quarta-feira, 1 de julho de 2020

Poesia de quinta na Usina: D'Araújo: Eu vejo o mundo:


 


Eu vejo o mundo, assim o mundo eu vejo.

Sob o falso brilho dos azulejos.

Azulejos de paredes tortas de colunas pensas.

 

Eu vejo o mundo que não pensa.

Um mundo que não admite seus erros

Mas ninguém vê o mundo como eu vejo.

 

Um mundo de hipocrisia e de agonia

Olha como eu vejo mundo.

Um mundo ao qual espero

Que um dia você também veja.

 

Um mundo feito caranguejo

Que só anda prá trás sem contar desejos.

Assim o mundo eu vejo...


Poesia de Quinta Na Usina: D'Araújo: O tempo:


O tempo que muda o tempo todo.

Todo o tempo muda todos

Com a precisão do tempo.

Todos querem mudar o tempo

Sem perceber que o tempo

Não tem tempo de esperar um tempo.

 

Eu tenho o tempo

Que o tempo me dá de tempo.

Fugindo do tempo, não tenho eu tempo

Para saber o tempo que me resta.

 

Vivemos e morremos o tempo todo.

Afinal é o passar do tempo

Que nos tira o tempo que nos resta.

 

Desculpe, preciso de tempo

Para refletir sobre como recuperar o tempo.

Pois andei perdendo tempo,

Tentando ganhar tempo,

Para não mais perder meu tempo,

O tempo todo.


Poesia de Quinta na Usina: William Shakespeare: Soneto 18:


Se te comparo a um dia de verão

És por certo mais belo e mais ameno

O vento espalha as folhas pelo chão

E o tempo do verão é bem pequeno.

 

Ás vezes brilha o Sol em demasia

Outras vezes desmaia com frieza;

O que é belo declina num só dia,

Na terna mutação da natureza.

 

Mas em ti o verão será eterno,

E a beleza que tens não perderás;

Nem chegarás da morte ao triste inverno:

 

Nestas linhas com o tempo crescerás.

E enquanto nesta terra houver um ser,

Meus versos vivos te farão viver.



Poesia de Quinta Na Usina: William Shakespeare:Soneto 116:


De almas sinceras a união sincera

Nada há que impeça: amor não é amor

Se quando encontra obstáculos se altera,

Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,

Que encara a tempestade com bravura;

É astro que norteia a vela errante,

Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora

Seu alfange não poupe a mocidade;

Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se afirma para a eternidade.

Se isso é falso, e que é falso alguém provou,

Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.



Poesia de Quinta na Usina: luís de Camões: Soneto 160:


 

À sepultura de del-Rei dom João Terceiro

 

Quem jaz no grão sepulcro, que descreve tão ilustres sinais no forte escudo?

- Ninguém; que nisso, enfim, se toma tudo mas foi quem tudo pôde e tudo teve.

 

Foi Rei?- Fez tudo quanto a Rei se deve; pôs na guerra e na paz devido estudo; mas quão pesado foi ao Mouro rudo tanto lhe seja agora a terra leve.

 

Alexandre será?- Ninguém se engane;  que sustentar, mais que adquirir se estima.

- Será Adriano, grão senhor do mundo?

 

Mais observante foi da Lei de cima.

- E Numa?- Numa, não; mas é Joane: de Portugal terceiro, sem segundo.


Poesia de Quinta na Usina: Luís de Camões: Soneto 038:

Arvore, cujo pomo, belo e brando, natureza de leite e sangue pinta, 
onde a pureza, de vergonha tinta, está virgíneas faces imitando; 
nunca da ira e do vento, que arrancando os troncos vão, o teu injúria sinta; 
nem por malícia de ar te seja extinta a cor, que está teu fruto debuxando; 
que, pois me emprestas doce e idóneo abrigo a meu contentamento, 
e favoreces com teu suave cheiro minha glória, se não te celebrar como mereces, 
cantando te, sequer farei contigo doce, nos casos tristes, a memória.