Josefina Álvares de Azevedo (Recife, 5 de maio de
1851 — Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1913) foi uma jornalista, escritora e
precursora do feminismo no Brasil.
O Dicionário Bibliográfico Brasileiro de Augusto
Blake informa que Josefina teria nascido em Itaboraí, e que seria irmã por
parte de pai de Álvares de Azevedo. Ela mesma, porém, dizia ser prima do
escritor e natural do Recife, onde viveu até os vinte e seis anos de idade. Em
1877, mudou-se para São Paulo, onde fundou em 1888 o jornal A Família. No ano
seguinte transferiu o jornal para o Rio de Janeiro, e manteve a sua publicação
até 1897, quando teve que interrompê-lo, retomando-o logo em seguida, em 1898.
Defendia a educação da mulher como ferramenta
essencial para a sua emancipação. Procurou estender a circulação do seu jornal
por todo o país, viajando para isso às regiões Norte e Nordeste. Promoveu o
sufrágio feminino, a partir do artigo O Direito ao Voto, de 1890. Escreveu no
mesmo ano a comédia O Voto Feminino, encenada no Teatro Recreio Dramático.
Ainda em 1890, reuniu uma série de textos que havia
publicado no jornal, inclusive poesias, e editou-os na coletânea Retalhos.
Família :Josefina Alvares de Azevedo foi irmã de
Maria Amelia de Azevedo Costa e mãe de Alfredo Alvares de Azevedo e de Moacyr
Alvares de Azevedo.
Jornal A Família : Josefina Alvares de Azevedo se
mudou de Recife para São Paulo em 1877 e criou o jornal A Família. O periódico
tinha como primeiro objetivo tratar sobre a educação para as mulheres, porém,
com a transição política vivida pelo Brasil, o principal objetivo se tornou
reivindicar os direitos das mulheres e fazer com que as mesmas tivessem suas
vozes representadas nas questões políticas, podendo votar, por exemplo.[4]
Depois de seis meses em São Paulo, o jornal começou a ser publicado no Rio de
Janeiro, visto que Josefina se mudou para lá. De acordo com Karine da Rocha,
Coordenadora do Núcleo de Pesquisa Mulher, Literatura e Sociedade (UFPE), essa
mudança ocorreu com o intuito de uma maior aceitação do periódico pela
proximidade com a Corte.
O jornal circula ininterruptamente até o ano de
1897, sempre querendo dar voz às mulheres em assuntos como educação e política.
Depois de um ano, em 1898, volta a circular, o que pode se concluir pela nota
de agradecimento da revista A Mensageira.
Na primeira edição de A Família, Josefina diz que a
imprensa pode servir como uma válvula que pode despertar a consciência do
indivíduo. Com isso, por meio do jornal, ela tinha a intenção de mostrar que
não havia motivos para a diferenciação que existia na época entre o homem e a
mulher, sendo o sexo feminino considerado inferior quando comparado ao
masculino.
"A consciência universal dorme sobre uma grande
iniqüidade secular - a escravidão da mulher. Até hoje tem os homens mantido o
falso e funesto principio de nossa inferioridade. Mas nós não somos a elles
inferiores porque somos suas semelhantes, embora de sexo diverso." (A
Família, Nessa mesma edição, ainda é possível ver a insatisfação, tanto de
Josefina quanto de outras jornalistas do periódico, com relação à divisão que
existia na época. De acordo com ela, os dois princípios que existiam eram força
e ordem, onde delega aos homens o primeiro e às mulheres o segundo. Dessa
forma, o sexo feminino deveria ser também responsável pela coordenação da
sociedade, já que elas, ao contrário dos homens, eram capacitadas a coordenar
os lares. "Em tudo devemos competir com os homens – no governo da família,
como na direção do estado. (...) As sociedades assentam suas bases sobre dois
princípios cardeais: o princípio da força e o princípio da ordem. O princípio
da força é o homem, o da ordem é a mulher. (...) O homem é a negação da ordem
(...). E em abono desta opinião eu vos trarei um exemplo muito vulgar – o
governo de uma casa. (...) ele não é capaz de governar uma casa, que se compõe
de algumas pessoas. (A Família, ano I, nº1)
Com a proclamação da República, em novembro de 1889,
o discurso a respeito do direito ao voto das mulheres se tornou ainda mais
forte, visto que esperava-se uma igualdade maior nesse novo modelo político.[9]
Entretanto, os direitos femininos, nesse aspecto, não mudaram, fazendo com que
na edição 7 de dezembro de 1889 Josefina critique duramente esse fato, falando
em injustiça e reiterando que o único aspecto a ser levado em conta deveria ser
o de capacidade intelectual."
"O fundamento universal de todos os que opinam
contra a nossa emancipação é esse — que a mulher não tem capacidade política.
