo viver e amar.



Para cada semana que em ti eu não mas pensar, 

uma Estrela eu vou roubar, para ofertar 

há primeira flor que em meu jardim desabrochar.



Para cada Mês que em ti eu não mas pensar, 

um planeta eu roubar, para que possa 

em noites quentes os nossos sonhos embalar.



Para cada ano que em ti eu não mas pensar, 




o universo eu vou guardar para em meu

doce abrigo um dia, transformar, quando
um novo amor chegar....
um novo amor chegar....





D'Araujo.