quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Fumaça

Entre copos e litros destilo
Meus pensamentos mais esquisitos.
Sob a sombra da fumaça sufoco
Os meus desejos em palavras soltas.
Junto os meus sentimentos talhados
A ferro e fogo, mergulho......

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Sono

O homem na luz que passa
Se arrastando feitas as traças
Por entre suas desgraças.
Envolto do contexto
Do mesmo cesto da vida
Que passa na sombra dos desejos
E o medo ausente.
Com a alma em carne viva
Celebrando a sua doce vida
À deriva nestas ondas freqüentes.
Embalam os seus sonhos
Nas redes da inércia....

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Folhas

Apesar do tempo de luta
E tantos sonhos soterrados
Nas valas dos insolentes,
Como podemos continuar
Colhendo as folhas da miséria assistida
Enquanto as raízes das desigualdades
Proliferam-se por entre guetos e favelas
Arquitetonicamente distribuídas a serviço
Dos oportunistas hipócritas de Platão.
Sempre se utilizando delas.....

Poesia de Quinta na Usina: Laurindo Ribeiro:

  


 

Trovador,

o que tens, o que sofres,
Por que choras com tanta aflição?
O teu pranto assaz me compunge,
Trovador, ah! não chores mais não!
Se acaso a mulher que tu amas
Te tratou com acerbo rigor,
Trovador, ah! por isso não chores,
Oh! não creias, por Deus, em amor.
O amor da mulher é a nuvem Quando o vento a impele no ar...
O amor da mulher é volúvel, É tão vário qual onda do mar.
O amor da mulher é um frágil Pequenino, adoidado batel,
Que vagueia sem norte, sem rumo, Té quebrar-se em ignoto parcel.
O amor da mulher é luzerna Numa noite de inverno a luzir;
É estrela do céu entre nuvens Que a furto se vê reluzir.
A mulher tem o dom da beleza Tem maneiras que sabem levar...
Mas no meio de seus atrativos A mulher tem o dom de enganar.
Um exemplo tu tens em Helena Que os muros de Tróia abateu, 
Que infida, deixando o consorte, Para os braços de Páris correu.
A mulher tem feitiço nos olhos E nos lábios veneno letal;
A mulher nos ilude chorando E sorrindo nos crava o punhal.
O amor da mulher, como a rosa Desabrocha, mas logo fenece;


Poesia de Quinta na Usina: Laurindo Ribeiro:

 




RISO E MORTE

112
Assim ligado se tem,
Como termo da desgraça
A morte não longe vem.
Quando eu deixar de chorar,
Quando contente me rir,
Não se enganem, desconfiem,
Que não tardo a sucumbir.
Vem, oh! morte, ver meu pranto.
Não receies, podes vir;
Choro nos braços da vida,
Nos teus braços me hei de rir.
Muitas vezes um prazer
Que parece de ventura,
Não é mais que um riso d’alma
Vendo perto a sepultura.
O feliz ri-se da vida
Por ver nela o seu jardim;
O desgraçado, na morte
Por ver da desgraça o fim.

Poesia de Quinta na Usina: Laurindo Ribeiro:



O CEGO DE AMOR 15

Pensam que vejo, não vejo,
Não vejo, que cego estou;
De que me servem os olhos,
Se minha luz se apagou?
Ah! não deixes que me perca
Nesta imensa escuridão;
Ó anjo que me cegaste,
Vem ao menos dar-me a mão.
Ao avistar-te nos olhos
A luz divina senti,
E por perder-te de vista, A minha vista perdi.
Ah! não deixes...
Se eu cair, dá-me teus braços,
Dá-me pelo amor de Deus,
Que talvez recobre a vista
Caindo nos braços teus.
Ah! não deixes...





Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:


12
E sem um gozo vou descendo à campa.
O exilado está só por toda a parte!
Brandas aragens, que roçais fagueiras
Das maravilhas nas cheirosas frontes,
Aves sem pátria, que cortais os ares,
Irmãs na sorte do infeliz romeiro,
Ah! levai um suspiro à pátria amada,
Último alento de cansado peito.
O exilado está só por toda a parte!
Quando nas folhas de lustrosos plátanos
Novos luares descansarem gratos,
Já sobre a estrada de meus pés os traços
O pegureiro não verá, que passa!
Mísero! ao leito de final descanso
Ninguém meu sono velará chorando.
O exilado está só por toda a parte!


Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:


O EXILADO 11

Por entre o colmo de tranqüilo albergue,
Murmurava a chorar: - Feliz aquele
Que à luz amiga do fogão doméstico,
Rodeado dos seus, à noite, senta-se.
O exilado está só por toda a parte!
Onde vão estes flocos de neblina
Que o euro arrasta nas geladas asas?
Onde vão essas tribos forasteiras
Que à tempestade se esquivar procuram?
Ah! que me importa?... também eu doidejo,
E onde irei, Deus o sabe, Deus somente.
O exilado está só por toda a parte!
Desta campina as árvores são belas,
São belas estas flores que se vergam
Das auras estivais ao débil sopro;
Mas nem a sombra que no chão se alonga,
Nem o perfume que o ambiente inunda
São dessa gleba divinal que adoro.
O exilado está só por toda a parte!
Mole e lascivo no tapiz da selva
Serpeia o arroio, e o deslizar queixoso
Peja de amor as solidões dormentes;
Mas nunca o rosto refletiu-me um dia,
Nem foi seu burburinho enlanguescido
Que embalou minha infância a descuidosa.
O exilado está só por toda a parte!
- Por que chorais? me perguntou o mundo; 
Contai-nos vossa dor, talvez possamos Saná-la às gotas de elixir suave;
Mas, quando eu suspendi a lousa escura Que o túmulo cobria-me da vida, 
Riram-se pasmos sem sondar-lhe o fundo. O exilado está só por toda a parte!
Vi o ancião da prole rodeado
Sorrir-se calmo e bendizer a Deus,
Vi junto à porta da nativa choça
As crianças beijarem-se abraçadas;
Mas de filho ou de irmão o santo nome
Ninguém me deu, e eu fui passando triste.
O exilado está só por toda a parte!
Quando verei essas montanhas altas
Que o sol dourava nas manhãs de agosto?
Quando, junto à lareira, as folhas lívidas
Deslembrarei de meu sombrio drama?
Doida esperança! as estações sucedem-se....


Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:

  


- 1861.

O EXILADO

O exilado está só por toda a parte!
Passei tristonho dos salões no meio,
Atravessei as turbulentas praças
Curvado ao peso de uma sina escura;
As turbas contemplaram-me sorrindo,
Mas ninguém divisou a dor sem termos
Que as fibras de meu peito espedaçava.
O exilado está só por toda a parte!
Quando, à tardinha, dos floridos vales
Eu via o fumo se elevar tardio....