Porque? perguntamos nós, e a essa pergunta não nos dão resposta cabal. Em geral,
os casos de incapacidade politica são estes — menoridade, demência,
inhabilitações, restriccão de liberdade por pena cominada, etc. etc. A esses
addusem os legisladores a «diferença de sexo». Mas em que essa diferença pode
constituir razão de incapacidade eleitoral? A mulher educada, instruída, em
perfeito uso de suas faculdades mentaes, exercendo com critério as suas
funcções na sociedade, é uma personalidade equilibrada, apta para discernir e
competente para escolher entre duas idéas aquella que melhor convém. Não pude
por conseguinte estar em pé de igualdade com os dementes, com os menores, com
os imbecis. Assim sendo, é absurdo o principio de sua incapacidade
electiva." (A FAMÍLIA, 21/12/1889)
Em determinado momento, o jornal, que começou com o
objetivo de tratar da educação para as mulheres visando sua emancipação, passou
a focar muito na questão de política, estando muitos dos artigos sob o título O
direito ao voto, explicando que, sem essa reivindicação do direito ao voto, a
igualdade prometida pelo novo regime vigente no país seria apenas uma utopia.
O voto feminino
Em 1890, Josefina Alvares de Azevedo cria a peça
teatral O voto feminino, que, antes de acontecer, foi divulgada em algumas
edições do jornal A Família. A intenção da comédia, assim como a do periódico,
era dar voz às mulheres no cenário político brasileiro, principalmente na
questão do direito ao voto. A peça ficou em cartaz no Teatro Recreio Dramático,
na época, um dos mais populares do Rio de Janeiro.
(...) através da qual se revela a intenção da autora
de não apenas desmascarar o ridículo e a fragilidade da ideia de que “a mulher
foi feita para os arranjos de casa e nada mais”, mas também e, principalmente,
de reformar a sociedade, educando-a para os avanços de um novo tempo de
liberdade e igualdade então inaugurado pelo regime republicano. (Cena 2, Cf.
SOUTO-MAIOR, 2001:94) A peça se passava na casa de um casal que recebe a filho
e o genro para um jantar. Além deles, há outro casal (a empregada e seu marido)
e um homem solteiro. Eles esperam o "resultado de uma consulta submetida a
determinado Ministro a respeito da decretação da lei do voto feminino.” [14]
Abaixo, é possível ver um trecho do debate que ocorre em uma das cenas: DOUTOR:
Mas senhores, sejamos todos cordatos. O direito de voto às mulheres é de toda
justiça! ANASTACIO: Não é só o direito de voto que elas querem, é o direito de
votar e serem votadas. É o reinado de saias. DOUTOR: Não há tal! Seria antes o
reinado das competências. D’ ora em diante não veremos na sociedade a impostura
de serem as mulheres que façam as cousas e sejam os homens que se recebam as
honras... como por ai se dá [...] DOUTOR: Se uma mulher tem aptidões para
adquirir títulos científicos, por que não há de ter para os cargos públicos? INÊS:
Apoiado; e aqui está Esmeralda para prova. DOUTOR: Se pode exercer cargos
públicos, por que não há de poder desempenhar o mandato? ANASTÁCIO: Mas nesse
caso, teremos que ser governados por elas. RAFAEL: Virão ocupar os nossos
lugares. DOUTOR: Quando provarem competência para eles, por que não? (A
Família, 06/11/1890) Apesar de ser saudada pela imprensa antes mesmo de
estrear, a peça foi encenada apenas uma vez no teatro. Depois disso, reapareceu
outras duas vezes: nos rodapés do jornal A Família e também em forma de
livro.[15] Valéria Souto-Maior afirma que Josefina:
(...) superestimou o poder do teatro como arma
política e reformadora de efeitos imediatos: sua intenção de sensibilizar os
congressistas que aprovaram a Constituição de 1891 – explicitada difusamente
tanto no desfecho da peça, quanto nos artigos publicados em seu jornal, como
também nas suas atitudes nitidamente panfletárias, como por exemplo, de
publicar a peça em diferentes ocasiões estratégicas – foi nitidamente
frustrada, pois como se sabe o sufrágio feminino só foi aprovado em nosso país
quase meio século depois disso. (SOUTO-MAIOR, 2001:139-140) Além disso, Valéria
afirma que a peça era uma mistura de comédia, escola realista francesa e teatro
musicado.
Escreveu então uma espécie de comédia “ligeira”, na
qual intercalou três pequenos números de canto – dois duetos e um ensemble
final. Preferindo, entretanto, o rótulo mais abrangente de comédia para definir
o gênero do seu texto teatral, Josefina de Azevedo, na verdade, escolheu como
base do mesmo uma forma teatral que, além de ser mais adequada ao seu estilo
agressivo de atuação, era uma das que mais se destacavam na preferência do
público amante do referido gênero, também conhecido como ligeiro ou alegre.
(SOUTOMAIOR: 2001, 91) Poesias
Em A Família, além
dos discursos sobre a participação da mulher na política, também encontram-se
algumas poesias e contos. Alguns poemas encontrados falam sobre feminismo e
outros sobre fé e religião.
Fonte de origem:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Josefina_%C3%81lvares_de_Azevedo