quarta-feira, 6 de julho de 2022

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlescas:

 


— 16 —

Ao soprar da brisa,

Em balanço undoso,

O mortal encantam

N'hum sonhar gostoso.

Mas fugindo as nuvens

Que a illusão fulgura,

Só vagueia a sombra

Da infernal ventura.

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlesca:

 


LAVAI VERSO

Quero também ser poeta,

Bem pouco, ou nada, me imporia

Sc a minha veia é discreta,

Se a via que sigo c lorta.

Alta noute, sentindo o meu bestunto

Pejado, qual vulcão de flamma ardente,

Leve pluma empunhei, incontinente

O fio das idéias fui traçando.

As Nymphas invoquei para que vissem

Do meu estro voraz o ardimento;

E depois, revoando ao firmamento,

Fossem do vate o nome apregoando.

Poesia de Quinta na Usina: Trovas Burlesca:

 


— 18 —

Oh Musa de Guiné, còr de azeviche,

Estatua de granito denegrido,

Ante quem o Leão se põem rendido,

Despido do furor de atroz braveza;

Empresta-me o cabaço d'urucungo, (1)

Ensina-me a brandir tua marimba,

Inspira-me a sciencia da candimba, (2)

A's vias me conduz d'alta grandeza.

Quero a gloria abater de antigos vates,

Do tempo dos Heroes armipotentes;

Os Homeros, Camoens—aurifülgentes,

Decantando os Baroens da minha Pátria!

Quero gravar em lúcidas columnas

Obscuro poder da parvoice,

E a fama levar da vil sandice

A's longínquas regioens da velha Bactria!

Quero que o mundo, me encarando, veja

Hum retumbante Orpheo de carapinha,

Que a Lyra despresando, por mesquinha,.

Ao som decanta de Marimba augusta;

E, qual outro Arion entre os Delfins,

Os ávidos piratas embaindo—

As ferrenhas palhetas vai brandindo

Com estylo que presa a Lybia adusta.

Poesia de Quinta na Usina: Alphonsus Guimarães:

 


Ismália
VII

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Poesia de Quinta na Usina: Alphonsus Guimarães:


Os Sonetos

VIII

Vagueiam suavemente os teus olhares
Pelo amplo céu franjado em linho:
Comprazem-te as visões crepusculares...
Tu és uma ave que perdeu o ninho.
Em que nichos doirados, em que altares
Repoisas, anjo errante, de mansinho?
E penso, ao ver-te envolta em véus de luares, Que vês no azul o teu caixão de pinho.
És a essência de tudo quanto desce Do solar das celestes maravilhas...
Harpa dos crentes, cítola da prece...
Lua eterna que não tivesse fases, Cintilas branca, imaculada brilhas,
E poeiras de astros nas sandálias trazes...


Poesia de Quinta na Usina: Alphonsus Guimarães:

 


 

IX
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
As estrelas dirão: – “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu, silente e fria... ”
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: – “Por que não vieram juntos?”

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Verbo

Amor pleno alma bela

A vida feita aquarela de

Desejos

Do sabor dos teus beijos.....

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:


 


Quase eterno

Como posso ladear teus passos
Possuir teus beijos,
Cartear teus sonhos, sentir tua voz,
Ouvir teu cheiro,
Corromper meus desejos,

Despir sua alma, falar teu corpo Pintar seu rosto......

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Mulher

Uma face de anjo.
Uma alma de fada.
Um corpo de mulher.
Uma chama que não se apaga.
Um desejo que não se cala......